10/03/2015

Hiper #26












Retomo a ideia da “história que vale uma edição”, que há pouco tempo desenvolvi a propósito do livro Batman: Detective.
Desta vez, talvez com mais propriedade até, como poderão verificar na leitura que fiz desta Hiper #26.


Na verdade, esta edição dificilmente poderia abrir melhor. Moby Dick, que ocupa as primeiras 77 páginas, é uma pérola escondida que merece ser descoberta – e que merecia edição autónoma, melhorada (no papel e na encadernação) e aumentada (no formato).
Adaptação do clássico da literatura homónimo, escrito por Herman Melville – e quanto ganharia a revista, se em casos como este, existiesse um pequeno texto em que fossem fornecidas ao leitor este tipo de informações… - narra a perseguição obsessiva do capitão Ahab a uma mítica baleia branca.
Nesta versão Disney, Patinhas assume o papel de capitão Quackab, enquanto Donald faz de Ismael, narrador aqui e no romance. Entre as personagens, surgem também Pardal, os Metralhas e até a Maga Patalógica, em funções bem conseguidas, em relação ao original e ás suas características Disney.
Escrita por Fracesco Artibani, a banda desenhada mantém muito do tom original, lúgubre, negro, obsessivo e com forte carga dramática, apenas atenuada aqui e ali por apontamentos de humor. Bastante fiel ao original, apesar de algumas liberdades naturais como o “empréstimo” de uma certa cena que facilmente identificámos com Pinóquio, a narração possui alguns bons achados como a razão da obsessão de Quackab pela baleia ou a entrega do papel do selvagem Queequeg aos sobrinhos de Donald.
Mas, possivelmente tudo isto seria inócuo – ou pouco menos – se o desenho não tivesse sido entregue a Paollo Motura – com a inestimável cor de Mirka Andolfo – que trabalhando bem as três dimensões no papel e desenvolvendo um grafismo semi-realista, deu ao relato um tom bastante sério, com algumas sequências a quase roçarem o registo de terror, não sendo difícil imaginar que muitos dos pequenos leitores deste Moby Dick Disney passaram a noite com pesadelos.
Se é verdade que uma abertura destas obrigatoriamente diminui as restantes histórias deste número, a verdade é que independentemente disso a selecção desta vez não é especialmente entusiasmante e até Mickey e a Expedição Perdida, demonstra pouca inspiração por parte de uma dupla – Casty e Cavazzano - que nos habituou a muito mais.
Deixo mesmo assim mais dois destaques na edição: Mickey em O Link, um policial de estrutura mais complexa do que é habitual com assinatura de Tito Faracci, na escrita, e de Alessandro Perina e Andrea Cagol, no desenho bem trabalhado, e Donald Pendular, sobre as vantagens e inconvenientes de viver em paraísos afastados das grandes cidades, continuando a trabalhar nelas, que é uma história divertida e bem ritmada, de traço mais clássico, assinada por Marco Rota.

Hiper #26
Vários autores
Goody
Portugal, Fevereiro de 2015
145 x 205 mm, 320 p., cor, brochada, mensal
3,90 €

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