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04/10/2017

Sibylline 1969-1974

Bipolar







Criação do grande Raymond Macherot, aquando da sua ‘transferência’ da Tintin para a Spirou, Sibylline - que o mestre me desculpe a ousadia - surge aqui (quase como) bipolar.

06/12/2011

Sous L’Entonnoir

Sibylline (argumento)Natacha Sicaud (desenho)
Delcourt (França, 19 de Outubro de 2011)
194 x 255 mm, 144 p., cor, cartonado
17,50 €

Resumo
Aline ficou órfã de mãe aos 7 anos, quando esta se matou com um tiro de carabina na barriga. Aos 17 tentou suicidar-se ingerindo medicamentos.
Sous l’entonnoir aborda o período de cerca de um mês em que esteve internada numa instituição psiquiátrica.

Desenvolvimento
Mas desengane-se quem imagina aqui uma versão em BD do célebre Voando sobre um ninho de cucos ou uma denúncia desabrida dos métodos e tratamentos infligidos aos doentes por enfermeiros e médicos.
Obra autobiográfica, baseada na experiência real da argumentista, escrita cerca de 15 anos após as situações narradas no livro, Sous l’entonnoir é antes uma obra extremamente pudica e contida, mais uma catarse pessoal do que obra de auto-comiseração, denúncia ou louvor. Apenas um retrato – algo destorcido pela memória de uma paciente (não muito doente)? – do quotidiano e das situações banais – no contexto – da instituição.
Por isso – apesar disso? talvez por isso? – a obra é tocante e emotiva porque Sibylline e natacha Sicaud conseguiram passar para os quadradinhos do papel a angústia, a tensão, a demanda, o sofrimento, as dúvidas, os receios, as dificuldades de comunicação, a coabitação com o bizarro e o anormal, a solidão partilhada com quem se desconhece, com quem não se comunica, com alguém cujas histórias não se conhecem, experimentados no hospital psiquiátrico ao longo de um mês que – para os leitores e para a protagonista – pareceu muito mais tempo.
Efeito voluntário, acentuado pelo ritmo pausado da narrativa, pela sua estrutura, assente em capítulos curtos mas incisivos, pelo traço despojado mas seguro no retratar de poses e olhares, pelas poucas palavras e os muitos silêncios – incómodos – que percorrem as páginas de Sous l’entonnoir.

A reter
- O pudor da narrativa, completamente despido de qualquer pretensão sensacionalista.
- A forma como as autoras conseguiram materializar nos quadradinhos o ambiente opressivo e tenso da clínica.

Curiosidade
- A argumentista chama-se Sibyline porque o seu pai, grande leitor de banda desenhada, admirava bastante a pequena ratinha criada por Raymond Macherot.



14/11/2011

Sibylline

L’Intégrale – Tome 1: 1965-1969
Raymond Macherot (argumento e desenho)
Casterman (França, 26 de Outubro de 2011)
216x288 mm, 200 p., cor, cartonado
25,00 €

Resumo
Primeiro tomo da reedição integral das aventuras de Sibylline, uma criação do magistral Raymond Macherot (1924-2008), prevista em 5 volumes que compilarão de cerca de 1000 pranchas.
Este livro inicial inclui a primeira parte de um dossier sobre o autor e as bandas desenhadas “Sibylline”, “Sibylline & Cie”, “Sibylline et la betterave”, “Sibylline et l’imposteur”, “Sibylline en danger”, “Un sapin pour Sibylline”, “Sibylline contre-attaque” e “Sibylline et les abeilles”.

Desenvolvimento
Se acerca de muitas das obras e/ou autores que me marca(ra)m consigo com facilidade referir o que me atrai nelas(es), o mesmo não se passa com Raymond Macherot, um dos grandes mestres da banda desenhada franco-belga, cuja mérito, injustamente, poucas vezes é reconhecido.
No entanto, logo que soube da publicação deste primeiro tomo das aventuras de Sibylline, pedi-o de imediato e, quando o recebi, não resisti a puxá-lo rapidamente para o topo da pilha dos livros que tenho para ler.
E, concluída essa leitura, confirmei o grande prazer que Macherot sempre me proporciona. Não sei se isso se deve à pequena estatura das suas personagens – Sibylline e também Chlorophylle são ratos – o que dá uma outra dimensão ao mundo em que (tal como nós) vivem, ao seu humor singelo e terno, ao espírito e à espontaneidade dos diálogos, ao seu sentido do gag, à forma extremamente legível como as suas páginas são construídas ou ao modo ritmado e alegre como conta as pequenas aventuras dos seus pequenos heróis.
Possivelmente é o conjunto de tudo isto que confere à sua obra a magia e uma certa ingenuidade que me encantam e seduzem.
Sibylline, que hoje me ocupa, nasceu a 4 de Março de 1965 nas páginas do número 1403 da revista belga Spirou, para onde Macherot se transferira com armas e bagagens após deixar a também belga Tintin, devido a desacordo com o seu redactor-chefe sobre o futuro de Chlorophylle. Tendo deixado o seu herói original na revista que o vira nascer, o desenhador optou por uma nova criação, cujos pontos de contacto com aquele eram por demais evidentes.
Curiosamente, se o desacordo tinha por base a localização das aventuras – Macherot queria o campo, a revista Tintin a cidade – as aventuras de Sibylline iniciam-se em cenário urbano, rapidamente abandonado para a fazer migrar para o campo.
Em relação a Chlorophylle, se o objectivo era o mesmo, utilizar animais para narrar o que o ser humano lhe inspirava, a principal diferença é o menor protagonismo de Sibylline, uma ratinha corajosa, decidida e pouco modesta.
O que acaba por dar mais espaço aos seus coadjuvantes: Taboum, o noivo distraído e trapalhão, o corvo Flouzemaker, oportunista vendedor de banha-da-cobra e o brigadeiro Verboten, responsável por manter a ordem no bosque. E, claro está, Anathème, o pérfido rato negro, vilão da série, que tem por único objectivo vingar-se de Sibylline e dos seus amigos enquanto serve de contraponto às suas acções. Ou, nas histórias iniciais, o pobre gato de quem Sibylline e os outros ratinhos urbanos fazem gato-sapato. Desta forma, Macherot multiplica os motivos de interesse de cada história, assentes em personagens fortes e de carácter bem definido, baseadas no dia-a-dia rotineiro da vida simples e descontraída num pequeno bosquezinho que provê tudo o que os protagonistas necessitam, enquanto enfrentam a cobiça e a perfídia de Anathème e dos seus correligionários.

A reter
- A magia ingénua de Sibylline, simplesmente irresistível.
- A entrada da Casterman no segmento das reedições de clássicos.
-A qualidade da edição, com um magnífico dossier da autoria de Stéphan Caluwaerts, uma excelente reprodução das pranchas e um bom trabalho de restauração das cores.
- A possibilidade de ler histórias apenas publicadas na revista Spirou e até agora inéditas em álbum.

Menos conseguido
- A maqueta da colecção, que podia ter sido melhor trabalhada.

Curiosidades
- Em 2005, Sibylline foi retomada por Andre Taymans, nas edições Flouzemaker.

Em Portugal
- Sibylline teve vida curta em Portugal. A estreia deu-se no número inaugural da segunda série da revista Spirou, a 10 de Abril de 1979, com a história “Sibylline e a Beterraba”, concluída ao fim de 10 números.
- Seguiu-se, no número 11, onde protagonizava a capa, “Sibylline & Cª” (numa inversão da ordem original da série) que duraria até ao número 20.
- Finalmente, “Sibylline” foi publicada nos números 21 a 25, terminando assim a publicação de Sibylline em edições nacionais.
- Antes disso, a 26 de Março de 1955, o Cavaleiro Andante, no seu número 169, dedicava a capa a “Missão Perigosa” (“Mission Chèvrefeuille”), cujas 4 pranchas publicava, uma história também incluída no presente integral e que é, de certa forma, uma antecipação (um episódio-piloto…) do que viriam a ser Chlorophylle e Sibylline.

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