Espelho
Num mês - Janeiro - com poucas novidades, as leituras foram
feitas à custa de edições deixadas para trás em 2017 ou até ‘esquecidas’ ao
longo dos anos.
Na ‘limpeza desses montes’, surgiu este Frères d’Armes, compilação de duas histórias, unidas
pela sua origem… indiana e pela temática comum: os conflitos regionais à sombra
dos extremismos globais.
Se a primeira, Cachemire, demasiado vazio e previsível,
não me deixou marcas nem saudades, já Kerala
foi diferente.
Baseia-se num
reencontro - e num inevitável confronto que porá em causa a relação de sangue
que entre eles existe - de dois irmãos que a vida separou. Hamid, a viver na
Escócia há mais de uma dezena de anos, graças aos esforços que a sua família
fez para lhe proporcionar uma vida melhor devido às suas capacidades e à sua
dedicação aos estudos, e Rashid, que desde cedo (também) trabalhou para o (sucesso
do) irmão e cuja permanência no país o forçou (?) para os dúbios caminhos do
extremismo muçulmano.
Mais do que um
relato sobre opções de vida voluntárias ou conscientes, esta é uma história
sobre escolhas que a vida e as circunstâncias fazem por nós - relevando sempre
que a decisão final é nossa e podemos sempre escolher e lutar - até de forma
não violenta - pelo que desejamos.
O ponto de
partida é o falecimento da avó que faz com que Hamid regresse a Kerala para
encontrar uma situação social e política completamente díspar daquela que
deixou. Entre ele e o irmão - símbolos de formas de vida diferentes, quase
opostas - vão acumular-se as tensões, as dúvidas, as desconfianças, amenizadas
umas vezes, exacerbadas outras, pelas recordações de uma infância que já
antevia o choque - a certa altura enquadradas por um registo histórico quase
documental que enriquece o relato mas também o torna mais lento. Toda esta situação acabará por desembocar num
desfecho trágico não provocado, mas possivelmente inevitável - face às
circunstâncias e motivos que conduziram cada um deles à situação presente.
Centradas na
realidade local mas com as inevitáveis ligações à situação mundial e ao
crescimento do extremismo islâmico que há uma dezena de anos já era uma
realidade, estas duas obras, com grafismos com limitações e carácter
semi-documental, acabam por constituir mais duas peças num puzzle global
indisfarçável, que a banda desenhada também tem ajudado a retratar.
Frères d’Armes
Cachemire
Naseer Ahmed (argumento)
Saurabh Singh (desenho)
Kerala
Abdulk Sultan P.P. (argumento)
Partha Sengupta (desenho)
Casterman
França, Janeiro de 2009
170 x 240 mm, 216 p., cor, capa mole com badanas
16,00 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
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