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04/04/2017

Spidey #1: Primer Dia

O bom, velho Spiderman




O infindável recomeço das origens dos heróis da Marvel – e também da DC… – pode obedecer a diversos desideratos: a colagem a um filme prestes a estrear, a sua actualização no tempo para se adaptar a novas gerações, um reboot do universo, um regresso após a morte…
No caso de Spidey a intenção era recuperar o espírito juvenil adolescente da criação original, adaptado aos dias de hoje.

13/11/2014

Leitura Nova: Habibi










Está prevista para amanhã a chegada ás livrarias portuguesas de Habibi, obra-prima de Craig Thompson - tal como Blankets - que As Leituras do Pedro já destacaram aquando da edição francesa, sem dúvida uma das melhores edições lançadas em Portugal este ano.
A nota de imprensa da editora, já a seguir.


10/04/2012

Un americain en balade











Colecção écritures
Craig Thompson
Casterman (França, Janeiro de 2005)
170 x 240 mm, 224 p., pb, brochada com badanas
13,50 €




Às vezes é difícil escrever estas linhas. Especialmente se são sobre livros de que gostei muito. Talvez porque (mais ou menos) inconscientemente, sinto a obrigação de escrever “ao nível” do que li, para transmitir um pouco do que desfrutei, para convencer o (meu) leitor a lê-lo também.
Só que nem sempre a sofisticação da escrita parece suficiente para isso. Por isso, “Un americain en balade” (Casterman), esperou semanas pela minha inspiração. Quando a solução talvez pudesse ser simples: tão simples como é a escrita (em BD, entenda-se) de Craig Thompson, de uma limpidez e sinceridade desconcertantes, de um despojamento sem máscaras nem artifícios, na forma como se despe completamente perante os leitores, revelando gostos, influências, estados de espírito, desejos, ambições, medos e incertezas, o que de mais profundo há em si.
O que faz desta obra do autor canadiano, que já nos deslumbrara com o notável e emotivo “Blankets” (Casterman), mais do que o diário de uma viagem de dois meses à Europa e a Marrocos, um diário íntimo, escrito/desenhado maioritariamente em quartos de hotel, já que o autor se confessa um mau viajante e pouco dado à convivência e ao contacto com os outros.
Uma obra a ler, devagar, aos poucos, ao ritmo da própria criação de Thonmpson, para melhor a desfrutar. ´

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 19 de Junho de 2005)

Curiosidade
Este é mais um tomo da colecção écrittures, já diversas vezes presente em As Leituras do Pedro, que completou 1o anos de bons serviços no passado dia 14 de Março. Conto voltar a ela, repetidamente, nas próximas semanas.



19/12/2011

Blankets

Craig Thompson (argumento e desenho)Devir (Portugal, Novembro de 2011)
170 x 260 mm, 592 p., pb, cartonado com sobrecapa
34,99 €

Resumo
Blankets, um romance gráfico datado de 2003, é uma obra auto-biográfica em que o autor expõe, de forma honesta, pudica e contida, a sua infância e adolescência no seio de uma família e de uma comunidade extremamente religiosa.
No decurso das quase 600 pranchas que compõem esta longa banda desenhada, Thompson recorda a rígida educação que recebeu dos pais, os abusos que sofreu do baby-sitter, a relação conflituosa e distante com o irmão, a sua luta interior com a religião e a religiosidade, o intenso primeiro amor adolescente com Raina e como finalmente encontrou no desenho a sua forma de afirmação e a sua razão de viver.

Desenvolvimento
Há 11 anos, a 22 de Maio de 2004, publiquei no Jornal de Notícias um texto sobre esta obra, intitulado “Obrigado Raina”. O seu início era assim: “Hoje, esta coluna” – Aos Quadradinhos, era o seu título – “não tem introduções nem justificações, surge apenas pelo valor intrínseco do notável romance (gráfico) que é Blankets de Craig Thompson”.
E justificava: “Blankets é uma história que conta o primeiro amor de um adolescente. Um adolescente proveniente de uma família autoritária, mais ainda, de um meio ultra-religioso, numa cidadezinha perdida na América profunda, violenta e racista onde desde sempre foi marginalizado pelos colegas de escola. A história de um primeiro amor” – adolescente, breve mas também muito intenso, (quase) inocente, tão gratificante quanto doloroso –“, sim, mas mais do que isso, da descoberta da existência do amor”.
“Uma história” – aparentemente banal – “que se transforma em muito mais, porque esse primeiro amor é também revolta – contida - contra o mundo (que conhece), o despertar para novos horizontes (formas de vida, maneiras de ser...) e, acima de tudo, a auto-afirmação pela descoberta das qualidades que há em si”.
“Um todo coerente, com a emoção que só existe no que é verdadeiro, narrado com grande serenidade, sensibilidade e ternura, como só sabe quem viveu (…) e foi capaz de “arrumar” no sempre complicado baú, recordações que fizeram ferida, uma situação marcante – sim - mas definitivamente encerrada, sem o redutor apodo da relação que acaba mal, que acabou, apenas, após quinze dias emocionalmente intensos e únicos”.
Como o leitor percebe, sente, pressente, quase vive, ao ler as páginas que Thompson traçou num branco e negro magnífico, com um desenho semi-realista mas extremamente dinâmico, que prende e cativa o leitor, absorvendo a sua atenção e levando-o a experimentar, mesmo que à distância, muito do que o autor (realmente) viveu.
E concluía então: “São umas fantásticas 600 páginas que se lêem de um fôlego, enquanto Thompson saltita entre as recordações de infância e adolescência e da distante relação com o irmão, e a relação com Raina que o leva a descobrir-se e a perceber o que realmente importa. E porque foi essa relação que o levou para o desenho e, por consequência, para a BD, só uma expressão me ocorre: obrigado Raina”.
Agora, mais de 7 anos passados, tive a oportunidade de reler esta obra em português. Tirando o efeito surpresa, que uma primeira leitura sempre tem, a sua magia, encanto, força, originalidade e capacidade de emocionar continuam intactas. Por isso, mais uma vez, escrevo: obrigado Raina.

A reter
- A força do relato.
- A sua capacidade de emocionar o leitor.
- A forma honesta, pudica e contida como o autor se expõe por completo.
- A sua invulgar capacidade de narrar em banda desenhada.
- A boa edição da Devir.

Menos conseguido
- Eu percebo o porquê da manutenção do título original – a colagem ao seu sucesso, os ecos que poderá ter provocado para lá do pequeno mundo da BD portuguesa – mas a verdade é que uma edição boa como esta é, merecia um título nacional. “Manta de retalhos” ou, melhor ainda, apenas “Retalhos” eram duas hipóteses perfeitamente plausíveis…

Curiosidade
- No notável Habibi, lançado recentemente, a “manta de retalhos” que dá título a Blankets, surge uma única vez – onde, leitores atentos? Na situação em que é mostrada, será um simples piscar de olho ao leitor cúmplice ou antes o definitivo cortar de amarras com um certo passado por parte do autor?

21/11/2011

Habibi

Colecção écritures
Craig Thompson (argumento e desenho)Casterman (França, 26 de Outubro de 2011)
172 x 240 mm, 672 p, pb, brochado com badanas
24,95 €

Habibi é a história de Dodola, vendida pelos pais ainda criança para desposar um escriba – com quem aprende a ler e a escrever e os contos sagrados que a acompanharão toda a vida -, raptada de casa do marido para ser feita escrava, fugitiva para se esconder no deserto durante anos, capturada e transformada em favorita do sultão.
Habibi é a história de Zam que Dodola resgatou do mercado de escravos, que com ela viveu no deserto, que por ela se tornou eunuco.
Habibi é a história de cada um, quando o destino – ou os homens? – os separou, como (sobre)viveram com a memória do outro.
Habibi é a história do seu reencontro, tão feliz quanto doloroso, tão esperado quanto receado, tão belo quanto pungente, porque Habibi é a história de um grande amor, uma história bela – como todas as histórias de amor – mas também uma história incómoda, profunda e dolorosa – como só as histórias de amor sofridas podem ser.
Mas Habibi é também uma história de busca e iniciação, uma história de uso (e abuso) mercantil do sexo, de sensualidade reprimida, de desejos abafados, de mal-entendidos sobre o que é – o que pode ser – a sexualidade. Uma história de abusos, violações e profanações.
Habibi é ainda uma história de sobrevivência, de resistência, de abdicação e de luta, um conto sobre a pequenez do indivíduo face ao mundo hostil que o rodeia, o traga, o engole, o expele em fezes.
Habibi é também um conto religioso – mais próximo de Deus ou de Alá – do que muitos contos “mesmo” religiosos, um conto sobre falsa religiosidade, assente numa sólida base teológica, proveniente da leitura atenta e exigente do Corão (complementando a da Bíblia que fez parte da educação de Thompson). O que possibilita, aos crentes (verdadeiros), aos conhecedores de um e/ou outro daqueles livros sagrados, desfrutar dos paralelos que o autor vai traçando entre ambos ao longo da sua obra e de um outro nível de leitura que Habibi tem.
Habibi é, igualmente, uma obra coerente e consistente, em que é notória a pesquisa que o autor fez a vários níveis – dentro de si próprio e a nível religioso, já o disse - mas também a nível da escrita (que tem um papel importante ao longo do relato), dos hábitos e das tradições orientais.
Habibi é uma fábula intemporal, universal, uma versão bem mais dura e terrível das 1001 Noites, igualmente situada num sultanato oriental imaginário, num tempo que parece anacrónico, mas que pormenores diversos revelam ser hoje, revelam ser agora, revelam ser aqui, ao nosso lado, em nossa casa…
Em Habibi, Craig Thompson, mais uma vez, como no espantoso Blankets – que era mais directo, mais acessível, menos cerebral – expõe-se, despoja-se, mostra-se, revela-se, evoca por pressupostas personagens as suas experiências traumáticas, os abusos que sofreu, as suas dificuldades de relacionamento, de forma total, sensível, tocante, embaraçosa, pungente.
Habibi é também uma fantástica narrativa em banda desenhada, arte que Thompson domina como poucos, transportando o leitor ao longo das páginas de uma longa história – complexa e profunda – que, apesar disso - por isso - se lê de um só fôlego.
Habibi é também, ainda, igualmente, um notável trabalho de artesão, que ocupou 7 anos da vida do autor, com pranchas de pura contemplação, outras de uma energia louca, algumas de pura emoção outras de acção a rodos, com muitas dezenas de pranchas feitas autênticas obras de arte oriental, numa colagem, numa moldagem do estilo ao ambiente e ao cenário da história.
Habibi é, por tudo isto, uma obra notável. Daquelas que é obrigatório ler, de um só fôlego, escrevi-o atrás, porque não conseguimos parar sem conhecer o fim, enredados sem forma de fugirmos na teia que Thompson vai tecendo, com mestria e competência – com génio, porque não dizê-lo - com conta e medida, avanços e recuos, descobertas e revelações. Daquelas que é obrigatório reler, uma duas, três, dez vezes para descobrir, desvendar, desfrutar de tudo o que Craig Thompson nela colocou para nós.
Habibi, finalmente, é daquelas obras únicas e incontornáveis, “extenuantes e estimulantes” escreveu alguém de forma particularmente feliz, que tornam medíocres tudo o que sobre elas se escreva – o que eu até aqui escrevi - porque ficará sempre muito aquém do que ela é e nos pode proporcionar.

A reter
- Habibi, no seu todo, uma obra notável.










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