A pretexto – desnecessário – do Grande Prémio de Angoulême concedido a Cosey, recupero aqui um texto sobre o álbum Orchidea, originalmente publicado no Jornal de Notícias de 9 de Agosto de 2003~.
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28/01/2017
Orchidea
A pretexto – desnecessário – do Grande Prémio de Angoulême concedido a Cosey, recupero aqui um texto sobre o álbum Orchidea, originalmente publicado no Jornal de Notícias de 9 de Agosto de 2003~.
07/01/2017
24/08/2011
Vincent et Van Gogh
Gradimir Smudja (argumento e desenho)Delcourt (França, Maio de 2002)
72 p., cor, cartonado
14,95 €
A vitalidade da banda desenhada (da literatura, do cinema, ...) vê-se – também - pelo aparecimento (a)periódico de obras que inovam e/ou surpreendem, ultrapassando todas as expectativas. Mais a mais quando, por detrás delas, está um desconhecido, como é o caso do autor do álbum que destaco hoje, Gradimir Smudja, nascido na antiga Jugoslávia, em 1954, e actualmente a viver em Itália, onde trabalha como professor.
E não admira que Smudja seja um desconhecido das lides da banda desenhada, porque “Vincent et Van Gogh” é o seu álbum de estreia, o que aumenta a surpresa do leitor. Surpresa que se torna maior, porque, aparentemente, o álbum é apenas uma biografia de Van Gogh. Exactamente “o” Van Gogh, o célebre pintor, que nos é apresentado nas primeiras pranchas como um dos grandes especialistas de quadros sobre Paris, mas com a secreta ambição de se tornar também ele artista. Só que, sempre que chega a um local para dar largas à sua veia criadora, alguém já chegou antes dele: Monet, num jardim, Degas, na Ópera, ... E, ao mesmo tempo, os outros pintores (Gauguin, Toulouse-Lautrec,...) consideram-no uma nulidade. Por isso, Van Gogh, desiludido, deixa a sua cidade e parte para a Provence.
E é aqui que surge a grande surpresa, quando Smudja nos revela um dos mais bem guardados segredos da história da arte: os quadros atribuídos a Van Gogh não foram pintados por ele, mas sim por Vincent... um gato que o pretenso pintor salva de uma aflição! Na continuação do álbum vamos acompanhar a cumplicidade dos dois (Vincent e Van Gogh), e como o segundo se reduz rapidamente a pouco mais do que uma sombra do primeiro, a quem inveja o talento, a ousadia, as atenções do belo sexo... e com quem acabará por se desavir, o que lhe custará a célebre perda da orelha...
Esta é a história que nos conta de forma leve, descontraída e bem-humorada, mas com muito talento, num estilo gráfico próximo da técnica do pastel, Smudja, que transformou este álbum numa bela homenagem aos génios da pintura citados, cujas obras vamos encontrando, ao virar de cada página, como fundo de uma vinheta, ou parte da acção, num belo passeio pela História da Arte do século XIX.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 25 de Fevereiro de 2003)
NOTA: Este álbum foi editado em português pela Witloof.
72 p., cor, cartonado
14,95 €
A vitalidade da banda desenhada (da literatura, do cinema, ...) vê-se – também - pelo aparecimento (a)periódico de obras que inovam e/ou surpreendem, ultrapassando todas as expectativas. Mais a mais quando, por detrás delas, está um desconhecido, como é o caso do autor do álbum que destaco hoje, Gradimir Smudja, nascido na antiga Jugoslávia, em 1954, e actualmente a viver em Itália, onde trabalha como professor.
E não admira que Smudja seja um desconhecido das lides da banda desenhada, porque “Vincent et Van Gogh” é o seu álbum de estreia, o que aumenta a surpresa do leitor. Surpresa que se torna maior, porque, aparentemente, o álbum é apenas uma biografia de Van Gogh. Exactamente “o” Van Gogh, o célebre pintor, que nos é apresentado nas primeiras pranchas como um dos grandes especialistas de quadros sobre Paris, mas com a secreta ambição de se tornar também ele artista. Só que, sempre que chega a um local para dar largas à sua veia criadora, alguém já chegou antes dele: Monet, num jardim, Degas, na Ópera, ... E, ao mesmo tempo, os outros pintores (Gauguin, Toulouse-Lautrec,...) consideram-no uma nulidade. Por isso, Van Gogh, desiludido, deixa a sua cidade e parte para a Provence.
E é aqui que surge a grande surpresa, quando Smudja nos revela um dos mais bem guardados segredos da história da arte: os quadros atribuídos a Van Gogh não foram pintados por ele, mas sim por Vincent... um gato que o pretenso pintor salva de uma aflição! Na continuação do álbum vamos acompanhar a cumplicidade dos dois (Vincent e Van Gogh), e como o segundo se reduz rapidamente a pouco mais do que uma sombra do primeiro, a quem inveja o talento, a ousadia, as atenções do belo sexo... e com quem acabará por se desavir, o que lhe custará a célebre perda da orelha...
Esta é a história que nos conta de forma leve, descontraída e bem-humorada, mas com muito talento, num estilo gráfico próximo da técnica do pastel, Smudja, que transformou este álbum numa bela homenagem aos génios da pintura citados, cujas obras vamos encontrando, ao virar de cada página, como fundo de uma vinheta, ou parte da acção, num belo passeio pela História da Arte do século XIX.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 25 de Fevereiro de 2003)
NOTA: Este álbum foi editado em português pela Witloof.
Leituras relacionadas
Delcourt,
Gradimir Smudja,
opinião,
Witloof
09/05/2011
Ideias Negras
Integral
Franquin (argumento e desenho)
Witloof (Portugal, Agosto de 2001)
175 x 245, 72 p., pb, cartonado
Se Franquin é justamente conhecido pela melhor fase de Spirou e pelas indescritíveis e hilariantes confusões criadas por Gaston Lagaffe, era uma injustiça que a sua obra mais pessoal estivesse perdida no limbo do esquecimento.
Injustiça recentemente reparada pela reedição integral, num único volume, das suas "Ideias negras", a que a Witloof se associou com um mini-álbum cartonado (pb, 72 p., 12,47 euros), permitindo aos leitores portugueses - naquele que é sem qualquer dúvida um dos lançamentos do ano em curso - descobrirem a faceta mais pessimista de um autor que, paradoxalmente, se distinguiu pelo seu notável sentido de humor.
Nascidas, numa parceria com Yvan Delporte, no "Le trombone illustré", suplemento autónomo da revista Spirou, em 1977, e depois transferidas para a revista "Fluide Glacial", as suas "ideias negras" tanto podem ter como tema base aspectos mais ou menos banais do dia-a-dia ou a (recorrente) caça, como temas mais sérios e globais de que são exemplo a pena de morte, a corrida ao nuclear (então na ordem do dia) ou a própria guerra.
Temas tratados de forma mordaz, transformados em alvos de uma crítica feroz, implacável e violenta, que realça o lado mais estúpido e irracional da natureza humana, e culminam sempre em desfechos funestos mas irresistivelmente divertidos, embora deixem a incómoda sensação de que rimos de algo que não devia ser para rir.
Como disse Franquin: "As 'Ideias negras' são pequenas histórias, um pouco sádicas, um pouco cruéis, mas no entanto engraçadas".
E são narradas com uma técnica notável, num preto e branco muito negro, nervoso e bem trabalhado, em que quase sempre os personagens não passam de silhuetas sombrias, recortadas no branco imaculado da prancha, acentuando o tom sinistro das histórias.
Como complemento, a ser visto com atenção, cada prancha tem uma assinatura igualmente "negra", personalizada de acordo com a temática narrada na página, que funciona como corolário da ideia nela exposta.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2001)
Franquin (argumento e desenho)
Witloof (Portugal, Agosto de 2001)
175 x 245, 72 p., pb, cartonado
Se Franquin é justamente conhecido pela melhor fase de Spirou e pelas indescritíveis e hilariantes confusões criadas por Gaston Lagaffe, era uma injustiça que a sua obra mais pessoal estivesse perdida no limbo do esquecimento.
Injustiça recentemente reparada pela reedição integral, num único volume, das suas "Ideias negras", a que a Witloof se associou com um mini-álbum cartonado (pb, 72 p., 12,47 euros), permitindo aos leitores portugueses - naquele que é sem qualquer dúvida um dos lançamentos do ano em curso - descobrirem a faceta mais pessimista de um autor que, paradoxalmente, se distinguiu pelo seu notável sentido de humor.
Nascidas, numa parceria com Yvan Delporte, no "Le trombone illustré", suplemento autónomo da revista Spirou, em 1977, e depois transferidas para a revista "Fluide Glacial", as suas "ideias negras" tanto podem ter como tema base aspectos mais ou menos banais do dia-a-dia ou a (recorrente) caça, como temas mais sérios e globais de que são exemplo a pena de morte, a corrida ao nuclear (então na ordem do dia) ou a própria guerra.
Temas tratados de forma mordaz, transformados em alvos de uma crítica feroz, implacável e violenta, que realça o lado mais estúpido e irracional da natureza humana, e culminam sempre em desfechos funestos mas irresistivelmente divertidos, embora deixem a incómoda sensação de que rimos de algo que não devia ser para rir.
Como disse Franquin: "As 'Ideias negras' são pequenas histórias, um pouco sádicas, um pouco cruéis, mas no entanto engraçadas".
E são narradas com uma técnica notável, num preto e branco muito negro, nervoso e bem trabalhado, em que quase sempre os personagens não passam de silhuetas sombrias, recortadas no branco imaculado da prancha, acentuando o tom sinistro das histórias.
Como complemento, a ser visto com atenção, cada prancha tem uma assinatura igualmente "negra", personalizada de acordo com a temática narrada na página, que funciona como corolário da ideia nela exposta.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2001)
02/05/2011
La frontière invisible, tome 1
Les Cités Obscures
Benoit Peeters (argumento)
François Schuiten (desenho)
Casterman (França, Abril de 2002)
235 x 305 mm, 64 p., cor, cartonado com sobrecapa, 13,50 €
Foi há já 20 anos que foi colocada a primeira pedra das "Cidades Obscuras". Os seus "artífices" são François Schuiten e Benoit Peeters que, "mais do que uma série”, as preferem definir como “a descrição progressiva de um universo...". Um universo desvendado álbum após álbum, "como se descobre um esqueleto enterrado na areia de que não se conhece a forma completa!".
O mais recente elemento, "La frontière invisible, tome 1" (Casterman, cor, 64 p.) é "uma história que começa com a chegada ao Centro de Cartografia de Sodrovno-Voldachie, de Roland, um jovem brilhante que se empenha nas suas tarefas, subindo rapidamente na hierarquia. Ao mesmo tempo, trava conhecimento com Schkodrá, uma bela e jovem prostituta, que se recusa a despir para não revelar o mapa traçado no seu próprio corpo.Enquanto assistimos à transição de Roland da adolescência para a idade adulta, sentimos que tudo começa a mudar quando modernos aparelhos são trazidos para substituir os meios artesanais existentes e o Centro é visitado pelo marechal Radisic, o dirigente supremo do país, cuja política expansionista, assente na velha máxima de que o fim justifica todos os meios, o que põe em causa o equilíbrio existente nas Cidades Obscuras.
Mais uma vez, a história contada é simbólica, usando tempos e lugares incertos, para falar de realidades recentes como o nacionalismo ou a utilização política da história e da geografia como instrumentos bélicos.
Lembra Schuiten, que mais uma vez associa ao seu traço fino e pormenorizado, uma belíssima utilização da cor, que "uma fronteira é a linha que separa um território de outro, mas é também o que os divide!"
P.S. - Diz-se que a realização de um homem passa por três aspectos: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Saltando a questão da árvore, escrever, depois (ou a par) de várias experiências, tenho-o feito regularmente aqui, nas páginas do JN, não livros, mas sobre livros que li e tenho a oportunidade de partilhar. O filho, nasceu há dias. E é a ti, Daniel, que dedico este texto. Espero que a leitura dos livros que vou destacando, te venha a dar pelo menos tanto prazer como deu a mim, te faça transpor fronteiras, desbravar horizontes e despertar a imaginação, num tempo em que a leitura é, infelizmente, uma actividade cada vez menos praticada.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 7 de Maio de 2002, a propósito do nascimento do meu primeiro filho, Daniel, a 2 de Maio)
Nove anos depois: parabéns Daniel!
Nota
Este álbum, primeiro de um díptico concluído dois anos mais tarde, seria editado em português pela Witloof, em Outubro de 2002, com o título “A Fronteira Invisível – Tomo 1”, existindo também uma edição da Casterman que compila os dois tomos que constituem a história.
Benoit Peeters (argumento)
François Schuiten (desenho)
Casterman (França, Abril de 2002)
235 x 305 mm, 64 p., cor, cartonado com sobrecapa, 13,50 €
Foi há já 20 anos que foi colocada a primeira pedra das "Cidades Obscuras". Os seus "artífices" são François Schuiten e Benoit Peeters que, "mais do que uma série”, as preferem definir como “a descrição progressiva de um universo...". Um universo desvendado álbum após álbum, "como se descobre um esqueleto enterrado na areia de que não se conhece a forma completa!".
O mais recente elemento, "La frontière invisible, tome 1" (Casterman, cor, 64 p.) é "uma história que começa com a chegada ao Centro de Cartografia de Sodrovno-Voldachie, de Roland, um jovem brilhante que se empenha nas suas tarefas, subindo rapidamente na hierarquia. Ao mesmo tempo, trava conhecimento com Schkodrá, uma bela e jovem prostituta, que se recusa a despir para não revelar o mapa traçado no seu próprio corpo.Enquanto assistimos à transição de Roland da adolescência para a idade adulta, sentimos que tudo começa a mudar quando modernos aparelhos são trazidos para substituir os meios artesanais existentes e o Centro é visitado pelo marechal Radisic, o dirigente supremo do país, cuja política expansionista, assente na velha máxima de que o fim justifica todos os meios, o que põe em causa o equilíbrio existente nas Cidades Obscuras.
Mais uma vez, a história contada é simbólica, usando tempos e lugares incertos, para falar de realidades recentes como o nacionalismo ou a utilização política da história e da geografia como instrumentos bélicos.
Lembra Schuiten, que mais uma vez associa ao seu traço fino e pormenorizado, uma belíssima utilização da cor, que "uma fronteira é a linha que separa um território de outro, mas é também o que os divide!"
P.S. - Diz-se que a realização de um homem passa por três aspectos: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Saltando a questão da árvore, escrever, depois (ou a par) de várias experiências, tenho-o feito regularmente aqui, nas páginas do JN, não livros, mas sobre livros que li e tenho a oportunidade de partilhar. O filho, nasceu há dias. E é a ti, Daniel, que dedico este texto. Espero que a leitura dos livros que vou destacando, te venha a dar pelo menos tanto prazer como deu a mim, te faça transpor fronteiras, desbravar horizontes e despertar a imaginação, num tempo em que a leitura é, infelizmente, uma actividade cada vez menos praticada.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 7 de Maio de 2002, a propósito do nascimento do meu primeiro filho, Daniel, a 2 de Maio)
Nove anos depois: parabéns Daniel!
Nota
Este álbum, primeiro de um díptico concluído dois anos mais tarde, seria editado em português pela Witloof, em Outubro de 2002, com o título “A Fronteira Invisível – Tomo 1”, existindo também uma edição da Casterman que compila os dois tomos que constituem a história.
Leituras relacionadas
Benoît Peeters,
Casterman,
Cidades obscuras,
François Schuiten,
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Witloof
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