Criação do grande Raymond Macherot, aquando da sua
‘transferência’ da Tintin para a Spirou, Sibylline - que o mestre me
desculpe a ousadia - surge aqui (quase como) bipolar.
Isabelle - Intégrale - Volume 1 Delporte, Macherot e Franquin (argumento) e Will (desenho) Le Lombard (Bélgica, Abril de 2007)
222 x 295 mm, 216 p., cor, cartonado
Resumo Em 1969 nascia Isabelle. Com a particularidade de ter três pais (algo que poderia ser perfeitamente normal no mundo mágico em que vivia). E que pais: Delporte e Macherot nos textos e Will no desenho. E a que se viria a juntar mais tarde Fanquin, substituindo Macherot, doente, à partida provisoriamente por algumas semanas, numa colaboração que se tornaria definitiva e duraria uma década. Mas a isso já lá vamos, até porque tal terá lugar neste primeiro volume desta reedição integral que reúne os álbuns “Le tableau enchanté”, “Isabelle et le capitaine”, “Les maléfices de l’Oncle Hermes” e “L’Astragale de Cassiopée”.
Desenvolvimento Isabelle é uma jovem que vive numa pequena cidade, em que todos se conhecem, mas onde tudo pode acontecer: uma aventura de um pequeno ser (que vive num quadro de parede) num mundo em que tudo lhe parece gigante (a lembrar as deliciosas histórias de Chlorophylle ou Sibylline que Macherot já criara); a passagem de uma sineta de Páscoa, poedeira de… ovos de chocolate!; uma pacífica e florida invasão hippie que deixa a cidade em polvorosa; a passagem de um simpático capitão, acompanhado por uma gaivota cantora, que após cada soluço - e são muitos! - pode formular um pedido que se torna de imediato realidade… Um universo em que tudo é possível (em que só vejo rival na série "Oliver Rameau", de Dany e Greg) a um tempo terno, agradável, simples e servido por um humor gentil e sem pretensões, no qual se nota o dedo de mestre de Raymond Macherot. E ao qual Will deu vida, na sua linha clara expressiva e eficiente, e que vai evoluindo de forma notória ao longo das histórias, acompanhando também as transformações que estas vão sofrendo, com a protagonista a interagir cada vez mais com mundos feéricos e oníricos. Aos quais, depois, Franquin trará a sua marca, aprofundando a psicologia das personagens, criando histórias mais movimentadas e dinâmicas, com personagens cada vez mais estranhas e inimagináveis (para desespero de Will…) e dando a Delporte oportunidade para soltar o seu humor mais mordaz. Esta edição, que inclui 12 páginas sobre as origens de Isabelle, com ilustrações inéditas, e também histórias nunca publicadas em álbum, é mais um (bom) exemplo da utilidade das reedições: redescoberta de séries esquecidas (ou nunca publicadas em álbum - ou nunca publicadas, ponto, quando se trata de outro pais… …) a um preço bem interessante. No caso, 25 € por 216 páginas a cores, no formato franco-belga tradicional. A reter - A reunião de “quatro monstros” da BD belga na mesma série: Delporte, Macherot, Will e Fanquin. - Mais uma vez, as características destas edições integrais: qualidade gráfica, introduções, recuperação de material que de outra forma é impossível encontrar e preço.
(Versão revista e actualizada do texto originalmente publicado no BDJornal #19 de Junho/Julho de 2007)