ou comment Mickey
rencontra Minnie
Embora siga o espírito vigente nos últimos anos, esta não
deixará de ser, sem dúvida, uma das mais surpreendentes propostas editoriais de
2016.
Imaginez Mickey vu
par… é uma colecção de BD recente da Glénat que tem a particularidade de
reunir grandes autores franco-belgas e as mais conhecidas personagens Disney. À
imagem, do que aconteceu em tempos recentes com Ric Hochet, Chlorophylle,
LuckyLuke. Ou com os heróis de Maurício de Sousa na colecção Graphic MSP. Ou, em breve, nos EUA, com os heróis Hanna-Barbera…
Iniciativa do próprio Jacques Glénat, tem por base a
importância e a magia que Mickey, Donald, Patinhas e Pateta assumiram para
várias gerações. O editor assume que “aprendeu a ler com Le Journal de Mickey” e com esta colecção quis oferecer aos autores
que “também cresceram com Mickey e Donald” a oportunidade “de realizar o seu
próprio sonho: pôr em cena os heróis da sua infância nas histórias que
escreveram e desenharam especialmente para eles”.
Lançada no início de Março, Imaginez Mickey vu par… abriu com este Une Mystérieuse Mélodie, de Cosey, e com Mickey’s Craziest Adventures (que abordarei em breve), de Lewis
Trondheim et Nicolas Keramidas, e o mínimo que se pode dizer é que tem tudo
para ser um sucesso: a curiosidade do projecto, a popularidade dos heróis, o
saber fazer dos autores.
O mais curioso em Une
Mystérieuse Mélodie é a forma como Cosey se apoderou de Mickey, sem no
entanto perder a sua marca, o seu registo gráfico, patente quer na capa, quer
em diversos momentos da narrativa e nos tons cromáticos utilizados eem especial
nos cenários campestres que, se apelam aos universos que ele próprio criou,
também se ajustam à história semi-policial que desenvolveu para Mickey
protagonizar e que se cruza com os matizes do acto criativo e um momento
charneira na história da animação – Disney e não só – ao qual Mickey esteve
também associado: a passagem do mudo para o sonoro.
A história, ambientada em 1927 – antes da estreia do próprio
rato! - apresenta o protagonista como escritor de sucesso de filmes mudos –
protagonizados por Pluto - a entrar em rota de colisão com o produtor que
aspira a filmes mais ‘adultos’ à sombra da inspiração trágico-dramática de
Shakespeare.
Uma troca acidental – ou o roubo? – entre o argumento
escrito por Mickey e um outro pretensamente proveniente da mão do criador de
Hamlet, uma misteriosa melodia – a do título! - que fica no ouvido e se escuta
onde menos se espera, o vilão da ordem, o primeiro encontro entre Mickey e
Minnie e as referências à ingenuidade, ao humor, à aventura e à musicalidade
dos filmes Disney dos primórdios, são os elementos base de uma história que
Cosey soube, como lhe é reconhecido, desenvolver de forma sustentada, com a
vantagem extra, em relação à maioria das bandas desenhadas Disney, da maior extensão
proporcionada pelas 64 páginas em formato álbum franco-belga.
Sem deslumbrar – não é esse o propósito da colecção - e não
sendo especialmente dirigido aos leitores do Cosey ‘adulto’ que desenvolveu Jonathan ou relatos como Orchidée ou Em busca de Peter Pan, Une
Mystérieuse Mélodie permite, para lá do cumprimento do sonho (so autor),
que sem dúvida se reflecte na história, uma leitura agradável e descobrir pelo
tempo de um álbum, de forma diferente, os mesmos Mickey, Minnie, Pateta de
sempre!
Complemento: entrevista com Cosey
Une Mystérieuse Mélodie
ou comment Mickey rencontra
Minnie
Colecção Mickey vu para…
Cosey
Glénat
França, Março de 2016
240 x 280, 64 p., cor, capa dura
17 €
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