Acredito que, quando Maurício de Sousa decidiu avançar com o
crescimento dos seus heróis de sempre – Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali,
Chico Bento… - tinha dois grandes objectivos: agarrar os leitores que perdia na
fase da adolescência e poder falar de temas naturais mas delicados, que a(s)
Turma(s) tradicional(is) não podia(m) abordar.
Nasceu assim a Turma da Mônica Jovem, primeiro que, tendo
entrado em velocidade de cruzeiro, viu surgir Chico Bento Moço, que representa
um passo em frente no crescimento.
Como é evidente neste número, actualmente distribuído em
Portugal, quando Chico Bento é apontado como responsável pela gravidez de uma
bela rapariga…
Se na passagem da Turma da Mônica para a sua versão Jovem há
um salto temporal e temático evidente, ele está bem mais patente entre a versão
original e a Moço do Chico Bento.
A mudança da roça para o ambiente universitário – ainda que
numa pequena cidade – e o afastamento do Chico do seu habitual círculo de
amigos, não permite que esta série use tanto o humor peculiar de Maurício como
no caso atrás citado, o que lhe confere logo á partida um tom mais sério.
Entre as diversas histórias já publicadas, O Filho do Chico – natural e
incontornavelmente –é aquela em que esse registo sério – aqui e ali a roçar o dramático
– é mais notório.
Tudo começa com o regresso de Genésio ao Brasil, obrigado
pelo pai devido à vida estouvada que levava nos Estados Unidos e com a sua
chegada à faculdade onde Chico estuda. Logo a seguir, chega a bela Anna –
conhecimento americano do menino rico da série – a quem Cjico, sempre solícito
dá uma ajuda na ambientação, para depois ser acusado da gravidez da rapariga.
Na primeira fase deste novo relacionamento, evidenciam-se o
bom coração dele e a sua disponibilidade para ajudar mesmo quem não conhece –
porque também se sentiu sozinho quando chegou a um mundo desconhecido, a
faculdade.
Quanto à segunda parte da história, quando Chico Bento nega
a paternidade e mesmo a relação próxima com Anna que todos pareciam já intuir,
a forma adulta e realista como o tema é tratado – facilidade em estabelecer relacionamentos,
não utilização de meios anticoncepcionais nas relações sexuais, irresponsabilidade
e incapacidade de assumir os actos, falta de solidariedade - pode mesmo chocar
leitores menos preparados.
Mas é desta forma que a história ganha força e interesse, em
especial pela forma como Chico é abandonado por todos, não pela gravidez, mas
pela sua não admissão de responsabilidade, podendo facilmente o leitor ‘contemporâneo’
de Chico ou que já passou pela sua faixa etária identificar-se com a situação,
vivida ou a que assistiu.
É pena que não tenha havido ‘coragem’ – apesar de todas
estas novas abordagens às personagens de Maurício, seria possível deixar o
relato suspenso durante um mês? – para protelar o desfecho para a edição
seguinte, o que permitiria explorar melhor alguns momentos e fazer uma gestão
mais cuidada do tempo ‘narrativo’ pois há questões temporais mal resolvidas,
resolvidas de forma algo precipitada ou da maneira mais fácil.
De qualquer modo, globalmente, a exploração de uma temática
delicada tem mais méritos do que defeitos, tendo ficado ainda em aberto a
reacção de Rosinha à notícia que, no entanto, só será conhecida na edição #13,
uma vez que o próximo número de Chico Bento Moço, o #12, assinala o primeiro
ano de vida da publicação com um encontro do protagonista com a Turma da Mônica
Jovem.
Chico Bento Moço #11 – O Filho do Chico
Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics
Brasil, Junho de 2014
155 x 210 mm, 98 p., pb, cartonada, mensal
R$ 7,90 / 3,00 €
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