Justificações
Se muitos ficam surpreendidos pela quantidade de títulos de
Tex que a Mythos Editora disponibiliza – Tex,
Tex Colecção, Tex Edição de Ouro, Tex
Edição Histórica, Tex Edição em Cores,
Tex Platinum – que (re)publicam os
mesmos relatos, uma e outra vez, existe uma explicação lógica. Ou várias.
Outra, é disponibilizar num só volume, de forma integral, histórias
que originalmente se estenderam por duas ou mais revistas.
A publicação por ordem cronológica ou na versão a cores, são
duas outras razões de igual modo válidas.
Há ainda uma outra, que possivelmente só funciona no
universo ‘texiano’: a existência de um núcleo duro dos fãs do ranger que compra
tudo o que é publicado do seu herói favorito….
Independentemente da razão que orientar o leitor destas
linhas até este Tex Platinum #4 – que
possivelmente deveria estar agora distribuído em Portugal não fossem as más notícias que entretanto chegaram – ele justifica uma leitura
atenta, mesmo por quem não é consumidor habitual dos ‘fumetti’ Bonelli.
Passada nas montanhas geladas do Canadá, onde Tex e Carson
se deslocam a pedido de Gros-Jean, preocupado pelo desaparecimento voluntário
mas demasiado demorado do Coronel Jim Brandon, este é um relato que foge, a
vários níveis, ao que é tradicional em Tex.
Para além do reencontro com aqueles dois velhos amigos e dos
locais que lhe servem de palco, um dos sinais distintivos de Em Território Selvagem é o facto de boa
parte do protagonismo estar entregue a uma mulher, a bela e autónoma Dawn, com
um papel que ultrapassa a de simples coadjuvante e a transforma numa personagem
a ‘tempo ‘inteiro’, bem construída, com defeitos e qualidades bem humanas.
Depois, em jogo, estão várias amizades, momentos marcantes
do passado que parecem regressar do fundo da(s) memória(s) e dificultam o tomar
de decisões que se impõem ou ligações surgidas no presente que obrigam a
repensar objectivos. Há ainda o tom de mistério que paira durante boa parte da
narrativa relativamente a algumas identidades, relações e propósitos de algumas
das personagens.
Finalmente – ou nem tanto porque esta história se apresenta
bastante densa e diversificada – há uma faceta mística e sobrenatural que
parece orientar alguns dos intervenientes e estar na origem de muito do que se
está a passar.
Iniciada com a descoberta de um cadáver, seguida de uma
conversa posterior densa – como raramente existiram em Tex – entre Brandon e
outro membro da Polícia Montada – o relato está muito bem escrito por Mauro
Boselli, que cria uma teia complexa que só aos poucos vai deslindando e onde
muito do que parecia acaba por se revelar de forma diversa.
Para além disso, o guião de Em Território Selvagem foi entregue ao espanhol Alfonso Font, que
nele aplicou o seu desenho duro e agreste como a paisagem exposta na maior das
pranchas e, contrastando o branco que nela impera com o seu traço negro,
preciso e expressivo, fez dela um belo trabalho gráfico que justificava um
outro tipo de edição, mais cuidada e de maior formato. Como as da Polvo, por
exemplo…
Tex Platinum #4
Em Território Selvagem
Mauro Boselli (argumento)
Alfonso Font (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Outubro de 2016
135 x 180 mm, 320 p., pb, capa mole
R$ 24,90 / 9,00 €
(clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
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