04/10/2015

José Vilhena (1927-2015)















Cartoonista, pintor, escritor, humorista e editor, José Vilhena faleceu ontem em Lisboa, aos 88 anos.

Natural de Figueira de Castelo Rodrigo, onde nasceu a 7 de Julho de 1927, foi estudar para Lisboa aos 10 anos e frequentou o curso de Arquitectura da Escola de Belas-Artes do Porto, que não chegou a concluir. Já nessa altura o humor, que pautaria toda a sua vida, falou mais alto, trocando o estudo pelo desenho no Diário de Lisboa, Cara Alegre e O Mundo Ri, esta última a primeira revista que fundou, em 1955, um ano antes da publicação de Este mundo e o outro, a sua primeira compilação de desenhos.
Nos anos 1960, desenvolveu a sua actividade de escritor, dando largas ao seu humor ácido, muitas vezes com a censura e o regime como tema, o que lhe valeu sucessivas apreensões de livros e três estadias na prisão.
Com sete dezenas de livros editados durante a ditadura, vendidos às escondidas a leitores fiéis, só após o 25 de Abril, na Gaiola Aberta, é que Vilhena conseguiu extravasar todo o seu sentido satírico, visando especialmente os políticos, tendo por base um virtuosismo gráfico revelado em desenhos ou montagens frequentemente chocantes ou sexualmente explícitos. Esta revista, que Vilhena escrevia, desenhava, montava e editava, foi publicada a partir de 15 de Maio de 1974 e chegou a vender 150 mil exemplares semanais. Terminaria em 1983, na sequência de um pedido de indemnização de 400 mil dólares, num processo movido por Carolina do Mónaco, chocada por se ver a aquecer um copo de whisky num local íntimo.
No entanto, a imprensa satírica estava-lhe no sangue e os títulos sucederam-se, como O Fala Barato, O Cavaco ou O Moralista, nos quais continuou a destilar o seu humor venenoso e mordaz e a acumular processos. Até há dois anos, quando a doença o fez parar.
Com a sua morte, o país perde um dos seus grandes humoristas, mas convém não deixar esquecer a sua obra popular, brejeira e cáustica, pois muitos dos seus cartoons continuam actuais, desde que se mude a cara dos intervenientes ou, muitas vezes, nem isso.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de hoje, 4 de Outubro de 2015)

2 comentários:

  1. Era porreiro que fizessem um best off do trabalho deste Homem.

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  2. "Best off" que dariam para um calhamaço de "mil páginas" ou várias edições - no nosso panorama editorial, não estou a ver quem apostaria nessa compilação... (talvez só com "meia dúzia" de trabalhos... que saberia a muito pouco!...)

    ASantos

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