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05/12/2013

Entrevista com Fernando Vasconcelos (Goody): “Não deixem de nos provocar!”







A 5 de Dezembro de 2012, chegava às bancas, quiosques, hipermercados e lojas FNAC a Comix #1, que marcava o regresso da banda desenhada Disney a Portugal, após uma ausência de meia dúzia de anos.

Exactamente um ano depois, após cerca de 70 edições e 15 mil páginas, divididos por dois títulos base – Comix, semanal, e Hiper, mensal – e outros mais espaçados no tempo – Disney Especial, BIG – a aposta parece ganha, como reforça o lançamento, hoje, de um novo título – Minnie & Friends – vocacionada claramente para o o segmento feminino.

Para assinalar a data, As Leituras do Pedro conversaram com Fernando Vasconcelos, Assessor da Direcção Geral da Goody. De fora da entrevista que se segue, devido a negociações ainda em curso, tiveram de ficar duas grandes surpresas que, se tudo correr como previsto, serão concretizadas durante 2014 e a que As Leituras do Pedro voltarão logo que seja possível.

As Leituras do Pedro - Após um ano de edições Disney, qual o balanço que a Goody faz? As expectativas que tinham foram cumpridas? Quais as maiores surpresas e desilusões que tiveram?
Fernando Vasconcelos - É um balanço muito positivo. As expectativas foram largamente superadas. Não existiram propriamente desilusões e surpresas apenas as positivas, que tiveram a ver com os resultados de vendas.

ALP - Quais os principais obstáculos que foi necessário ultrapassar?
FV - O principal obstáculo claramente foi a distribuição e visibilidade no ponto de venda que para um produto com esta dimensão foi um ponto crítico de sucesso.

ALP - As tiragens das diversas revistas, estabilizaram entre os 15 mil exemplares da Hiper e os 25 mil exemplares da Comix. Qual é a percentagem média de vendas destas revistas?
FV - Cerca de 50% da tiragem é vendida na forma de base do produto.

ALP - Qual a divisão percentual das vendas entre bancas e quiosques/hipermercados/lojas FNAC?
FV - Quanto à divisão percentual por cadeias, preferimos não avançar com esses dados. O que podemos dizer é que tanto a rede tradicional como as redes de distribuição moderna têm pesos significativos que não podem ser dispensados, nem uns nem outros.

ALP - A redistribuição dos primeiros números da Comix e da Hiper em caixas, tem resultado?
FV - Os modelos de redistribuição sem desvalorização do produto (as caixas têm funcionado) como forma de distribuir uma parte das sobras. E sim, têm funcionado à medida das expectativas.

ALP - Desde o início é notória uma vontade da Goody, invulgar no meio da banda desenhada portuguesa, de auscultar a opinião de divulgadores e leitores e de tentar ajustar as suas propostas aos ‘pedidos’? Têm tido feedback desses ajustamentos?
FV -Sim, temos tido muito feedback e embora possa parecer que não fazemos tudo o que podemos  a verdade é que procuramos ajustar na medida do possível o produto a esse feedback tendo sempre em consideração que estas BDs têm de ser para todos e não apenas para os profundos conhecedores e apaixonados de BDs. Claro que a opinião desses especialistas é para nós fundamental e felizmente tem-nos feito melhorar de forma significativa a qualidade do produto.

ALP - A partir de certa altura, houve uma aposta na fidelização de leitores na Comix, através das sagas em continuação e da promoção Comix Record. Essa estratégia funcionou?
FV - As sagas não são apenas um mecanismo de fidelização. São também uma das formas que encontramos para diferenciar um pouco mais o produto. Ou seja, era para nós claro que para um segmento dos nossos leitores tínhamos de dar conteúdo um pouco mais trabalhado do ponto de vista do argumento. Desse ponto de vista funcionou – pelo feedback que obtivemos.

ALP - A aposta na BD de origem italiana é opção da Goody ou imposição da Disney? No futuro haverá edições com as histórias Disney brasileiras e norte-americanas?
FV - A opção pela BD de origem Italiana é uma opção da Goody baseada em vários critérios, não é uma imposição. Poderá no futuro existir BD de outras origens se for possível conseguir essas BDs de acordo com os critérios que seguimos. Ou seja, não existe nenhum fundamentalismo a favor ou contra qualquer origem. Só queremos as melhores histórias pelo melhor preço.

ALP - Os leitores podem esperar ver editadas, num único volume, sagas como Mágicos de Mickey ou Ultra-Heróis? E estão planeadas edições mais ‘luxuosas’ dedicadas aos grandes autores de BD Disney?
FV - É nosso objetivo ir alargando aos poucos o portfolio de produtos, por isso sim – poderão existir outros formatos mais luxuosos ou com histórias (sagas) completas num único volume. Essa estratégia de diversificação existe.

ALP - Que mensagem gostariam de deixar para quem (re)encontrou neste último ano a banda desenhada Disney em edições portuguesas?
FV - A mensagem que gostaríamos de deixar para quem reencontrou ou encontrou pela primeira vez a BD Disney é que não deixem de nos provocar com sugestões, títulos ou histórias que gostariam de ler. Se nos for possível, tudo faremos para as trazer de novo ou pela primeira vez para Portugal. Gostaríamos também de lhes dizer que não deixem nunca de dar feedback sobre o que fazemos. Nós procuramos sempre incorporar as sugestões e na verdade algumas das linhas de diversificação que seguimos resultam de sugestões de leitores.

07/07/2013

Maurício de Sousa: “Os quadradinhos da Turma são um mundo em movimento”


De regresso a Portugal, desta vez para promover “As mais divertidas aventuras da Mônica”, colecção de 12 volumes distribuída aos domingos – amanhã é publicado o tomo 2 – juntamente com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, Maurício de Sousa acedeu a uma agradável conversa, que começou ao telefone – após lhe interromper o banho! – e acabou num encontro pessoal.
Com a abertura e a amabilidade habitual, falou desta nova colecção, do projecto Turma da Mônica Adulta, do livro “Viagem a Portugal” e de muito mais que não coube aqui ou não fosse ele um grande conversador…
Fica na íntegra – tanto quanto foi possível recriar e transcrever – a conversa que deu origem ao texto que publiquei no Jornal de Noticias de 30 de Junho último.

As Leituras do Pedro - Como é que mais de 50 anos depois a Turma da Mônica continua viva, actual, divertida e sempre a cativar novos fãs?
Maurício de Sousa – Penso que isso se deve ao facto dos seus componentes terem captado a energia que encontramos nas crianças, nos filhos, nos jovens cheios de vida
A Mônica não é só baseada na minha filha. Surgiu inspirada nela mas foi adquirindo pormenores de outras pessoas. A Mônica foi criada cheia de energia e essa energia continua a chegar até nós hoje.
A cada 5 anos o público da Turma renova-se, o que implica que a cada 5 anos recomeçamos tudo de novo. Os quadradinhos da Turma são um mundo em movimento, por isso o nosso esforço vai no sentido de não deixar a Mônica parar em relação aos usos e costumes das crianças da idade dela. A Mônica, sem deixar de ser quem é desde o início, tem que falar a mesma linguagem utilizar as mesmas ferramentas e jogar os mesmo jogos dessas crianças, pois só assim continuará a agradar aos novos leitores, sem desiludir os antigos.
Para aqueles que abandonaram a turma original quando cresceram, nós criamos a Turma da Mônica Jovem e, daqui a algum tempo, talvez dentro de 3 anos, espero criar a turma adulta, mais profunda, mais sofisticada e mais corajosa.

As Leituras do Pedro - Tem consciência em que momento a Turma passou a ser “da Mônica”? Como reagiu o Cebolinha?
Maurício de Sousa – Comecei a perceber que a Mônica estava a invadir a rua do Cebolinha, a aparecer cada vez mais, a ganhar cada vez mais protagonismo, cerca de dois anos depois de a ter criado.
Foi algo natural, que aconteceu, não foi planeado. Aí, tive de optar por manter o título original ou mudá-lo para a nova protagonista, o que iria agastar e entristecer o Cebolinha. Nos jornais, ainda hoje, é o nome dele que surge nos cabeçalhos mas, em 1970, cerca de cinco, seis anos após a sua estreia, quando surgiu a primeira revista, que era um veículo novo, não houve hesitação em baptizá-la como Mônica e passou a ser ela a ”dona” da turma.

As Leituras do Pedro - E como é que o criador da Turma da Mônica, mais de 50 anos depois, continua mais vivo e dinâmico do que a própria Turma?
Maurício de Sousa – Sou um babá responsável que controlo e cuido das minhas crianças, tendo atenção aos seus hábitos, costumes, moral… Ao fazê-lo, evito deparar-me com situações desagradáveis que poderia não controlar.

Isso obriga-me também a seguir o comportamento actualizado das minhas criações para não as perder.

As Leituras do Pedro - Qual a importância do mercado português – onde mensalmente chegam 15 a 20 títulos -  para a Turma da Monica?
Maurício de Sousa - Estrategicamente, com a actual aposta na criação de desenhos animados, que estamos a produzir em grande número, não podemos encarar apenas o peso económico de cada mercado, mas também a necessidade de estar no maior número de locais do mundo que for possível, mesmo que os resultados económicos não sejam os ideais.
Portugal, do ponto de vista económico, não é um grande mercado, mas é um local simbólico, muito importante para nós, como Pátria-Mãe e berço da língua que falamos. Está a haver um grande esforço em voltar a ocupar o lugar que a Turma da Mônica já teve junto dos mais novos mas que de certa forma ainda desfruta junto da geração que tem 35 a 45 anos.
Se ainda há dúvidas se devemos lançar edições das revistas de histórias aos quadradinhos em português, essa vai ser a língua dos livros ilustrados que estão previstos.

As Leituras do Pedro - Pode indicar algum desses livros?
Maurício de Sousa – Sim, “Uma viagem a Portugal”, cuja primeira edição brasileira está praticamente esgotada ao fim de poucos dias. Trata-se de uma espécie de estudo sobre as palavras ou expressões diferentes usadas nos dois países para descrever coisas ou situações similares. Têm grafia diferente, por vezes são completamente diferentes e apesar de serem sinónimos são desconhecidas num e noutro país.
Como a Mônica é embaixadora oficial do Brasil para o turismo, também tem como função aproximar as crianças dos dois países.
A edição do livro em Portugal está em estudo, a aguardar por uma decisão da provável editora.

As Leituras do Pedro - Como nasceu a colecção “As histórias mais divertidas da Turma da Mônica”?
Maurício de Sousa – Foi uma ideia da Levoir, dentro do hábito que já existe em Portugal e noutros países europeus de lançar livros de BD com jornais. Espero que no Brasil algum periódico se interesse pelo projecto e repita a experiência.

As Leituras do Pedro - Foi difícil seleccionar as histórias que foram incluídas? Qual o critério adoptado?
Maurício de Sousa – Fazer a selecção das histórias não foi nada fácil. Temos uma variedade imensa de histórias, de temas, de grafismos, pelo que foi muito complicado escolher tão poucas, pois sempre houve o desejo de conferir uma unidade gráfica e à colecção e de escolher histórias com temática actual e moderna. Desde 1970 temos acumulado pérolas e com o material seleccionado esperamos satisfazer tanto os novos leitores quanto os antigos.

As Leituras do Pedro - Se tiver sucesso, poderemos ter mais volumes da Mônica?
Maurício de Sousa – Temos material para fazer mais 10 anos de edições (risos)! Actualmente produzimos uma revista por dia no Brasil e temos em stock mais de 40 anos de histórias aos quadradinhos. E eu continuo a rever todas essas páginas: mais de 1000 todos os meses!

As Leituras do Pedro - Em Setembro abre na Amadora um parque Temático da Turma da Mônica. O que vamos encontrar nele?
Maurício de Sousa – Eu gosto mais de lhe chamar jardim temático. Vai ser um local tranquilo, calmo, para passear e brincar, com algumas diversões para as crianças andarem, mas especialmente um local de lazer e convívio, com os cenários das histórias da turma e esculturas com os seus protagonistas que serão a grande atracção do espaço. Domingo (30 de Junho) vou visitar a área para acompanhar os primeiros passos da sua instalação.


04/02/2013

Entrevista com André Diniz


“Cresci muito como pessoa a fazer este livro."






Depois de inaugurar uma exposição de originais, ainda patente em Beja até 28 de Fevereiro, em trânsito para o Festival de BD de Angoulême que ontem terminou, André Diniz esteve de passagem pelo Porto.
Por isso, aproveitei para conversar com o criador de “Morro da Favela”, tendo como pretexto o lançamento, esta semana, do livro em Portugal, pela Polvo – obrigado Rui Brito pela informação - ficando a conhecer um pouco melhor um dos autores brasileiros de BD (ou HQ!) mais interessantes do momento.

As Leituras do Pedro – Quem é o André Diniz Fernandes?
André Diniz – Nasci no Brasil a 5 de Setembro de 1975 e faço quadrinhos desde antes de saber ler.
Comecei por editar fanzines, fotocopiados, ainda antes de haver Internet (!) e, no ano 2000, criei a Nona Arte, uma editora de uma pessoa só, lançando dois títulos: “Subversivos – Companheiro Germano”, desenhado pelo Laudo Ferreira, e “Fawcet”, com arte de Flávio Colin. Este último foi marcante, não só pela colaboração com o mestre Colin, mas também porque teve uma boa receptividade e conquistou vários prémios.
Nestes dois livros apenas escrevi os argumentos. Sabia desenhar um pouco, já tinha feito algumas bandas desenhadas, mas sentia que para fazer algo a sério tinha que entregar o desenho a outros autores.
Depois, criei um site cuja intenção era divulgar os meus trabalhos, comecei a incluir obras de outros autores, esgotadas ou de pouca circulação e quando parei, já tinha mais de 450 obras aos quadradinhos.
Com outras obras que fui editando, quando o mercado brasileiro despertou para os quadradinhos, o meu trabalho já era conhecido. Em 2005, quando saiu o meu primeiro livro por um editor “de verdade”, já tinha ganho 12 prémios!
Desde então não editei mais nada sozinho e não sinto nenhuns remorsos!

ALP – “Morro da Favela” é a biografia do fotógrafo Maurício Hora. Como surgiu esta ideia?
AD – Tudo começou durante um almoço em casa da minha mãe, onde comentei que havia muita gente com vidas interessantes que ninguém conhecia e que gostava de fazer a biografia de alguém assim.
Um cunhado meu disse que conhecia o Maurício Hora, fez um apanhado do percurso dele e fiquei bastante curioso. Telefonei-lhe, apresentei-me e disse-lhe de imediato, pelo telefone, que gostava de contar a vida dele em BD. Fez-se um silêncio… e ele aceitou.
A partir daí, encontramo-nos várias vezes. No Rio de Janeiro, em qualquer sítio há uma favela, vê-se uma favela, mas quase ninguém as conhece de verdade. O Maurício levou-me à “sua” favela – Morro da Providência – várias vezes e descobri coisas boas e coisas más.
A primeira grande surpresa foi ver na favela tantas pessoas armadas como geralmente se vêem pessoas ao telemóvel. Mas, ao mesmo tempo, também descobri que a favela é quase como uma grande família! Claro que nas famílias, às vezes um cunhado mata outro (risos)!
Hoje, entendo perfeitamente que alguém diga que habita numa favela e não quer sair de lá. O Maurício tem uma visão única. A visão de alguém de dentro, mas também a de quem está fora da favela.
Quando escolhi a favela como cenário, não queria que fosse mais uma história de violência, embora soubesse que era impossível eliminá-la completamente…

ALP – Que aspectos o marcaram mais durante a criação de “Morro da Favela”?
AD – Houve muitos. Um dos que mais me marcou, foi quando percebi que ia narrar algo que ninguém poderia imaginar em ficção, quando o Maurício me contou o episódio em que teve de ensinar fotografia a 50 pessoas que não tinham máquinas fotográficas e saiu com elas pela favela, a fazerem enquadramentos com os dedos (forma um rectângulo com os polegares e os indicadores para exemplificar). Ninguém se lembrava de algo assim!
Também me tocou o episódio das visitas que fazia ao pai quando era criança. Comecei logo a imaginar uma cena terrível, numa prisão suja e degrada, com homens mal-encarados e afinal aquelas eram as melhores recordações de infância do Maurício. Ia ver o pai, havia muitas famílias a fazer visitas, brincava com as outras crianças, havia bolos, doces, coisas boas… Era uma verdadeira festa!
Muita da capacidade de emocionar que o livro tem deve-se ao Maurício.
Cresci muito como pessoa a fazer este livro.

ALP – Qual foi a reacção do Maurício Hora à obra pronta?
AD – Ele só quis ver no fim, mas tínhamos um acordo: o que ele não quisesse eu tirava. Na verdade, pouco foi alterado: uma página de que ele não gostou e uma ou outra fala…
Quando terminei entreguei-lhe o livro e fiquei à espera dos comentários. O tempo começou a passar, o editor queria o livro para mandar para a gráfica e nada. Pensei: não gostou. Ganhei coragem e falei com ele. Disse-me que não conseguia ler ais de 2 ou 3 páginas sem desatar a chorar, por sentir que tudo era tão fiel ao que ele tinha vivido.

ALP – O facto de desenhar em “negativo” foi uma opção por se tratar da biografia de um fotógrafo ou foi apenas uma questão estética?
AD – A partir de 2008, comecei a desenhar também. Esqueci tudo o que tinha feito para trás e tentei descobrir qual seria o meu estilo, o traço que mais se adequava ao que eu queria contar.
Tenho a mão muito pesada, parte bicos com facilidade, sinto uma certa dificuldade em trabalhar linhas curvas, delicadas… Procurei influências que me servissem: arte africana, cubismo… Demorei seis meses neste processo, algo bem obsessivo… Foi algo marcante que em grande parte definiu o que hoje. Agora, no cartão de visita, até já escrevo “ilustrador”. E até já fiz trabalhos de ilustração.
Passando ao “Morro da Favela”, como no fim do livro iam ser incluídas fotografias do Marcelo Hara, não quis retratar a favela com um traço rigoroso e realista. Aliás, desenhar uma favela é óptimo para quem não sabe perspectiva. Há edifícios inclinados para um lado, outros para o outro…
Para mostrar o lado rústico, rude daquele local, precisava de um traço assim, anguloso. A questão do “negativo” acabou por surgir durante as pesquisas que fiz, naturalmente, e depois de experimentar algumas páginas optei por ele.

ALP – Já tem o distanciamento necessário para olhar para o Morro da Favela de modo crítico? O que mudaria nele?
AD – Ainda não! Para já não mudaria nada! Mas se daqui a cinco anos continuar a achar o mesmo, haverá algo de errado, quererá dizer que não evoluí nada!

ALP – Depois das edições inglesa e francesa, segue-se a portuguesa. Houve algumas mudanças em relação ao original brasileiro?
AD - O texto é o mesmo, as únicas alterações são a capa, que é nova, e a inclusão de ilustrações que pedi a alguns amigos brasileiros: os gémeos Marcelo e Magno Costa, José Aguiar, Laudo Ferreira, Pablo Mayer, Ricardo Manhães e Will.
Editar em Portugal é muito importante para mim. Estou muito feliz, sinto-me como um fã da Marvel ou da DC Comics que consegue publicar nos Estados Unidos. Quando comecei a interessa-mer mais por quadradinhos li muitas edições portuguesas: a revista “Selecções BD”, álbuns da Meribérica, Astérix, Lucky Luke… que era preciso desencantar nos sebos, a bom preço… Também li revistas portuguesas como a “Grande Reportagem”, que me deslumbrava, pois na época não havia nada semelhante no Brasil.

ALP – Como estão os quadradinhos no Brasil?
AD – Eu estou a viver coisas que nunca imaginei possível!
Há mudanças no Brasil que acredito que vieram para ficar: a forma de ver os quadradinhos, a atenção da comunicação social, a existência de uma secção de BD em quase tidas as livrarias…
Há editoras só de quadradinhos, há grandes editoras com selos de quadradinhos… Mesmo editoras que nunca publicaram BD, estão abertas a propostas de quadradinhos que se ajustem à sua linha editorial.
Por outro lado, nos últimos anos o governo federal passou a incluir nas listas de livros a distribuir pelas bibliotecas, livros de quadradinhos. Para editores e autores isso é muito bom. Um livro seleccionado garante uma tiragem de 15 a 30 mil exemplares, o que é muito bom!

27/12/2012

Entrevista com Chico Caruso


“O desenho é a minha forma de comunicar com o mundo.”





  




Chama-se Francisco Paulo Hespanha Caruso e tem 62 anos pois nasceu em São Paulo, no Brasil, em 6 de Dezembro de 1949, mas é mais conhecido como Chico Caruso, nome com que assina os cartoons editorais que publica diariamente na primeira página do jornal brasileiro O Globo desde 1984.
Aproveitando uma breve passagem, no passado dia 15 de Dezembro, pelo Porto e pelo Museu Nacional da Imprensa, por sugestão do seu director, Luís Humberto Marcos, tive com ele a conversa que se segue, que serviu de base a um texto publicado no Jornal de Notícias de 26 de Dezembro último, na qual descobri um interlocutor, jovial, disponível e divertido.


As Leituras do Pedro – Como é que se tornou cartoonista?
Chico Caruso – Como eu e meu irmão [Paulo Caruso, também cartoonista e autor de BD] éramos gémeos e nesse tempo havia a crença que um dos gémeos morria sempre, estávamos sempre fechados dentro de casa. O meu avô, que era pintor amador, para nos entreter, ensinou-nos a desenhar. Jogávamos mal futebol, fazíamos tudo mal. O meu irmão ainda conseguiu aprender a tocar piano e viola, mas a única forma com que consigo comunicar com o mundo é a desenhar.

ALP – Quando é que começou a publicar cartoons?
CC – Comecei a trabalhar em 1967, estava no 2.º grau, na escola. Tinha 17 anos e precisava de arranjar um emprego, mas um emprego para trabalhar 2 horas por dia, senão não teria tempo para ir à escola, para ir ao cinema, para estar com os amigos… Comecei a desenhar para um jornal, só que era um vespertino e eu trabalhava das 4h30 às 6h30 da manhã. Levava o uniforme e quando saía do jornal ia para a escola. Dormia das 6 da tarde às 4 da manhã…
Por isso, nós devemos desejar, mas é bom detalhar também (risos)! Se não detalharmos, acabamos por apanhar com o palhaço! Mas como foi uma coisa que se desejou… “São só duas horas? Eu quero!”

ALP – Continua a trabalhar só 2 horas por dia?
CC – Continuo, continuo! Passo a maior parte do dia a ler o jornal. Vou para O Globo por volta das quatro e meia da tarde e leio jornais até às seis horas da tarde… Leio 4 ou 5 jornais à moda antiga, em papel, virar as folhas, isso tudo! Depois, entre as 6 e meia e as 8 horas tenho que resolver o desenho!

ALP – Faz só um desenho por dia?
CC – Sim, só um.
ALP – Pergunto porque há cartoonistas que num dia ou dois fazem os desenhos para toda a semana…
CC – Como eu faço cartoon político, cartoon editorial, diariamente na primeira página do jornal, tem que estar relacionado com os acontecimentos do dia. Isso é algo que eu acho fascinante, fazer uma síntese dos factos do dia com humor. Por vezes há acontecimentos a que eu chamo um filão, temas que dão para trabalhar em sequência uma semana inteira, mas são raros.

ALP – Começou logo com cartoons políticos…
CC – Sim… Quer dizer, no início eu fazia 10 desenhos, de futebol, de actualidade… Mas era um tempo de repressão política, eu fazia cartoon político, mas foi o primeiro a acabar quando chegou o Acto Institucional n.º 5 que censurava a imprensa e eu acabei a fazer só ilustração de crónicas, futebol, horóscopos… Depois a censura foi-se amenizando e eu voltei para o cartoon político.
Nesse ínterim tinha surgido “O Pasquim”, em 1969, que foi uma revolução. Todos a imprensa estava censurada e aqueles jornalistas, que já tinham anos de profissão, de experiência, de cartoons, de imprensa, Jaguar, Ziraldo, Millôr Fernandes, Claudius, estavam juntos num único jornal. Começou com uma tiragem de 5.000 exemplares e rapidamente atingiu os 200 mil, uma tiragem enorme para aquela época! Foram os heróis da redemocratização! Nós, hoje, ainda somos discípulos deles!

ALP – Chegou a ter problemas com a censura?
CC – Censura… Quando eu trabalhava no jornal “Opinião” havia censura prévia. Eu tinha de produzir material que dava para três jornais para ser aprovado um! Isso também me deu uma certa agilidade, obrigava-me a conseguir três ou quatro soluções gráficas para o mesmo tema.
Para além disso, existem também as questões editoriais… Cada jornal tem a sua linha editorial própria, é preciso saber contorná-la, manipulá-la… (sorrisos)
Eu trabalho desde 1967, estou quase a fazer 35 anos de profissão…
ALP – 45!
CC – 45? Não, não pode ser!

ALP – Tem limites para os seus desenhos, faz alguma autocensura, há temas que não aborda?
CC – A liberdade que nós temos é a liberdade que o político cria, as declarações que fazem. Uma vez o [presidente] Fernando Collor estava em briga com o Congresso, por causa do impeachement e chamou “cagões” aos deputados. Por isso, eu desenhei-o sentado no Congresso, com as calças arreadas e isso deu para uma série de vários desenhos. Mas foi ele que o provocou, ao utilizar uma expressão escatológica… Foi ele que abriu a porta e nós aproveitamos e seguimos essa linha…

ALP – No jornal “O Globo” é limitado de alguma forma, tem que submeter o seu trabalho a alguém previamente, discute-o com a redacção?
CC – Não, eu entrego o desenho já pronto!
No tempo em que o dr. Roberto Marinho (1904-2003) ainda estava vivo, ainda era director do jornal, por vezes ele não gostava de um desenho e chamava-me para conversar. Começava por contar uma história, para chegar a uma mensagem final.
Uma vez contou-me uma que considero antológica: “O Globo”, quando começou, era no centro da cidade e havia um circo que pertencia a um empresário que era amigo dele. O Dr. Roberto Marinho ia muitas vezes lá com os amigos. Uma vez, cruzaram-se com ele, que era muito folclórico e andava sempre com trocos nos bolsos, moedas e notas pequenas. Quando os artistas do circo iam ter com ele e pediam aumento, ele dizia “Eu não tenho dinheiro, só tenho isto” e metia as mãos no bolso e dava-lhes alguns trocos.
Um domador muito bom, que começou a ficar muito famoso, pediu-lhe aumento. Ele ia utilizar o mesmo estratagema, mas o domador disse-lhe: “Não venha com essa história, eu já o conheço! Se não me der o que quero, segunda-feira venho buscar o leão e vou embora”.
O dono do circo pensou e na segunda-feira, quando o domador chegou com quatro homens fortes para carregarem o leão e a jaula, ele disse:
- Olha, a jaula é minha, se quiser leva só o leão.
A mensagem para o cartoonista era evidente: a jaula – o jornal – era dele; quando ele quisesse dava um chuto no rabo no leão! (gargalhada)
Aos poucos o Dr. Marinho foi-se afastando do jornal e veio um novo chefe editorial com quem estabeleci um bom relacionamento, o que não impediu algumas brigas. Uma vez não quis publicar um desenho meu, eu levei-o ao Dr. Roberto, e ele autorizou-o, rubricou-o de lado. Fui ter com ele e mostrei-lhe a assinatura do velho. Ele mandou recortá-la e publicou-o. Até hoje guardo esse desenho, sem o pedaço que ele tirou! (risos) Na altura isso foi uma revolução na redacção, porque eu passei por cima do chefe!

ALP – Qual é o seu método de trabalho? Depois de ler os jornais…
CC – Deixo a caneta pensar! A lógica visual tem que surgir. Se tem uma boa ideia mas não a consegue sintetizar numa imagem, não serve de nada. Depois de ler jornais completamente despreocupado, as imagens que me marcaram, o texto que consegui fazer, vão encaminhando para uma síntese, com humor. Eu passo quatro ou cinco horas a ler jornais e depois em 30 ou 40 minutos tenho que chegar a essa síntese. A seguir, demoro mais uma hora, uma hora e meia para executar o desenho, pintá-lo… Costumo dizer que é como fazer um bordado, vou-o trabalhando, dourando a pílula, mas o principal é chegar à síntese inicial. É esse o meu método, o “Método Chico Caruso”!
O meu irmão costuma dizer que usa o “Método Paulo Caruso”, que é fazer exactamente o contrário do que eu faço! (gargalhada)

ALP – Os vossos traços têm muitas semelhanças…
CC – Sim, mas ele foi sempre mais prolixo… Ele toca violão, piano, vários instrumentos, ele procura o envolvimento total… Nos quadrinhos ele desenha cenários… Eu não gosto de desenhar cenários! Desde sempre os desenhos dele tinham 15 cowboys, 15 bandidos, índios, o comboio, a cidade… O meu só tinha o bandido e o mocinho! (risos) Eu sempre fui mais sintético!

ALP – Disse que ele toca, mas integra uma banda com ele…
CC – Sim, temos uma banda de caricaturas musicais!
ALP – Como é que isso funciona?
CC – Na época do general Figueiredo ele começou a fazer alguns temas de caricatura política, mas com músicas bonitas! Eu disse-lhe: “Vai estragar essas músicas com políticos? Os políticos passam, as músicas ficam. Se fizer uma música sobre o amor, vai poder vendê-la sempre, pode ser cantada em qualquer lugar… Mas se for sobre o general Figueiredo vai passar…” Mas essa é a nossa vocação, é o nosso vício…!
Começámos com o general Figueiredo e fomos acompanhando a actualidade do Brasil… Na época do Tancredo Neves, escrevemos “A Droga Nova República” quando ele foi para o hospital… [E trauteia]:
“Nessa droga de Nova República
Ministramos o bálsamo ou a súplica,
Nos especializamos em manter
Gente que está para morrer,
Mais algum tempo no poder…”
(ouvir na íntegra aqui)

A mais recente, fizemos na época do Campeonato do Mundo de Futebol na África do Sul [em 2010]; a minha mulher que é morena parece a Michelle Obama; então fizemos uma música com a Michelle Obama e o Zuma, que é presidente da África do Sul. Quando o Zuma viu a Michelle Obama ficou louco e mandou esta letra para o meu irmão! [trauteia]:

“Mandela, mande ela,
Mande ela para cá,
Deixa o Obama para lá!

O Obama é um cara bacana,
Mas Zuma pode encarar,
Vai pegar a Michelle Obama
Zuma, mais uma, vai dar.

Se Obama quiser tirar uma,
Com a cara de Zuma vai ter,
Zuma dá mulher velha para ele
E manda ele se foder…”! (risos)

ALP – Ganhou ódios de estimação como cartoonista, tem inimigos?
CC – Acho que não. No fundo os políticos precisam da imprensa para sobreviver.
O Sarney, por exemplo, quando foi eleito presidente do senado da última vez, fez tudo para ficar no poder. Alguém disse que a caricatura atinge a terceira pessoa, não a primeira. Não sou eu, é ele, que é uma figura pública…

ALP – Então nunca teve problemas com os caricaturados…
CC – Não, nunca…

ALP – E já lhe pediram os desenhos que fez?
CC – Sim, mas é raro… Acontece uma ou duas vezes por ano…

ALP – Como está o cartoon no Brasil?
CC – Há quem diga que a profissão está em extinção, eu acho que é o próprio desenvolvimento da imprensa, mais vocacionada para a internet que o provoca. Dá cada vez menos importância ao cartoon, à caricatura, algo quase primitivo… Eu costume dizer que sou um animal pré-histórico! (risos) De repente posso desaparecer, como os dinossauros!
Vim a Portugal acompanhar o meu filho, Marcos Caruso, que é actor. Ele não gosta de ler jornais, diz que se o jornal fosse bom, lia-se depois. Chegávamos à beira de alguém que nos dizia que estava a ler o jornal de 13 de Abril de 1957. “Porquê?” “Porque é bom!” (risos)
Ele costuma dizer: “qual é o sentido de abrir um papel enorme [estica e abre os braços, como quem lê um jornal tamanho broad-sheet] com letrinha de bula de remédio e ler só um cantinho? Mas eu acho que ele diz isso devido ao complexo de Édipo!
Lembro-me do dr. Roberto Marinho, lendo o jornal com os olhos brilhantes e a dizer assim, com a sua voz grossa e rouca [imita]: “Sabe o que é alguém gostar de alguma coisa? Eu gosto disso aqui!”
Eu leio sempre a Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, O Dia (do Rio de Janeiro) e o Globo e lembro-me sempre dele: “Eu gosto disso aqui, eu gosto disso aqui”! Gosto de folhear o papel, de abrir o jornal, com todo o tempo do mundo.
Assim como os outros meios de comunicação nunca derrubaram o anterior – a rádio não derrubou o livro, a televisão não derrubou o rádio, o cinema não derrubou…, eu acho que os jornais em papel e na Internet vão conviver… Mas na minha encarnação não vai dar para aprender a mexer no computador! (risos)
Há cartoonistas que já não têm originais, guardam pilhas de disquetes! Não suja as calças, não suja o chão… (risos) mas acho muito pobre, limitado, trabalhar num espaço tão pequeno, eu já nem vejo direito! Tenho que ter um papel grandão! O Ziraldo a desenhar é uma coisa maravilhosa! Faz gestos largos, canta feliz da vida, assobia, eu também sou dessa escola! O original é algo importante para nós.

ALP – O que é que faz uma boa caricatura?
CC – Acho que é conseguir fazer a síntese do facto político, com humor…

ALP – É fácil fazer humor todos os dias?
CC – Sim… Eu criei um ritmo de vida… De manhã leio o Globo, em casa… Almoço e depois durmo porque no fim do dia não posso ter sono. Preciso disparar uma flecha no fim do dia e se tiver sono posso não acertar! Por volta das quatro horas chego ao jornal e leio até às seis, seis  e meia… E todos os dias há jornais novos para ler, para me alimentarem de notícias, para fazer saltar uma ideia nova…

ALP – Há algum truque quando a ideia não salta?
CC – É o truque de deixar a caneta pensar… No final, dos vários rabiscos que fui fazendo, há um que salta, é o melhor… Não posso tentar resolver só na cabeça, tenho que utilizar a caneta e o papel.

ALP – Ao longo de todos estes anos quais foram os políticos mais difíceis de caricaturar? Ou os mais fáceis…
CC – Os mais feios são os mais difíceis… Uma caricatura de alguém feio dá trabalho… E os mais bonitos também, porque qualquer traço pesa. Desenhar mulheres é difícil, é necessário ser muito preciso, senão estraga-se a caricatura.

ALP – Como é que passa da pessoa para o momento de humor…?
CC – É a exposição que cria a vontade de fazer a caricatura… O presidente, o ministro da fazenda, o ministro da cultura, os que estão mais expostos, são os mais fáceis de caricaturar. E todos os reconhecem. Para a caricatura funcionar, tem que ser reconhecida. Se o politico não tiver exposição, ninguém o vai reconhecer.

02/11/2012

Entrevista com Cyril Pedrosa


"Este livro ajudou a mudar muita coisa na minha vida"









Depois do texto que publiquei aqui no blog aquando da edição original de "Portugal" e do que fiz sobre esta obra para o catálogo do 23º AmadoraBD 2012, não penso fazer uma terceira abordagem ao livro que a ASA acaba de editar em português – e cuja compra e leitura aconselho vivamente.
Entretanto como no sábado passado tive a oportunidade de conversar com o autor, Cyril Pedrosa, no AmadoraBD, fica o registo de algumas questões que lhe coloquei, como complemento da entrevista que fiz quando da edição original francófona de Portugal.

As Leituras do Pedro – O desenho, os materiais e o formato das pranchas originais, vão mudando ao longo do livro. Porquê?
Cyril Pedrosa – Em Portugal há três formas diferentes de desenhar, uma para cada capítulo, correspondente a cada um dos pontos de vista da história.
No primeiro, segundo Simon, fiz uns esquissos ligeiros que passei depois a caneta bic; de seguida empreguei a técnica de aguada para criar pranchas monocromáticas e mais sombrias.
No segundo capitulo, segundo Jean, o pai, há um grande trabalho de base a lápis, para dar um ar mais pesado, foi duro de desenhar…
Finalmente, no terceiro e último, segundo Abel, o avô, usei aguarela, numa técnica de cor directa, cores mais quentes e um desenho muito livre…
Isso teve a ver com a evolução da personagem principal, com a forma como ele vai mudando; para o acompanhar, eu quis ter cada vez maior liberdade criativa.

ALP – Abel Mucha, o avô de Simon era espanhol. O seu também?
CP – Sim, o meu avô era espanhol; aliás, parte da minha família ainda se chama Pedrosa Muchacho. Esse era o nome de um rapaz que um dia foi trazido de Espanha por três cavaleiros que o deixaram numa aldeia perto da Figueira da Foz.
Quando descobri isto, achei perturbadora a coincidência com os três cavaleiros que surgem em Três Sombras [livro recém-editado pela Polvo em Portugal]...

ALP – A edição de Portugal, já traduzido em Itália, Alemanha e Holanda – e também de Três Sombras – em Portugal é importante para si?
CP – Sim, estou muito contente. O Três Sombras já era para ter sido publicado há alguns anos e na altura fiquei muito frustrado por a edição não se ter concretizado. Para mim é muito importante os meus livros serem editados em Portugal para que os meus familiares de cá e os meus amigos portugueses possam ver e ler o que eu faço.

ALP – Aquando da sua estadia em Portugal para preparar o livro, também esteve no CNBDI a pesquisar sobre a BD portuguesa…
CP – Eu tenho uma antologia sobre a banda desenhada feita em Portugal mas, como luso-descendente quis conhecer melhor a BD que se faz neste país com o qual sinto tantas afinidades.

ALP - No final de Portugal, Simon Mucha encontrou o seu caminho, o Cyril Pedrosa também?
CP – Sim. Este livro ajudou a mudar muita coisa na minha vida. Coloquei a mim próprio muitas questões, encontrei algumas respostas. Os livros não são uma forma de resolver problemas mas sim de dar respostas a perguntas.
Por outro lado, o sucesso do livro, que me surpreendeu pois via-o como uma obra muito pessoal com a qual os leitores teriam pouca afinidade, abre-me portas para abraçar projectos que de outra forma seria muito difícil.

ALP – Em que está a trabalhar agora?
CP – O momento de transição entre dois livros é muito complicado. Fazer um livro implica uma grande perda de energia, que depois é necessário recuperar. Para avançar tenho que saber as perguntas que vou colocar. Depois de o fazer, então posso seguir em frente para um novo livro. Possivelmente a minha próxima obra será sobre as relações entre os seres humanos e a vida em sociedade.












Portugal
Cyril Pedrosa
ASA (Portugal, Outubro de 2012)
235 x 330 mm, 272 p., cor, cartonado
35,90 €
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