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19/10/2010

Entre les ombres

Arnaud Boutle (argumento e desenho)
Glénat (Suíça, Setembro de 2010)
195 x 275 mm, 72 p., cor, brochado com badanas

Resumo

Após um acontecimento de contornos e origens desconhecidos, que deu origem a diversos confrontos e alterações climáticas, os seres humanos desapareceram da face da Terra, com excepção de um único homem.
Este álbum conta o seu dia-a-dia, entre a luta pela sobrevivência e as recordações e fantasmas do tempo que viveu em comunidade.

Desenvolvimento
A ter que escolher uma única palavra para definir este livro, ela seria melancolia. Este é o sentimento dominante neste relato traçado em tons esverdeados - para o tempo presente - e azuis-acizentados - para os – muitos - flashbacks que o integram; tom este que reforça o sentimento de nostalgia e perda em relação a esses tempos passados. No trabalho gráfico de Boutle, num estilo agradável embora não muito vistoso, destaca-se igualmente o uso recorrente e bem conseguido de tracejado a lápis de cor para definir volumes, texturas e superfícies, que, a par da ausência de linhas de delineação das vinhetas, dá ao todo um aspecto delicado e atraente.
Quanto à história... É a história de um homem só, numa imensa cidade deserta, onde, por um lado, tem que fazer face aos elementos adversos do clima em mudança. Factor que permite ao autor algumas belas pranchas, nomeadamente da antiga metrópole invadida por enormes plantas trepadeiras ou os efeitos das violentas tepestades de neve.
Mas a questão climática acaba por ser um problema menor para o protagonista que vive a mais profunda e absoluta solidão. Essa solidão obriga-o a uma disciplina férrea para manter a lucidez: recolha de comida – pesca, enlatados pouco mais – ou de medicamentos em espaços agora desertos e quase esgotados, com aspecto de terem sido saqueados; busca de entretenimento na recolha de livros e cds musicais, na decoração do « seu espaço », com quadros retirados do museu… Só que aos poucos, vai perdendo essa lucidez, possivelmente ao mesmo tempo que aumenta a tendência para viver cada vez mais em função do passado, das suas recordações e dos seus fantasmas, ao som das músicas que escreveu e que a sua namorada cantou... Sinónimo, talvez, de uma lenta progressão se não para a loucura, pelo menos para a perda de noção da realidade, quando as (muitas) lembranças começam a tornar-se obsessivas e a tomar cada vez mais conta dele.

A reter
- Algumas pranchas bem conseguidas.
- O peso da solidão do protagonista que emana da leitura da história.

Menos conseguido
- A falta de uma explicação para o que aconteceu ao planeta Terra e conduziu á situação presente...
- … o que conduz à sensação de que falta algo (mais?) ao relato dos 219 dias de vida do único homem restante na Terra para que a história se torna mais coerente e credível e para que o seu destino (afinal) nos interesse.
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