Mostrar mensagens com a etiqueta Pedrosa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pedrosa. Mostrar todas as mensagens

13/11/2012

Três sombras











Cyril Pedrosa
Polvo (Portugal, Outubro de 2012)
165 x 230 mm, 270 p., pb, brochado com badanas
17,00 €



Esta é uma obra ao mesmo tempo terna e chocante, cativante e incómoda, doce e angustiante.
E sobre a qual é impossível escrever sem revelar o que está na sua génese, embora isso retire ao leitor a possibilidade d(ess)a descoberta. Por isso, se desejarem, parem por aqui a leitura deste texto e vão à procura deste “Três sombras”, uma das mais aconselháveis bandas desenhadas editadas em Portugal neste (fim de) ano.
Na origem deste livro está uma das mais chocantes e incompreensíveis situações que um ser humano pode experimentar: a perda de um filho pequeno devido a doença. Vivida por um casal amigo de Cyril Pedrosa, empurrou-o a descrevê-la aos quadradinhos como catarse e libertação.
E Pedrosa fê-lo - num preto e branco de traço fino, solto e muitas vezes impreciso, dinâmico e expressivo, vivo e singular, bem distante do abundante colorido de Portugal - de forma terna, comovente, simbólica, metafórica, onírica e maravilhosa, transformando numa fuga (literal) do inevitável o que na vida real prende e imobiliza.
Por isso, em Três sombras, o pequeno Joaquim, que vive despreocupado com os pais, quando três cavaleiros inquietantes começam a rondar o seu lar, é levado pelo progenitor para o mais longe possível, numa viagem singular mas perigosa, durante a qual, para o conservar, o pai experimenta tudo, despoja-se de tudo e (quase) de si mesmo, dá-se completamente, arrisca tudo – até a sua própria identidade e a relação conjugal – a família… - que se revelará finalmente o porto de abrigo, o único local de conforto.
Ode ao amor paternal, retrato maravilhoso da infância – desfrute-se da primeira vintena de pranchas, da harmonia e felicidade familiar que emanam (tal como as últimas) – Três sombras é uma obra profundamente humana, de início enganador que apenas torna mais densa a tragédia, mas também um hino de esperança e de louvor da vida, que deve ser vivida de forma intensa, numa dádiva diária para ser desfrutada plenamente.  



03/11/2012

Mundo Fantasma expõe originais de Cyril Pedrosa


Data: 3 de Novembro a 16 de Dezembro de 2012
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 509/510, Centro Comercial Brasília, Avenida da Boavista, 267, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h


  


A livraria portuense Mundo Fantasma inaugura hoje, às 17 horas, uma exposição de originais do livro “Portugal”, de Cyril Pedrosa. Logo de seguida terá lugar uma conversa aberta sobre esta obra que a ASA acaba de editar em português.
De contornos autobiográficos, “Portugal” conta a história de Simon Mucha, um autor a atravessar uma crise criativa e de relacionamentos que durante uma visita a um festival de BD em Portugal se sente estranhamente à-vontade num país que conheceu em criança mas onde não regressava há 25 anos.
Luso-descendente como Pedrosa, Simon parte então à (re)descoberta das suas origens, da sua família e de si próprio, numa obra densa com quase 300 páginas, assente num soberbo trabalho de cor.
Distinguido por diversas vezes em França e já traduzido na Alemanha, Itália e Holanda, “Portugal” foi fruto de três anos de trabalho, que incluíram uma estadia de três meses no nosso país para escrita do argumento, preparação de esboços e fotografia de muitos dos lugares que depois são nele retratados.
Uma outra obra de Cyril Pedrosa, que esteve presente no passado fim-de-semana no AmadoraBD, acaba também de ser editada em Portugal. Intitulada “Três sombras” (Polvo), aborda a temática da morte infantil de forma terna, poética e tocante.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 3 de Novembro de 2012)


02/11/2012

Entrevista com Cyril Pedrosa


"Este livro ajudou a mudar muita coisa na minha vida"









Depois do texto que publiquei aqui no blog aquando da edição original de "Portugal" e do que fiz sobre esta obra para o catálogo do 23º AmadoraBD 2012, não penso fazer uma terceira abordagem ao livro que a ASA acaba de editar em português – e cuja compra e leitura aconselho vivamente.
Entretanto como no sábado passado tive a oportunidade de conversar com o autor, Cyril Pedrosa, no AmadoraBD, fica o registo de algumas questões que lhe coloquei, como complemento da entrevista que fiz quando da edição original francófona de Portugal.

As Leituras do Pedro – O desenho, os materiais e o formato das pranchas originais, vão mudando ao longo do livro. Porquê?
Cyril Pedrosa – Em Portugal há três formas diferentes de desenhar, uma para cada capítulo, correspondente a cada um dos pontos de vista da história.
No primeiro, segundo Simon, fiz uns esquissos ligeiros que passei depois a caneta bic; de seguida empreguei a técnica de aguada para criar pranchas monocromáticas e mais sombrias.
No segundo capitulo, segundo Jean, o pai, há um grande trabalho de base a lápis, para dar um ar mais pesado, foi duro de desenhar…
Finalmente, no terceiro e último, segundo Abel, o avô, usei aguarela, numa técnica de cor directa, cores mais quentes e um desenho muito livre…
Isso teve a ver com a evolução da personagem principal, com a forma como ele vai mudando; para o acompanhar, eu quis ter cada vez maior liberdade criativa.

ALP – Abel Mucha, o avô de Simon era espanhol. O seu também?
CP – Sim, o meu avô era espanhol; aliás, parte da minha família ainda se chama Pedrosa Muchacho. Esse era o nome de um rapaz que um dia foi trazido de Espanha por três cavaleiros que o deixaram numa aldeia perto da Figueira da Foz.
Quando descobri isto, achei perturbadora a coincidência com os três cavaleiros que surgem em Três Sombras [livro recém-editado pela Polvo em Portugal]...

ALP – A edição de Portugal, já traduzido em Itália, Alemanha e Holanda – e também de Três Sombras – em Portugal é importante para si?
CP – Sim, estou muito contente. O Três Sombras já era para ter sido publicado há alguns anos e na altura fiquei muito frustrado por a edição não se ter concretizado. Para mim é muito importante os meus livros serem editados em Portugal para que os meus familiares de cá e os meus amigos portugueses possam ver e ler o que eu faço.

ALP – Aquando da sua estadia em Portugal para preparar o livro, também esteve no CNBDI a pesquisar sobre a BD portuguesa…
CP – Eu tenho uma antologia sobre a banda desenhada feita em Portugal mas, como luso-descendente quis conhecer melhor a BD que se faz neste país com o qual sinto tantas afinidades.

ALP - No final de Portugal, Simon Mucha encontrou o seu caminho, o Cyril Pedrosa também?
CP – Sim. Este livro ajudou a mudar muita coisa na minha vida. Coloquei a mim próprio muitas questões, encontrei algumas respostas. Os livros não são uma forma de resolver problemas mas sim de dar respostas a perguntas.
Por outro lado, o sucesso do livro, que me surpreendeu pois via-o como uma obra muito pessoal com a qual os leitores teriam pouca afinidade, abre-me portas para abraçar projectos que de outra forma seria muito difícil.

ALP – Em que está a trabalhar agora?
CP – O momento de transição entre dois livros é muito complicado. Fazer um livro implica uma grande perda de energia, que depois é necessário recuperar. Para avançar tenho que saber as perguntas que vou colocar. Depois de o fazer, então posso seguir em frente para um novo livro. Possivelmente a minha próxima obra será sobre as relações entre os seres humanos e a vida em sociedade.












Portugal
Cyril Pedrosa
ASA (Portugal, Outubro de 2012)
235 x 330 mm, 272 p., cor, cartonado
35,90 €

31/10/2011

Entrevista com Cyril Pedrosa

“Tentei ser sincero”
Editado há poucas semanas pela Dupuis, Portugal tem sido (justa e) unanimemente considerado um dos grandes romances desenhados de 2011. Eis o registo de uma pequena conversa à distância com o seu autor, Cyril Pedrosa, para conhecer um pouco melhor a génese de um livro em que fala das suas origens portuguesas.

As Leituras do Pedro - Porquê um livro sobre Portugal?
Cyril Pedrosa – Os meus avós eram portugueses e, por isso, a história da minha família está muito impregnada com os nossos laços com Portugal. Havia muitas coisas que eu sentia em relação à nossa história familiar (a dificuldade de falar de Portugal entre nós, a minha própria dificuldade em fazer qualquer coisa sobre as minhas origens portuguesas) mas que eu não conseguia explicar.
E depois, há alguns anos, fui convidado do Festival de Banda Desenhada da Amadora e para mim foi um grande choque, foi muito emotivo. Senti-me como se estivesse “em casa”, apesar de não conhecer nada desse país. Foi isso que desencadeou a vontade de escrever esta história, para tentar compreender porque me sentia ligado a um país e a uma língua de que conhecia tão pouco.

ALP – Então esta história é autobiográfica?
CP – O ponto de partida é autobiográfico. Simon, o protagonista, é bastante parecido comigo e, como eu, ele “redescobre” os seus laços com Portugal durante um festival de banda desenhada. Mas depois, ao contar a história, inventei muitas coisas. Por isso, é uma ficção, mas com muitos elementos pessoais.

ALP – Que história conta neste livro?
CP – É a história de Simon, um francês neto de emigrantes portugueses, que faz banda desenhada mas que está num momento mau da sua vida, um pouco deprimido. Uma viagem profissional a Lisboa fá-lo descobrir a que ponto ama Portugal, as pessoas com quem se cruza na rua, como se fossem a sua família, como se estivesse em “sua casa”. Isso perturba-o e ele põe-se a tentar compreender porque perdeu os laços com aquele país. Vai então aproximar-se da sua família em França, com quem mantinha uma relação distante, participar numa grande festa familiar onde vai rever o seu avô sob um olhar diferente, compreender um pouco melhor porque é que o seu pai não foi capaz de lhe transmitir essa ligação com Portugal. Depois, na parte final do livro, regressa a Portugal, para tentar descobrir a história do seu avô.

ALP – De que Portugal fala neste livro ? Porquê?
CP – Falo de um Portugal imaginário, quer dizer, aquele que eu conheço e que não é o verdadeiro Portugal. É um Portugal “emocional”, o das sensações e da afeição que tenho por esse país, por esse povo, por essa língua. Sei perfeitamente que não conheço a realidade do país, para isso teria que viver nele. Mas conheço a beleza da sua língua, a generosidade dos portugueses e também conheço bastante bem a região de onde são originários os meus avós, uma pequena aldeia perto da Figueira da Foz (chamada Marinha da Costa, onde decorre a última parte do livro).
Tentei ser sincero, não utilizar clichés, mesmo sabendo que tinha um conhecimento superficial de Portugal.

ALP – Conseguiu responder às suas questões relativas a Portugal?
CP – Não sei se consegui responder às minhas questões, mas sinto-me aliviado em relação a algumas coisas. Penso que para mim o importante não era forçosamente responder a todas as questões, mas sim colocar essas questões, dizer a mim próprio e aos que me são próximos, “estão a ver, esta história, a nossa história, é uma história bonita, devemos interessar-nos por ela”.

ALP – Como reagiram os seus familiares ao livro?
CP – Penso que se sentiram muito tocados e emocionados, mas não me disseram tudo o que pensavam :)

ALP – Esteve em Portugal para fazer esboços?
CP – Sim, passei três meses em Portugal, para escrever e desenhar, fazer esboços, tirar fotografias, viver no local, ter o prazer de conhecer melhor os meus primos que moram aí, aprender a falar um pouco de português… Foram três meses formidáveis!

ALP – Portugal vai ser editado em… Portugal?
CP – Gostava muito que fosse! O meu editor francês disse-me que tinha sido contactado por uma editora portuguesa. Espero sinceramente que isso se concretize.

24/10/2011

Portugal

Collection Aire Libre
Cyril Pedrosa (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, 16 de Setembro de 2011)
235 x 330 mm, 264 p., cor, cartonado
35 €

Resumo
Simon Muchat é um autor de banda desenhada cuja relação com Claire e a carreira estão em crise. Durante uma visita a Portugal, como convidado de um festival de BD, sente-se estranhamente familiarizado com o país, as pessoas e a língua, partindo daí para a descoberta das suas raízes lusas, pois o seu avô era português.

Desenvolvimento
Portugal é a história de três gerações. Melhor, são histórias de três gerações. Histórias contada a três tempos por Simon - o neto -, Jean – o pai -, Abel – o avô – em cada um dos capítulos do livro. Embora o protagonista seja (quase) sempre Simon na sua busca pelas raízes familiares e de si próprio.
Com eles, através deles, Pedrosa – também ele neto de emigrantes portugueses, por isso o livro tem uma forte componente auto-biográfica, embora ficcionada – traça retratos distintos que se vão cruzar a vários níveis.
O retrato das relações (degradadas ou pelo menos descuidadas) de Simon com a sua arte, a sua companheira, o seu pai, a sua família. Simon, a quem a tal vinda a Portugal força, empurra, obriga a colocar ordem na sua vida. A reencontrar-se para se encontrar com os outros. Para isso terá de fazer opções, abraçando uns, afastando outros, tudo numa busca (por vezes em desespero) de si próprio, das suas origens, das motivações perdidas, de um sentido para a sua existência.
Para o conseguir, terá que fazer uma longa introspecção, reatar a relação com o pai e a família, relembrando ou descobrindo histórias passadas, quando o nome da família ainda era Mucha, percebendo os motivos para tantos choques familiares, para tantos silêncios, para tantas ausências.
E terá também que partir em busca do Portugal que o seu avô deixou, de descobrir porque ele nunca voltou à aldeia de Marinha da Costa de onde era natural e onde deixou família.
Uma procura íntima, com muito de iniciático, durante a qual, com uma mestria que só a experiência directa permite, Pedrosa traça um retrato notável de um certo Portugal e de uma certa forma de ser português. O retrato de uma geração (ou mais?) que teve de abandonar o seu país – por razões diversas – e encontrar longe das raízes formas de subsistência ou razões para viver. Mas também o retrato de uma geração mais próxima no tempo, perdida entre a ruralidade natural e a urbanidade forçada, que, na ausência de terreno, por viver na cidade, faz da varanda terreno de cultivo e é capaz de percorrer dezenas de quilómetros apenas para ir à terra buscas as batatas ou as pencas. Mas que é também uma geração dada e prestável - ainda não imbuída da maldade, da frieza citadina? – capaz de se dar e de dar o pouco que tem por um (primo afastado) desconhecido…
Um retrato terno, um retrato sincero, um retrato sentido, um retrato íntimo, sem nada de bilhete postal, cliché ou estereótipo, que não julga nem parodia, mostra apenas, com uma sinceridade desarmante e um realismo inegável.
Obra madura e complexa, profunda e muito pessoal, que a espaços se adivinha sofrida, grave na temática e no conteúdo mas também ligeira na forma desarmante como expõe, como se expõe, Portugal, ao longo das suas intensas 260 páginas, que ocuparam Pedrosa durante quase três anos, revela um autor de excelência, que brilha a vários níveis. Desde logo graficamente, pelo soberbo uso de cores directas, em aguarelas com efeitos de transparências, pontuadas aqui e ali por um traço fino, que, sem se impor ou sobrepor, ajuda à sua definição, pelo grafismo que parece dotado de movimento constante e que parece transportar o leitor através das páginas, obrigando os seus olhos a seguir a acção e os protagonistas.
Cores com as quais não só traça as suas personagens e os cenários em que elas evoluem, mas também define a língua em que falam, os seus estados de espírito e as ambiências que as rodeiam, tão capazes são de recriar as sombras da noite, um dia cinzento ou o sol português, e, acima de tudo, a própria evolução de Simon, do seu sentir.
A par disso, Pedrosa construiu, de forma linear mas elaborada, com base em diálogos, credíveis, sinceros, fortes, (mais uma vez) sentidos, um longo romance gráfico – sem princípio nem fim definidos – que prende o leitor ao mesmo tempo que o vai introduzindo no seio dos segredos – ou simplesmente omissões – da família Mucha/Muchat.

A reter
- A força deste soberbo romance, de razões difíceis de definir, mas inegável. Se há obras que deviam ser traduzidas em português, esta é uma delas.
- O magnífico trabalho gráfico de Pedrosa.
- A edição da Dupuis, que faz do livro um objecto desejável por si só.

Menos conseguido
- Alguns erros nos diálogos em português, sem dúvida evitáveis mas mesmo assim menores.

Trailer

Making-off
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...