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29/05/2014

Yeshuah III: Onde tudo está













13 anos depois, Laudo Ferreira (com Omar Viñole) conclui a tarefa (hercúlea) a que se propôs: contar em quadr(ad)inhos uma versão humanizada da vida de Jesus Cristo.
O resultado, lido já a seguir.

14/03/2012

Yeshuah









Assim em cima assim embaixo
O círculo interno o círculo externo
Laudo ferreira (argumento e desenho)
Omar Viñole (arte-final)
Devir Livraria (Brasil, Dezembro de 2009 e Agosto de 2010)
165 x 240 mm, 160 p. e 136 p., pb, brochado
R$ 23,00 / R$ 22,50



Resumo
Biografia ficcionada da vida de Jesus Cristo, assenta numa profunda pesquisa bibliográfica não só das tradições católicas e dos evangelhos canónicos mas também de escritos apócrifos.
O primeiro tomo aborda desde a concepção e nascimento de Cristo até ao seu encontro com João Baptista e o segundo mostra a sua permanência no deserto durante 40 dias, o estabelecimento e consolidação do seu ministério e o seu primeiro encontro com Judas Iscariotes.

Desenvolvimento
São muitas as biografias de Jesus Cristo existentes, umas mais romanceadas do que outras, o que não deve surpreender numa sociedade ocidental que se diz cristã e seguidora dos seus ensinos - embora a prática o demonstre muito pouco…
E nos últimos anos, de forma recorrente, também por culpa do sucesso mediático de algumas delas, temos mesmo assistido a uma proliferação de obras, potencialmente polémicas, que, mais do que colocar em causa Cristo, têm questionado a imagem que ao longo dos séculos a Igreja Católica foi (de)formando dele.
Este tríptico de Laudo Ferreira e Omar Viñole – o terceiro tomo e último tomo deverá ser editado no segundo semestre do corrente ano – pode bem encaixar-se nesta (abrangente) corrente criativa.
Não porque se adivinhe ou perceba nele a vontade de chocar, não porque se apreenda alguma intenção de polemizar, mas porque, para o preparar, Laudo Ferreira documentou-se - de forma série e aprofundada – em grande número de obras – históricas, canónicas e apócrifas - indo bem mais além da visão tradicional de todos mais ou menos conhecida, ao mesmo tempo que contextualiza a sua narrativa numa época histórica precisa, da qual faz uma boa recriação gráfica.
Até porque, o seu intuito era – e conseguiu-o – humanizar as personagens ligadas aos eventos de que Jesus foi protagonista, primeiro Maria, a sua mãe, depois o próprio Jesus. Não só porque os apresenta como seres humanos com fraquezas, hesitações, problemas, questões e dúvidas em relação ao que deles é exigido, mas também porque os despoja dos traços místicos e/ou divinos que normalmente lhe estão associados.
Para isso, sem entrar em pormenorização de explicações para o que de sobrenatural existe na história tradicional cristã, Laudo Ferreira leva as personagens a procurarem no seu interior a força, as razões, as motivações para realizarem – nem sempre linearmente – os feitos que lhe são atribuídos – embora nalguns casos fique a dúvida de como conseguiram lá chegar, como no caso da cura do cego.
Com isso, consegue uma obra de grande densidade emocional, muito estimulante – que deve ser lida de espírito aberto, sem preconceitos – cujo conteúdo não é preciso aceitar mas cuja leitura pode até ajudar a afirmar as crenças daqueles que têm fé.

A reter
- O dinamismo gráfico de uma obra que obriga a leitura atenta e ponderada.
- A consistência da narrativa, apesar de afrontar questões profundamente enraizadas na cultura e no senso comum ocidentais.

Menos conseguido
- Apesar de contribuir para a credibilização da obra, a utilização dos nomes originais dos diversos intervenientes, se não fará grande diferença à maioria dos leitores - dado o desconhecimento geral da cultura bíblica nos nossos dias - poderá causar alguma confusão – e quebra do ritmo de leitura - àqueles que estão mais familiarizadas com a Bíblia.
- O baptismo de Jesus por João Baptista, no final do primeiro tomo, segue o modelo católico, com o despejar de algumas gotas na sua cabeça. Algo pouco credível, ainda mais devido à investigação e à contextualização da acção na sua época histórica, sabendo que a palavra “baptizar” no original significa “imergir, mergulhar”…


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