Loïc Dauvillier (argumento)
Marc Lizano (desenho)
Greg Salsedo (cor)
Le Lombard (Bélgica, 13 de Janeiro de 2012)
202 x 268 mm, 80 p., cor, cartonado
16,45 €
Resumo
1940. As leis racistas e discriminatórias em vigor na França
ocupada, fazem com que se multipliquem as humilhações sobre os judeus.
Na noite em que a história começa, a pequena Dounia, cuja
vida, repleta de amigos, até aí era agradável e divertida, recebe do seu pai
uma “estrela de xerife” para ajudar a que tudo se mantenha em ordem. Só alguns
dias depois, face à mudança de atitude de professores, colegas e vizinhos, compreenderá
(parte d)o seu real significado.
Desenvolvimento
Por vezes, a melhor forma de falar das coisas complicadas é
de forma simples e directa. É o que fazem os autores deste álbum, que recontam
a história de Dounia, uma menina judia, cujos pais foram presos em França
durante a II Guerra Mundial, por serem judeus.
E fazem-no através da própria protagonista, cujas lágrimas
evocaram a curiosidade da menina de quem hoje é avó e a quem conta a sua dolorosa
experiência. E ao fazê-lo assim, aumentam a proximidade e a identificação com ela
por parte dos seus leitores, porque esta obra – que os adultos também devem ler
- é destinada àqueles que têm hoje sensivelmente os 6, 7 anos que Dounia tinha
então.
O álbum evita chocar gratuitamente – o desenho é sempre
contido, o que é narrado não vai além do necessário – mas Loïc Dauvillier não
deixa de evocar os horrores inomináveis da descriminação racial, a dor da
separação, os traumas de viver escondida ou a cruel certeza de que o pai de
Dounia foi uma das muitas vítimas dos campos de concentração nazis.
O traço de Marc Lizano, é, também ele, simples mas muito
legível e especialmente expressivo, em grande parte devido à grande dimensão
das cabeças das personagens relativamente aos corpos, e constitui uma mais-valia
para captar a atenção dos leitores.
É evidente que Dounia teve muita sorte – muita mais do que
as 11 400 crianças judias então assassinadas em França devido à sua raça - e o
livro, de forma contida e sensível, evoca claramente o que há de melhor no ser
humano, através daqueles que contribuíram para que ela se salvasse.
Por isso, também, num tempo em que estão a desaparecer as
últimas testemunhas de um dos maiores horrores de que a humanidade foi capaz, recrudesce
a sua importância e a urgência de manter viva esta memória pois “quem esquece o
seu passado, está condenado a voltar a vivê-lo” (Primo Levi).
A reter
- A forma sensível e contida mas verdadeira como o tema é
tratado. Com a crueldade indispensável, mas com uma doçura e uma poesia que a atenuam
sem a esconder.
Curiosidades
- O álbum foi editado numa parceria com a AJPN – Anonymes,
Justes et Persecutés durant la période Nazie dans les communes de France…
- … e será objecto de uma exposição em Angoulême 2012, no
Espace Franquin.
Impressionante como quadrinhos como esses passam despercebidos pela maioria dos leitores. Bem, será que nossos leitores gostariam desse tipo quadrinhos? Tão bitolados com super-heróis e mangás?
ResponderEliminarCaro José Valcir,
ResponderEliminarSuponho que está no Brasil, onde na realidade imperam os super-heróis e os mangas, embora me pareça - à distância - que algo tem viundo a mudar nos últimos anos.
Isto não significa que de alguma forma eu despreze ou considere menos esses géneros, até porque acredito que neles - como em todos os outrso - há obras boas e obras menos boas. E essa classificação depende muitas vezes da sensibilidade e formação de cada um.
Aqui na Europa, bandas desenhadas como esta têm bastante divulgação e não passam assim tão despercebidas.
Voltando um pouco atrás, no que ao manga diz respeito, há muitos casos em que abordam temáticas sérias como esta e um dos melhores exemplos é Gen Pé Descalço, recentemente reeditado no Brasil.
Boas leituras!
Bem Pedro, conseguiste descobrir mais uma pérola. Gostei bastante da tua descrição do livro, deixaste-me com vontade de saber mais. Existe à venda em Portugal? Já não vejo livros da Le Lombard à bastante tempo, pelo menos nas livrarias aonde vou. Tenho de procurar melhor ;).
ResponderEliminarUm abraço.
Olá Lucaimura,
ResponderEliminarComo dizes, é uma pequena pérola.
Ainda não o vi à venda por cá, mas também só foi lançado há uma semana...
Se o encomemdares na Dr. Kartoon, arranjam-to de certeza!
Boas leituras... encomendadas!
O meu problema em relação a este tipo de livros é a língua. Existem alguma tradução para português, inglês? Agora já fico contente se encontrar em espanhol.
ResponderEliminarÉ que em francês estou tramado :S
O mesmo não acontece com mangá e super-heróis nesse sentido nãos erá esta uma das razões para tantas obras europeias passarem despercebidas?
Porque eu quando encontro numa língua que entenda bem, leio-os sem hesitar :)
Abraço
Caro Loot,
EliminarBem-vindo às minhas leituras!
O livro saiu há poucos dias e tanto quanto sei não está traduzido em nenhuma outra língua. Lá terá que aprender francês...! O que será uma mais-valia, pois alguma da
melhor BD do mundo é criada nesse idioma:)
Agora a sério, não me parece que a BD europeia passe despercebida; o mercado francófono é um dos maiores do mundo e as principais obras e séries são traduzidas em espanhol, inglês, alemão, português, brasileiro...
Boas leituras!
Eu sei que sim era mais em questão às pequenas obras francófonas de BD. Por pequenas falo da projecção.
EliminarAlém de que em português muitas não estarem terminadas.
A melhor solução seria de facto aprender francês ;)
Isto era mais para responder ao primeiro comentário. às vezes certos livros passam mais despercebidos porque nem todos têm hipótese de os ler.
De momento tenho-me rendido a algumas traduções espanholas. Falo de obras que não encontrei nem português nem em inglês. Francês era de aprender, mas também japonês, russo, alemão :S
Ler tudo no original é um sonho.
Abraço
Caro Loot,
ResponderEliminarEu perceboi o seu comentário. Num mercado em que se publicam mais de 4000 obras por ano, como o francófono, obrigatoriamente muitas "pequenas" grandes obras passam despercebidas. Cabe a quem as descobre, partilhá-las o mais possível, o que eu, com as minhas limitações, vou tentando fazer.
Claro que o ideal seria ler tudo na língua original. Não sendo possível, também acho que o espanhol - como o brasileiro - é (mais uma) boa opção, apesar de muitos não pensarem assim...
Boas leituras... poliglotas!