Com a aproximação do centenário do início da Primeira Grande
Guerra (a 28 de Julho próximo) é natural que se comecem a multiplicar as obras
sobre o primeiro grande conflito do século XX.
Poucas serão tão originais como a que hoje proponho, como
podem constatar já a seguir.
A 1 de Julho de 1916 teve lugar a Batalha do Somme, uma
imensa ofensiva das forças britânicas e francesas contra o exército alemão, que
ficou como um dos confrontos mais sangrentas da História.
Para se ter uma ideia mínima do que ela constituiu, deixo alguns dados
estatísticos (o que soa cruel), detalhados pelo historiador Adam Hochschild no
prefácio (incluído no Caderno 1).
Preparada ao longo de vários meses, esta batalha implicou –
apenas do lado das forças aliadas – a construção de 88 km de linha férrea e a
instalação de 113 mil quilómetros de cabos telefónicos; obrigou à abertura de
poços e instalação de dezenas de quilómetros de canalizações que pudessem
assegurar água potável aos cerca de 500 mil soldados para já transportados.
Em termos bélicos, foram instaladas peças de artilharia a
cada 15 metros, que viriam a despejar (literalmente) milhão e meio de obuses
sobre as posições alemãs, ininterruptamente durante a semana que antecipou a
ofensiva; o barulho dos bombardeamentos era de tal forma ensurdecedor que
muitos dos que operavam os canhões sangravam dos ouvidos e o eco dos estrondos
foi ouvido em Inglaterra.
No dia 1 de Julho, imediatamente antes da ofensiva sobre as
trincheiras alemãs e após o lançamento de 224 mil obuses em apenas 65 minutos,
foram detonadas 10 minas gigantes sob as posições alemãs, que provocaram
crateras imensas: uma delas, ainda existente, mede 17 metros de profundidade e
67 metros de diâmetro.
Apesar da imensa preparação, do plano de ataque com mais de
três dezenas de páginas que o descreviam minuciosamente, quando o exército
franco-britânico avançou, as linhas alemãs estavam praticamente intactas e o
que parecia uma vitória fácil transformou-se num quase massacre: apenas no
primeiro dia, as suas perdas atingiram 20 mil mortos e 40 mil feridos; quando esta
batalha terminou, a 18 de Novembro, contabilizava mais de um milhão de vítimas.
Esta realidade aterradora foi transformada num enorme fresco
– e aqui reside a originalidade desta abordagem – por Joe Sacco. E,
possivelmente, raras vezes o termo “enorme fresco” fez tanto sentido como aqui,
pois esse primeiro dia foi reconstituído numa única imagem que se prolonga por
quase 7 (sete!) metros e onde, assumidamente sem respeitar perspectivas nem proporções
realistas, Joe Sacco nos mostra (praticamente) tudo o que aconteceu (e em
muitos casos como), numa reconstituição de assinalável rigor e minúcia.
Nota
Esta (excelente) edição é constituída por dois cadernos num estojo cartonado. O primeiro inclui uma nota explicativa do autor, um prefácio do historiador Adam Hochschild e a explicação detalhada do fresco hora a hora. Quanto ao segundo, é o desenho da batalha propriamente dito, com uma prancha única dobrada em fole, protegida por capas cartonadas.
La Grande Guerre
Le premier jour de la Bataille
de la Somme reconstitué heure par heure
Joe Sacco
Futuropolis/Arte Éditions
França, 10 de Abril de 2014
Caderno 1
280 x 203 mm, 32 p., pb, brochado
Caderno 2
6720 x 203 mm, 24 p., pb, cartonado
Estojo: 285 x 220 mm, cartonado
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