“Todas as cidades têm
um bairro (...) onde desaparecem as regras da geometria euclidiana, a lei da
gravidade, as mentiras da lógica e todas as outras muletas do pensamento.
Em Buenos Aires, essa
área é o Parque Chas - procura-a no mapa, Robinson urbano, e não a encontrarás
- ali, o possível separa-se do provável, juntam-se o antes e o agora, fantasia
e realidade cruzam-se, numa esquina que amanhã, à luz do sol, terá outro
nome...”
- Eduardo Barreiro
Parque Chas ilustra
uma das formas de narrar em que muitos autores argentinos se especializaram:
histórias curtas, que funcionam autonomamente, mas que, lidas em conjunto,
revelam um todo maior do que as partes.
Cada uma das narrativas deste livro, da sua primeira parte,
pelo menos – narrativas fantásticas, misteriosas, aqui e ali quase policiais,
noutros casos dramáticas ou semi-romanceadas – têm um princípio e um fim – ou
um (re)nov(ad)o começo.
Centram-se nos habitantes do Parque Chas – habitantes
perpétuos que nunca mais o deixaram desde o primeiro momento em que nele
entraram – e nas personagens reais ou fictícias, conhecidas ou reconhecíveis,
terrestres, humanas – ou não… - que com eles se cruzam. E num espaço sem limites – físicos, espaciais, temporais –
em contínua expansão.
Podem, por isso surpreender, desconcertar, suscitar
curiosidade ou provocar um arrepiozinho…
Cada uma delas, cada uma das histórias, é contada na
primeira pessoa por Ricardo – Barreiro? – um argumentista que tenta descobrir
o segredo do local, e traçadas por um genial Eduardo Risso que, tal como as
temáticas, varia de técnica e estilo ao sabor da inspiração e do contexto.
Cada uma das histórias – agora compiladas neste livro - funciona como uma – várias – peça(s) de um puzzle, de um todo
enigmático, fantástico e estimulante, que apela ao leitor, que o desafia, que cresce,
aumenta e se expande e o obriga a mergulhar – cada vez mais, como novos
habitantes perpétuos? – no Parque Chas… embora, não posso deixar de referir, a
segunda parte, com a explicação do mistério (?), roube um pouco da magia que
Parque Chas exalava...
Parque Chas
Ricardo Barreiro (argumento)
Eduardo Risso (desenho)
Levois/Público
Portugal, 28 de Julho de 2016
152 p., pb, capa dura
9,90 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar sobre elas para as apreciar em toda a sua extensão)
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar sobre elas para as apreciar em toda a sua extensão)
Totalmente de acordo Pedro, em especial com a última parte da análise, acabei de o ler ontem e só não digo que gostei bastante do livro, porque a segunda parte era desnecessária e borrou um pouco a pintura do excelente argumento envolvido em aura de mistério e ficção da 1ª parte, a Aitana, musa misteriosa e sensual ser um insectóide ou uma barata alienígena é que não :) Como diria o outro; "Ó meus amigos, não havia necessidade...Não havia necessidade" :)
ResponderEliminarNão havia mesmo necessidade, Homem do Leme!
EliminarBoas leituras!