Não sei se é simples moda, saudosismo, nostalgia,
tendência ou estratégia comercial, mas a verdade é que, a partir de hoje, também
Bob Morane está de regresso.
O que há poucos anos seria notícia de (algum) destaque, hoje
será pouco mais do que um balão a esvaziar-se, tantos têm sido os heróis
(clássicos) retomados/recuperados pela (indústria de) banda desenhada
franco-belga.
É sabido que sou avesso a esta tendência, fundamentalmente
porque me parece que ela, a médio prazo, acaba por esvaziar a sua aura
clássica, mas a verdade é que financeiramente deve ser compensador ou não assistiríamos
a este cortejo de renascimentos.
Pelo que/apesar do que ficou escrito atrás, normalmente, a minha
aproximação a estes álbuns é feita com um misto de receio e curiosidade, o que
não aconteceu exactamente com este Bob Morane. Isto porque é uma série que nunca
acompanhei de perto - devo ter lido pouco mais do que uma mão cheia de álbuns –
o que me permitiu um maior distanciamento – e (quase) ignorar um historial de
décadas, traduzido em 234 romances e 128 álbuns de BD.
A abordagem de Luc Brunschwig, Aurélien Ducoudray e Dimitri
Armand – ao contrário, por exemplo, da utilizada em Blake e Mortimer – passou por
transportar o renascido Bob Morane para a actualidade, apresentando-o como voluntário,
na companhia de Bill Balantine, numa missão de paz das Nações Unidas na Nigéria.
Neste contexto, a acção tem início quando Morane está a ser
julgado por, contra as ordens recebidas, ter excedido as (quase nulas) competências
da força que comandava – limitada praticamente a controlar uma rua ocupada de
um lado por cristãos e do outro por muçulmanos, certamente todos bons crentes
praticantes… - para evitar o massacre da família de uma
personalidade local. A publicação de fotos por uma jornalista, levou à
divulgação mundial do seu acto heróico mas também a “uma profunda alteração dos
equilíbrios políticos locais”, alterando o resultado das eleições que se
seguiram.
Um desenvolvimento inesperado ocorrido durante o julgamento,
levou à anulação deste e à libertação de Morane, mas o mesmo não acontecendo
com Balantine.
A continuação da história, politizada, acaba por assumir um
tom pouco credível, com Morane a aceitar um cargo nigeriano, atentados
terroristas, o assassinato do presidente francês, uma evoluída metrópole no
coração de África, uma conspiração que envolve equipamento tecnológico de ponta
e uma situação que acabará por colocar Balantine e Morane em lados opostos da
barricada.
Tudo servido por um traço e uma planificação que, se começam
de forma conseguida nas páginas iniciais no tribunal e no flashback que conta a
cena que serve de ponto de partida, aos poucos se vão banalizando, perdendo
interesse e os pontos distintivos que ostentavam e abusando do lado caricatural
dos intervenientes.
Ressalvando novamente o meu desconhecimento do (longo)
historial de Bob Morane, parece-me que a sua escolha como protagonista é algo
abusiva e mais não faz do que servir interesses comerciais – os que realmente
contam… - e que a mesma história, que abusa de algum facilitismo de situações e
de alguns estereótipos, poderia ter no elenco heróis até agora anónimos, sem
grandes desvantagens nem grandes perdas em termos narrativos.
Bob Morane: Renaissance - T.1 Les Terres Rares
Luc Brunschwig eAurélien
Ducoudray (argumento)
Dimitri Armand
(desenho)
Le Lombard
Bélgica, 30 de
Outubro de 2015
241 x 318 mm, 60 p.,
cor, cartonado
EAN 9782803633760
13,99 €
Ou seja, é fraquito... Pena, mas estou com o Engenheiro Cleto quanto, quer ao "velho" Morane, quer quanto à tendência em geral.
ResponderEliminarBem resumido, sim: fraquito.
EliminarA tendência, na BD como noutras áreas, é fazer dinheiro, sem olhar a como...
Boas leituras!
Peço desculpa, não assinei como deve ser...
ResponderEliminarJoão Ramalho
E é um grande prazer encontrá-lo por estes lados, senhor Doutor Coiso Ramalho!
EliminarBoas leituras!