Uma
nova localização, um novo paradigma, um novo conceito, a sensação
de novidade e a repetição de erros primários fez desta Comic Con,
mais do que uma quinta edição, um reinício.
[Nota
1: A proximidade geográfica permitiu-me, nas edições anteriores,
frequentar a Comic Con todos os dias e ter uma visão alargada de
todo o evento; o texto actual, espelha, apenas, a minha presença só
no sábado e confinado praticamente à zona da Comic Village e dos
auditórios que serviram a BD.
E
pode reflectir alguma mágoa pela deslocalização...]
A
Comic Con cresceu. Inevitavelmente. O espaço era maior - passou de
60 mil para 100 mil metros quadrados - a sua capacidade também - de
30 mil para 45 mil pessoas em simultâneo. Os preços dos espaços
também subiram (exponencialmente...), e como o área base era maior,
houve mais marcas e stands presentes. Ou seja, à partida o êxito
estava garantido. Para a organização. Em termos financeiros e em
número de visitantes.
Os
números oficiais - difíceis de contabilizar, pois foram anunciados
apenas três dias após o encerramento do evento (?!) ficam, no
entanto, em meu entender, abaixo do que era expectável. O aumento de
67 % do espaço e de 50 % da sua capacidade, rendeu apenas (…) mais
8 % de visitantes - correspondentes a uma subida de 100.748 para
108.897; ‘apenas’ mais 8149 pessoas do que a anterior edição na
Exponor, em Matosinhos. Apesar do espaço maior. E da melhoria das
condições. E da novidade que a Comic Con era nos arredores de
Lisboa.
Da
mesma forma, as expectativas legítimas de quem investiu num espaço
comercial - e reforço mais uma vez que me reporto apenas à área da
BD - não
se confirmaram.
Principalmente porque, depois de bons resultados na quinta e na
sexta, o sábado - dia natural de todas as enchentes - parece ter
ficado abaixo do esperado, tendo os quatro dias, em termos de vendas,
ficado sensivelmente ao nível da primeira edição, em 2014, como
alguns confirmaram. Com o senão de o número de visitantes ter
triplicado entre uma edição e outra…
Mas
deixando aquilo que move o mundo - os números - passemos à Comic
Com em si.
O
novo espaço é vasto - demasiado, dizem alguns - elimina as
aglomerações, permite ao visitante respirar. Embora obrigue a
caminhar bastante para qualquer deslocação, o que muitos dizer ser
saudável. Evita também que se ‘misturem’ os fãs das diferentes
áreas, o que, em meu entender, ‘destrói’ o espírito original
da Comic Con. E
impede descobertas em áreas fora da habitual zona de conforto de
cada um.
Embora
direccione cada um para aquilo que prefere.
Na
prática, como muitos já disseram, passamos de uma Comic Con - uma
convenção de fãs - para uma grande Feira de Cultura Pop. Não tem
de ser mau, é apenas diferente. Genericamente,
parece ter resultado, e o aumento dos espaços e da oferta para os
mais novos - crianças e adolescentes - fez com que fossem visíveis
muitas famílias na Comic Con.
Evidentemente,
o Passeio Marítimo de Algés tem um senão: é ao ar livre. Quinta
esteve frio, sexta regular, sábado chuviscou de manhã, domingo
chegou o calor - só faltou nevar! Claro que em caso de chuva
continuada ou forte se torna bastante desagradável; em caso de muita
chuva pode mesmo destruir muitos dos adereços e cenários de Cinema
& TV e causar graves estragos nos stands comerciais - como
aconteceu já este ano, no sábado de manhã, com a chuva miudinha
que estava a cair que, combinada com a humidade do local, fez
enrugar/enrolar as capas finas das edições que não estavam
embaladas
em plástico…
É
verdade que um dia de chuva ou uma boa chuvada, a curto prazo só é
incómoda para os visitantes - a organização já vendeu
antecipadamente a maior parte dos bilhetes; mas a médio prazo poderá
colocar em causa esta receita antecipada da organização.
No
que toca aos serviços
de apoio, as melhorias são evidentes. A principal, é a fácil
acessibilidade através dos transportes públicos, um dos grandes - e
incompreensíveis - problemas da Exponor, há já muitos anos. Os
multibancos eram vários e satisfizeram
a procura.
A zona de alimentação era ampla e a oferta diversificada (embora os
‘habitués’ da Comic Con tenham aprendido a levar dinheiro e
alimentação consigo...) E existia uma ampla zona de instalações
sanitárias - mas
que
não fez
esquecer, em qualidade e limpeza, a da Exponor.
A
sinalização dos diferentes espaços (finalmente) funcionou bem, com
sinalizadores claros e bem legíveis, embora a divisão por zonas bem
definidas também tenha contribuído para isso.
Infelizmente
as autoridades não perceberam a diferença entre uma Comic Con e um
festival de música, e para além da zona parecer estar quase em
estado de sítio, foram vários os adereços de cosplay, como tacos
de basebol, espadas e outros, que ficaram à porta.
A
principal falha da Comic Con, este ano, surgiu num capítulo em que é
incompreensível: a informação e divulgação. Se ao longo dos anos
era evidente a fraca qualidade dos textos enviados à imprensa sobre
os convidados, este ano foi parca a informação que chegou aos
órgãos de comunicação social, com o anúncio de vários
convidados a passar despercebido. Para além disso, a app da Comic
Con não funcionou e o site era lento, confuso e tinha diversas
funcionalidades desactivadas.
No
que à BD diz respeito, o regresso ao passado (quase) só trouxe boas
notícias. Nesta edição, voltaram os auditórios bem compostos e as
grandes filas para autógrafos, com dezenas ou centenas de pessoas,
que não se viam desde 2014.
Maurício
de Sousa, apesar de algum cansaço - já são 83 anos! - que o fez
deslocar por vezes de ‘mauriciomóvel’, como alguém referiu com
humor certeiro, esteve imbatível. Deu centenas de autógrafos por
dia, provocou risos e lágrimas, no sábado arrebatou o auditório
cheio como um ovo que o recebeu de pé com aplausos para o seu
painel, revelou uma simpatia e uma simplicidade contagiantes e
continua a ser um gestor atento, informado e actualizado, sempre a
olhar para o futuro. Uma escolha em cheio, com convite já renovado
para 2019.
Chris
Claremont, Mark Waid, Sana Takeda e Marjorie Liu [falo
apenas das que vi pessoalmente] também
geraram filas de dimensão
significativa
e,
apesar de eu não ter estado presente em nenhuma, de uma forma geral
os ecos que recebi falam da habitual disponibilidade e simpatia dos
autores.
[Faço
novo parêntesis para frisar mais uma vez o bom cartaz de BD da Comic
Con Portugal 2018, esta ano bem mais rico na componente franco-belga,
em comparação com o sofrível cartaz de Cinema & TV, a área
que indiscutivelmente atrai mais público.]
Falha grave, aconteceu, de novo, no Artists’ Alley. O espaço era
apertado e escuro, quando não havia luz solar exterior. Alguns dos
presentes - que pagaram para lá estar - estavam confinados a lugares
difíceis de descobrir e de acesso quase impossível. Se o espaço
tem tido um problema, que é a mistura de mesas de ilustradores com
outras de (quase) artesanato - seria útil dividir o espaço actual
em dois, segundo estes critérios - também seria útil haver alguma
hierarquização na distribuição dos espaços. Joe Prado e Eddie
Barrows, por exemplo, estavam ‘arrumados num canto’.
Ainda na área da BD, é fundamental referir os Galardões BD, que a
Comic Con atribui anualmente, com o único prémio pecuniário para a
banda desenhada em Portugal: 2000 € para o Melhor Álbum.
Podendo haver algumas críticas e muitas discordâncias quanto à
selecção e aos distinguidos, a verdade é que esse resultado foi
obtido com um júri de 21 pessoas - o maior de sempre dos Galardões
- de áreas diferentes, com sensibilidades diferentes, o que torna o
processo transparente e as escolhas abrangentes e representativas.
A hipótese de alargar o prémio financeiro a outras das categorias,
avançada durante a cerimónia de entrega que decorreu no sábado,
muito bem composta em termos de público, é mais uma boa notícia.
Em resumo, com raras excepções e
algumas vozes críticas (mais) motivadas pela mudança do Norte para
o Sul (do que por outra coisa), a Comic Con foi um sucesso. Abaixo
do esperado, penso eu, mas
no local funcionou bem, com a ajuda da situação meteorológica.
O cartaz foi diversificado, os espaços das diferentes áreas e a
respectiva oferta cresceu. Continua a haver aspectos a melhorar e
questões a ajustar, inevitavelmente, mas a aposta foi mais uma vez
ganha.
Ganhar 8000 pessoas é um falhanço para quem organiza. Prepararam um espaço enorme a contar com mais 80000 de certeza. Comic con nao funciona ao ar livre. Pavilhao sempre
ResponderEliminarAssino por baixo.
EliminarJS
Não me parece que objetivo fosse ganhar muito mais visitantes do pé para a mão... O objetivo era estabelecer um local que fosse capaz de gerir os tais 100 mil visitantes em condições, o que a exponor não permite. Nesse aspecto, Algés passou com distinção, permitindo um fluxo organizado de pessoas sem as baixas que o furacão Cobie Smulders ou o tsunami Clark Gregg outrora provocaram. Vale a pena celebrar o fim da ideia bacoca de esvaziar auditórios entre painéis! Depois deste ano de estreia é que a organização deve apostar num crescimento sustentável. Da minha percepção, as vendas correram bem melhor e o acessos então não são sequer comparáveis.
ResponderEliminarA publicidade foi bem agressiva mas em canais diferentes, apostanto por exemplo mais em anúncios televisivos e outdoors na linha de Cascais. A organização parece transparecer que o retorno de investir em publicidade nos blogues já não é relevante.
Depois de, no ano passado, a SdE e a Goody terem goleado por falta de comparência, este ano pareceu cimentar a sua posição como editoras mais relevantes e maiores parceiras do evento. Monstress foi uma aposta de longo alcance que começa agora a trazer dividendos e o convite aos autores portugueses e Mark Waid também me pareceu trazer bastante movimento ao stand da Goody. A Levoir publicitou muito mal o seu convidado e a G Floy apostou em esperar que as mangas do vizinho caíssem no seu jardim.
Quanto ao Artists Alley, assino por baixo. Péssimo e a exigir uma abordagem completamente diferente para a próxima.
A Goody e a SdE estiveram presentes no ano passado, e a SdE até teve um convidado bem relevante, o autor do Witcher.
ResponderEliminarO espaço é de facto de mais fácil gestão, tem muita infraestrututra que não existia na Exponor (a questão das comidas e dos multibancos era terrível, e esse problema desapareceu completamente).
Mas não sejamos ingénuos: a razão número um para a CCPT se ter mudado para a Algés é porque a Câmara de Matosinhos dava 100 000€, e a de Algés deu 250 000€ mais uns 80 000€ de apoio logístico. É tão simples como isso.
Como disse o Pedro; os números é que movem o mundo :-)
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