Se o início de um novo ano é sempre pretexto para salientar
o que de mais importante aconteceu no ano transacto, a banda desenhada desta
vez não ficou à parte e assim nasceu Groom,
a nova revista das edições Dupuis.
Mostrar mensagens com a etiqueta Dupuis. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Dupuis. Mostrar todas as mensagens
29/01/2016
22/05/2015
Tif et Tondu: Le retour de Choc
Intégrale #10
Já trouxe várias vezes aqui, a As Leituras do Pedro, Tif e
Tondu – sempre nas aconselháveis edições integrais tão em voga no mercado
francófono… e não só – mas, na sua essência e no seu conceito, para mim nunca
passou de uma (boa) série de entretenimento, em que mistério, policial,
antecipação científica e humor se combinavam em doses variáveis, atenuadas por
alguma ingenuidade própria da BD franco-belga dos anos 1960 e 1970.
Por isso, a leitura deste décimo volume integral foi para
mim uma boa surpresa.
Leituras relacionadas
Desberg,
Dupuis,
integral,
Tif e Tondu,
Will
17/03/2015
Les Túniques Bleus – L’Intégrale #1
Primeiro volume de mais uma recolha integral de uma das
grandes séries da banda desenhada franco-belga, permite (re)descobrir a origem
de um sucesso, cujo traço caricatural esconde um tom um pouco mais sério do que
seria de esperar.
Leituras relacionadas
Cauvin,
Dupuis,
integral,
Salvérius,
Túnicas Azuis
16/01/2015
Spirou: Édition Spéciale “Je suis Charlie”
Os ecos das acções de solidariedade em relação às vítimas do
atentado contra a redacção do jornal Charlie
Hebdo, na quarta-feira da semana passada continuam a fazer-se ouvir.
Hoje, na Bélgica, a Dupuis lançou um número especial da
revista Spirou, com 52 páginas e
colaborações diversas de cerca de 150 autores que responderam ao convite feito
pela editora.
13/11/2014
Jerry Spring: L’Intégrale #3
Não foi propositado, mas o acaso - diversos
acasos - fez com que este texto e o de ontem se sucedessem aqui no blog, numa coincidência
curiosa pois ambos poderiam ter como subtítulo: “Evocação”.
Desenvolvo já a seguir.
Leituras relacionadas
Dupuis,
integral,
Jerry Spring,
Jijé
14/02/2014
Spirou et Fantasio: Mystèrieuses créatures
Um dos aspectos que distingue um clássico de uma obra banal
é a sua intemporalidade, que se revela quer pela forma como se mantém uma
leitura estimulante independentemente da passagem do tempo, quer pela forma
como nos consegue surpreender a cada nova leitura.
Le nid des
Marsupilamis é um desses casos, um dos vários que nos legou o génio
criativo de Andre Franquin.
A justificação vem já a seguir.
18/10/2013
Tif et Tondu: Enquêtes Mystérieuses
Intégrale #8
Tillieux e Desberg (argfumento)
Will (desenho)
Dupuis
Bélgica, Setembro de 2010
220 x 300 mm, 156 p., cor, cartonado
20,50 €
Pela qualidade editorial, pelos dossiers que abrem os
volumes (no caso presente dedicado á entrada de Desberg para a equipa
criativa), pela boa relação qualidade/preço, pelo regresso a heróis e/ou
géneros que me marcaram há (alguns…) anos e aos quais volto de forma recorrente e com prazer.
Este oitavo tomo da Tif e Tondu, marcado pela entrada de
Desberg como co-argumentista de Tillieux, mostra o duo de protagonistas em duas
situações distintas.
Na primeira história – Aventure
Birmaine – deslocados do seu ‘habitat’ natural – funcionam mais como
espectadores do que como actores principais de uma história com leves contornos
políticos, centrada na busca de um tesouro arqueológico numa antiga colónia
francesa, por um grupo em que nem todos são quem parecem, como se descobre no
final - trágico.
No relato seguinte – Le
gouffre interdit, a pérola deste integral – apesar dos espaços
(aparentemente) abertos em que decorrem, Tif e Tondu movem-se num cenário (quase)
fechado, balizado por três ou quatro pontos de referência, com uma galeria de
personagens curta mas bem trabalhada, em que o clima de mistério e suspense atinge
níveis bastante interessantes.
Na base da história, consistente e
engenhosamente pensada e desenvolvida por Tillieux e Desberg, está um assalto a um banco seguido da morte (?) dos
ladrões na sequência de um acidente junto a uma ravina funda e inacessível, cujo acesso foi convenientemente interditado.
Finalmente, Les
passe-montagnes leva-os em pleno Inverno para a alta montanha, onde
descobrem uma secreta estância de luxo para milionários, onde terá lugar um
rapto. Apesar da abordagem de duas temáticas então actuais – a importância do
petróleo e o terrorismo asiático – e do ritmo mais vivo, a acção a rodos é de certa
forma cortada por um tipo de humor que não assenta bem no espírito da série e
acaba por desmotivar um pouco a leitura.
Leitura que, no seu conjunto, não é novidade, vale pelo tom
nostálgico e pelo reencontro com dois clássicos infanto-juvenis que marcaram (e
replicaram) a BD franco-belga (mais) tradicional de aventuras das décadas de 60
a 80.
20/06/2013
A arte de... Magda
Leituras relacionadas
A arte de...,
Dupuis,
Giroud,
Magda
21/04/2013
Spirou já tem 75 anos
Nascido como paquete de hotel a 21 de Abril de 1938, Spirou –
palavra que significa esquilo em wallon – tornou-se rapidamente um viajante do
mundo que vive grandes aventuras há 75 anos.
Mas, tão invulgar quanto a sua ocupação inicial foi a sua
génese. Imaginado por Charles Dupuis, patrão da editora com o seu nome, para
mascote de uma revista que ainda hoje se publica e que é um dos últimos
bastiões do jornalismo infanto-juvenil, Spirou seria desenvolvido pelo francês
Rob-Vel, que foi o seu responsável gráfico desde a sua estreia até 2 de
Setembro de 1943.
Durante esse período – pela primeira vez reeditado
integralmente este ano, no soberbo volume documental “Spirou par Rob-Vel”
(Dupuis) - devido à sua mobilização para a II Guerra Mundial, seria substituído
algumas vezes por outros desenhadores, entre os quais a sua esposa Blanche
Dumoulin, também argumentista de muitas das suas aventuras iniciais.
Começando por protagonizar gags de uma página, o Spirou
original, ainda em busca de definição, foi evoluindo sem rumo fixo, consoante
as necessidades de cada episódio: traquina, espertalhão, patriota, fumador,
apreciador de bom vinho, responsável por esquemas de honestidade duvidosa,
cientista, ventríloquo, detective, monarca, astronauta… - embora acabasse por
se tornar no globetrotter aventureiro justo, intrépido e que faz tudo pelos
amigos que hoje conhecemos.
Esta génese fez de Spirou um herói diferente de quase todos
os seus “contemporâneos” franco-belgas, sendo pertença da editora e não do seu
criador. Por isso, ao longo das décadas, foram muitos os nomes que assumiram o
seu destino.
Os mais importantes, sem dúvida, foram Jijé (entre 1943 e
1946, com regressos pontuais em 1949 e 1951) a quem se deve a criação de Fantasio,
um jornalista solidário mas trapalhão e companheiro de aventuras de Spirou, e
Franquin (1946-1968), que fez dele um dos maiores heróis dos quadradinhos pela
equilibrada combinação de humor e aventura assente no seu traço nervoso e
dinâmico, e que introduziu nas suas páginas o fantástico Marsupilami, Zantáfio,
primo de Fantasio e vilão de serviço ou o genial e distraído Conde de
Champignac.
Seguir-se-iam, sem grande rasgo nem génio – e privados do
Marsupilami que Franquin levou consigo quando deixou Spirou – Fournier (até
1979) e Nic Broca e Raoul Cauvin (até 1983). A dupla seguinte seria Tome e
Janry, que devolveram Spirou ao( gosto do)s leitores; a par da série principal,
que assumiram até 1998, criaram também “O pequeno Spirou”, em 1987, uma versão
infantil e endiabrada do herói.
O novo século encontrou-o sob os auspícios de Morvan e
Munuera, com algumas influências gráficas do manga e com uma temática mais
adulta que lhe retirou popularidade.
Actualmente nas mãos de Vehlmann e Yoann, Spirou em anos
recentes foi também protagonista de diversos álbuns auto-conclusivos, muitas
vezes situado fora do seu universo original.
Spirou estreou-se entre nós no Camarada, em Janeiro de 1959,
rebaptizado Serapião; viria a ser igualmente Clarim, surgindo Fantasio como
Flausino. A revista com o seu nome, teve duas vidas, ambas curtas, na década de
1970.
Praticamente todo editado em álbum em português, passou pelos catálogos
da Arcádia, Publica, Meribérica e ASA mas a jóia da coroa é “O Feiticeiro de
Vila Nova de Mil Fungos”, editado pelo Camarada na década de 1960, com capa
feita especialmente para a edição por Franquin.
Para assinalar esta data festiva, a Dupuis, para além da reedição
integral das aventuras de Spirou por Rob-Vel, lançou um número especial da revista
Spirou (no passado dia 17 ) e editou igualmente “La Galerie des Illustres”, um
volume de 400 páginas com Spirou desenhado por 200 desenhadores.
No dia 23 o jornal Le Soir lança um número especial com
todas as imagens da autoria de desenhadores do groom e, no mesmo dia, o Centre
Belge de la Bande Dessinée inaugura a exposição “Spirou de main en main” que
ficará patente até Outubro.
(Versão revista e expandida do texto publicado no Jornal de
Notícias de 21 de Abril de 2013)
22/03/2013
A arte de...Homs
Millénium 1
Runberg (argumento)
Homs (desenho)
Dupuis
Bélgica, 22 de Março de 2013
64 p., cor, cartonado
14,50 €
Leituras relacionadas
A arte de...,
Dupuis,
Homs,
Runberg
08/02/2013
Spirou par Rob-Vel
L’Intégrale 1938-1943
Rob-Vel
Dupuis
(Bélgica, 18 de Janeiro de 2013)
220 x 300 mm, 312 p., cor,
cartonado
24,00 €
Resumo
Compilação das pranchas originais de Spirou criadas por
Rob-Vel (e não só…), introduzidas por um dossier muito completo e bem ilustrado
sobre a (atribulada) génese do herói.
Desenvolvimento
Há muito sabedor que Rob-Vel tinha sido o criador (gráfico)
de Spirou, quase nada tinha visto até hoje desses primeiros passos da
carismática personagem. Ao saber desta edição, rapidamente subiu para o topo
das minhas prioridades e a sua leitura impôs-se naturalmente. E, é sem dúvida
pelo seu tom documental que ela se torna valiosa, pois esta é a primeira vez
que todas as pranchas desenhadas por Rob-Vel são disponibilizadas após a sua
publicação original, pois até esta data uma única vez tinham sido reproduzidas,
em dois tomos, de tiragem limitada, no já muito distante ano de 1975.
Delineado por Jean Dupuis em 1937,
para ser a figura principal de uma nova publicação dedicada aos mais novos que
ele pensava editar, baptizado em reunião familiar dos Dupuis, Spirou seria
entregue ao francês Rob-Vel, colaborador de “Le Moustique”, uma outra
publicação da editora, e com vocação para desenhar grooms!
Dessa forma, a 21 de Abril de
1938, Spirou saltava (literalmente) do papel, para se tornar – ninguém o
adivinhava ainda - um dos mais representativos e duradouros heróis da banda
desenhada franco-belga.
O Spirou original, ainda em busca de
definição, foi evoluindo sem rumo fixo, consoante as necessidades de cada
episódio: traquinas, espertalhão, patriota, com um irmão gémeo (!), fumador,
apreciador de bom vinho, responsável por esquemas de honestidade duvidosa,
cientista, ventríloquo, detective, monarca, manager de um pugilista, astronauta…
Um faz-tudo, em suma, no qual identificámos muito pouco do herói que hoje tão
bem (re)conhecemos.
É dessa forma que protagoniza as suas
primeiras 27 pranchas aos quadradinhos, episódios humorísticos auto-conclusivos.
Depois, a 17 de Outubro desse mesmo ano, arranca a sua primeira aventura longa –
92 pranchas. Por elas e pelas seguintes, para lá de Rob-Vel, entretanto condicionado
pelo serviço militar e pela ocupação da Bélgica pelos nazis, passarão a sua
esposa, Blanche, Luc Lafnet e diversos colaboradores que permaneceram anónimos.
Disso se ressente a obra, com o traço e a própria planificação a variarem
segundo a inspiração e o estilo de cada um. Como curiosidade, fica uma nota
para o facto de as duas últimas pranchas – que terminam bruscamente essa
primeira narrativa longa – terem sido realizadas por Jijé, que poucos anos
volvidos, a partir de 1944, haveria de deixar uma marca fundamental na série, modernizando-a
e criando o temperamental Fantásio.
O mote desse relato primeiro
relato em continuação – na qual Spirou, pela primeira vez, assumirá o papel de viajante
pelo mundo – é, sem dúvida, curioso e original: Bill Honey, um norte-americano
hospedado no hotel onde Spirou trabalha, recebe uma fabulosa herança, que perderá
se não conseguir gastar um milhão por mês. Spirou encarregar-se-á de o ajudar,
evitando que a fortuna vá cair nas mãos de outro.
Nela – como nos outros episódios
posteriores, ao fim de poucas páginas, o ponto de partida é esquecido,
coadjuvantes desaparecem misteriosamente e as peripécias e os locais da acção
desdobram-se e multiplicam-se, tudo ao sabor da inspiração no momento criativo…
Esta belíssima edição, revela-se
assim, antes de tudo, um documento fundamental, que descobre a génese de Spirou
e espelha a forma de narrar aos quadradinhos, na Bélgica, nos anos que
antecederam a II Guerra Mundial. E cuja leitura, uma vez terminada, nos faz
pensar que só o talento único de dois génios dos quadradinhos, Jijé e Franquin,
tornou possível que este Spirou se tenha tornado naquele que hoje conhecemos.
A reter
- O valor documental de uma edição deste calibre: foi
preciso esperar 75 anos para ficar disponível a (longa) génese de um dos mais
importantes heróis da BD franco-belga.
- O livro em si: um objecto magnífico, surpreendentemente
leve (para a sua dimensão), bom papel, boa impressão.
- O dossier que abre o volume e detalha o percurso criativo
dos autores do groom mais conhecido da BD.
Curiosidades
Simples coincidência ou Rob-Vel era leitor do Tintin de
Hergé?
Deixo três momentos – que não são os únicos – que parecem inspirados
(?) nas aventuras do “repórter que nunca escreveu uma linha”…
Spirou (1942) / Tintin (1930)
09/05/2012
Bravo les Brothers
Colecção Dupuis Patrimoine
Franquin
Dupuis (Bélgica, 6 de Abril
de 2012)
230 x 310 mm, 88 p., cor,
cartonado
24,00 €
Resumo
Este álbum divide-se em duas partes.
A primeira reproduz “Bravo les Brothers”, com um novo
colorido – baseado no original – da responsabilidade de Frédéric Janin, antigo colaborador
de Franquin, com a participação da filha deste, Isabel Franquin.
A segunda reproduz os originais a preto e branco – sublimes!
– de Franquin, a par dos comentários de José-Louis Bocquet e Serge Honorez que,
a propósito de cada prancha, evocam a personalidade, a carreira, a obra ou as
personagens do genial criador de BD, contextualizando-as no quotidiano da
revista belga “Spirou” e na sua época.
Desenvolvimento
A proximidade do aniversário de Fantasio, leva Gaston
Lagaffe a procurar uma prenda para ele. Prenda que, inevitavelmente, terá tanto
de inusitado quanto de surpreendente e catastrófico, como é seu timbre.
No caso, Gaston adquire um trio de chimpanzés, encontrados nos
saldos de um circo falido.
Os símios - muito susceptíveis – incentivados e aplaudidos
por Gaston, passam então a fazer da redacção da revista Spirou um autêntico circo,
infernizando a vida de Fantasio em particular e de todos em geral, com os seus
malabarismos, habilidades e pontaria (in)falível, com os gags, as situações
rocambolescas, os acontecimentos inusitados e os “acidentes” a sucederem-se a
um ritmo impressionante, num monumento de pura diversão.
Em especial na primeira dúzia de pranchas, Franquin faz
gáudio do seu génio para os quadradinhos, aliando ao seu traço vivo, vigoroso, ágil
e muito expressivo, uma soberba técnica narrativa, uma planificação dinâmica e
um sentido de humor irresistível para o leitor.
A título de parêntesis, refira-se que esta BD, criada numa
época de depressão (!) do autor, quando ponderava o abandono das aventuras de
Spirou – de que viria a desenhar apenas mais um álbum – foi escolhida por ele
como a sua preferida, surgindo a meio caminho entre uma aventura – quase caseira
– de Spirou e os habituais gags de Gaston.
O resultado – já atrás ficou explícito – é magnífico, não só
pelo humor e sentido narrativo, mas também porque ela serve de pretexto para
humanizar um pouco o “perfeitinho” Spirou, que nela se exaspera, duvida e
hesita…
Quanto a Fantasio, assoberbado pelos chimpanzés, passa metade da história sobre o efeito de calmantes – “drogado”, pois! – sendo um tratado a panóplia de expressões com que Franquin o dota, bem como a sequência em que o (inevitável) De Mesmaeker traz os (também inevitáveis) contratos para assinar.
Quanto a Fantasio, assoberbado pelos chimpanzés, passa metade da história sobre o efeito de calmantes – “drogado”, pois! – sendo um tratado a panóplia de expressões com que Franquin o dota, bem como a sequência em que o (inevitável) De Mesmaeker traz os (também inevitáveis) contratos para assinar.
A reter
- A genialidade de Franquin, bem expressa em 22 soberbas pranchas
de BD. Um monumento!
- A excelente edição da Dupuis, quer a nível gráfico, quer
pelo seu conteúdo, pois a par das duas versões da BD e dos comentários, há
ainda diversos esboços e desenhos extra para apreciar, o que faz dela um
documento imperdível para os fãs de Franquin e todos aqueles que gostam de
banda desenhada.
- A forma simples e dinâmica como Bocquet e Honorez traçam
um capítulo muito importante da história da BD franco-belga e da obra de Franquin.
Leituras relacionadas
Dupuis,
Franquin,
Gaston Lagaffe,
Spirou
27/04/2012
Gringos Locos
Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem
data anunciada)
48 p., cor
Regresso a “GringosLocos” para anunciar que este álbum vai finalmente ser posto à venda no mercado
francófono no próximo dia 4 de Maio.
Narração
ficcionada de uma famosa viagem aos Estados Unidos e México feita por Jijé com
a mulher, quatro filhos, Franquin e Morris, nos anos 50, teve o lançamento inicialmente
anunciado para 12 de Janeiro, mas foi diversas vezes adiado devido à
controvérsia que opôs os descendentes de Jijé e Franquin aos autores, Yann e
Schwartz.
Agora, após
obtenção de um acordo, mediado pela editora Dupuis, o álbum será finalmente posto
à venda, aumentado de um caderno de 10 páginas com fotos dessa viagem e uma
longa entrevista de José-Louis Bocquet a Benôit Gillain, um dos filhos de Jijé,
na qual ele evoca muitas das memórias que guarda dessa verdadeira odisseia e esclarece,
contextualiza ou complementa, os aspectos da banda desenhada que chocaram os
filhos de Jijé e a filha de Franquin pelo retrato distorcido dos seus pais e os
levaram a oporem-se inicialmente à edição desta obra.
Direito de
resposta para uns, limitação à liberdade de expressão para outros, a polémica
levantada por este caso – que certamente só existiu devido à importância dos
três autores em causa no panorama da BD franco-belga - não ficará certamente
por aqui e, para além de ter servido como uma boa campanha publicitária extra
para um álbum, de si já muito aguardado, poderá ter aberto precedentes que só o
futuro confirmará.
Se em
termos puramente criativos, o dossier nada adianta ao álbum que (man)tém muitos
motivos de interesse, pois está bem escrito e desenhado e é francamente
divertido, em termos históricos revela-se determinante pois ajuda a compreender
– no seu tempo - e a conhecer melhor três homens – três autores de banda
desenhada de excepção - que marcaram uma época e cujas obras continuam actuais e
a serem (re)lidas hoje em dia e contribui decisivamente para a escrita de (mais)
uma página marcante da História das histórias aos quadradinhos criadas na
Bélgica e na França.
19/03/2012
Une si jolie petite gueule
Une stupéfiante aventure de
Viny K.
Vincent Bernière (argumento)
Erwann Terrier (desenho)
Dupuis (Bélgica, Fevereiro de 2012)
240 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
14,50 €
Resumo
Esta é a primeira aventura de Viny K, um jornalista em
decadência, com problemas de dependência de droga e, consequentemente, de
dinheiro, a hipotecar em ritmo acelerado o capital de confiança e credibilidade
construída ao longo de anos.
O desaparecimento de uma jovem “de rosto bonito” de que tem
conhecimento no grupo de drogados anónimos que frequenta, está na origem de uma
investigação que o levará até à Índia e ao interior de uma seita de práticas
bem estranhas.
Desenvolvimento
O principal problema deste álbum é a hesitação entre o tom a
adoptar: mais adulto, abordando as questões de dependência de droga e a consequente
decadência – física, moral, social - de quem delas depende, a (boa ou má)
prática jornalística, as cenas de sexo mais ou menos dissimuladas; ou mais
juvenil, privilegiando as cenas de acção e o tom vagamente jornalístico e de
investigação.
Ficando num ponto intermédio, acaba por não apresentar os
argumentos suficientes para conseguir conquistar completamente nenhum dos dois segmentos de
leitores.
Graficamente, o problema acaba por ser o mesmo, com o
desenhador hesitante entre uma linha clara relativamente simples ou um traço
mais elaborado e sujo, surgindo o todo com alguns desequilíbrios e pouco
ambicioso.
Tudo isto hipoteca os aspectos mais interessantes do
argumento, apesar de tudo desenvolvido de forma coerente e estruturada e com bons apontamentos de humor pese
embora a facilidade com que o protagonista provoca o desfecho. Desta forma, da leitura descontraída de “Une
si jolie petite gueule“, uma banda desenhada de aventuras, mais
ou menos tradicional, no modelo e na forma, de acordo com o que era típico na
produção franco-belga de há algumas décadas, fica a sensação de que faltou algo mais para no final se reter mais do que uma vaga e passageira lembrança.
27/01/2012
Gringos Locos
Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem
data anunciada)
48 p., cor, cartonado
Resumo
Em 1948,
Jijé, com a mulher e quatro filhos que tinham entre 1 e 10 anos de idade,
partiu para os Estados Unidos, igualmente na companhia de Franquin e Morris. Jijé
partia temendo uma próxima guerra nuclear em solo europeu e os três pretendiam
arranjar emprego nos Estúdios Disney.
Essa viagem,
agora evocada na forma de banda desenhada, transformou-se num autêntica
odisseia, que acabou por durar 5 anos. Nela, cruzaram os EUA e o México a bordo
de um único automóvel, dormiram ao ar livre ou em tendas e sobreviveram graças
ao dinheiro que iam recebendo, referente às pranchas que iam desenhando e
enviando para a Dupuis.
Durante a
sua estadia nos EUA, Jijé, Franquin e Morris, viriam a conhecer Harvey Kurtzman
e os outros fundadores da revista MAD, bem como René Goscinny, o que contribuiu
para terem um papel decisivo na modernização da BD belga aquando do seu retorno
ao país natal.
Este
primeiro volume, que se inicia com a partida da Bélgica, conclui-se com os
autores a viverem no México e Franquin a receber a notícia de que deveria
substituir Jijé à frente de Spirou.
Desenvolvimento
Este é um
projecto que Yann acalentava há muitos anos. Nasceu das conversas informais que
teve com Franquin (a quem chegou a propor desenhá-lo) e com Morris, quando
trabalhou com ambos, e foi crescendo nas suas gavetas ao longo dos anos, ao
ouvir aqui e ali anedotas sobre essa mítica viagem. Chaland, que chegou a
traçar-lhe uma curta biografia em BD: “La vie exemplaire de Jijé”
- foi outro dos nomes apontados para o desenhar, mas como a visão de um e outro
era díspar, também aí o projecto não avançou.
Finalmente,
depois de trabalhar com Schwartz em “Spirou – Le groom vert-de-gris”, Yann
propôs-lhe o argumento de “Gringos Locos”, que foi aceite de imediato.
Só para se
ter uma ideia da importância deste livro, note-se que foi pré-publicado – em
simultâneo, apesar das diferentes periodicidades – no jornal Le Soir e nas
revistas Spirou e L’Immanquable.
O álbum é
francamente divertido. Por um lado, porque Yann escreve muito bem, combinando a
actualidade no México e Estados Unidos com alguns flashbacks ou cenas sonhadas
ou imaginadas (nos quadradinhos) pelos autores. Por outro, porque nele são
transcritos uma série de gags que parecem apenas possíveis nos quadradinhos,
mas que na verdade existiram. É o caso da batalha de água – que incluiu
despejar uma banheira cheia pelas escadas abaixo – que teve lugar na véspera da
partida, quando as malas já estavam feitas, o que obrigou os 3 autores a
partirem vestidos com pijamas (!) emprestados (!!), o facto de terem passado a
noite toda a desenhar rachadelas e falhas de pintura na casa, como vingança
contra a senhoria, o desenharem as suas bandas desenhadas em frente e verso
para pouparem nos portes ou perseguição à família Gillain após terem tentado,
inadvertidamente, entrar numa igreja só para negros!
Para além
disso Yann recheou o seu argumento com alusões a séries dos autores ou a cenas
bem conhecidas dos quadradinhos, o que, sem prejuízo dos outros, possibilita um
outro nível de leitura ao leitor mais conhecedor.
Graficamente,
Schwartz mais uma vez, revela-se um contador nato aos quadradinhos, com uma
linha clara de cores fortes e vivas, muito dinâmica e expressiva, que cativa
facilmente o leitor e com a qual acentua os (muitos) momentos cómicos do
relato.
Fica, para
o fim, o retrato traçado por Yann e Schwartz daqueles três nomes fundamentais
da banda desenhada franco-belga e mundial: Franquin, assume a personalidade
depressiva e pouco confiante que lhe era (re)conhecida, em absoluto contraste
com o humor que expressava nas suas criações; Morris, por seu lado, surge como
um brincalhão e um conquistador incorrigível (bem diferente do circunspecto senhor
de alguma idade que conheci há anos no Porto);Jijé é apresentado quase com uma
personalidade bipolar, capaz dos maiores arrojos mas também das maiores hesitações.
A polémica
E é neste
ponto, que assenta a polémica que envolve esta obra.
Recapitulemos:
“Gringos Locos” deveria ter sido lançado no passado dia 12 de Janeiro. No entanto,
a editora Dupuis, mesmo tendo 35 mil exemplares já impressos, suspendeu-o. Actualmente, a única referência ao álbum no site da editora, é a notícia da anulação de um concurso com ele relacionado.
A razão, veio rapidamente à luz do dia: os filhos de Jijé e a filha de Franquin, conforme divulgado através de diversos órgãos de comunicação social francófonos, não concordavam com o retrato feito dos seus pais no álbum e manifestaram o seu desagrado à editora.
A razão, veio rapidamente à luz do dia: os filhos de Jijé e a filha de Franquin, conforme divulgado através de diversos órgãos de comunicação social francófonos, não concordavam com o retrato feito dos seus pais no álbum e manifestaram o seu desagrado à editora.
Se algumas
fontes chegam ao ponto de afirmar que houve ameaças de retirar do fundo de
catálogo da Dupuis as obras de Jijé e Franquin (e até de Morris), Romain Gillain
Muñoz, neto de Jijé, há anos radicado em Portugal, negou-o peremptoriamente a
As Leituras do Pedro.
Segundo
ele, “não há guerra nenhuma com a Dupuis”, nem “foram feitas quaisquer
ameaças”. A boa relação entre estas duas partes “já vem desde os anos 1940”,
estando apenas a decorrer “conversações para tentarem chegar a um acordo”. A
interdição de publicação deste álbum – e do segundo tomo que lhe deverá
suceder, sobre a estadia do trio em Nova Iorque – nunca foi equacionada.
Ainda segundo
Romain, a família de Jijé, pede apenas a hipótese de beneficiar “de um direito
de resposta”, que poderá ser na forma de um encarte a incluir nos álbuns, em
que seja afirmado que se trata apenas de “uma obra livremente ficcionada,
apesar de conter alguns elementos verdadeiros, e não de uma biografia factual
autorizada”, e no qual possam “transmitir uma imagem mais exacta de quem foi o
seu pai e avô”.
A principal
questão que aponta à obra de Yann e Schwartz é a imagem “demasiado beata e
católica do avô, que não corresponde de forma alguma à sua forma de estar, ele
que a certa altura deixou mesmo de frequentar a missa”, reforçada “pelo facto
de surgir sempre de sandálias – que raramente calçou - como era uso dos
missionários católicos” e de ele estar constantemente “a proferir palavrões,
que ele nunca utilizava, para mais no dialecto de Bruxelas, que não dominava”.
A isto
acrescenta algumas outras questões, como a forma “deselegante e incómoda como é
abordada a relação de Jijé com a II Guerra Mundial”, ele que chegou a ser
acusado de colaboracionismo, “o que sempre o incomodou, apesar de ser sabido
que recebeu durante a guerra vários resistentes em sua casa e que nunca se gabou disso”. E que foi algo de
todo inesperado porque Yann e Schwartz, em “Le Groom vert-de-gris”, “tinham
dado o rosto de Jijé ao líder da resistência belga, Jean Doisy, um comunista
bem conhecido que foi seu amigo”.
Igualmente a
questão monetária apresentada – no álbum Annie, esposa de Jijé, pede a Morris e
Franquin que paguem o alojamento e as refeições – revolta os familiares do
criador de Jerry Spring, pois “é sabido que o meu avo, na Bélgica, alojou
muitos autores em sua casa, entre eles também Will, Jean Giraud e Mezières, alguns por
períodos bem prolongados, sem nunca lhes ter pedido nada em troca”.
Curiosamente,
Romain diz que “ignorava a maior parte dos pormenores desta odisseia”, tendo
tido que pedir ao seu pai “esclarecimentos quando as primeiras notícias sobre o
projecto começaram a circular na net”, embora conhecesse “fotos da época” (que
cedeu para aqui serem reproduzidas) bem como “um velho chapéu mexicano, oferecido por Franquin” que o
pai ainda guarda.
Sabe que
Yann falou “com o seu pai e um tio muito antes de concretizar o projecto”, mas,
depois disso “não houve mais nenhum contacto”, pelo que à sua família não foi
dado qualquer conhecimento do início ou do avanço da obra.
Apesar
desta oposição só ter sido tornada pública quando a Dupuis cancelou o
lançamento do álbum, o neto de Jijé revela que a sua família “contactou a
editora logo que a pré-publicação se iniciou” e que desde então “tem havido
diversos contactos no sentido da resolver da melhor forma para todas as
partes”.
A terminar,
Romain, a título pessoal, considera, apesar de tudo, “que esta é uma história
que deve ser contada”, não só pela popularidade de que ainda gozam os três
criadores, mas também pela sua importância na história da banda desenhada
franco-belga.
Se será
concluída ou não, ainda não se sabe. Para já, na sua última página, pode
apor-se, com uma significativa alteração um termo bem conhecido dos leitores de
BD: (continua?)
Subscrever:
Mensagens (Atom)