Edicion Especial 50º Aniversario
H. G. Oesterheld (argumento)
F. Solano Lopez (desenho)
Norma Editorial (Espanha, Dezembro de 2010)
280 x 220 mm, 368 p., pb, cartonado
22.00 €
1.
Na semana em que se completam 55 anos sobre a
data original de publicação da sua primeira página, escrevo finalmente sobre
uma leitura há muito prometida na caixa na coluna aqui ao lado (e há muito feita).
2.
Refiro-me a “El Eternauta”, um relato de
ficção-científica, que a Argentina descobriu a partir de 4 de Setembro de 1957,
nas páginas da revista “Hora Cero Semanal” (onde a pôde acompanhar ao ritmo de
7 pranchas semanais durante quase 2 anos) e também um dos grandes clássicos da BD mundial, cuja imagem de marca é um homem de olhar duro, vestido com um escafandro artesanal.
3.
Nesse início, Salvo, um escritor de BD (o
próprio Oesterheld?) via materializar-se do nada, à sua frente, um homem que se
anunciava como o Eternauta, um viajante do tempo, e que se propunha contar-lhe
a sua história.
4.
É esse relato que nós, leitores, vamos ler a
partir daí
5.
Um relato que nos leva a Buenos Aires, na
Argentina – então num futuro muito próximo – numa noite fria na cidade onde
raramente neva, em que uma estranha neve fosforescente cobriu toda a cidade. E
se revelou mortal para qualquer ser vivo, aniquilando em pouco tempo a maioria
da população da cidade.
6.
Os raros sobreviventes, foram a pouco e pouco
tentando organizar-se, acabando por descobrir que o estranho fenómeno tinha
ocorrido em todas as grandes metrópoles, tinha origem extraterrestre e
antecipava uma invasão em massa ao nosso planeta.
7.
É verdade que lido hoje em dia, 55 anos depois
da sua criação, El Eternauta não tem a mesma força e o mesmo impacto de então,
essencialmente devido a dois factores fundamentais.
8.
O primeiro, o facto de muitos leitores da “Hora
Cero” serem de Buenos Aires, centro de toda a acção, podendo identificar – e
identificar-se com – a cidade, as suas artérias, as suas casas (os seus
concidadãos ameaçados?) numa proximidade marcante e até incómoda, num tempo em
que o mundo era bem mais pequeno (e mais distante), num tempo em que o mundo de
cada um era o seu bairro, a sua cidade ou pouco mais,
9.
A segunda, advém do facto de o tempo ter deixado
algumas marcas em El Eternauta, por isso, alguns dos conceitos utilizados, especialmente
no que aos invasores e às suas armas diz respeito, são hoje, no mínimo ingénuos.
10. Isso
não invalida a força que o relato mantém, a capacidade de prender e de
atemorizar o leitor que revela a escrita elegante e cativante de Oesterheld,
apesar de algum classicismo, desde logo pela forma difusa e pouco clara como os
invasores são mostrados ao longo das primeiras dezenas de pranchas, o que
aumenta o medo e o terror que inspiram, redobrado pelo livre curso que é dado à
imaginação do leitor para os valorizar.
11.
Depois, pela constante alternância entre os
momentos de euforia ou de desilusão vividos pelos protagonistas, que tão
depressa passam da quase certeza da vitória para a sensação da inevitabilidade
da derrota.
12. Igualmente
pela tensão constante que perpassa todo o livro, resultante da situação
desesperada e da ignorância quase total em que vivem os sobreviventes, entre os
quais os choques, as discordâncias e os confrontos se multiplicam.
13. Ainda
pela mensagem política que Oesterheld transmite, umas vezes claramente, outras
com mais subtileza.
14. E,
finalmente pelo final, soberbo, em aberto, que reequaciona toda a narrativa e
mergulha o leitor numa dupla dúvida…
Nota final: Se a minha leitura foi feita a partir da edição
espanhola da Norma Editorial, no Brasil a Martins Fontes disponibiliza “OEternauta”
desde o início do ano, numa edição que me parece similar a esta, apenas com a
troca do prefácio de Carlos Trillo pelo de Paulo Ramos, do Blog dos Quadrinhos.