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10/07/2012

Au Royaume des Aveugles #1

Les Invisibles














Olivier Jouvray (argumento)
Frédérik Salsedo (desenho)
Greg Salsedo (cor)
Le Lombard (França, 25 de Maio de 2012)
237 x 310 mm, 56 p., cor, cartonado
14,45 €



Resumo
Londres 2060. Com algumas décadas de atraso, o “Big Brother” de George Orwell é uma inquietante realidade, com milhares de câmaras por todo o lado a espiar, controlar, devassar a vida de cada cidadão.
Um grupo de activistas, ao qual pertence Laurette, filha de um polícia reformado, prepara clandestinamente uma série de acções de protesto contra este estado de coisas, sem saberem que são manobrados por alguém que permanece na sombra.


Desenvolvimento
Enésima variação sobre a temática do Big Brother e do controle absoluto do estado sobre a vida – pública e privada dos cidadãos – este é um tríptico que, como mandam as regras, neste primeiro tomo pouco mais faz do que apresentar as personagens e explanar os meandros da acção, concluindo com muitas dúvidas e imensas pistas por desvendar.
Frédérik Salsedo, no desenho, parece ainda à procura da sua marca pessoal. Num estilo semi-caricatural – que não perdia se se aproximasse um pouco mais do realista, para melhor se adaptar ao tom do registo – revela alguma rigidez ao nível dos rostos e os cenários estão geralmente demasiado despojados e vazios, embora seja de assinalar um bom domínio da anatomia humana.
Quanto ao argumento de Jouvray, se não é especialmente original, tem o mérito de deixar muitas pistas por esclarecer. Desde logo quem orquestra na sombra, parecendo usar todos os intervenientes como marionetas de uma imensa farsa e qual o seu objectivo. Mas também, qual a origem da inimizade entre o inspector da polícia e o pai de Laurette; que ligação tem este com o misterioso mandante; como se irá desenvolver o (inevitável confronto) entre o pai e o irmão de Laurette; qual será o verdadeiro papel desta no futuro desenvolvimento da história; quem a capturou e porquê?
Motivos suficientes para despertar a curiosidade do leitor e deixá-lo desejoso de ler o próximo tomo, afinal o objectivo primeiro de qualquer obra em continuação.

A reter
- A forma como Jouvray deixa em aberto questões suficientes para levar o leitor a desejar ler o segundo tomo.
- O álbum foi pré-publicado de forma periódica, entre Dezembro de 2010 e Fevereiro de 2012, no site 8comix, onde ainda pode ser lido em versão integral.


20/01/2012

L’enfant cachée










Loïc Dauvillier (argumento)
Marc Lizano (desenho)
Greg Salsedo (cor)
Le Lombard (Bélgica, 13 de Janeiro de 2012)
202 x 268 mm, 80 p., cor, cartonado
16,45 €


Resumo
1940. As leis racistas e discriminatórias em vigor na França ocupada, fazem com que se multipliquem as humilhações sobre os judeus.
Na noite em que a história começa, a pequena Dounia, cuja vida, repleta de amigos, até aí era agradável e divertida, recebe do seu pai uma “estrela de xerife” para ajudar a que tudo se mantenha em ordem. Só alguns dias depois, face à mudança de atitude de professores, colegas e vizinhos, compreenderá (parte d)o seu real significado.

Desenvolvimento
Por vezes, a melhor forma de falar das coisas complicadas é de forma simples e directa. É o que fazem os autores deste álbum, que recontam a história de Dounia, uma menina judia, cujos pais foram presos em França durante a II Guerra Mundial, por serem judeus.
E fazem-no através da própria protagonista, cujas lágrimas evocaram a curiosidade da menina de quem hoje é avó e a quem conta a sua dolorosa experiência. E ao fazê-lo assim, aumentam a proximidade e a identificação com ela por parte dos seus leitores, porque esta obra – que os adultos também devem ler - é destinada àqueles que têm hoje sensivelmente os 6, 7 anos que Dounia tinha então.
O álbum evita chocar gratuitamente – o desenho é sempre contido, o que é narrado não vai além do necessário – mas Loïc Dauvillier não deixa de evocar os horrores inomináveis da descriminação racial, a dor da separação, os traumas de viver escondida ou a cruel certeza de que o pai de Dounia foi uma das muitas vítimas dos campos de concentração nazis.
O traço de Marc Lizano, é, também ele, simples mas muito legível e especialmente expressivo, em grande parte devido à grande dimensão das cabeças das personagens relativamente aos corpos, e constitui uma mais-valia para captar a atenção dos leitores.
É evidente que Dounia teve muita sorte – muita mais do que as 11 400 crianças judias então assassinadas em França devido à sua raça - e o livro, de forma contida e sensível, evoca claramente o que há de melhor no ser humano, através daqueles que contribuíram para que ela se salvasse.
Por isso, também, num tempo em que estão a desaparecer as últimas testemunhas de um dos maiores horrores de que a humanidade foi capaz, recrudesce a sua importância e a urgência de manter viva esta memória pois “quem esquece o seu passado, está condenado a voltar a vivê-lo” (Primo Levi).

A reter
- A forma sensível e contida mas verdadeira como o tema é tratado. Com a crueldade indispensável, mas com uma doçura e uma poesia que a atenuam sem a esconder.

Curiosidades
- O álbum foi editado numa parceria com a AJPN – Anonymes, Justes et Persecutés durant la période Nazie dans les communes de France…
- … e será objecto de uma exposição em Angoulême 2012, no Espace Franquin.


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