No âmbito do Amadora BD - Festival Internacional de Banda
Desenhada e da exposição Portugal e a Primeira Guerra - organizadas pela Câmara
Municipal da Amadora - inauguram este sábado, 10 de Outubro, às 16h30, as
exposições “Putain de Guerre - A Guerra das Trincheiras”, de Jacques Tardi e
“Quim e Manecas vão à Guerra”, de Stuart Carvalhais. Ambas as exposições são de
entrada gratuita e podem ser visitadas até 8 de Novembro, último dia do
Festival.
"Putain de Guerre – A
Guerra das Trincheiras”
Considerado um dos mais importantes autores de Banda
Desenhada franceses e um dos mais influentes do mundo, Jacques Tardi apresenta
nesta exposição trabalhos de três álbuns dedicados à Primeira Guerra Mundial:
“Putain de Guerre”, “C’était la Guerra des Tranchées” e “Chansons contre la
Guerre”.
Segundo Carlos Pessoa, crítico e jornalista especializado em
Banda Desenhada, “é perfeitamente possível imaginar as longas noites de Inverno
do pequeno Tardi, nos anos difíceis da reconstrução da Europa destruída pela II
Guerra Mundial, a ouvir histórias contadas pela sua avó. E também se pode
calcular que muitos desses relatos não foram contos de fadas ou histórias
tradicionais da rica oralidade europeia, mas episódios vividos por Paul Tardi,
seu avô, nas trincheiras da I Guerra Mundial. Esse avô corso que esteve em
Verdun, foi ferido várias vezes, chegou a ser gaseado e não dizia uma
palavra... Tardi também terá ficado suspenso das descrições do seu tio-avô,
sobrevivente de guerra, mas com sequelas de um ferimento de obus,
explicando-lhe com detalhe como lhe puseram vermes no penso para eliminar os
tecidos gangrenados da ferida. E depois vieram as histórias do seu próprio pai,
René Tardi, essas já situadas no ambiente da II Guerra Mundial, onde conduziu
um carro de assalto”.
As cartas e os diários, os testemunhos de soldados nas
trincheiras, as fotografias, as imagens dos uniformes, o armamento, são segundo
Carlos Pessoa “outros tantos elementos que permitem a Tardi recuperar a “sua”
atmosfera da guerra, enriquecida com a experiência de deslocação pessoal a
muitos locais das batalhas. Tudo isto para tornar possível ao leitor
impregnar-se do ambiente quotidiano do soldado e apreender o tremendo
sofrimento físico e emocional dos combatentes. As histórias de Tardi são curtas
narrativas de situações vividas por homens deprimidos e roídos pelo medo nas
trincheiras ou na terra de ninguém – a excepção é “Putain de guerre!”, em que o
autor privilegia uma perspectiva cronológica. Não há heróis, mas apenas
soldados que são vítimas de uma guerra absurda e sem o menor sentido.
Graficamente, apresentam-se muitas vezes como meras silhuetas, simples
reflexos, sem profundidade, de seres que há muito perderam a condição de homens
livres. Vivem esmagados pelo peso das mochilas e do armamento que transportam
às costas, mas sobretudo pelo próprio conflito, que lhes assenta sobre os
ombros com todo o peso do mundo.
A denúncia dos horrores da guerra, a afirmação de um
pacifismo radical e o desmascaramento do papel “redentor” da religião no
conflito, vão a par com um olhar sarcástico sobre a liturgia e a simbólica
patrióticas, com os seus monumentos evocativos ao soldado desconhecido,
cerimónias comemorativas, medalhas, desfiles de antigos combatentes e outras
evocações com que foi construída uma certa memória colectiva do conflito”,
conclui.
"Quim e Manecas vão à
Guerra"
de Stuart Carvalhais
No caso de Stuart Carvalhais, falamos de um autor
contemporâneo à Primeira Guerra Mundial. A partir de 1915, Stuart Carvalhais
iniciou a sua obra de referência: As Aventuras de Quim e Manecas, inicialmente
publicadas n’O Século Cómico, passando, a partir de meados de 1916, para a Ilustração
Portuguesa. Um dos episódios desta longa série de pranchas sobre estas duas
crianças, tem como cenário a participação portuguesa na Grande Guerra. Em “Quim
e Manecas vão à Guerra”, Stuart centrou a acção na personagem do Manecas,
enquadrando-o no esforço militar aliado como espião, ou herói inventor das mais
incríveis soluções ‘tecnológicas’ para derrotar os ‘boches’. As suas aventuras
irão fazê-lo prisioneiro, primeiro dos Aliados, depois dos alemães. Mas foi a
ele, Manecas, a quem se pediu para elaborar ‘as propostas de paz’ para o
conflito, naturalmente recusadas, para logo em seguida ter antecipado “com
certeira lucidez o ‘sonho alemão’ que surgirá com Hitler”. No que se pode considerar
o último episódio, de que Stuart não foi autor, mas Rocha Vieira, esclarece-se
que Manecas “foi a Berlim exigir a abdicação do Kaiser, porque a ele ‘se deve o
definitivo triunfo’.
Segundo José Marques, a partir da obra de João Paulo de
Paiva Boléo, “o seu alinhamento incondicional com o esforço de guerra aliado,
nunca limitou, porém, Stuart/Manecas na bicada certeira às decisões mais
controversas do governo português da altura, ou às opiniões mais descabeladas
sobre o conflito dos cronistas da época. Sempre conseguiu ‘o engenho e a arte’
para criar nas suas pranchas um saudável contraponto sarcástico aos terríveis
relatos que chegavam da frente de batalha”.
“Putain de Guerre – A
Guerra das Trincheiras” de Jacques Tardi
“Quim e Manecas vão à
Guerra”, de Stuart Carvalhais
Bedeteca da Amadora /
Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos
Av. Conde Castro
Guimarães
2720-119 Amadora
A 26ª edição Amadora BD – Festival Internacional de Banda
Desenhada realiza-se de 23 de Outubro a 8 de Novembro, no Fórum Luís de Camões,
e tem como tema “A Criança na BD”.
A exposição Portugal e a Grande Guerra inaugurou no dia 5 de
Outubro e pode ser visitada até ao dia 11 de Novembro, na Academia Militar da
Amadora, de segunda a sexta das 9h às 13h e das 14h às 18h e aos fins-de-semana
das 10h às 19h (entrada livre).
(Texto e imagens disponibilizados pela organização)
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