13/04/2010
O Corvo
Gustave Doré (ilustrações)
Fernado Pessoa e Juan António Pérez Bonalde (traduções)
Libri Impressi (Portugal, 2010)
Não é BD, é verdade, mas nem só de banda desenhada se fazem as minhas leituras.
Mas é (mais) uma bela edição, com a marca de Manuel Caldas, que desta forma nos faz descobrir mais um belo tesouro, no caso a (improvável) reunião num só livro, de quatro génios de nacionalidade diferente e existências curtas e atribuladas: Poe (1809-1849), norte-americano, o autor do mais famoso poema da literatura americana, alvo de muitas adaptações; Doré (1832-1883), francês, autor das magníficas e expressivas gravuras deste livro, que constituíram o seu último trabalho; Pessoa (1888-1935), português, responsável pela tradução portuguesa; Juan António Pérez Bonalde (1846-1892), poeta venezuelano, tradutor da versão castelhana (pois trata-se de uma mais edição bilingue da Libri Impressi, pois o mercado castelhano é indispensável para garantir a viabilidade destas edições).
A base é o poema de Poe, O Corvo (The Raven), um dos mais conhecidos, traduzidos e adaptados textos da literatura norte-americana (e mundial…), aqui superiormente ilustrado por Doré, com um traço hiper-realista…
Já disponível nas livrarias (ou não, os mistérios da distribuição em Portugal continuam a ser muitos), pode também (deve…) ser encomendado directamente ao editor.
29/12/2009
Entrevista com Regina Pessoa
Foto:Júlio Moreira
No dia 19 de Dezembro, sábado, esteve na Galeria Mundo Fantasma, no Shopping Center Brasília, para inaugurar uma exposição de originais (que está patente até 24 de Janeiro),
o que foi pretexto para uma conversa sobre a génese de “RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland”. Trata-se de um projecto que nasceu “na sequência de um convite da família Niepoort”, que tinha por objectivo “explicar o processo do Vinho do Porto e a diferença entre o Ruby e o Tawny, que quase ninguém conhece”.
Após algumas visitas “às caves, ao Douro, às vinhas, comecei a ficar interessada na história e imediatamente associei o que me tinham contado à história da Alice no País das Maravilhas, de que sou fã!”. Começou a associar “cada pessoa que ia conhecendo a personagens da Alice” e, claro está, “o Douro ao País das Maravilhas.
Foto: Júlio Moreira
Uma vez apresentada a maqueta do livro, o projecto foi estendido também aos rótulos das garrafas pois a companhia “tem uma política muito engraçada: em cada país para, convida um desenhador local para fazer o rótulo do vinho de mesa; nos Estados Unidos, foi Bill Plympton”, mestre da animação.
Embora goste bastante de BD, que compra para consumo próprio, alternativa, como “a editada pela francesa Frémok, a minha editora de eleição”, ou de autores como “Mattotti, Stefano Ricci ou Eric Lambert”, nunca tinha feito banda desenhada. Por isso os originais expostos têm surpreendido todos os que os vêem, pela sua pequena dimensão, e por as vinhetas serem todas independentes. A explicação é dada pela autora: “Como eu não tinha experiência, trabalhei esta história como faço nos filmes; foi essa a abordagem”.
O resultado, tem sido unanimemente elogiado e a melhor prova é que a tiragem inicialmente prevista de 1500 exemplares, que foi aumentada para 3500 exemplares logo no dia em que os primeiros foram impressos, já está praticamente esgotada.
Foto: Júlio Moreira
Virada a página, Regina Pessoa está de regresso às imagens animadas, arte onde chegou “por acaso…” E explica: “Quando estava nas Belas-Artes, no Porto, em pintura, comecei à procura de um part-time para pagar os estudos e alguém que trabalhava com o Abi Feijó viu os meus desenhos, disse que estavam a precisar de alguém e sugeriu-me que passasse pelo estúdio… Fui lá, o Abi gostou dos meus desenhos e comecei no dia seguinte”.
Agora, trabalha em “Kali, o pequeno vampiro”, que “com os dois filmes anteriores irá formar uma trilogia dedicada à infância, aos medos, ao escuro”. Novamente uma co-produção entre Portugal, Canadá e França, deverá “estar pronto no final de 2010, se tudo correr bem”.
(Versão revista e aumentada do artigo publicado no Jornal de Noticias de 22 de Dezembro de 2009)
19/12/2009
BD para Ver - Regina Pessoa na Mundo Fantasma
Nascida em Coimbra, em 1969, Regina Pessoa tem uma licenciatura em Pintura nas Belas Artes do Porto e é conhecida principalmente pela sua actividade no cinema de animação, iniciada no estúdio Filmógrafo, com participações em diversos filmes de Abi Feijó como “Os Salteadores”, “Clandestino” ou “Fado Lusitano”.
Em 1999 realizou o seu primeiro filme a solo, “A Noite”, em gravura sobre placas de gesso, tendo seis anos depois dirigido o muito premiado “História Trágica com Final Feliz”, que deu origem a um livro homónimo, publicado pela Afrontamento em 2007.
Este ano, voltou à banda desenhada, tendo criado, a convite da Niepoort, o álbum “RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland”, em que explica porque razão no Vinho do Porto existem categorias diferentes, Ruby e Tawny, usando como inspiração personagens e situações do clássico “Alice no País das Maravilhas”, em especial nos gémeos TweedleDum e TweedleDee. A partir delas criou uma história bela, dinâmica e onírica, narrada num álbum em formato italiano (deitado), que é vendido num estojo, acompanhado por duas garrafas cujos rótulos são também da sua autoria.
A exposição, que estará patente na Mundo Fantasma até 24 de Janeiro de 2010, é baseada nestas duas obras, estando à venda desenhos originais da autora, bem como dois giclées (impressões de alta qualidade, de tiragem limitada), numerados e assinados por Regina Pessoa.
26/11/2009
BD para o Natal - RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland
Edições Afrontamento/Niepoort (Portugal, 2009)
Livro: 185 x 292 mm, 24 p., cor, cartonado
Embalagem: 304 x 196 x 80 mm
Depois do (justamente) multipremiado filme animado “História Trágica com final feliz”, este livro marca uma incursão de Regina Pessoa pela banda desenhada para (nos) contar (um)a história do Vinho do Porto. E da razão porque nele existem categorias diferentes: Ruby e Tawny. Para o fazer, inspirou-se (e que bela e bem conseguida foi esta inspiração) na história, melhor, em personagens e situações de “Alice no País das Maravilhas”, em especial nos gémeos TweedleDum e TweedleDee.
Tudo começa numa rua normal, de uma cidade normal, com gente normal, homogénea, cinzenta, de pasta e telemóvel, seguindo (n)a manada, ao longo de passeios e ruas, com rumo definido, sem saber para onde vai. (A)Normalizada.
Só que um dos homens da nossa história – da história da Regina – vislumbra um coelho (branco, de relógio…) a virar uma esquina e decide segui-lo, por um longo corredor, ao fundo do qual descobre uma pequenina porta, com uma fechadura em forma de… cálice! Entra então num mundo novo e diferente, onde (já) existe cor, onde se fabrica (de forma apaixonada…) o vinho, compreendendo as suas diferenças, ganhando vontade de ser diferente, transformando-se também ele em…
A história, assim simples, mas bela e dinâmica, onírica e fantástica, sem palavras para que imaginemos nós tudo o que dizem e pensam – e, porque não, sentem - os protagonistas, está traçada de forma agradável e harmoniosa, com pontuais aplicações de cor que dão vida e realçam pormenores (vivos).
E se a obra por si só é uma bela prenda, que dizer da embalagem que a acondiciona, uma requintada caixa, selada com etiqueta desenhada por Regina Pessoa, que no seu interior, para além do livro, contém duas garrafas de Vinho do Porto – Ruby e Tawny, claro – com RubyDum e TawnyDee nos seus rótulos, a inevitável etiqueta “Drink me” (!) pendurada do gargalo, para degustar enquanto se lê ou apenas para guardar zelosamente e fazer inveja aos amigos que nos visitam.
Uma edição em relação à qual há que agradecer que os livros não tenham todos esta (excelente) embalagem porque, senão, de quantas mais casas ia precisar eu para guardar a minha biblioteca de BD?!