Marte (argumento)
João Fazenda )desenho)
Edições Polvo (Portugal, Novembro de 2001)
158 x 230 mm, 48 p., pb, brochado
A banda desenhada portuguesa não tem sido fértil em heróis, entendendo-se aqui o termo como referindo-se a protagonistas que passam de história em história, quer como personagens (quase) invencíveis, quer como simples condutores de narrativas mais abrangentes. E se nos primórdios ainda se conseguem encontrar alguns exemplos (frutos também da existência de revistas e jornais que permitiam uma publicação regular), na "moderna BD portuguesa", os dedos de uma mão sobram para os referenciar: o Espião Acácio de Relvas, confinado às páginas da revista "Tintin" (e a merecer reedição condigna), o Porto Bomvento, de José Ruy e, principalmente o Jim del Monaco, de Louro & Simões.
Agora, um outro nome começa a afirmar-se: Loverboy, que, depois de "O rebelde" e "A faculdade são dois ou três livros", regressa com "(…) muda mas fica igual (…).
Neste álbum, o traço de João Fazenda surge mais solto, mais estilizado, mais rebelde, quase escrevia "à imagem do herói", não fosse este álbum um retrato da passagem da juventude para a idade adulta. Passagem que vem depois da fase das bandas de garagem, e da entrada na faculdade, de que falavam os títulos anteriores escritos por Marte. Passagem despoletada por umas férias com os amigos e experiências com drogas, que têm como resultado o reconhecimento de um imenso vazio (houvesse mais com esta percepção…) e a necessidade de procurar algo mais da vida (o amor? uma relação estável? a necessidade de responsabilidade?).
O que ressalta deste terceiro livro é a vontade de mudar, de passar da adolescência (cada vez mais - e a culpa não é maioritariamente deles) vazia e fútil para a idade adulta, embora para isso seja necessário quebrar a própria auto-resistência, a comodidade de ser igual aos outros, resistir ao facilitismo instalado na sociedade.
Em termos do trabalho dos autores, o prosseguir no caminho agora esboçado, se de alguma forma pode implicar a perda de um público que se identifica com o anterior Loverboy, e que ainda não deu (não tem capacidade de dar) o mesmo passo em frente, embora arriscado é sem dúvida um desafio estimulante e, a médio prazo, capaz de dar a Loverboy uma consistência e uma dimensão já revelada pontualmente e que este álbum acentua.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 1 de Janeiro de 2001)
João Fazenda )desenho)
Edições Polvo (Portugal, Novembro de 2001)
158 x 230 mm, 48 p., pb, brochado
A banda desenhada portuguesa não tem sido fértil em heróis, entendendo-se aqui o termo como referindo-se a protagonistas que passam de história em história, quer como personagens (quase) invencíveis, quer como simples condutores de narrativas mais abrangentes. E se nos primórdios ainda se conseguem encontrar alguns exemplos (frutos também da existência de revistas e jornais que permitiam uma publicação regular), na "moderna BD portuguesa", os dedos de uma mão sobram para os referenciar: o Espião Acácio de Relvas, confinado às páginas da revista "Tintin" (e a merecer reedição condigna), o Porto Bomvento, de José Ruy e, principalmente o Jim del Monaco, de Louro & Simões.
Agora, um outro nome começa a afirmar-se: Loverboy, que, depois de "O rebelde" e "A faculdade são dois ou três livros", regressa com "(…) muda mas fica igual (…).
Neste álbum, o traço de João Fazenda surge mais solto, mais estilizado, mais rebelde, quase escrevia "à imagem do herói", não fosse este álbum um retrato da passagem da juventude para a idade adulta. Passagem que vem depois da fase das bandas de garagem, e da entrada na faculdade, de que falavam os títulos anteriores escritos por Marte. Passagem despoletada por umas férias com os amigos e experiências com drogas, que têm como resultado o reconhecimento de um imenso vazio (houvesse mais com esta percepção…) e a necessidade de procurar algo mais da vida (o amor? uma relação estável? a necessidade de responsabilidade?).
O que ressalta deste terceiro livro é a vontade de mudar, de passar da adolescência (cada vez mais - e a culpa não é maioritariamente deles) vazia e fútil para a idade adulta, embora para isso seja necessário quebrar a própria auto-resistência, a comodidade de ser igual aos outros, resistir ao facilitismo instalado na sociedade.
Em termos do trabalho dos autores, o prosseguir no caminho agora esboçado, se de alguma forma pode implicar a perda de um público que se identifica com o anterior Loverboy, e que ainda não deu (não tem capacidade de dar) o mesmo passo em frente, embora arriscado é sem dúvida um desafio estimulante e, a médio prazo, capaz de dar a Loverboy uma consistência e uma dimensão já revelada pontualmente e que este álbum acentua.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 1 de Janeiro de 2001)
Infelizmente, até hoje, este terceiro álbum de Loverboy foi o último...
ResponderEliminarOlá. Existem 4 titulos desta colecção. E acredita, existem toneladas de albuns portugueses editados que ninguem conhece. Que é uma pena.
ResponderEliminarOlá Dean,
EliminarObrigado pela tua participação.
Confesso que só conheço 3 títulos do Loverboy e na pesquisa que fiz não encontrei mais nehum... Queres concretizar qual é o quarto.
E, sim, sei que há álbuns portugueses - alguns bem interessantes - que nunca chegam às mãos dos seus leitores, pelas mais variadas razões...
Boas leituras!