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24/01/2014

Un petit gout de noisette



Descobri Vanyda há alguns anos, aquando da edição deste álbum, então claramente influenciada pelo manga que começava a impor-se com força em França e levava alguns novos autores a procurarem vencer nesse estilo ‘importado’.
A par disso, Vanyda demonstrava já uma sensibilidade especial para as vivências dos adolescentes/jovens adultos, onde se adivinhava um grande poder de observação do(s) que a rodeava(m) e, talvez também, algo da sua própria experiência.
As impressões do reencontro com esta autora francesa nascida em 1979, já a seguir.

03/05/2011

Jump Start

Coup de Pouce / Neuer Schwung
A Comissão Europeia anunciou a publicação de “Jump Start”, um livro de banda desenhada que pretende mostrar que qualquer um pode ter uma segunda oportunidade e reorganizar a sua vida através dos programas financiados pelo Fundo Social Europeu (FSE), que o co-edita juntamente com a Direcção-Geral do Emprego, dos Assuntos Sociais e da Igualdade de Oportunidades da Comissão Europeia.
As quatro histórias publicadas neste álbum têm por base testemunhos verídicos recolhidos juntos de habitantes dos vários países que integram a União Europeia, sendo este o ponto forte do projecto, pelos laços emotivos que pode criar pois os casos narrados são semelhantes aqueles que ouvimos diariamente nas notícias e de que todos conhecemos exemplos, tal como já acontecia aliás com as que compunham o primeiro livro desta série, intitulado “Novos Rumos”, lançado no final do ano passado.
Neste último caso, aliás, uma das histórias passava-se em Portugal, mais exactamente no Algarve, e narrava o caso de alguém que, após perder o emprego devido à deslocalização da empresa onde trabalhava, refez a vida reconvertendo a habitação familiar para fins de turismo rural.
Para além do desemprego, por detrás de cada um dos casos recontados aos quadradinhos podem estar situações como uma gravidez inesperada, um acidente automóvel que vitimou um dos pais ou o cônjuge, uma deficiência física, desavenças familiares, más companhias que levaram ao cumprimento de penas de prisão, etc.
Para ilustrar as bandas desenhadas foram escolhidos dois belgas (Christian Durieux e Gihef), um francês (Sylvain Savoia) e uma franco-laociana (Vanyda), já com álbuns publicados profissionalmente que, utilizando técnicas e estilos diversos, passaram ao papel, de forma bastante acessível e legível, as histórias escritas por Rudi Miel.
O álbum (ainda sem título em português, mas cuja tradução será algo como “Recomeço”) terá edição nas 23 línguas oficiais da União Europeia e mas pode desde já ser ser encomendado gratuitamente aqui.
Após a publicação do livro, prevista para as próximas semanas, ficará disponível uma versão online, como já acontece com “Novos Rumos”.


(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Abril de 2011)

29/12/2010

Novos Rumos

Rudi Miel (argumento)
Durieux, Gihef, Savoia, Vanyda (desenho)
Comissão Europeia (Luxemburgo, 2010)
175 x 245 mm, 60 p., cor, cartonado


Resumo
A banda desenhada «Novos rumos» é inspirada em histórias verídicas. A Comissão Europeia recolheu o testemunho de 54 europeus que beneficiaram dos programas financiados pelo FSE. Em frente à câmara, contam o seu percurso e como tiveram acesso às novas oportunidades em matéria de emprego e de formação. Esses testemunhos podem ser vistos aqui.

Desenvolvimento
Partindo desses testemunhos reais – e este é o ponto forte do projecto, pelos laços emotivos que pode criar pois os casos narrados são semelhantes aqueles que ouvimos diariamente nas notícias e de que todos conhecemos exemplos - foram criadas quatro histórias ficcionadas, desenhadas por quatro jovens autores, mas já com álbuns publicados, com o intuito de mostrar que é possível (embora não garantido…) dar a volta por cima, mesmo quando os inícios de vida foram menos conseguidos – devido a uma gravidez inesperada, um acidente automóvel que vitimou um dos pais, uma deficiência física, desavenças familiares ou más companhias que levaram a à prisão… - no caso presente, em termos de emprego.
Projecto institucional, com um objectivo claro, que não permitia grandes liberdades artísticas, ressente-se disso mesmo, quer narrativamente – com tudo a conduzir para o inevitável final feliz (mesmo que temporariamente, pois nada é certo nos tempos que correm…), embora seja de referir a enorme legibilidade e a fácil compreensão por leitores com referências diferentes (culturais, geográficas, …) de cada uma das quatro narrativas – quer graficamente - aspecto em que os quatro ilustradores não foram além de uma prestação profissional, mas sem brilhantismo nem rasgos de génio.

Curiosidades
- A obra encontra-se disponível para download gratuito nas 23 línguas da União Europeia.
- O livro impresso pode ser pedido gratuitamente.
- A sua tiragem inicial conjunta ultrapassa já os 100 mil exemplares e encontra-se mesmo esgotada nalgumas das línguas.

Oferta
- As Leituras do Pedro têm alguns exemplares desta obra para oferecer aos primeiros a deixar nesta mensagem um comentário em que salientem quais são, na sua opinião, os pontos A Reter e Menos Conseguidos deste blog.

30/08/2010

Celle que je ne suis pas

Vanyda (argumento e desenho)
Dargaud (França, Abril de 2008)
172 x 240, 192 p., cor, brochado com badanas


Com o manga em grande no mercado francófono, este é mais um exemplo de como este género influencia os autores locais, no caso uma belga de quase 30 anos, já com uma biografia respeitável, com um estilo próximo do da BD japonesa – deixo para outros a discussão se só é manga o que é produzido por nipónicos…
Mas onde também se notam outras leituras, no ritmo pausado, lento, do relato, que se demora em pormenores, que aprofunda as pequenas conversas, que transmite no papel tiques e hábitos do quotidiano normal, como o beijo de cumprimento, as banalidades que se trocam, o tempo de um passeio em silêncio ou pormenores de uma refeição ou de uma compra.
Mas passemos à história deste primeiro tomo de uma trilogia, protagonizada por Valentine, uma morena bonita, perdida num mundo, numa sociedade, numa família, numa escola em que não se reconhece, entre as tentativas de se integrar à força e o desejo – quase sempre reprimido - de marcar a sua diferença, de afirmar a sua individualidade, por medo da eventual rejeição subsequente.
Uma história que mostra – principalmente em relação a Valentine mas também relativamente às suas colegas e amigas – os prós e os contras das cedências que é necessário fazer para pertencer a um grupo, aquilo de que é necessário abdicar, as violências que essas escolhas exercem sobre si próprio, os efeitos que têm sobre a sua auto-imagem, numa idade – 14, 15 anos – em que a personalidade se afirma, em que as solicitações são muitas - álcool, droga, sexo, grupos – e as ajudas – em tempo de famílias desagregadas e culto da próprio umbigo - quase sempre poucas. Ou nenhumas.

(Texto publicado originalmente no BDJornal #24, de Outubro de 2008)
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