Com um novo álbum já á venda – que tem apresentaçãomarcada para hoje, às 18h30, na FNAC do Chiado, em Lisboa - impunha-se
conversar com Luís Louro e António Simões para perceber quais as razões para o
regresso de Jim Del Monaco, Gina e Tião, após mais de 20 anos de ausência.
A conversa está já a seguir.
As Leituras do Pedro
- Como se conheceram?
Luís Louro - Nós
eramos vizinhos desde sempre e acabámos também por ser colegas de turma e foi
aí que começou a nossa amizade e posterior colaboração
António Simões - Sim,
nós já nos víamos lá pela rua, mas foi nos bancos da Secundária – no Liceu
Luísa de Gusmão – que nos aproximámos, sobretudo no 9º ano de escolaridade de
má memória, porque chumbámos ambos. Solidariamente assumimos duas consequências.
A primeira, no ano seguinte, sob a forma de promessa: se passássemos de ano,
iríamos a pé de Lisboa a Sesimbra, onde o Luís tinha e tem casa, e assim foi
nesse ano e seguintes; a segunda foi termos começado a fazer as primeiras
experiências em BD, depois do Luís me ter desafiado a escrever um argumento e
eu nem sabia o que isso era. O resultado foi uma treta, mas deu para ver que
funcionávamos bem juntos...
As Leituras do Pedro
- Como nasceu Jim del Monaco?
António Simões - Na
altura já tínhamos feito uns ensaios com vários estilos – clássico, ficção
científica e humorístico – e estávamos muito influenciados pela “linha clara”
espanhola, sobretudo Torres...
Luís Louro - Como
gostávamos muito das eternas aventuras africanas, resolvemos parodiar o Jim das
Selvas, Tarzan, etc.
António Simões - O nome Jim ficou desde logo assente, o Del
Monaco veio mais tarde, inspirado numa camisola de futebol americano que um
tipo qualquer vestia num dia em que estava sentado no terminal de barcos de
Cacilhas.
As Leituras do Pedro
- A que se deveu o sucesso alcançado?
Luís Louro - Talvez
devido à simplicidade com que abordámos a coisa, ao novo estilo gráfico e ao
tipo de humor que tanto caracterizava a nossa relação e maneira de estar.
António Simões - Acrescento
que a frescura e desempoeiramento dos temas, do traço e da cor, ajudaram muito
a fazer o contraponto com um certo classicismo didáctico-pedagógico da BD
portuguesa que até então tinha feito escola, isto sem demérito dos magníficos e
consagrados autores dessa época. As reacções entusiasmadas que muita gente nos
tem feito chegar a propósito deste regresso, que esperamos agora não defraudar,
têm-nos surpreendido imenso.
Luís Louro - Isso
não sabemos dizer, mas o certo é que poucos ou nenhuns exemplares restam das
edições anteriores.
As Leituras do Pedro
- Porque decidiram parar com a série?
Luís Louro - Bom
chegamos a uma altura das nossas vidas em que tivemos de percorrer caminhos
diferentes, casamentos, empregos, etc. Eu continuei na BD, o Tozé optou por uma
carreira ligada à banca e gestão de empresas.
António Simões - Pronto,
confesso, entusiasmei-me com o Wall Street, do Oliver Stone, mas já me passou...
Luís Louro - Este
ano o Jim Del Monaco comemora os 30 anos de existência e o que começou por ser
uma paródia acabou num regresso com um álbum inédito!
António Simões - Há
muito tempo que alguns amigos e as nossas famílias nos vinham desafiando a
retomar a coisa. Tínhamos perdido a oportunidade nos 25 anos, mas agora,
começámos a achar que a coisa devia ser devidamente assinalada, nem que fosse
para consumo próprio. A ideia inicial não era nada do que está para sair – um álbum
com histórias inéditas – mas aí o mérito é do Luís que sintetizou num único
desenho tudo sobre o Jim Del Monaco, aliás incluído nos extras desta próxima
edição. Depois as mãos fugiram-nos, a língua destravou-se e a parvoíce regressou
e atrás dela as histórias fluíram, mais facilmente do que supúnhamos. Mas o
julgamento final caberá aos leitores.
As Leituras do Pedro
- Como foi regressar à BD?
Luís Louro - No
meu caso confesso que nunca pensei regressar, estou a fazer fotografia e o
desenho era algo que já não me dizia grande coisa... O que me deixava um pouco
triste, mas foi uma coisa que aconteceu natural e progressivamente...
Quando em 2014 o Diogo Carvalho me contactou para uma
entrevista, e mencionou o JDM algo se reacendeu J! Ao fim de algumas conversas com o Tozé a vontade de
desenhar voltou, restava agora saber se ainda estaria à altura do desafio,
novos materiais, novas técnicas... Mas parece que no final tudo correu bem.
António Simões -
Passar do Excel, dos números e do jargão financeiro e das práticas de gestão à
escrita criativa parecia-me um salto imenso e, de repente, assustador, mas ao
mesmo tempo desafiante. Ainda pensei em reler todo os Jim Del Monaco desde o
início, mas abandonei logo a ideia. Lancei-me sem rede e da forma mais ingénua
e desprendida e, portanto parva, possível. Afinal, quando se começa por ser
parvo, basta voltar a sê-lo...
As Leituras do Pedro
- E como foi voltar a trabalhar em conjunto?
Luís Louro - Bom
quanto a isso acabou por fluir como sempre, já não estamos tão perto assim, mas
nada que a internet não resolva, restava apenas ver se aquele “caramelo” não
tinha ficado velho e corrompido por todos aqueles números e negócios
“cinzentos”, ahahahaha....
António Simões - A
química não se alterou – continuamos a insultar-nos da mesma maneira leviana e
a abusar da parvoíce quando estamos juntos ou falamos. Agora já não temos o
cubículo, mas temos iMessage e Cloud e Facebook, passe a publicidade, portanto,
só não estamos fisicamente juntos mas vamos relacionando-nos virtualmente entre
bits e bytes, de forma quase permanente, ou seja, nada de muito diferente do
que a maioria das pessoas faz hoje. Ah, e porque hoje todo o cuidado é pouco
hoje em dia, quero categoricamente afirmar que todos os negócios e números com
que lido são incorruptíveis e nada cinzentos, ufa...
As Leituras do Pedro
- O que devem os leitores esperar do novo Jim del Monaco?
Luís Louro - O
mesmo de sempre, assim o espero. Histórias divertidas, com temas actuais, um
traço e cor renovados. Boa disposição acima de tudo.
António Simões - Eu
agora fiquei preocupado com as alegações do Luís aos números e negócios
cinzentos e não respondo com receio de poder comprometer-me. Os leitores farão
o julgamento depois de o lerem, mas espero que não façam fogueiras com os
livros. O papel e a encadernação são de boa qualidade, seria uma pena...
As Leituras do Pedro
- Quanto é que ele mudou em 30 anos? E os autores?
Luís Louro - Eles
não mudaram muito, nem uma ruga... Talvez estejam um pouco mais bonitos, mas o
mesmo acontece com os autores!!! Ahahahaha.
António Simões - Bom,
nisso estamos de acordo, pelo menos é o que diz a minha mulher quando olha
horrorizada para as fotos daqueles tempos. O sacana do Jim e compinchas foram
de certeza ao Photoshop. Estão impecáveis, enxutos e em forma. Já nós... ei,
espera aí, parece-te que temos 50? Diz lá, sê sincero, espelho meu... Fase
Dorian Gray, sorry...
As Leituras do Pedro
- Este é um álbum único, pode ser o primeiro de muitos ou Jim, Gina e Tião só
voltam quando completarem 50 anos?
Luís Louro - Bom
isso ainda está para se ver, mas claro que o entusiasmo está ao rubro e acho
que, apesar de tudo, ainda somos homens para dar duas seguidas!!! J
António Simões - ...ou
3 ou 4 ou 5... somos maaaachos (citando RAP) ãh... a
pergunta não era bem sobre isso, pois não? Bom, dependerá muito de haver ou não
fogueiras de livros com este regresso. Mas estamos preparados e com temas em
carteira, o Luís até já começou a esboçar umas coisas parvas, mas eu, por
enquanto, tenho que dar nos números e no Excel, ajudar os putos a fazer os
TPC’s, levar à escola, tratar da roupa, pagar as contas... A minha vida é um
maaaaartírio, sério... Acho que voltar a fazer BD outra vez e rapidamente.
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