28/11/2011

Irmãos Metralha, 60 anos de assaltos falhados

Há 60 anos, os irmãos Metralha aproveitaram um rombo na caixa forte do tio Patinhas para encherem baldes com dinheiro à pazada. Era o primeiro de muitos assaltos, quase todos falhados, desta família de vilões.A sua estreia ocorreu na história “Terror of the Beagles Boys”, publicada na revista Walt Disney's Comics And Stories #134, datada de Novembro de 1951, embora ela já estivesse desenhada desde Maio desse ano, como obrigavam os prazos de trabalho então em vigor. Portugal descobriu os irmãos Metralha alguns meses mais tarde, através da revista brasileira Pato Donald #59, de 23 de Dezembro de 1952, em “O Vil Metal E Os Vilões”.
O seu criador foi Carl Barks, o mais famoso desenhador dos patos Disney que, com certeza sem o saber, introduzia um trio de personagens que se tornariam indispensáveis nas aventuras do Tio Patinhas.
Se na altura da estreia ainda não envergavam o tradicional uniforme de camisola laranja e calças azuis, com os números de presidiário estampados, com variações dos algarismos 1, 6 e 7, substituídos na época pelo seu nome - Beagles Boys - os irmãos Metralha já possuíam os característicos bonés e as máscaras negras em volta dos olhos. Aliás, com excepção dos “Duck Tales”, em que receberam nomes começados por B, os Metralha foram sempre distinguidos pelo seu número prisional.

Nessa sua primeira aparição - das muitas que haveriam de fazer daí em diante para atormentarem o pato mais rico do mundo - eram só três irmãos mas, ao longo dos anos, muitos outros familiares foram sendo criados: irmãos e irmãs, primos e primas, avô, netos e netas, o Azarado, o Supersenvível, o Intelectual e até um gato, como era norma no universo Disney.
Mais tarde, nos anos 90, quando o norte-americano Don Rosa tentou definir uma cronologia da família Pato em “A Saga do Tio Patinhas” (“The Life and Times of Scrooge McDuck”), baseado nas pistas deixadas nas suas histórias por Barks, antecipou no tempo a inimizade entre assaltantes e assaltado, situando as suas origens no final do século XVIII, quando Patinhas enfrentou os pais e o avô dos actuais bandidos.
A história de estreia, assentava nas preocupações do milionário para proteger o seu largo pecúlio, auxiliado por um pouco motivado Pato Donald, decorrendo toda a trama, bem condimentada pelo habitual humor de Barks, em torno dos choques constantes entre os dois, até ao inesperado e divertido final.

Dessa vez, aparentemente, os irmãos Metralha saíram a ganhar, recolhendo em baldes e carrinhos de mão algum do dinheiro que jorrava por um rombo na caixa-forte, provocado pelos excessos de quem devia zelar pela segurança. No entanto, isso raramente voltou a acontecer ao longo dos anos pois, apesar dos mais mirabolantes planos, dos mais inesperados acasos ou das ideias mais loucas ou audaciosas, o dinheiro do tio Patinhas e a famosa moedinha nº1 nunca mudaram de mãos por muito tempo, terminando quase sempre os vilões em fuga ou atrás das grades, cumprindo a sua sina de personagens secundárias, mais desastrados e conflituosos do que malvados, o que contribuiu para a sua popularidade apesar de estarem do lado errado da lei.
De seguida, podem ler na íntegra a história em que os Beagle Boys nasceram, que encontrei aqui.










(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 22 de Novembro de 2011)

27/11/2011

Selos & Quadradinhos (69)

Stamps & Comics / Timbres & BD (69)

Tema/subject/sujet: 100º Aniversário da banda Desenhada finlandesa/The 100th Anniversary of Finnish Comics /100e anniversaire de la BD finlandaise
País/country/pays: Finlândia/Finland/Finlande
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 5 de Setembro de 2011

26/11/2011

Jogo da Glória

O século XX malvisto pelo desenho de humor
Data: 26 de Novembro de 2011 a 26 de Fevereiro de 2012
Local: Palácio de Belém - Museu da Presidência da República; Praça Afonso de Albuquerque, Lisboa (tel.: 213 614 660)
Horário: Terça-feira a Domingo, das 10h às 18h

Organizada a partir da colecção Ricon Peres, a exposição “Jogo da Glória - O século XX malvisto pelo desenho de humor” retrata os principais acontecimentos políticos e sociais, públicos e privados que o marcaram.
Stuart de Carvalhais, Rafael Bordalo Pinheiro, Silva Monteiro, António, Cid, Amadeu de Sousa Cardoso, Almada Negreiros, Luis Afonso, Cristina Sampaio ou Sam são alguns dos nomes associados à caricatura e à ilustração cujos trabalhos originais serão expostos, reconstituindo um percurso de avanços e retrocessos que simula o célebre Jogo da Glória.
Paço Real desde 1870, o Palácio da Cidadela ficou afecto à Presidência da República depois da Revolução republicana. Desde então, foi casa de férias, residência temporária ou local de refúgio de vários Presidentes da I República e residência oficial do Chefe de Estado durante a longa magistratura de Óscar Carmona.
De 26 de Novembro a 26 de Fevereiro, e em paralelo com a exposição Jogo da Glória, os visitantes poderão percorrer as salas de aparato do Palácio, o antigo quarto do rei D. Luis ou a sala moçárabe, que serviu de gabinete de trabalho ao Presidente Craveiro Lopes, numa iniciativa única que pretende dar a conhecer um património de grande significado, pela sua história, arquitectura e localização privilegiada na baía de Cascais.

(Texto da responsabilidade da organização)

25/11/2011

Leituras Novas

Novembro de 2011

Qual Albatroz
O Menino Triste - Punk Redox
João Mascarenhas
Três anos depois da apolínea Essência, O Menino Triste regressa dionisíaco, como nunca antes visto. Fora com as roupas de betinho e o “cabelo à fosga-se” e venham as Doc Martens, as pulseiras de picos, a crista, a guitarra eléctrica e muita, muita atitude!
É assim que a Editora Qual Albatroz introduz “Punk Redux”, o novo álbum d’O Menino Triste. De igual forma, alguns amigos também deixam o seu testemunho. Coloco aqui hoje as palavras de três deles: Filipe Melo e Vitor Rua, músicos que não precisam de apresentações, e Ryan Cooper, autor do blog punkmusic.about.com, associado do New York Times. Outros se seguirão.

pedranocharco
BDJornal #28
Esta edição apresenta a entrevista que se impunha, com o Vereador da Cultura da Câmara da Amadora, dr. António Moreira, sobre questões prementes do Festival de BD da Amadora, na companhia do arqº Nelson Dona, director deste Festival, que permite uma visão previlegiada dos meandros do agora intitulado Amadora BD. O Vereador, não se eximindo a nenhuma resposta, foi incisivo e esclarecedor sobre questões até agora mantidas no “segredo dos deuses”, como os custos do Festival, mas não só.
Julio Shimamoto, um autor brasileiro descendente de uma nobre família samurai do Japão, e (também por isso) popularizado no Brasil como o samurai dos quadrinhos, chega-nos por intermédio de Wagner Macedo, que conseguiu o longo e interessantíssimo monólogo biográfico que publicamos. Shimamoto, hoje com 72 anos, percorreu um naco da história do Brasil e conta-nos todo esse percurso e como ele influenciou a sua trajectória no mundo da banda desenhada brasileira. Iniciando a carreira com uma espécie de tirocínio com o português emigrado Jayme Cortez, passou pela nacionalização dos quadrinhos e os movimentos de autores a ela associados, pela publicidade e ilustração, até a uma pacificação de espírito de que diz gozar hoje em dia, que o leva, sobretudo, a querer aprender. Dele publicamos as dez página iniciais de Musashi, história de um garoto japonês que se tornou samurai...
Destaque ainda para o texto de João Miguel Lameiras sobre Vitor Péon, considerado o mais produtivo autor português da sua época e que parece meio esquecido actualmente.
Leonardo De Sá pesquisou e reconstituiu a verdadeira biografia de António Cerveira Pinto, um artista meteórico do início do século XX, falecido aos 16 anos, mas com uma actividade artística precoce e muito activa, participando numa série de revistas que viriam a ser o berço do então emergente movimento modernista em Portugal. É o resultado dessa pesquisa que se publica nesta edição do BDj.
De refeir ainda a publicação integral de O Mensageiro no Deserto, banda desenhada de Diniz Conefrey de 1989.

Edições Polvo
Há Piores
Geral e Derradé
Uma compilação de histórias curtas, umas inéditas, outras não, que nos convida a desfrutar de breves momentos doces, plenos de imaginação, humor e poesia.






Edições ASA
Os Solteirões
Nelson Martins e Valéry Der- Sarkissian
Secretária num tribunal administrativo, Débora está só. Desesperadamente só. Assim como a Marisa, o Alex, o Filipe e muitos outros à sua volta.
Mas encontrar a alma gémea no século XXI é uma tarefa hercúlea. O grande amor tem de se merecer, sobretudo quando não damos por ele.
Tudo sobre os Solteirões é um álbum delicioso que vai ensinar a todos os celibatários, tenham a idade que tiverem, a pôr, com um sorriso, a corda à volta do pescoço.

Tintin – Voo 714 para Sidney
Hergé
Tintin, Milu, capitão Haddock e professor Girassol estão a caminho de Sydney, onde são convidados de honra do Congresso Internacional de Astronáutica. Na escala em Jacarta, conhecem o milionário Carreidas, que os convida para seguir viagem no seu avião particular. A viagem para os três amigos irá transformar-se num terrível pesadelo: vão ser envolvidos numa armadilha por detrás da qual está um velho e perigoso conhecido.

Tintin e os Pícaros
Hergé
O Capitão Haddock, o professor Girassol e o Tintin recebem uma informação inacreditável: a célebre cantora Bianca Castafiore, em digressão pela América do Sul, foi presa em San Teodoro, acusada de participar num complô contra o regime do general Tapioca! Maior é a surpresa dos nossos amigos ao saberem que também eles são acusados de participar na trama. O capitão e o professor Girassol decidem ir a San Teodoro esclarecer o assunto. Mas Tintin, pressentindo uma armadilha do tenebroso Tapioca, recusa-se a viajar com eles. Será que Tintin vai deixar os dois amigos enfrentarem o general sem a sua ajuda?

Tintin e a Alph-Art
Hergé
Tintin e a Alph-Art é o último trabalho do criador de Tintin. Trata-se de um álbum com uma «quase» aventura, uma série de pranchas onde se vê o desenho e o texto do que, com tempo, haveria de ser mais um álbum para os fãs de Tintin. Aqui encontram-se muitos personagens já conhecidos de outras histórias, implicados desta feita numa intriga que envolve o mundo da arte moderna. Apesar de incompleta, não faltam a esta aventura os ingredientes habituais de humor, os trocadilhos, as críticas inteligentes, as alusões a factos verdadeiros e os mal-entendidos, que geram sempre, por parte do leitor, reacções de surpresa e de gargalhada.

As águias de Roma – Livro 3
Marini
Marco e Armínio cresceram juntos.
Juntos experimentaram a autoridade e a disciplina de ferro de uma educação romana. Fizeram-se homens e soldados, tornaram-se irmãos. Mas o amor quebrou as suas juras e os seus caminhos divergiram. Agora, corre um rumor: Armínio, regressado à Germânia, às terras do seu povo, estaria a preparar uma rebelião contra Roma. Enviado como espião pelo imperador, saberá Marco ler no coração do seu amigo?

Kid Lucky – O aprendiz de cowboy
Achdé
Com uma camisa amarela, um lenço encarnado ao pescoço, uma mecha rebelde de cabelo e uma palha na boca, é Kid Lucky, ou seja, o nome Lucky Luke quando era pequeno. Na escola de Nothing Gulch, é mais rápido a fugir aos trabalhos do que a sua própria sombra! Este aprendiz de cowboy de palmo e meio está sempre pronto a descobrir as tradições do Oeste, os ensinamentos dos pioneiros, mas acima de tudo a divertir-se com os seus amiguinhos! É o nascimento da lenda do maior cowboy do Oeste (ainda em miniatura)!

Dragon Ball #14 – Uma nova aventura
Akira Toriyama
Goku é a única esperança do mundo, o único ser na Terra capaz de enfrentar Piccolo, o Grande Rei Demónio! Mas o combate termina com Piccolo a dar origem a uma nova e mais jovem versão de si mesmo, que irá regressar dentro de três anos para acabar a destruição causada pelo seu pai! À procura de uma nova forma de derrotar o novo Piccolo, Goku vira-se para os céus - para o reino dos céus de Kami-sama, criador das Bolas de Dragão, Deus do mundo de Dragon Ball. Mas Piccolo e Kami-sama partilham um terrível segredo...

Dragon Ball #15 – Rivais poderosos
Akira Toriyama
Os maiores peritos mundiais em artes marciais, reuniram-se para o 23º Tenka’Ichi Budokai... e desta vez, está em jogo muito mais do que orgulho! Piccolo, o Rei Demónio renascido, quer conquistar o mundo.
Tao pai pai quer vingar-se de Tenshinhan. Uma misteriosa participante “incógnita” tem contas a ajustar com Son Goku… E o golpe secreto de Shen pode ser a chave para que este vença o torneio!
Mas qual será o desfecho de mais um Torneio de Artes Marciais?

Astérix – Tudo sobre Tullius Venenus
Astérix é um traidor, pois vendeu o segredo da poção mágica aos Romanos! Matasétix compromete-se com o inimigo para ser nomeado senador! A “Aldeia dos Loucos” sucumbe ao vírus do boato e os seus habitantes viram-se uns contra os outros. O que é que se passa? A origem destas quezílias internas está num homem baixinho e franzino, cuja vocação é semear a discórdia. Com ele, nem sequer vale a pena mentir, o que é preciso é trair! Nasce assim Tullius Venenus, um dos personagens maléficos mais perturbadores da história da banda desenhada, revelando uma nova faceta do pequeno mundo de Astérix, para grande divertimento dos seus leitores!

Booksmile
Scott Pilgrim #5 - Contra o Universo
Brian Lee O'Malley
«Mas porque é que ele tinha de fazer 24 anos? Porque é que há robôs que insistem em tentar matá-lo? Porque é que a banda está a separar-se? Porque é que a Ramona anda tão estranha? Porque é que aqueles gémeos japoneses brilhantes mas letais não o deixam em paz?
Acompanha o Scott enquanto ele descobre a resposta a estes mistérios… ou vais morrer sem saber!»

Scott Pilgrim #6 - No Seu Melhor
Brian Lee O'Malley
Com 6 dos 7 ex-namorados despachados, é altura de Scott Pilgrim enfrentar Gideon Graves, o mais temível dos ex-namorados de Ramona. Mas ela não se foi embora no final do vol. 5? Isso não safa o Scott? Queres saber mais? Tens de ler!

Nota – Na compra dos volumes #5 e #6, a FNAC oferece o poster ao lado.






Devir
Wolverine Inimigo do Estado Vol. 02 (de 02)
Mark Millar e John Romita Jr.
Finalmente é revelada a origem secreta do sombrio Górgon. Wolverine volta a estar sob a custódia da S.H.I.E.L.D., mas a que preço?
Enquanto os X-Men choram o seu colega num funeral digno de um herói, a Hidra celebra a coroação de um novo líder. O reino de terror continua, pois a Mão captura os metahumanos um por um. Será que Wolverine vai ser desprogramado a tempo de parar a carnificina?
Inclui a história de Mark Millar “Prisioneiro Número Zero”, dedicada ao mestre Will Eisner.

Níquel Náusea
Vol. 09 - Um tigre, dois tigres, três tigres
Vol. 10 - A vaca foi para o brejo atrás do carro na frente dos bois
Fernando Gonsales

Mais dois divertidíssimos volumes da série humorística de sucesso Níquel Náusea criada por Fernando Gonsales.



















Devir + G. Floy Studio
Fell - Cidade Selvagem
Warren Ellis e Ben Templesmith
Enviado para uma cidade em processo acelerado de colapso chamada SNOWTOWN, o Detective Richard Fell tem que recomeçar a sua vida do zero. Mas numa cidade em que nada parece fazer sentido, Fell sabe que se pode agarrar a uma certeza, a única que ele sempre soube ser verdade... Toda a gente esconde qualquer coisa. Até ele.
Nomeado para 2 Eisner Awards.

Hellboy Vol. 07 – A Bruxa Troll e Outros Contos
Mike Mignola, Richard Corben e P. Graig Russell
“...Uma personagem e uma série genuinamente originais. Histórias tremendas. Arte de primeiro nível. Acho que Hellboy é o meu herói preferido da banda desenhada contemporânea. Viva Mignola! Viva o puto que veio do Inferno!”
Michael Moorcock.




Gradiva
Zits - Dá-lhe gás!
Jerry Scott e Jim Borgman
Abana! Abana! Abana!
Desculpa aí,
Tudo bem...
... Depois de tirarmos a carta, leva algum tempo até o sorriso imbecil desaparecer.
Jeremy está de regresso, desta vez com a carta de condução! Liberdade ou pesadelo? Como sempre, depende do ponto de vista...

BDLP #01
O #1 do Fanzine BDLP conta com a participação de doze autores de três países da CPLP, ao longo de 72 páginas.
De Angola, Bocolo Daniel, Hermenegildo Pimentel, Júlio Pinto, Tiago Abrantes e Nelo Tumbula (autor da prancha ao lado), do Brasil, Marcelo D’Salete e de Portugal, Joana Afonso, Rita Vilela, Álvaro, J. Mascarenhas e GEvan. Portuguesa é ainda a participação de José Carlos Dias, representante do Instituto Camões em Varsóvia e Lublin, e que escreve uma interessante abordagem entre Banda Desenhada e Língua Portuguesa.

JuvebêDê #49

(Textos, quando existem, da responsabilidade das editoras)

24/11/2011

Greve geral

Vilão Electro em "O Povo no Poder - Parte Um",
in Homem-Aranha #111 (Amazing Spider-Man #612)

23/11/2011

Tintin e a Alph-Art

Hergé (argumento e desenho)Edições ASA (Portugal, Novembro de 2011)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado
8,90 €

Um pouco de história: a 3 de Março de 1983, Hergé, falecia na Bélgica, aos 75 anos, vítima de leucemia e deixava incompleta aquela que deveria ser a 24ª aventura de Tintin, o mais célebre repórter dos quadradinhos, mesmo se foram poucas as linhas por si escritas.
Eram apenas 42 páginas, só esboçadas, aqui e ali com o desenho um pouco mais avançado, ainda com indecisões de nomes, nalguns casos com sequências alternativas. Em termos de argumento e diálogos, a obra estava mais adiantada, mas terminava igualmente nas primeiras quatro vinhetas da página 42.
Nelas, Tintin encontra-se em situação desesperada, avançando devido à pressão de uma pistola nas suas costas, sendo o seu destino... a imortalidade. Não como o célebre herói de BD que é, mas transformado em estátua, quando o seu corpo for coberto com poliéster líquido, para ser trabalhado por um famoso escultor. Isto porque, em Tintim e a Alph-Art, o herói evolui no meio da pintura moderna, um dos temas que apaixonou Hergé no final da sua vida, enfrentando um bando de falsificadores e traficantes de arte, liderados por um místico que, a ter continuado a história, acabaria por se revelar um dos seus grandes inimigos, o pérfido Rastapopoulos.
Para acalmar os rumores de uma eventual conclusão da obra pelos seus colaboradores, três anos depois, em 1986, era editado um álbum com dois cadernos: um, reproduzia as 42 páginas esboçadas por Hergé; o outro, continha a transcrição dos diálogos. A partir dele, rapidamente surgiram no mercado, a preços exorbitantes e com pequenas tiragens, diversas versões pirata “finalizadas” da história, algumas das quais ainda hoje circulam na net ou mesmo em edições impressas.

No início de 2004, a 29 de Janeiro, aproveitando o pretexto dos 75 anos do nascimento de Tintin, e tentando revitalizar um catálogo onde há muito faz falta uma novidade, foi editado em França Tintin e a Alph-Art, no formato habitual e ao mesmo preço da restante colecção, tal como a Verbo fez meses depois e a ASA faz hoje, concluindo a reedição integral das aventuras de Tintin, com nova tradução e formato reduzido.
Esta edição, reproduz as tais 42 pranchas, transcreve os respectivos diálogos e foi enriquecido com alguns documentos entretanto descobertos, quase todos respeitantes a uma fase mais inicial da obra, na qual Hergé explorava ainda diversas possibilidades temáticas, nomeadamente o tráfico de droga.
E mesmo estando a história numa fase tão embrionária, uma justificação surge de imediato para a edição: descobrir a forma de trabalhar de Hergé. Como ele ia esboçando a narrativa, como aqui e ali uma ou outra imagem ganhava mais importância, levando-o a aperfeiçoá-la ainda no esboço, como as ideias iam surgindo, sendo postas de parte ou integradas no relato, obrigando, quantas vezes, a renumerar as páginas. E ver a sua forma de desenhar, repetindo o traço diversas vezes, de forma sobreposta, até encontrar a versão ideal que, mais tarde copiaria, por decalque, para o original.
E há também um princípio de história, quase dois terços de um álbum, escrito já de forma consistente, com diálogos que, em muitos casos, se adivinham (quase) definitivos, com um fio condutor consistente e capaz de prender o leitor que chega à fatídica página 42 e fica em suspenso – desta vez para sempre – sem saber qual a sorte do herói.
Mas confiando que ele se irá libertar, mais uma vez, de uma situação delicada e aparentemente irresolúvel. Como nas outras 23 apaixonantes aventuras, que Hergé escreveu e desenhou, muitas delas autênticas obras-primas, que fizeram de Tintin um dos ícones mais celebrados da banda desenhada e do século XX.



(Versão revista e corrigida do texto publicado no Jornal de Notícias de 22 de Agosto de 2004)

22/11/2011

Mônica #500

Maurício de Sousa produções
Panini Comics (Brasil, Junho de 2011)
135 x 190 mm, 84 p., cor, capa brochada e metalizada
R$ 5,90; 2,45 €

Resumo
Esta é uma edição especial da revista Mônica, comemorativa dos 500 números publicados ininterruptamente no Brasil e assim distribuídos: Editoras Abril – 200 edições (1970-1986); Editora Globo – 246 edições (1987-2006); Panini Comics – 54 edições (2007-?).

Desenvolvimento
Se são poucas as revistas mensais que chegam ao nº 500 (são necessários mais de 40 anos para isso!), se pensarmos apenas nas de banda desenhada - cujo títulos, hoje em dia, são bem menos - esse número reduz-se substancialmente.
Curiosamente, num curto espaço de tempo, o Brasil teve dois casos: Tex, que também passou por várias editoras e sobre a qual já escrevi, e, agora – ou melhor há seis meses, data de publicação original naquele país – a revista da Mônica.
Aproveitando a efeméride – que o é, de facto – mas também a oportunidade de (mais uma vez) apostar no marketing (algo que Maurício de Sousa tem sabido fazer muito bem) foi lançado este número especial, que (re)visita, a dois tempos, o já longo historial desta revista que acompanhou e fez companhia a várias gerações de leitores.
Primeiro, numa história em que as personagens, atravessando o cenário de diferentes heróis – com o bairro do Limoeiro, como ponto de partida, mas também o mundo rural de Chico Bento, a pré-História de Horácio e Piteco, o mundo do além do Penadinho ou o espaço sideral do Astronautra - têm de reencontrar a memória das 499 revistas anteriores, perdida “pelos monstrinhos da vida adulta: compromissos, trabalho, preocupações…”
Para isso, com o habitual humor, terão que evocar no adulto stressado e trabalhador as suas mais ternas e divertidas recordações da infância para que o universo maravilhoso de Maurício de Sousa, (bem) desenvolvido e explanado nas suas revistas, possa (res)surgir.
Depois, na segunda narrativa – são apenas duas nesta revista – a linha temporal tradicional das revistas da turma foi quebrada, tendo o Xaveco assumido todo o protagonismo que (re)conhecemos à Mônica, partindo o Cebolinha numa perseguição através dos tempos – acentuada pela utilização do grafismo da turma em cada uma dessas épocas – e por algumas das histórias mais conhecidas da Mônica, para tentar repor a ordem tal qual nós a conhecemos – e ele habitualmente tenta inverter!
Belo exercício de memória assente no traço tradicional, no humor a que todos nos habituamos e na simplicidade dos meios utilizados, esta edição é sem dúvida um daqueles números de colecção que não só os fãs desejarão ter, mas que merece ser lida por todos aqueles que um dia já se maravilharam com as aventuras da Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e amigos.


Turma da Mônica – Colecção Histórica #23
Caixa com Mônica #23, Cebolinha #23, Cascão #23, Chico Bento #23 e Magali #23
Maurício de Sousa Produções
Panini Comics (Brasil, Maio de 2011)
135 x 190 mm, 244 p., cor, brochada
5,00 €
Ao mesmo tempo, cultivando essa memória – criando-a junto dos mais novos, evocando-o junto dos que nasceram há mais tempo – a Panini tem reeditado as primeiras revistas da Turma da Mônica na sua Colecção Histórica, sendo que este mês estão nas bancas portuguesas as revistas #23 da Mônica (de Março de 1972), Cebolinha (Novembro de 1974), Cascão, Chico Bento (ambas de Junho de 1983) e Magali (Maio de 1990), juntamente com uma caixa em cartolina para as guardar. A par do cultivo da memória – que pelas diferentes datas de lançamento originais pode chegar a diferentes gerações - esta reedição – com cada número enriquecido com um texto alusivo/explicativo da autoria de Paulo Back, permite também apreciar a turma em diferentes épocas e avaliar a sua evolução gráfica e temática.
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