Memória(s)
Todos temos memórias. Próximas e distantes.
Fazem parte de nós. Ajudam-nos a
recordar o que fomos. Contribuem para definir o que somos e iremos ser.
Em termos pessoais e colectivos.
João Paulo Cotrim
com o objectivo de “dignificar a obra dos clássicos do desenho de imprensa recuperando-a do esquecimento”, deu também origem a uma colecção de obras monográficas sobre os seus vencedores.
Como os restantes, é da autoria de João Paulo Cotrim, primeiro director da Bedeteca de Lisboa, que, enquanto argumentista, tem tido experiências episódicas nalgumas destas artes e tem sido um dos grandes responsáveis pela divulgação e credibilização da banda desenhada, do cartoon, do desenho de imprensa e da ilustração nacionais nas últimas duas décadas. É verdade que a sua escrita nem sempre é fácil – e poucas vezes linear, com uma prosa de grande carga poética, que geralmente, sugere mais do que expõe – mas que, nesta colecção, tem reduzido os seus textos ao mínimo, avançando apenas pistas de interpretação e análise, destacando características ou técnicas ou inserindo o cartoon ou a ilustração no contexto
– mediático, político, artístico – em que foi criado/publicado, dando assim o máximo destaque ao trabalho gráfico do homenageado, que se encontra em profusão nas cerca de duas centenas de páginas do livro.
Para que o seu traço personalizado, seguro e sintético, e o seu olhar mordaz, cruel, independente e provocador, cumpram o seu papel: divertir, revelar, acusar, apontar o nu. Porque Cid “mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta”; “o seu humor ultrapassou qualquer noção de bom ou mau: é bílis em estado puro” e “como bom cartoonista, ignora a culpa e aspira à mais absoluta liberdade”.
há cartoons que continuam actuais, por situações que se repetem ou momentos que ganham nova interpretação à luz da História – para lá do papel – tantas vezes marcante e fundamental – que tiveram nas publicações periódicas que originalmente as acolheram. Colectânea que, também por isso, mais do que ser o culminar ou a súmula de uma carreira marcante, deve servir apenas como ponto de partida para novas viagens e explorações.
António, André Carrilho, Augusto Cid, Cristina Sampaio, António Jorge Gonçalves e Maia (cartoons)
Sejam eles as tristezas da (nossa) política(zinha), as tragédias que assolaram o planeta, as guerras que teimam em persistir, a meia dúzia de disparates dos (pequeninos) ditadores do costume ou as exibições (em bicos dos pés) dos (aspirantes a) artistas habituais.
Com a vantagem de que a sua leitura não nos deixa o travo amargo que a recordação deles provoca, antes planta um belo sorriso nos lábios e até dá ânimo para vivermos 2010, tendo no horizonte a esperança de novo tomo compilatório deste ano, em cartoons.