
Em Fevereiro último fez 10 anos que nos foi servido um dos últimos tesouros coloridos por Fernando Bento. Foi nas páginas da revista “Selecções BD” (II série) e era uma vinheta do seu (inacabado) “Regresso à Ilha do Tesouro”, uma sequela do clássico de Stevenson, que o mestre português dos quadradinhos adaptou com argumento de Jorge Magalhães. Nele, o jovem Jim Hawkins, enquanto desce por uma amarra de um barco encalhado, afirma: “a aventura correu melhor do que eu esperava!”. O mesmo se pode dizer, sem dúvida, da vida e da obra de Fernando Carvalho Trindade Bento, nascido em Lisboa a 26 de Outubro de 1910.
Com os seus heróis fez “A Volta ao Mundo em 80 dias”, levando muitos leitores ao longo de várias gerações a dar consigo “A Volta a Portugal em Bicicleta”, conhecer “Histórias da nossa história”, partilhar uma “Viagem ao centro da Terra”, percorrer “Vinte mil léguas submarinas”,
.jpg)
N

Estava longe de saber, certamente, mas muitos seriam as revistas que se lhe seguiriam – “Pim-Pam-Pum!”, “Diabrete”, “Cavaleiro Andante” foram as mais significativas – onde, a par da BD, espraiou também a sua arte por capas, ilustrações, caricaturas e desenhos humorísticos, como maquetista e director gráfico… Tudo feito em serões e tempos livres pois, “profissionalmente” foi sempre funcionário de escritório da BP.
A sua bibliografia – em que muitas vezes teve ao lado argumentistas como Helena Neves, Maria Amélia Bárcia ou Adolfo Simões Müller – é feita especialmente da adaptação de episódios da História pátria e de clássicos infantis, da literatura ou de aventuras

Até ao tal “Regresso à Ilha do Tesoiro”, corria a década de 1990 e tinha Fernando Bento ultrapassado já a barreira dos 80 anos, em que (re)encontrou energia e mestria para, num traço com todas as qualidades que lhe eram (re)conhecidas mas renovado na forma, duma surpreendente modernidade, voltar a fazer vibrar todos os que leram as novas pranchas de reencontro com Jim Hawkins, Ben Gunn ou o pirata Long John Silver!
A morte – invejosa da sua arte? – levá-lo-ia a 14 de Fevereiro de 1996, pondo um ponto final na(s) sua(s) aventura(s), impedindo-o de terminar esta obra e de ver impressos os seus últimos desenhos.
Estivéssemos num país mais capaz de apreciar e acarinhar os seus criadores (também) de quadradinhos, e a obra de Bento estaria reunida numa bela e luxuosa edição. Como estamos em Portugal, para lá do (difícil) recurso às revistas onde as histórias foram publicadas originalmente, sobram meia dúzia de álbuns dispersos por várias editoras, alguns dos quais há muito esgotados.

(Versão integral do texto publicado no dia 30 de Outubro na revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)



Sem comentários:
Enviar um comentário