A “26 de Abril de 1986,
explodia o Reactor IV do Complexo Nuclear de Chernobyl. Ninguém sabe o que
aconteceu naquela noite. […] não importam as causas, e sim as suas
consequências: cinquenta toneladas de material radioactivo lançadas na
atmosfera, vinte e cinco mil anos de contaminação na zona, milhares de crianças
doentes com cancro. […] Ainda hoje, trezentos velhos vivem nesta região e
alimentam-se do produto desta terra fertilizada com material radioactivo.”
Do prefácio de Álvaro
Colomer
Chernobyl: A Zona, novela (romance!) gráfica que a Levoir lança hoje
com o jornal Público e o apoio da FNAC, é a história do desastre nuclear que
teve lugar em Chernobyl há trinta anos. Uma história narrada em tom humano, a
partir das vidas – e do ponto de vista - de Leonid e Galia, Vladimir e Anna,
Yuri e Tatiana. Três gerações de – hoje - ucranianos – então soviéticos – que
sofreram na pele – a diferentes níveis – as consequências desse trágico
acontecimento.
[A
continuação da leitura deste texto, poderá retirar algum do prazer de
descoberta que está associada à leitura de qualquer livro]
E é isto que Chernobyl: A Zona nos mostra no seu capítulo
central, expondo, cronologicamente, friamente, mas também pudicamente, o que
aconteceu, como o incidente foi abafado, como se tentou, ingenuamente esconder
e minimizar as consequências, como tantos foram ‘voluntariamente’ levados para
uma morte certa, na tentativa de conter os estragos ou de tentar – ainda –
atenuar o número de vítimas.
Chernobyl: A Zona fá-lo numa narrativa quase
inteiramente muda, em que as imagens soam mais alto do que as palavras, mas num
tom demasiado expositivo e anódino, onde a denúncia é minimizada, quase como um
documentário verdadeiro mas (demasiado) isento. Para isso contribui o desenho
de Natacha Bustos, que, longe de apelar ao leitor, por vezes até denota
simplicidade excessiva, problemas de proporção e pouca definição, o que se
torna mais evidente num relato quase exclusivamente gráfico, embora em termos
narrativos cumpra satisfatoriamente o seu papel.
Se no capítulo final, a
abordagem mostra uma das formas de as novas gerações – as crianças de
Chernobyl… - lidarem com a questão, nomeadamente em termos de memória e busca
de explicações, a força maior de Chernobyl:
A Zona
está concentrada no primeiro capítulo, de tom bem humano e sem dúvida tocante,
protagonizado por Leonid e Galia, um casal de ‘retornados’ às suas origens, que
revela o seu quotidiano, sempre igual e igual a nada, vivos – sem saber(mos)
como – no local onde, podemos imaginar, nasceram, cresceram, brincaram, casaram
e (saberemos depois) tiveram filhos e netos, mas que agora virou um deserto - de
gente, de seres vivos…
Mas onde, teimosamente
enraizados, insistem em (sobre)viver. Até que a morte lhes advenha.
Nota
Dentro deste mesmo
tema, mas com uma outra dimensão, na beleza do traço e na força do registo,
aconselho também a leitura de Un Printemps à Tchernobyl, de Emmanuel Lepage.
Chernobyl: A Zona
Francisco Sánchez
(argumento)
Natacha Bustos (desenho)
Levoir / Público
Portugal, 21 de Abril de
2016
170 x 240 mm, 192 p., pb, capa dura
ISBN: 9789896825782
11,90 €
(Imagens fornecidas pela editora)
Boa noite, passei por vários quiosques e não consegui comprar a BD. O que se passou? Uns não receberam, outras não sabiam de nada. Estranho caso.
ResponderEliminarO livro está disponivel na FNAC (numa loja ou pela net).
EliminarOK, obrigado Anónimo. Espero que na FNAC o preço seja o mesmo aquando da edição supostamente conjunta com o jornal Público.
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