Se a origem dos super-heróis tem sido (re)contada muitas
vezes (de muitas maneiras) ao longo dos tempos, raramente o mesmo tem
acontecido com o seu fim.
Talvez, porque como diz o aforismo, os (super-)heróis nunca
morrem…
El fin de los días
– sem o contrariar… - narra de forma bem interessante a morte de Daredevil.
Nascido, de certa forma, sob influência de O Regresso do Cavaleiro das Trevas, de
Frank Miller, e fazendo parte de obras similares dedicadas a Hulk, Punisher,
Wolverine ou Fantastic Four – como bem enquadra Julián M. Clemente na
introdução deste volume – este argumento de Brian Michael Bendis e David Mack – como seria de esperar… - está muito bem
construído e é um pretexto para revisitar alguns dos momentos mais marcantes da
vida do justiceiro cego da Marvel, em companhia de alguns dos autores que mais
marcaram graficamente esse percurso, numa conseguida homenagem aqueles que
deram vida ao heróis dos quadradinhos ao longo de décadas e numa bela evocação
das motivações e razão de ser do herói.
El fin de los días
abre exactamente com a morte de Daredevil, numa das sequências mais
realisticamente violetas que já vi em histórias de super-heróis (e que mostro a
ilustrar este texto, no original norte-americano), beneficiando do traço duro e
agreste de Klaus Janson (não inocentemente ‘repescado’, como anterior parceiro
de Miller justamente numa das fases mais aclamadas de Daredevil).
Situando-se num futuro não muito distante, após um período
de ausência do alter-ego de Matt Murdock, em que os super-heróis foram praticamente
banidos da sociedade e transformados em marcas publicitárias para fast-food, seguros
ou jornais, esta obra tem como protagonista o jornalista Ben Ulrich, que tenta
descobrir o que aconteceu nos últimos dias da vida do seu antigo amigo e qual o
significado da última palavra que ele pronunciou antes de morrer.
Assumindo um tom mais policial do que super-heróico, por
força da investigação jornalística – para publicar na última edição do Clarim
Diário antes de ele encerrar as portas, vencido pelas novas tecnologias? – que Ulrich
leva a cabo, El fin de los días
avança acompanhando as suas visitas e perguntas a antigos amigos, inimigos e
relações amorosas de Daredevil, num percurso onde a violência e as vítimas o perseguem
cada vez mais de perto.
A história está muito bem construída, e as suas quase 200
páginas lêem-se de uma assentada, com os leitores presos pelos vários mistérios
que, com o jornalista, vamos descobrindo, apesar do véu que teima em esconder o
significado da tal palavra e a identidade do ‘anjo-da-guarda’ que parece velar
por Ulrich.
E se a resposta a esta última questão se torna evidente a
partir de certo ponto, só no final – trágico, num fechar de ciclo que a morte
do herói iniciou – surgem à luz do dia todas as respostas, com tanto de
surpreendente quanto de lógico.
Daredevil: El fin de los días
Brian Michael Bendis e David Mack (argumento)
Klaus Janson (desenho) com a participação de Bill Sienkiewicz, Alex Maleev e David Mack
Matt Hollingsworth (cor)
Panini Comics
Espanha, Dezembro de 2013
175 x 265 mm, 208 p., cor, brochada com badanas, 17,95 €
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