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29/01/2016

Groom








Se o início de um novo ano é sempre pretexto para salientar o que de mais importante aconteceu no ano transacto, a banda desenhada desta vez não ficou à parte e assim nasceu Groom, a nova revista das edições Dupuis.

22/05/2015

Tif et Tondu: Le retour de Choc

Intégrale #10






Já trouxe várias vezes aqui, a As Leituras do Pedro, Tif e Tondu – sempre nas aconselháveis edições integrais tão em voga no mercado francófono… e não só – mas, na sua essência e no seu conceito, para mim nunca passou de uma (boa) série de entretenimento, em que mistério, policial, antecipação científica e humor se combinavam em doses variáveis, atenuadas por alguma ingenuidade própria da BD franco-belga dos anos 1960 e 1970.
Por isso, a leitura deste décimo volume integral foi para mim uma boa surpresa.

17/03/2015

Les Túniques Bleus – L’Intégrale #1












Primeiro volume de mais uma recolha integral de uma das grandes séries da banda desenhada franco-belga, permite (re)descobrir a origem de um sucesso, cujo traço caricatural esconde um tom um pouco mais sério do que seria de esperar.

16/01/2015

Spirou: Édition Spéciale “Je suis Charlie”








Os ecos das acções de solidariedade em relação às vítimas do atentado contra a redacção do jornal Charlie Hebdo, na quarta-feira da semana passada continuam a fazer-se ouvir.
Hoje, na Bélgica, a Dupuis lançou um número especial da revista Spirou, com 52 páginas e colaborações diversas de cerca de 150 autores que responderam ao convite feito pela editora.

13/11/2014

Jerry Spring: L’Intégrale #3











Não foi propositado, mas o acaso - diversos acasos - fez com que este texto e o de ontem se sucedessem aqui no blog, numa coincidência curiosa pois ambos poderiam ter como subtítulo: “Evocação”.
Desenvolvo já a seguir.

14/02/2014

Spirou et Fantasio: Mystèrieuses créatures








Um dos aspectos que distingue um clássico de uma obra banal é a sua intemporalidade, que se revela quer pela forma como se mantém uma leitura estimulante independentemente da passagem do tempo, quer pela forma como nos consegue surpreender a cada nova leitura.
Le nid des Marsupilamis é um desses casos, um dos vários que nos legou o génio criativo de Andre Franquin.

A justificação vem já a seguir.

18/10/2013

Tif et Tondu: Enquêtes Mystérieuses

Intégrale #8











Tillieux e Desberg (argfumento)
Will (desenho)
Dupuis
Bélgica, Setembro de 2010
220 x 300 mm, 156 p., cor, cartonado
20,50 €


Regresso regularmente aos integrais franco-belgas.
Pela qualidade editorial, pelos dossiers que abrem os volumes (no caso presente dedicado á entrada de Desberg para a equipa criativa), pela boa relação qualidade/preço, pelo regresso a heróis e/ou géneros que me marcaram há (alguns…) anos e aos quais volto de forma recorrente e com prazer.
Este oitavo tomo da Tif e Tondu, marcado pela entrada de Desberg como co-argumentista de Tillieux, mostra o duo de protagonistas em duas situações distintas.
Na primeira história – Aventure Birmaine – deslocados do seu ‘habitat’ natural – funcionam mais como espectadores do que como actores principais de uma história com leves contornos políticos, centrada na busca de um tesouro arqueológico numa antiga colónia francesa, por um grupo em que nem todos são quem parecem, como se descobre no final - trágico.
No relato seguinte – Le gouffre interdit, a pérola deste integral – apesar dos espaços (aparentemente) abertos em que decorrem, Tif e Tondu movem-se num cenário (quase) fechado, balizado por três ou quatro pontos de referência, com uma galeria de personagens curta mas bem trabalhada, em que o clima de mistério e suspense atinge níveis bastante interessantes.
Na base da história, consistente e engenhosamente pensada e desenvolvida por Tillieux e Desberg, está um assalto a um banco seguido da morte (?) dos ladrões na sequência de um acidente junto a uma ravina funda e inacessível, cujo acesso foi convenientemente interditado.
Finalmente, Les passe-montagnes leva-os em pleno Inverno para a alta montanha, onde descobrem uma secreta estância de luxo para milionários, onde terá lugar um rapto. Apesar da abordagem de duas temáticas então actuais – a importância do petróleo e o terrorismo asiático – e do ritmo mais vivo, a acção a rodos é de certa forma cortada por um tipo de humor que não assenta bem no espírito da série e acaba por desmotivar um pouco a leitura.
Leitura que, no seu conjunto, não é novidade, vale pelo tom nostálgico e pelo reencontro com dois clássicos infanto-juvenis que marcaram (e replicaram) a BD franco-belga (mais) tradicional de aventuras das décadas de 60 a 80.

20/06/2013

A arte de... Magda



















Secrets, Cavale Tome #1
Giroud (argumento)
Magda (desenho)
Dupuis
Bélgica, 7 de Junho de 2013


21/04/2013

Spirou já tem 75 anos











Nascido como paquete de hotel a 21 de Abril de 1938, Spirou – palavra que significa esquilo em wallon – tornou-se rapidamente um viajante do mundo que vive grandes aventuras há 75 anos.

Mas, tão invulgar quanto a sua ocupação inicial foi a sua génese. Imaginado por Charles Dupuis, patrão da editora com o seu nome, para mascote de uma revista que ainda hoje se publica e que é um dos últimos bastiões do jornalismo infanto-juvenil, Spirou seria desenvolvido pelo francês Rob-Vel, que foi o seu responsável gráfico desde a sua estreia até 2 de Setembro de 1943.


Durante esse período – pela primeira vez reeditado integralmente este ano, no soberbo volume documental “Spirou par Rob-Vel” (Dupuis) - devido à sua mobilização para a II Guerra Mundial, seria substituído algumas vezes por outros desenhadores, entre os quais a sua esposa Blanche Dumoulin, também argumentista de muitas das suas aventuras iniciais.
Começando por protagonizar gags de uma página, o Spirou original, ainda em busca de definição, foi evoluindo sem rumo fixo, consoante as necessidades de cada episódio: traquina, espertalhão, patriota, fumador, apreciador de bom vinho, responsável por esquemas de honestidade duvidosa, cientista, ventríloquo, detective, monarca, astronauta… - embora acabasse por se tornar no globetrotter aventureiro justo, intrépido e que faz tudo pelos amigos que hoje conhecemos.
Esta génese fez de Spirou um herói diferente de quase todos os seus “contemporâneos” franco-belgas, sendo pertença da editora e não do seu criador. Por isso, ao longo das décadas, foram muitos os nomes que assumiram o seu destino.
Os mais importantes, sem dúvida, foram Jijé (entre 1943 e 1946, com regressos pontuais em 1949 e 1951) a quem se deve a criação de Fantasio, um jornalista solidário mas trapalhão e companheiro de aventuras de Spirou, e Franquin (1946-1968), que fez dele um dos maiores heróis dos quadradinhos pela equilibrada combinação de humor e aventura assente no seu traço nervoso e dinâmico, e que introduziu nas suas páginas o fantástico Marsupilami, Zantáfio, primo de Fantasio e vilão de serviço ou o genial e distraído Conde de Champignac.
Seguir-se-iam, sem grande rasgo nem génio – e privados do Marsupilami que Franquin levou consigo quando deixou Spirou – Fournier (até 1979) e Nic Broca e Raoul Cauvin (até 1983). A dupla seguinte seria Tome e Janry, que devolveram Spirou ao( gosto do)s leitores; a par da série principal, que assumiram até 1998, criaram também “O pequeno Spirou”, em 1987, uma versão infantil e endiabrada do herói.
O novo século encontrou-o sob os auspícios de Morvan e Munuera, com algumas influências gráficas do manga e com uma temática mais adulta que lhe retirou popularidade.
Actualmente nas mãos de Vehlmann e Yoann, Spirou em anos recentes foi também protagonista de diversos álbuns auto-conclusivos, muitas vezes situado fora do seu universo original.
Spirou estreou-se entre nós no Camarada, em Janeiro de 1959, rebaptizado Serapião; viria a ser igualmente Clarim, surgindo Fantasio como Flausino. A revista com o seu nome, teve duas vidas, ambas curtas, na década de 1970.
Praticamente todo editado em álbum em português, passou pelos catálogos da Arcádia, Publica, Meribérica e ASA mas a jóia da coroa é “O Feiticeiro de Vila Nova de Mil Fungos”, editado pelo Camarada na década de 1960, com capa feita especialmente para a edição por Franquin.
Para assinalar esta data festiva, a Dupuis, para além da reedição integral das aventuras de Spirou por Rob-Vel, lançou um número especial da revista Spirou (no passado dia 17 ) e editou igualmente “La Galerie des Illustres”, um volume de 400 páginas com Spirou desenhado por 200 desenhadores.
No dia 23 o jornal Le Soir lança um número especial com todas as imagens da autoria de desenhadores do groom e, no mesmo dia, o Centre Belge de la Bande Dessinée inaugura a exposição “Spirou de main en main” que ficará patente até Outubro.

(Versão revista e expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 21 de Abril de 2013)



22/03/2013

A arte de...Homs














Millénium 1
Runberg (argumento)
Homs (desenho)
Dupuis
Bélgica, 22 de Março de 2013
64 p., cor, cartonado
14,50 €

08/02/2013

Spirou par Rob-Vel












L’Intégrale 1938-1943
Rob-Vel
Dupuis
(Bélgica, 18 de Janeiro de 2013)
220 x 300 mm, 312 p., cor, cartonado
24,00 €




Resumo
Compilação das pranchas originais de Spirou criadas por Rob-Vel (e não só…), introduzidas por um dossier muito completo e bem ilustrado sobre a (atribulada) génese do herói.

Desenvolvimento
Há obra que se lêem com paixão, para outras é necessário utilizar a razão. É o caso desta.
Há muito sabedor que Rob-Vel tinha sido o criador (gráfico) de Spirou, quase nada tinha visto até hoje desses primeiros passos da carismática personagem. Ao saber desta edição, rapidamente subiu para o topo das minhas prioridades e a sua leitura impôs-se naturalmente. E, é sem dúvida pelo seu tom documental que ela se torna valiosa, pois esta é a primeira vez que todas as pranchas desenhadas por Rob-Vel são disponibilizadas após a sua publicação original, pois até esta data uma única vez tinham sido reproduzidas, em dois tomos, de tiragem limitada, no já muito distante ano de 1975.
Delineado por Jean Dupuis em 1937, para ser a figura principal de uma nova publicação dedicada aos mais novos que ele pensava editar, baptizado em reunião familiar dos Dupuis, Spirou seria entregue ao francês Rob-Vel, colaborador de “Le Moustique”, uma outra publicação da editora, e com vocação para desenhar grooms!
Dessa forma, a 21 de Abril de 1938, Spirou saltava (literalmente) do papel, para se tornar – ninguém o adivinhava ainda - um dos mais representativos e duradouros heróis da banda desenhada franco-belga.
O Spirou original, ainda em busca de definição, foi evoluindo sem rumo fixo, consoante as necessidades de cada episódio: traquinas, espertalhão, patriota, com um irmão gémeo (!), fumador, apreciador de bom vinho, responsável por esquemas de honestidade duvidosa, cientista, ventríloquo, detective, monarca, manager de um pugilista, astronauta… Um faz-tudo, em suma, no qual identificámos muito pouco do herói que hoje tão bem (re)conhecemos.
É dessa forma que protagoniza as suas primeiras 27 pranchas aos quadradinhos, episódios humorísticos auto-conclusivos. Depois, a 17 de Outubro desse mesmo ano, arranca a sua primeira aventura longa – 92 pranchas. Por elas e pelas seguintes, para lá de Rob-Vel, entretanto condicionado pelo serviço militar e pela ocupação da Bélgica pelos nazis, passarão a sua esposa, Blanche, Luc Lafnet e diversos colaboradores que permaneceram anónimos. Disso se ressente a obra, com o traço e a própria planificação a variarem segundo a inspiração e o estilo de cada um. Como curiosidade, fica uma nota para o facto de as duas últimas pranchas – que terminam bruscamente essa primeira narrativa longa – terem sido realizadas por Jijé, que poucos anos volvidos, a partir de 1944, haveria de deixar uma marca fundamental na série, modernizando-a e criando o temperamental Fantásio.
O mote desse relato primeiro relato em continuação – na qual Spirou, pela primeira vez, assumirá o papel de viajante pelo mundo – é, sem dúvida, curioso e original: Bill Honey, um norte-americano hospedado no hotel onde Spirou trabalha, recebe uma fabulosa herança, que perderá se não conseguir gastar um milhão por mês. Spirou encarregar-se-á de o ajudar, evitando que a fortuna vá cair nas mãos de outro.
Nela – como nos outros episódios posteriores, ao fim de poucas páginas, o ponto de partida é esquecido, coadjuvantes desaparecem misteriosamente e as peripécias e os locais da acção desdobram-se e multiplicam-se, tudo ao sabor da inspiração no momento criativo…

Esta belíssima edição, revela-se assim, antes de tudo, um documento fundamental, que descobre a génese de Spirou e espelha a forma de narrar aos quadradinhos, na Bélgica, nos anos que antecederam a II Guerra Mundial. E cuja leitura, uma vez terminada, nos faz pensar que só o talento único de dois génios dos quadradinhos, Jijé e Franquin, tornou possível que este Spirou se tenha tornado naquele que hoje conhecemos.

A reter
- O valor documental de uma edição deste calibre: foi preciso esperar 75 anos para ficar disponível a (longa) génese de um dos mais importantes heróis da BD franco-belga.
- O livro em si: um objecto magnífico, surpreendentemente leve (para a sua dimensão), bom papel, boa impressão.
- O dossier que abre o volume e detalha o percurso criativo dos autores do groom mais conhecido da BD.

Curiosidades
Simples coincidência ou Rob-Vel era leitor do Tintin de Hergé?
Deixo três momentos – que não são os únicos – que parecem inspirados (?) nas aventuras do “repórter que nunca escreveu uma linha”…

Spirou (1942) / Tintin (1930)



 Spirou (1939) / Tintin (1934)


09/05/2012

Bravo les Brothers












Colecção Dupuis Patrimoine
Franquin
Dupuis (Bélgica, 6 de Abril de 2012)
230 x 310 mm, 88 p., cor, cartonado
24,00 €



Resumo
Este álbum divide-se em duas partes.
A primeira reproduz “Bravo les Brothers”, com um novo colorido – baseado no original – da responsabilidade de Frédéric Janin, antigo colaborador de Franquin, com a participação da filha deste, Isabel Franquin.
A segunda reproduz os originais a preto e branco – sublimes! – de Franquin, a par dos comentários de José-Louis Bocquet e Serge Honorez que, a propósito de cada prancha, evocam a personalidade, a carreira, a obra ou as personagens do genial criador de BD, contextualizando-as no quotidiano da revista belga “Spirou” e na sua época.

Desenvolvimento
A proximidade do aniversário de Fantasio, leva Gaston Lagaffe a procurar uma prenda para ele. Prenda que, inevitavelmente, terá tanto de inusitado quanto de surpreendente e catastrófico, como é seu timbre.
No caso, Gaston adquire um trio de chimpanzés, encontrados nos saldos de um circo falido.
Os símios - muito susceptíveis – incentivados e aplaudidos por Gaston, passam então a fazer da redacção da revista Spirou um autêntico circo, infernizando a vida de Fantasio em particular e de todos em geral, com os seus malabarismos, habilidades e pontaria (in)falível, com os gags, as situações rocambolescas, os acontecimentos inusitados e os “acidentes” a sucederem-se a um ritmo impressionante, num monumento de pura diversão.
Em especial na primeira dúzia de pranchas, Franquin faz gáudio do seu génio para os quadradinhos, aliando ao seu traço vivo, vigoroso, ágil e muito expressivo, uma soberba técnica narrativa, uma planificação dinâmica e um sentido de humor irresistível para o leitor.
A título de parêntesis, refira-se que esta BD, criada numa época de depressão (!) do autor, quando ponderava o abandono das aventuras de Spirou – de que viria a desenhar apenas mais um álbum – foi escolhida por ele como a sua preferida, surgindo a meio caminho entre uma aventura – quase caseira – de Spirou e os habituais gags de Gaston.
O resultado – já atrás ficou explícito – é magnífico, não só pelo humor e sentido narrativo, mas também porque ela serve de pretexto para humanizar um pouco o “perfeitinho” Spirou, que nela se exaspera, duvida e hesita…
Quanto a Fantasio, assoberbado pelos chimpanzés, passa metade da história sobre o efeito de calmantes – “drogado”, pois! – sendo um tratado a panóplia de expressões com que Franquin o dota, bem como a sequência em que o (inevitável) De Mesmaeker traz os (também inevitáveis) contratos para assinar.

A reter
- A genialidade de Franquin, bem expressa em 22 soberbas pranchas de BD. Um monumento!
- A excelente edição da Dupuis, quer a nível gráfico, quer pelo seu conteúdo, pois a par das duas versões da BD e dos comentários, há ainda diversos esboços e desenhos extra para apreciar, o que faz dela um documento imperdível para os fãs de Franquin e todos aqueles que gostam de banda desenhada.
- A forma simples e dinâmica como Bocquet e Honorez traçam um capítulo muito importante da história da BD franco-belga e da obra de Franquin.



27/04/2012

Gringos Locos













Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem data anunciada)
48 p., cor





Regresso a “GringosLocos” para anunciar que este álbum vai finalmente ser posto à venda no mercado francófono no próximo dia 4 de Maio.
Narração ficcionada de uma famosa viagem aos Estados Unidos e México feita por Jijé com a mulher, quatro filhos, Franquin e Morris, nos anos 50, teve o lançamento inicialmente anunciado para 12 de Janeiro, mas foi diversas vezes adiado devido à controvérsia que opôs os descendentes de Jijé e Franquin aos autores, Yann e Schwartz.
Agora, após obtenção de um acordo, mediado pela editora Dupuis, o álbum será finalmente posto à venda, aumentado de um caderno de 10 páginas com fotos dessa viagem e uma longa entrevista de José-Louis Bocquet a Benôit Gillain, um dos filhos de Jijé, na qual ele evoca muitas das memórias que guarda dessa verdadeira odisseia e esclarece, contextualiza ou complementa, os aspectos da banda desenhada que chocaram os filhos de Jijé e a filha de Franquin pelo retrato distorcido dos seus pais e os levaram a oporem-se inicialmente à edição desta obra.
Direito de resposta para uns, limitação à liberdade de expressão para outros, a polémica levantada por este caso – que certamente só existiu devido à importância dos três autores em causa no panorama da BD franco-belga - não ficará certamente por aqui e, para além de ter servido como uma boa campanha publicitária extra para um álbum, de si já muito aguardado, poderá ter aberto precedentes que só o futuro confirmará.
Se em termos puramente criativos, o dossier nada adianta ao álbum que (man)tém muitos motivos de interesse, pois está bem escrito e desenhado e é francamente divertido, em termos históricos revela-se determinante pois ajuda a compreender – no seu tempo - e a conhecer melhor três homens – três autores de banda desenhada de excepção - que marcaram uma época e cujas obras continuam actuais e a serem (re)lidas hoje em dia e contribui decisivamente para a escrita de (mais) uma página marcante da História das histórias aos quadradinhos criadas na Bélgica e na França.

 


19/03/2012

Une si jolie petite gueule











Une stupéfiante aventure de Viny K.
Vincent Bernière (argumento)
Erwann Terrier (desenho)
Dupuis (Bélgica, Fevereiro de 2012)
240 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
14,50 €


Resumo
Esta é a primeira aventura de Viny K, um jornalista em decadência, com problemas de dependência de droga e, consequentemente, de dinheiro, a hipotecar em ritmo acelerado o capital de confiança e credibilidade construída ao longo de anos.
O desaparecimento de uma jovem “de rosto bonito” de que tem conhecimento no grupo de drogados anónimos que frequenta, está na origem de uma investigação que o levará até à Índia e ao interior de uma seita de práticas bem estranhas.

Desenvolvimento
O principal problema deste álbum é a hesitação entre o tom a adoptar: mais adulto, abordando as questões de dependência de droga e a consequente decadência – física, moral, social - de quem delas depende, a (boa ou má) prática jornalística, as cenas de sexo mais ou menos dissimuladas; ou mais juvenil, privilegiando as cenas de acção e o tom vagamente jornalístico e de investigação.
Ficando num ponto intermédio, acaba por não apresentar os argumentos suficientes para conseguir conquistar completamente nenhum dos dois segmentos de leitores.
Graficamente, o problema acaba por ser o mesmo, com o desenhador hesitante entre uma linha clara relativamente simples ou um traço mais elaborado e sujo, surgindo o todo com alguns desequilíbrios e pouco ambicioso.
Tudo isto hipoteca os aspectos mais interessantes do argumento, apesar de tudo desenvolvido de forma coerente e estruturada e com bons apontamentos de humor pese embora a facilidade com que o protagonista provoca o desfecho. Desta forma, da leitura descontraída de “Une si jolie petite gueule“, uma banda desenhada de aventuras, mais ou menos tradicional, no modelo e na forma, de acordo com o que era típico na produção franco-belga de há algumas décadas, fica a sensação de que faltou algo mais para no final se reter mais do que uma vaga e passageira lembrança.

27/01/2012

Gringos Locos













Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem data anunciada)
48 p., cor, cartonado


Resumo
Em 1948, Jijé, com a mulher e quatro filhos que tinham entre 1 e 10 anos de idade, partiu para os Estados Unidos, igualmente na companhia de Franquin e Morris. Jijé partia temendo uma próxima guerra nuclear em solo europeu e os três pretendiam arranjar emprego nos Estúdios Disney.
Essa viagem, agora evocada na forma de banda desenhada, transformou-se num autêntica odisseia, que acabou por durar 5 anos. Nela, cruzaram os EUA e o México a bordo de um único automóvel, dormiram ao ar livre ou em tendas e sobreviveram graças ao dinheiro que iam recebendo, referente às pranchas que iam desenhando e enviando para a Dupuis.
Durante a sua estadia nos EUA, Jijé, Franquin e Morris, viriam a conhecer Harvey Kurtzman e os outros fundadores da revista MAD, bem como René Goscinny, o que contribuiu para terem um papel decisivo na modernização da BD belga aquando do seu retorno ao país natal.
Este primeiro volume, que se inicia com a partida da Bélgica, conclui-se com os autores a viverem no México e Franquin a receber a notícia de que deveria substituir Jijé à frente de Spirou.

Desenvolvimento
Este é um projecto que Yann acalentava há muitos anos. Nasceu das conversas informais que teve com Franquin (a quem chegou a propor desenhá-lo) e com Morris, quando trabalhou com ambos, e foi crescendo nas suas gavetas ao longo dos anos, ao ouvir aqui e ali anedotas sobre essa mítica viagem. Chaland, que chegou a traçar-lhe uma curta biografia em BD: “La vie exemplaire de Jijé - foi outro dos nomes apontados para o desenhar, mas como a visão de um e outro era díspar, também aí o projecto não avançou.
Finalmente, depois de trabalhar com Schwartz em “Spirou – Le groom vert-de-gris”, Yann propôs-lhe o argumento de “Gringos Locos”, que foi aceite de imediato.
Só para se ter uma ideia da importância deste livro, note-se que foi pré-publicado – em simultâneo, apesar das diferentes periodicidades – no jornal Le Soir e nas revistas Spirou e L’Immanquable.
O álbum é francamente divertido. Por um lado, porque Yann escreve muito bem, combinando a actualidade no México e Estados Unidos com alguns flashbacks ou cenas sonhadas ou imaginadas (nos quadradinhos) pelos autores. Por outro, porque nele são transcritos uma série de gags que parecem apenas possíveis nos quadradinhos, mas que na verdade existiram. É o caso da batalha de água – que incluiu despejar uma banheira cheia pelas escadas abaixo – que teve lugar na véspera da partida, quando as malas já estavam feitas, o que obrigou os 3 autores a partirem vestidos com pijamas (!) emprestados (!!), o facto de terem passado a noite toda a desenhar rachadelas e falhas de pintura na casa, como vingança contra a senhoria, o desenharem as suas bandas desenhadas em frente e verso para pouparem nos portes ou perseguição à família Gillain após terem tentado, inadvertidamente, entrar numa igreja só para negros!
Para além disso Yann recheou o seu argumento com alusões a séries dos autores ou a cenas bem conhecidas dos quadradinhos, o que, sem prejuízo dos outros, possibilita um outro nível de leitura ao leitor mais conhecedor.
Graficamente, Schwartz mais uma vez, revela-se um contador nato aos quadradinhos, com uma linha clara de cores fortes e vivas, muito dinâmica e expressiva, que cativa facilmente o leitor e com a qual acentua os (muitos) momentos cómicos do relato.
Fica, para o fim, o retrato traçado por Yann e Schwartz daqueles três nomes fundamentais da banda desenhada franco-belga e mundial: Franquin, assume a personalidade depressiva e pouco confiante que lhe era (re)conhecida, em absoluto contraste com o humor que expressava nas suas criações; Morris, por seu lado, surge como um brincalhão e um conquistador incorrigível (bem diferente do circunspecto senhor de alguma idade que conheci há anos no Porto);Jijé é apresentado quase com uma personalidade bipolar, capaz dos maiores arrojos mas também das maiores hesitações.

A polémica
E é neste ponto, que assenta a polémica que envolve esta obra.
Recapitulemos: “Gringos Locos” deveria ter sido lançado no passado dia 12 de Janeiro. No entanto, a editora Dupuis, mesmo tendo 35 mil exemplares já impressos, suspendeu-o. Actualmente, a única referência ao álbum no site da editora, é a notícia da anulação de um concurso com ele relacionado.
A razão, veio rapidamente à luz do dia: os filhos de Jijé e a filha de Franquin, conforme divulgado através de diversos órgãos de comunicação social francófonos, não concordavam com o retrato feito dos seus pais no álbum e manifestaram o seu desagrado à editora.
Se algumas fontes chegam ao ponto de afirmar que houve ameaças de retirar do fundo de catálogo da Dupuis as obras de Jijé e Franquin (e até de Morris), Romain Gillain Muñoz, neto de Jijé, há anos radicado em Portugal, negou-o peremptoriamente a As Leituras do Pedro.
Segundo ele, “não há guerra nenhuma com a Dupuis”, nem “foram feitas quaisquer ameaças”. A boa relação entre estas duas partes “já vem desde os anos 1940”, estando apenas a decorrer “conversações para tentarem chegar a um acordo”. A interdição de publicação deste álbum – e do segundo tomo que lhe deverá suceder, sobre a estadia do trio em Nova Iorque – nunca foi equacionada.
Ainda segundo Romain, a família de Jijé, pede apenas a hipótese de beneficiar “de um direito de resposta”, que poderá ser na forma de um encarte a incluir nos álbuns, em que seja afirmado que se trata apenas de “uma obra livremente ficcionada, apesar de conter alguns elementos verdadeiros, e não de uma biografia factual autorizada”, e no qual possam “transmitir uma imagem mais exacta de quem foi o seu pai e avô”.
A principal questão que aponta à obra de Yann e Schwartz é a imagem “demasiado beata e católica do avô, que não corresponde de forma alguma à sua forma de estar, ele que a certa altura deixou mesmo de frequentar a missa”, reforçada “pelo facto de surgir sempre de sandálias – que raramente calçou - como era uso dos missionários católicos” e de ele estar constantemente “a proferir palavrões, que ele nunca utilizava, para mais no dialecto de Bruxelas, que não dominava”.
A isto acrescenta algumas outras questões, como a forma “deselegante e incómoda como é abordada a relação de Jijé com a II Guerra Mundial”, ele que chegou a ser acusado de colaboracionismo, “o que sempre o incomodou, apesar de ser sabido que recebeu durante a guerra vários resistentes em sua casa e que nunca se gabou disso”. E que foi algo de todo inesperado porque Yann e Schwartz, em “Le Groom vert-de-gris”, “tinham dado o rosto de Jijé ao líder da resistência belga, Jean Doisy, um comunista bem conhecido que foi seu amigo”.
Igualmente a questão monetária apresentada – no álbum Annie, esposa de Jijé, pede a Morris e Franquin que paguem o alojamento e as refeições – revolta os familiares do criador de Jerry Spring, pois “é sabido que o meu avo, na Bélgica, alojou muitos autores em sua casa, entre eles também Will, Jean Giraud e Mezières, alguns por períodos bem prolongados, sem nunca lhes ter pedido nada em troca”.
Curiosamente, Romain diz que “ignorava a maior parte dos pormenores desta odisseia”, tendo tido que pedir ao seu pai “esclarecimentos quando as primeiras notícias sobre o projecto começaram a circular na net”, embora conhecesse “fotos da época” (que cedeu para aqui serem reproduzidas) bem como “um velho chapéu mexicano, oferecido por Franquin” que o pai ainda guarda.
Sabe que Yann falou “com o seu pai e um tio muito antes de concretizar o projecto”, mas, depois disso “não houve mais nenhum contacto”, pelo que à sua família não foi dado qualquer conhecimento do início ou do avanço da obra.
Apesar desta oposição só ter sido tornada pública quando a Dupuis cancelou o lançamento do álbum, o neto de Jijé revela que a sua família “contactou a editora logo que a pré-publicação se iniciou” e que desde então “tem havido diversos contactos no sentido da resolver da melhor forma para todas as partes”.
A terminar, Romain, a título pessoal, considera, apesar de tudo, “que esta é uma história que deve ser contada”, não só pela popularidade de que ainda gozam os três criadores, mas também pela sua importância na história da banda desenhada franco-belga.
Se será concluída ou não, ainda não se sabe. Para já, na sua última página, pode apor-se, com uma significativa alteração um termo bem conhecido dos leitores de BD: (continua?)



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