13/12/2022

Kong the King #2

Um turbilhão de emoções



Em 2015, Kongthe King (edição da Kingpin Books) irrompia na paisagem da banda desenhada portuguesa, de forma surpreendente e estimulante. Revisão livre da história de King Kong, tinha o mesmo ponto de partida, a chegada de uma equipa de filmagens à ilha da Caveira e o transporte do seu colossal habitante para a grande metrópole.

Esta narrativa, resumida de forma breve mas completa nas páginas de guarda do verso da capa da actual edição, apresentava três características marcantes: a primeira, num desvio brilhante ao original, entregava o protagonismo não a um gorila mas sim a um selvagem (segundo os padrões do mundo civilizado); a segunda, era uma história muda, sem uma única palavra escrita ao longo de quase centena e meia de pranchas; finalmente, assinalava a estreia do até aí desenhador Osvaldo Medina como autor completo. Uma bela estreia, premiada e distinguida, numa história em que o lado humano do ‘monstro’ destinado a feiras e circos, aportava um turbilhão de emoções, muito bem gerido.

Agora, sete anos depois, no tempo real e também na ficção, a vida paradisíaca de Kong e da sua família, na ilha, é brutalmente interrompida pela chegada de nova expedição de brancos (civilizados?), com o objectivo de raptarem o filho entretanto nascido. Isto vai originar uma missão de salvamento desesperada, que levará o protagonista do primeiro volume de novo até à civilização… e a um inesperado reencontro.

Se, tal como da primeira vez, há alguma simplicidade no enredo - embora as histórias simples sejam muitas vezes as melhores, dependendo da forma como são contadas - Medina, mais uma vez sem uma única palavra, faz do novo relato novamente uma leitura apaixonante.

Num primeiro momento, pelo desenho magnífico, num traço semi-caricatural muito expressivo, assente num preto e branco rico de contrastes, mas no qual adivinhamos todas as cores, como um imenso arco-íris, na natureza, nos seus elementos naturais e na fauna e flora esfuziantes, soberbamente desenhados, e na ligação, forte e profunda, que os protagonistas têm com ela.

Depois, valendo-se da sua experiência no cinema de animação, na forma como gere a acção, quase sempre em ritmo elevado, com apontamentos pontuais de calmaria para marcar o estado emocional dos intervenientes, seja ele felicidade pura, bem-estar, desespero ou desejo de vingança. A este lado bem humano e emocional, há que acrescentar a forma como trabalha a acção simultânea em dois locais diferentes - o cativeiro do filho e a busca do pai - e, principalmente, a conseguida planificação que, quando as necessidades narrativas o exigem, explode em vinhetas de grande dimensão ou numa disposição que surge quase anárquica quando comparada ao modelo mais tradicional que lhe serve de base.


Kong the King #2
Osvaldo Medina
Kingpin Books
Portugal, Outubro de 2022
195 x 270 mm, 152 p.,
* Capa dura, 19,95 €
** Capa dura com sobrecapa (edição limitada a 100 exemplares), 24,99€

(versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias online de 25 de Novembro de 2022 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Kingpin Books; clicar nesta ligaçãopara ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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