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29/11/2012

El Rescate Emocional de un Clásico


‘Príncipe Valiente’, la obra cumbre de
Hal Foster










Eduardo Martínez-Pinna
Libri Impressi
(Espanha, Novembro de 2012)
240 x 320 mm, 64 p., pb e cor, brochado com badanas
18,50 €




- Mais um livro sobre Foster e o seu Príncipe Valente? – perguntarão alguns.
- Sim, porque “Prince Valiant – In The Days of King Arthur é uma obra de maturidade realizada por um autor na sua plenitude artística…” – fundamenta(-se) o autor, em jeito de introdução.
Para além disso, acrescenta, esta banda desenhada é “…uma obra imortal que consegue vencer o inefável Cronos, o deus do tempo, que torna velha qualquer manifestação artística” e representa “… a maturação de um estilo, o final de um caminho e, em definitivo, uma forma de entender os comics”.
E justifica-se ainda pela “técnica impecável” de Foster, por ser “um dos grandes clássicos”, “um dos comics mais imitados de todos os tempos” e por estar carregada “ de valores éticos universais”.

O autor, Martínez-Pinna, inicia o seu livro com uma introdução biográfica sobre o Foster “pré-Príncipe Valente” ajudando-nos a situar a sua obra nas suas origens, nos seus princípios, no seu percurso pessoal, profissional e artístico, no seu tempo e no contexto dos quadradinhos (e das outras artes) de então.
Depois, há um mergulho – saboroso e profundo – na obra-prima de Foster, analisando as temáticas, o estilo, a evolução, o peso das personagens secundárias – muitas vezes protagonistas por umas quantas páginas –, apontando inspirações, homenagens e referências a diversos níveis, indicando incongruências históricas (justificadas pelas necessidades ficcionais de um relato aventuroso e humano), destacando a qualidade do traço de Foster, os seus cavalos e o seu imenso respeito pela natureza, sublinhando a multiplicidade de soluções narrativas, o peso e o protagonismo (incomum) das personagens femininas, comentando a importância da religião e da magia na saga…
E, analogamente, como a obra de Foster foi continuada – como, quando e por quem – e, numa óptica mais formal, outros formatos de publicação, as adaptações literárias e cinematográficas, as melhores e piores reproduções que dela foram feitas.
Tudo isto - e não é tudo - justifica “mais um livro sobre Foster e o seu Príncipe Valente” e pede ao leitor a disponibilidade mental para uma leitura ponderada e reflexiva, pois se o autor não cria nada de novo ou original, nalguns casos ilumina a obra de Foster de modo diferente, fazendo-a brilhar sob uma nova luz.
Para isso contribui também, decisivamente, a presença tutelar da arte do autor nas páginas desta edição em que quase todas as imagens utilizadas - restauradas com a paixão e o talento que se reconhecem a Manuel Caldas - reproduzem vinhetas do Príncipe Valente no seu tamanho original (ou seja, sensivelmente o tamanho das páginas do livro!). O que facilmente provoca no leitor o delírio de imaginar uma (utópica) edição do Príncipe Valente no (gigantesco) tamanho das pranchas que Foster nos legou.
E a que a leitura deste livro indubitavelmente faz desejar voltar, para recordar/descobrir/desfrutar tudo aquilo que ele evocou.


15/02/2012

Principe Valiente – La Reina y el Escudero








1949-1950
Harold R. Foster (argumento e desenho)
Manuel Caldas e Pedro Caldas (restauro)
Rafael Marin (tradução e posfácio)
La Imprenta (Uruguai, Setembro de 2011)
260 x 340 mm, 112 p., pb, brochado
680 pesos uruguaios / 25,00 €





1.       Acredito que pertenço à mais afortunada geração de leitores de histórias aos quadradinhos de sempre.
2.       É verdade que alguns poderão afirmar que preferiam ter vivido no início dó século passado para assistirem in loco aos primeiros passos da BD norte-americana nos jornais, nos anos 1930/1940 como contemporâneos da sua idade de ouro, ter acompanhado a explosão dos super-heróis ou o movimento undeground na década de 1960, ou, do outro lado do oceano, ter vivenciado o nascimento de Tintin, o boom da BD europeia pós-Segunda Guerra Mundial, a sua libertação temática pós-Maio de 1968…
3.       Mas a verdade é que – se todos estes e outros períodos foram estimulantes – nos dias de hoje, como nunca, conseguimos compreender a importância de cada um deles….
4.       ... e temos acesso a muitos dos grandes momentos dos quadradinhos das épocas citadas, em edições cuidadas e comentadas que são uma autêntica perdição para quem lê histórias aos quadradinhos.
5.       Para além disso - como todos os contemporâneos daquelas épocas – podemos acompanhar o muito e bom que é criado nos nossos dias.
6.       Dirão alguns que, daqui para a frente isso acontecerá sempre, mas permitam-me duvidar.
7.       Não só pelos avanços tecnológicos que poderão conduzir a BD para outros caminhos e outros suportes, pondo fim – a curto? médio? prazo - às edições em papel, pesadas na mão, em que se sente o cheiro da tinta, a textura do papel, que eu tanto prezo…
8.       … mas também pela questão geracional, pois hoje em dia reedita-se – em boa parte acredito eu – para aqueles que em crianças e jovens leram os quadradinhos hoje clássicos e que conheceram esses períodos tão estimulantes…
9.       … e não me parece que próximas gerações venham a ter esses mesmos interesses.
10.   Dito isto, em jeito de introdução (bem longa), permitam-me passar ao livro que hoje destaco, no terceiro e último dos três textos que As Leituras do Pedro dedicam aos 75 anos do Príncipe Valente.
11.   La Reina y el Escudero, é mais uma dessas reedições (quase) perfeitas de um clássico incontornável da BD, ou não fosse o seu responsável Manuel Caldas, cujo trabalho nunca é de mais salientar.
12.   Suspensa a edição portuguesa pelas (tristes razões) já conhecidas, perdidos os direitos para Espanha por força da força de uma editora “grande”, esta edição para o Uruguai (!) surge como bem-vindo oásis para os que admiram o trabalho de restauro, minucioso e perfeccionista que Caldas desenvolveu na (re)descoberta do traço original a preto e branco de Foster.
13.   Para não repetir o que já escrevi várias vezes sobre a obra, o autor e o trabalho de Caldas, referirei a variedade temática das várias histórias incluídas neste tomo,
14.   que “abarca o período das últimas pranchas publicadas em "O Mosquito" e das primeiras saídas no "Mundo de Aventuras", incluindo as pranchas que na época não se publicaram enquanto uma revista não retomou a série abandonada pela outra”, esclarece Manuel Caldas,
15.   o alto nível gráfico e narrativo que Foster mais uma vez demonstra,
16.   com especial destaque para o seu elevado sentido de humor e a cada vez maior humanização dos participantes.
17.   E também a harmonia com que a narrativa aventurosa combina com a temática familiar, a intriga palaciana e as questões sociais e políticas.
18.   E ainda, o protagonismo que ocupam nestas páginas a (rainha) Aleta e o (escudeiro) Arf, daí o sub-título do livro
19.   cujo desenho se mantém soberbo, preciso, expressivo e minucioso.
20.   Por isso, mesmo em tempos de crise, esta é sem dúvida uma daquelas obras incontornáveis, que pode – que deve! – ser encomendada. Aqui.



14/02/2012

Manuel Caldas

“Foster deveria ter posto fim ao Príncipe Valente”








De há uns anos a esta parte, falar do Príncipe Valente, implica falar de Manuel Caldas, português da Póvoa de Varzim e profundo conhecedor da obra de Foster, a quem dedicou a monografia Foster & Val.
Ao seu trabalho de artesão apaixonado deve-se a melhor edição a preto e branco alguma vez feita da obra de Foster, criada a partir das páginas dos jornais e das provas originais ainda existentes, o que implicou muitas horas de trabalho em cada prancha, eliminando a cor e restaurando o traço original, que o leitor actual redescobre em toda a sua limpidez e esplendor. Com seis volumes de grande formato publicados em Portugal e Espanha, com os primeiros 12 anos da saga (1937-1948), actualmente prepara para um editor do Uruguai o segundo dos três livros correspondentes a 1949-1954.
Por isso, o assinalar dos 75 anos do Príncipe Valente não ficaria completo sem uma conversa com ele.

As Leituras do Pedro - 75 anos depois, ainda se justifica ler o Príncipe Valente?
Manuel Caldas - “Prince Valiant” é o clássico dos clássicos da banda desenhada americana dos jornais. É obrigatório lê-lo. Se se entra na sua leitura por obrigação (a reverência que se deve ter para com os clássicos), logo se descobre o prazer.

ALP - Qual o seu melhor período? Porquê?
MC - Todo o período fosteriano (até 1971) é um monumento da BD. E entre o que Hal Foster fez, o melhor do melhor são os primeiros 7 anos. O melhor do melhor apenas, pois Foster foi sempre muito bom no que fez. Eu descobri a série aos meus 11 anos, precisamente nos últimos tempos do autor, e mesmo assim a paixão foi instantânea e avassaladora.

ALP - E qual a melhor prancha do Príncipe Valente?
MC - Certamente que por maioria de votos ganha a da batalha sobre a ponte de Dundorn (em cima), que toda a gente conhece e é assombrosa. Mas eu tenho uma preferência muito especial pela 681 (em baixo), que fala da grandeza do mar, da grandiosidade e da graciosidade dos seus habitantes, dos fenómenos da natureza, da família, da infância, do regresso à pátria e ao conforto do lar.

ALP - O que pensas do Príncipe Valente do John Cullen Murphy e do Gary Gianni?
MC - Nunca me preocupei com seguir o que fizeram e fazem os sucessores de Hal Foster, mas conheço uma grande parte. O suficiente para poder dizer que (pelo menos comparativamente – e a comparação é inevitável) o que fizeram, e vão fazendo, é mauzinho e cada vez pior. “Prince Valiant” nunca devia ter passado para as mãos deles. Nem de nenhum outro autor. Foster deveria ter-lhe posto um fim, como, de resto, chegara a planear anos antes.

ALP - Durante quantos anos “O Primeiro de Janeiro” publicou o Príncipe Valente?
MC - Desde 19 de Abril do ano em que nasci (1959) até 30 de Abril de 1995. Portanto, durante 36 anos.

ALP - Qual a tua opinião sobre essa edição?
MC - Nos anos 50, 60 e 70 um jornal português publicar BD a cores era um verdadeiro luxo. Hoje, claro, temos de reconhecer que era bastante mal impresso.

ALP - Quantas edições do Príncipe Valente tens?
MC - Tenho parte de muitas, de muitos países. A minha preocupação nunca foi ter colecções completas. Primeiro foi a demanda de todas as páginas realizadas por Hal Foster e depois foi a busca das melhores reproduções de cada uma delas. É que na mesma edição há sempre páginas bem reproduzidas (raramente muito bem) mas também (a maioria) páginas mal ou pessimamente impressas

ALP - Qual a melhor edição a cores do Príncipe Valente?
MC - Actualmente a que a Fantagraphics publica é bastante boa, mas deixa na boca um enorme amargo: podia facilmente ser quase perfeita, mas desperdiçou a oportunidade ao reproduzir deficientemente o fabuloso material de base que usa.

ALP - E a preto e branco?
MC - A preto e branco têm uma qualidade como antes nunca se alcançara os seis volumes com os primeiros 12 anos da série (1937-1948), publicados em Portugal entre 2005  e 2007 e em Espanha entre 2006 e 2008. A estes deve acrescentar-se um sétimo volume (1949-1950) publicado há poucos meses no Uruguai.

ALP - Tens algum feedback sobre essa edição uruguaia?
MC - Sim, pois estou sempre em contacto com o editor, Rafael Maria Carrocio, que me deu inteira liberdade para fazer a edição como eu entendesse. A qual, na prática, é a continuação da edição que comecei a fazer para Espanha.

ALP - Quando sai o próximo volume?
MC - O contrato assinado e pago diz que este ano têm de sair dois volumes. Infelizmente, às vezes não é humanamente possível cumprir os contratos…

ALP - Vai ficar só pelos três previstos?
MC - Não pode! Para publicar a preto e branco todo o Príncipe Valente fosteriano como Deus manda (e não com a má qualidade com que está a ser publicado em Portugal desde que eu não tenho interferência na edição) faltarão ainda 8 volumes, e mais 5 em tamanho menor, com o período de Foster e Murphy.

ALP - Existem muitos originais do Príncipe Valente do Foster?
MC - Nas mãos de coleccionadores existem bastantes, e na biblioteca americana à qual Foster deixou o seu espólio estão, se a memória do que li não me falha, umas três centenas.

ALP - Quanto podem valer?
MC - Não tanto como os do “Tintin”, mas, a um negociante do ramo, com um pouco de sorte, pode-se comprar um por pouco mais de 5 000 dólares. Nos últimos anos, o original mais caro vendido pela casa leiloeira Heritage ultrapassou os 33 000 dólares. Trata-se da página 1123.

ALP - Tens algum?
MC - Pode ser que venha a ter quando, na minha velhice, tiver liquidado ao banco o empréstimo da casa. Tentei há um ano e tal comprar uma vinheta (também se vendem vinhetas  soltas, pois Foster recortou muitos dos seus originais para oferecer partes deles aos admiradores), mas desisti quando ultrapassou os 150 dólares. Era uma vinheta com um sentido muito especial para mim: a única em que a palavra Portugal aparece, quando o barco em que viaja Valente faz escala no nosso país.


13/02/2012

Príncipe Valente nasceu há 75 anos


Príncipe Valente: a primeira prancha




A 13 de Fevereiro de 1937, um sábado, alguns jornais norte-americanos publicavam a cores a primeira prancha de uma das mais emblemáticas e fabulosas sagas que a banda desenhada viria a conhecer: “Prince Valiant in The Days of King Arthur”.

Ou seja, nascia aquele que em Portugal ficou conhecido como o Príncipe Valente pelos leitores do Mosquito (onde se estreou em 1948), do Mundo de Aventuras, do Jornal do Cuto e, principalmente, do jornal Primeiro de Janeiro, que o publicou semanalmente, a cores, durante 36 anos, entre 1959 e 1985.
Criada aos 44 anos por Harold Rudolph Foster (1892-1982), revelar-se-ia não só uma obra de maturidade, mas também a obra de toda a sua vida, pois a ela dedicou mais de 40 anos, durante os quais escreveu e/ou desenhou 2244 pranchas, as últimas cinco centenas já desenhadas por John Cullen Murphy (1919-2004). Após a morte de Foster os argumentos estiveram a cargo do filho de Murphy. Com a morte deste, em 2004, Mark Schultz (argumento) e Gary Gianni (desenho) assumiram esta BD, ainda em publicação nos nossos dias.
Curiosamente, Foster, que também foi desenhador de Tarzan, chegou a considerar os quadradinhos arte menor e a trocá-los pelo desenho publicitário, antes de voltar a eles por razões económicas.
A última prancha desenhada por Foster
As aventuras do Príncipe Valente (ou Val), cavaleiro da mítica Távola Redonda da Corte do Rei Artur, defensor de valores como a coragem, a amizade, a lealdade, a justiça, a honra e o cavalheirismo, constituem uma monumental saga, tão bem escrita como desenhada, em que se destaca o envelhecimento progressivo dos protagonistas: Val, que só aparece na terceira prancha da saga, começa como adolescente, torna-se depois um jovem fogoso, conhece a bela Aleta, rainha das Ilhas Brumosas, com quem casa e tem vários filhos - Arn, o primogénito, as gémeas Karen e Valeta, Galan e Nathan (este último já no consulado de Murphy) - que, à medida que o pai amadurece, vão crescendo – até à idade adulta - e assumindo, a vários níveis, cada vez mais protagonismo.
Porque, na BD com o seu nome, o Príncipe Valente está muitas vezes ausente ou é pouco mais do que espectador surgindo, também, no centro da acção Sir Gawain, cavaleiro da Távola Redonda, a rainha Aleta, os seus filhos, o escudeiro Arf, o vicking Boltar e outros mais, o que permitiu a Foster contar – muitas vezes em simultâneo – várias histórias que se combinam, cruzam e servem de referência.
Nelas, abordou aspectos sociais, políticos, militares e religiosos da época em que Val viveu, levando-o a percorrer meio mundo, da Europa – incluindo uma breve acostagem na costa portuguesa - à América, da África à Ásia.
Prancha 534
No aspecto formal, o facto de, ao contrário do que era habitual, o Príncipe Valente ter sido sempre publicado apenas como prancha dominical, sem a habitual derivação em tiras diárias, permitiu a Foster dedicar-lhes cerca de 50 horas semanais. Por isso, cada uma, nos seus monumentais 86 cm de altura por 70 cm de largura (ou seja cada vinheta tem aproximadamente o tamanho de uma folha A4) é uma obra de arte, de composição tradicional mas razoavelmente variada, traçada num preto e branco fino e detalhado, perfeito na correcta proporção do ser humano, sejam eles vigorosos guerreiros, belíssimas mulheres, alegres crianças ou veneráveis anciãos, expressivo na representação dos seus rostos, que transmitem todas as sensações de que o autor os quis dotar, e sublime na recriação de paisagens ou edifícios, com um pormenor inultrapassável.
Finalmente, numa época em que o balão de texto era já instrumento fundamental da narrativa sequencial em quadradinhos, a obra de Foster surpreende pelo recurso (aparentemente obsoleto) ao texto sob cada vinheta. Mas, só assim, Foster pode dar largas ao seu talento literário – atente-se na riqueza do seu vocabulário e na sua veia erudita – que condimentou com um assinalável sentido de humor com o qual, tantas vezes, coloca em causa princípios e bases do tempo em que Val viveu e do seu próprio tempo.


Um grande obrigado ao Manuel Caldas pela disponibilidade para esclarecer algumas questões e pela selecção das imagens que ilustram este texto e também o de amanhã.

(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Fevereiro de 2012)



15/06/2009

Príncipe Valente

Foster e Val – Os trabalhos e os dias do criador de ‘Prince Valiant’
Manuel Caldas
Livros de Papel (Portugal, Dezembro de 2006)
260 x 340 mm, 128 p., pb e cor, capa brochada com badanas

Príncipe Valente
(6 volumes, de 1937-38 a 1947-48)
Harold R. Foster
Livros de Papel (vol. 1 a 5) e Bonecos Rebeldes (vol. 6) (Portugal, Março de 2005/Junho de 2007)

270 x 348 mm, 112 p., pb, capa brochada com badanas

Resumo
Publicado durante décadas no suplemento dominical de "O Primeiro de Janeiro", o Príncipe Valente é, possivelmente, um dos clássicos da banda desenhada norte-americana melhor conhecidos em Portugal. A isto, há que acrescentar a sua passagem por diversas revistas desde os anos 50 e também algumas edições (muito) parciais em álbum. Por isso, para muitos será desnecessário apresentar a série, mas para outros, justifica-se fazê-lo. Criado em 1937, por Harold Rudolf Foster, "Prince Valiant in the days of King Arthur", no original, é uma soberba saga medieval, que exalta valores como a liberdade, o cavalheirismo, a amizade, a honra e a valentia, e que narra a juventude, idade adulta e envelhecimento de um dos cavaleiros da mítica Távola Redonda da Corte do Rei Artur.
“Foster e Val” é uma biografia (apaixonada e apaixonante) do seu autor, repleta de ilustrações.

Desenvolvimento
Pegando no que atrás ficou escrito, diga-se que a evolução do herói, que vai avançando na idade, casa, tem filhos, que crescem e progressivamente o vão substituindo ou pelo menos partilhando com ele o protagonismo das aventuras, é uma das marcas distintivas da série. Como o é também, o facto de nela não existir qualquer balão, surgindo todo o texto na parte inferior das vinhetas. Mas que acabam por ser aspectos secundários, quando comparados com as qualidades que a tornaram única: a erudição literária do seu texto, o requinte e o pormenor do seu desenho clássico, realista, expressivo e imponente, a diversidade e a consistência das (muitas) histórias que vão sendo contadas, passadas numa época mítica, à qual Foster dá um toque de fantástico aqui e ali, não se coibindo, por oposição, de também dar uma aura de autenticidade através da citação de episódios históricos ou até da participação activa do protagonista neles.
Nos primeiros anos, a acção centra-se na longa procura de Aleta, rainha das Ilhas Brumosas, por parte do Príncipe Valente, que termina com o casamento dos dois após muitos encontros e desencontros. A par da magia da aventura em estado puro e dos múltiplos combates com que Foster alimentou anos da saga, e dos muitos lugares remotos visitados, destaca-se a forma como Foster os entremeia com registos mais caseiros, quase sempre condimentados com um invulgar sentido de humor.

A reter
- A paixão de Caldas pela obra de Foster, patente (e latente) nestas edições.
- O extremo cuidado posto na restauração de cada prancha.
- A qualidade literária dos textos do Príncipe Valente.
- O traço clássico, minucioso e pormenorizado de Foster.

Menos conseguido
- É lamentável que uma edição desta qualidade de um clássico eterno, termine abruptamente ao fim de seis volumes
[1] devido a uma querela motivada (?) por razões financeiras. Como se o pouco dinheiro que se consegue amealhar editando BD em Portugal o justificasse…

Curiosidade
- Mantido por Hal Foster ao longo de mais de 30 anos, em sumptuosas pranchas dominicais, o "Príncipe Valente" conta 2.244 páginas da sua autoria, incluindo cerca de
meio milhar desenhadas por John Cullen Murphy (para não citar a sua actual fase, assinada por Gary Gianni). Da fase assinada a solo por Foster, cuja edição integral estava prevista em 22 volumes, com uma centena de páginas cada, estão já editados seis, com uma qualidade gráfica nunca antes vista que fazem dela a edição definitiva de "Príncipe Valente". Para a concretizar, Manuel Caldas, especialista e apaixonado confesso da obra de Foster, conseguiu que o King Features Syndicate abrisse os seus arquivos para obter as provas originais ou, quando elas não existiam, recorreu às páginas de jornais, compradas durante anos através do eBay, das quais eliminou a cor e restaurou até ao mínimo pormenor para obter o preto e branco cristalino que a actual edição apresenta.
- Cada volume contém no seu final meticulosas notas de leitura que podem ir da simples curiosidade ao enquadramento histórico e que revelam a verdadeira paixão e profundo conhecimento de Caldas pela obra.
- Manuel Caldas, através do selo editorial Libri Impressi, tem em curso uma edição em espanhol, que vende pelo correio para o país vizinho (impossibilitado que está de a distribuir nas livrarias) e também o primeiro volume da série em inglês.
[1] Existe um sétimo volume, editado “a solo” pela Bonecos Rebeldes. Se a qualidade da obra em si se mantém, na (inevitável) comparação gráfica com os seis volumes anteriores, da responsabilidade de Manuel Caldas, entretanto afastado, nota-se (e muito) a falta da sua paixão e minúcia, visível no menor cuidado posto no restauro dos originais, na inestética legendagem mecânica, na omissão das datas originais de publicação e na ausência das suas saborosas anotações e comentários…

(Montagem e actualização de diversos textos publicados entre 2005 e 2008, no Jornal de Notícias e na In’ - suplemento da revista NS, distribuída aos sábados com o JN e o DN)
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