06/02/2012

Pontas Soltas - Cidades













Ricardo Cabral
ASA (Portugal, Outubro de 2011)
200 x 280 mm, 92 p., cor, cartonado
17,95 €


Resumo
Colectânea que compila diversas histórias soltas de Ricardo Cabral, inicialmente publicadas em diferentes locais, unidas pela temática Cidades: “5 jours – parte I” (em Marselha), “Da Cidade” (Portimão), “The Lisbon Studio” (Lisboa), “Lágrimas de Elefante” (Lódz), “Barcelona, Kosovo, Barcelona” (Barcelona) e “5 jours – parte II” (de novo Marselha).

Desenvolvimento
Nota prévia: a edição de um álbum deste género – com narrativas curtas, não inéditas – entre nós, não sendo caso único, é bastante raro, merecendo, só por isso, destaque. Porque significa uma aposta séria da editora no autor e porque significa – também – que ele já tem o seu público, o que, de alguma forma, garante aquela aposta.

Posto isto, quero marcar a coincidência de, num curto espaço de tempo, depois de “Sábado dos meus amores , trazer a As Leituras do Pedro nova colectânea de bandas desenhadas curtas, género actualmente com existência difícil, na ausência de revistas onde possam ser (pré-)publicadas.
Com o álbum referido, este “Pontas Soltas” – título bem significativo e invulgarmente feliz -  tem vários pontos de contacto bem como diferenças fundamentais. Ambos têm espaços urbanos como ponto de partida e ambos adoptam tons de crónica, é verdade, mas enquanto naquele, Marcello Quintanilha envereda por uma abordagem bem realista, o tom de Cabral é mais solto e disperso.
Enquanto Quintanilha opta por um retrato rigoroso do quotidiano, Cabral faz a ponte entre as suas sensações e as experiências que viveu em diversas cidades.
Onde Quintanilha traça retratos rigorosos de vidas menos bafejadas pela sorte, em Cabral são as cidades que ocupam (as vinhetas, as páginas,) o protagonismo, transformando “Pontas Soltas” se não num guia de viagem, pelo menos numa porta entreaberta convidando à descoberta dessas cidades por cada um de nós.
Cidades que são aqui omnipresentes – às vezes as únicas presenças - no enquadramento dos apontamentos – rápidos, de passagem, momentâneos - do quotidiano anónimo de gente com quem ele se cruzou por acaso, ou dos encontros e conversas que teve com quem conviveu.
Apontamentos soltos do seu próprio quotidiano – adivinha-se Cabral, por vezes (semi-)visível sempre por detrás da câmara – real ou imaginária – no traçado destes “pequenos encontros” de que “a vida é feita”, quais “pontas soltas” que nunca encontraremos para atar, que nunca se encontrarão…
Por isso, porque a narrativa, assim, se torna secundária, instintivamente o leitor atenta mais no desenho, nas técnicas utilizadas. Entre elas “a câmara” fotográfica que citei atrás, porque é ela – a par de esboços – a base do trabalho gráfico do autor português, na preparação destas bandas desenhadas, cujas técnicas chega a partilhar com os amigos – e connosco, leitores – numa cumplicidade que chega ao ponto de reproduzir páginas “em curso” ou esboçadas em suportes como… sacos de papel!
São abordagens diferentes, sim, não exclusivas nem obrigatoriamente complementares, pois nelas (quase tudo) é diferente, reforço-o, mas que revelam (outr)as potencialidades narrativas da BD.

2 comentários:

  1. Anónimo6/2/12 13:44

    Tenho admiração pelo trabalho do Ricardo Cabral. Já li 3 livros dele. Acho no entanto que ainda lhe falta algum estofo literário para as coisas funcionarem na perfeição (Desenho e texto).

    Lili

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  2. Olá Lili,
    Hoje estamos de acordo!
    Acho que o Ricardo Cabral é mais um cronista urbano gráfico (bastante interessante) do que um ficcionista, se assim se pode escrever.
    Mas alguém cuja carreira, sem dúvida, vale a pena continuar a acompanhar!
    Boas leituras!

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