19/05/2011

O Filme da Minha Vida

Eu não reino
Pedro Nora (argumento e desenho, a partir do filme “Vai e Vem”, de João César Monteiro)
João Paulo Cotrim (introdução)
Ao Norte (Portugal, 6 de Maio de 2011)
102 x 148 mm, 40 p., pb, brochado com badanas


A AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual, fundada em Dezembro de 1994, tem patente em Viana do Castelo, no Espaço Ao Norte, na Praça D. Maria II, uma exposição dos originais do décimo livro da colecção O Filme da Minha Vida, que ficará patente até 31 de Julho de 2011.
Pedro Nora
Intitulada “Eu Não Reino”, esta banda desenhada da autoria de Pedro Nora tem como ponto de partida o filme “Vai e Vem”, de João César Monteiro.
Não que este “seja o filme da minha vida, nem sequer o meu filme favorito do João César Monteiro”, diz o autor; “pensar em ‘filme da vida’ é uma falácia”. E esclarece: “para este projecto trabalhei um filme que se prestava a alguns objectivos que defini de antemão. Queria trabalhar um realizador português, um autor polémico e com ligações à literatura. "Vai e Vem" é o último filme de JCM, antes de morrer, e é por isso também um filme-testamento, em que o autor nos dá um derradeiro murro no estômago”.
E acrescenta ainda Nora: o filme “desenvolve-se em torno de temas como a sexualidade, a moral e bons costumes, Portugal, o poder, o cinema, e a morte, temas recorrentes na obra de JCM. É uma apurada mistura de comédia satírica e poema audiovisual”, tendo sido essa a sua opção gráfica, reinterpretando e fixando no papel, em traço negro e duro, praticamente sem texto escrito, alguns dos momentos fortes da narrativa de J.C. Monteiro, deixando ao leitor (relembrá-los e/ou) (re)interpretá-los.
Pedro Nora

Esta foi a única vez que um filme português serviu de base a um dos mini-álbuns do projecto O Filme da Minha Vida, um desafio lançado pela AO NORTE a uma dezena de autores portugueses para que produzissem uma banda desenhada inspirada num filme que tivesse deixado marcas nas suas vidas.
Jorge Nesbit
Iniciado em meados de 2008, com direcção de Tiago Manuel, grafismo de Luís Mendonça e introduções de João Paulo Cotrim, do projecto O Filme da Minha Vida resultaram os seguintes títulos:

01 - O PERCUTOR HARMÓNICO, de André Lemos, baseado no filme ACONTECEU NO OESTE, de Sérgio Leone
02 - EPIFANIAS DO INIMIGO INVISÍVEL, de Daniel Lima, inspirado no filme O DESERTO DOS TÁRTAROS, de Valério Zurlini 03 - SÉTIMO SELO, de Jorge Nesbitt, inspirado no filme homónimo de Ingmar Bergman
04 - ÂNGULO MORTO, de João Fazenda, em volta de A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES, de Alfred Hitchcock
05 - FITZ..., de Filipe Abranches, inspirado no filme FITZCARRALDO, de Herner Herzog
João Fazenda
06 - REPULSA, de Alice Geirinhas, inspirado no filme REPULSA, de Roman Polanski
07 - O DRAGÃO ATACA, de Tiago Albuquerque, a partir do filme homónimo de Robert Clouse.
08 - A VALQUÍRIA E O INOMINÁVEL, de Miguel Rocha, baseado no filme O ANJO EXTERMINADOR, de Luis Buñuel
09 - O ESPÍRITO DA COLMEIA, de Luís Henriques, inspirado no filme homónimo de Victor Erice 10 – EU NÃO REINO, de Pedro Nora, inspirado no filme VAI E VEM, de João César Monteiro

André Lemos


Filipe Abranches

Tiago Albuquerque

18/05/2011

Sale Fric

Collection Dark Night
Brian Azzarello (argumento)
Victor Santos (desenho)
Delcourt (França, 20 de Abril de 2011)
167 x 257 mm, 200 p., pb, brochado com badanas, 14,95 €


Resumo
Este é o segundo volume de uma nova colecção da Delcourt, que publicará bandas desenhadas provenientes do selo Vertigo, pertencente ao catálogo da DC Comics, e que foi iniciada em Março com Le Frisson, de Jason Starr e Mick Bertilorenzi.
O seu protagonista é Richard Junkin, um falhado. Antiga glória do futebol universitário, afastado do desporto por uma lesão, desde então sonha com a fama que a sua prática – em qualquer ocupação – desmente.
Quando o seu patrão lhe pede para deixar o lugar de vendedor de automóveis – em que mais uma vez é uma nulidade – para se tornar o anjo da guarda da sua filha – um chamariz de sarilhos – Junkin está longe de imaginar os sarilhos em que se está a meter.


Desenvolvimento
Este é mais um elo na longa corrente da relação entre a banda desenhada e o policial.
Bem escrita e desenvolvida, a história reúne todos os ingredientes clássicos do género: um protagonista, falhado mas simpático, que parece ter conseguido o seu momento de sorte na vida, um crime que (parece) perfeito, paixão, sexo, violência, traições, surpresas…
Azzarello demonstra a habitual mestria na sua condução. Uma longa introdução para conhecermos Junkin, o seu passado, curto mas glorioso, o presente, longo e decadente, bem como as outras personagens que o acompanharão ao longo da trama.
Depois, o desenvolvimento, de certa forma paralelo, da sua relação com Vicki, a filha mimada do patrão e Sally. A forma como se aproxima da primeira sem esquecer a segunda, o que o conduzirá a um primeiro homicídio. Avançando, segue-se o adensar da trama, a criação de álibis, culpados improváveis ou falsos e o final surpreendente onde, apesar de alguns ajustes, (quase) tudo - todos – volta(m) ao seu lugar.
Em suma, uma história dinâmica e bem ritmada, com potencialidade para segurar o leitor…
… mas que poderia ser bem mais interessante se o desenhador, o espanhol Victor Santos, tivesse sabido acompanhar o seu argumentista ou, pelo menos, manter um traço estável ao longo do livro. Porque, na verdade, esta obra revela um autor em busca da sua identidade gráfica, oscilando entre vinhetas ao nível de (maus) fanzines, com outras cujos modelos são claramente Eduardo Risso e Frank Miller. A par disso, se por vezes consegue apresentar um traço perfeitamente legível, vinhetas há que são quase incompreensíveis, merecendo também nota negativa o tratamento muitas vezes dado aos rostos, inacabados ou com expressões forçadas.
Por isso, o resultado global, desequilibrado e longe dos modelos gráficos seguidos, não ultrapassa o mediano, desperdiçando os créditos concedidos pelo argumento.

A reter
- O argumento de Azzarello, estruturado, credível, com personagens bem definidas, com tudo para agradar aos apreciadores do género e não só.


Menos conseguido
- O traço de Santos, desigual e poucas vezes inspirado.


Curiosidade
- Filthy Rich é o título original do livro.

17/05/2011

Leituras de Banca

Maio 2011
Títulos que começaram ontem a ser distribuídos nas bancas portuguesas.


Panini
Marvel
Avante Vingadores #44
Homem-Aranha #106
Os Novos Vingadores #81
Wolverine #70
X-Men #104
Universo Marvel #4





DC Comics
Batman #95
Liga da Justiça #95
Superman #95
Universo DC #4

Manga
Vampire Knight #3




Turma da Mónica
Almanaque da Mônica #24
Almanaque do Cascão #24
Almanaque do Cebolinha #24
Cascão #47
Cebolinha #47
Chico Bento #47
Grande Almanaque da Turma da Mônica #8
Magali #47
Maurício Apresenta #11 – Turma da Mônica e O Segredo de Papai Noel
Mônica #47
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #47
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #47
Turma da Mónica – Saiba mais #38 – Dinossauros
Turma da Mônica Jovem #29


Mythos
Para os fãs de Julia Kendall e/ou Mágico Vento, este é um mau mês, pois estes dois títulos não estarão à venda nas bancas portuguesas, devido a um atraso que ocorreu aquando do seu lançamento no mercado brasileiro.
TEX 466 - Expedição ao México
TEX COLEÇÃO 258 - Tortura
OS GRANDES CLÁSSICOS DE TEX 25 - El Gringo
TEX ANUAL 11 - Nas Trilhas do Oeste
ZAGOR 115 - Resgate Desesperado
ZAGOR EXTRA 79 - Homens e Feras
ZAGOR ESPECIAL 28 - Chico na Ilha do Tesouro

16/05/2011

Manuel António Pina

Prémio Camões 2011

Cronista lúcido, ácido e mordaz, cuja leitura da sua coluna Por Outras Palavras não dispenso diariamente na última página do “nosso” Jornal de Notícias, criador como há poucos de histórias infantis – adultas na forma como se apresentam aos seus pequenos (em tamanho) leitores, tratando-os como iguais, e como nos agradam a nós, ”grandes” leitores -, poeta de eleição, jornalista reconhecido, Manuel António Pina foi distinguido na passada quinta-feira com um justo e merecido Prémio Camões.
E se dessa obra vasta e diversificada nos últimos dias se encarregaram outros, uns melhor, outros nem tanto, mesmo sabendo que não são a sua área de eleição, quero destacar hoje duas intervenções que teve relacionadas com as histórias aos quadradinhos - nas quais sei que partilha comigo o gosto por obras como The Spirit ou Corto Maltese…
Como autor, em 1996, a convite da Gec Alsthom, uma das empresas concorrentes à adjudicação da construção do (então) futuro Metro do Porto, Manuel António Pina sonhou esse futuro sobre carris na cidade que há décadas adoptou como sua, levando nesse sonho aos quadradinhos os leitores de “Uma viagem fantástica”, desenhada por Rui Azul.
Antes, em 1987, como redactor responsável pela área cultural, quando acreditou em mim e me convidou para escrever no Jornal de Notícias, primeiro de forma irregular, depois assinando a coluna semanal Aos Quadradinhos que durou uma década. Por isso, se esta escrita (aos quadradinhos) é hoje o centro da minha vida, acredito que o devo, em grande parte, a ele.
Obrigado – também por isso – caro Pina.


Nota: Escrito para ser publicado na própria quinta-feira, este texto apenas surge hoje devido aos problemas que afectaram o Blogger e que me impediram de fazer actualizações mais cedo. Porque acredito que esta singela homenagem é justa e devida, ela aqui fica na mesma hoje.

15/05/2011

Selos & Quadradinhos (45)

Stamps & Comics / Timbres & BD (45)
Tema/subject/sujet: Philatelie de la Jeunesse – Spirou
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1988

14/05/2011

Selos & Quadradinhos (44)

Stamps & Comics / Timbres & BD (44)
Tema/subject/sujet: Philatelie de la Jeunesse – Bob et Bobette
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1987

12/05/2011

Patte de velours

Collection Mirages
Pascal Bertho (argumento)
Korkydu (desenho)
Delcourt (França, Março de 2005)
210 x 260 mm, 96 p., cor, cartonado com sobrecapa, 14,95 €


Em tempos, os contos de fadas tinham um príncipe e uma princesa que tinham de mover céu e terra, vencer bruxas, dragões ou monstros, com a ajuda de fadas ou duendes, para atingirem o almejado final feliz em que casavam, tinham muitos filhos e viviam juntos para sempre, tudo seguindo a boa moral e os melhores costumes, para delícia e (escape) de quem lia.
Em "Patte de velours" a história é diferente: o príncipe e a princesa deram lugar a gente normal, como cada um de nós, mesmo que ela desenhe BD; os inimigos a vencer tomam a forma de ex-namoradas estranhamente possessivas, chefes de escritório anormalmente atiradiças ou amigos bem intencionados mas - por isso - incomodativos; como fada temos um gato-correio feito Cupido involuntário e como moral da história aparece um suposto conto chinês que fala da necessidade de tomarmos decisões e construirmos o nosso próprio futuro, não deixando tudo nas mãos do acaso.
Os seus autores são Pascal Bertho, responsável pelos diálogos realistas e pelo toque de humor, e Korkydu, dono de um desenho que, não sendo brilhante, cativa, é funcional, expressivo e transmite o ritmo certo à narrativa que, não tendo o habitual final feliz, deixa tudo em aberto para que tal aconteça. Ou talvez não, porque - convém não esquecer - esta é uma história de vidas.


(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 1 de Janeiro de 2006)

11/05/2011

Mezek

Collection Signé
Yann (argumento)
André Juillard (desenho)
Le Lombard (França, Abril de 2011)
320 x 240 mm, 72 p., cor, cartonado
15,95 €


Resumo
1948. O jovem estado de Israel, que acaba de proclamar a sua independência, tenta afirmar-se num período conturbado, rodeado de inimigos e intrigas.
Para o conseguir, contrata aviadores mercenários de todas as nacionalidades, o que não deixa de criar tensões e confrontos com os pilotos judeus.


Desenvolvimento
Se há dias referi aqui Jean-Claude Denis como um dos meus desenhadores de eleição, hoje cabe a vez a outro, André Juillard. Que com aquele, pouco (ou nada) tem em comum.
Onde o traço de Denis é grosso, sujo e quase rude, Juillard aposta em traço fino, limpo e delicado; se os tons predominantes de Denis são sombrios, as pranchas de Juillard irradiam cores quentes, alegria, gosto pela vida. Nada os une, portanto – para lá de serem cultores (bem diferentes) da linha clara – mas ambos me agradam. E se Denis tem tido um percurso gráfico mais homogéneo, Juillard tem-se distinguido não tanto nos seus sucessos mais comerciais (”Les sept vies de l’épervier” e respectivas sequelas ou na retoma de “Blake e Mortimer) mas mais em obras que se adivinham mais pessoais: desde logo o magnífico “Le cahier bleu” (seguido de “L’Aprés la pluie”), “Les Voyages de Lena” ou este “Mezek”.
Para concluir esta referência ao grafismo de Juillard, uma nota para o seu rigor e realismo, expresso no tratamento da figura humana, nos cenários, nos veículos – neste caso concreto em especial nos aviões, merecendo destaque a credibilidade e a leveza dos combates aéreos.
Mas, sendo justo, tenho que vincar que o interesse de “Mezek” vai bem além do magnífico traço de Juillard (o que é uma mais valia), começando logo pelo período abordado, rico em contradições, conflitos e dúvidas.
Porque, se bem que inebriado pela independência acabada de declarar unilateralmente, o novo estado de Israel passava por lutas internas de poder, por choques constantes sobre os caminhos a seguir, pela pressão exercida pelos vizinhos muçulmanos, em especial pelos egípcios, responsáveis por constantes bombardeamentos sobre a capital, Telavive, e pelos ex-colonizadores britânicos, com quem as relações eram tensas e periclitantes. Um início que assentou, por exemplo, na contratação de mercenários, nalguns casos ex-inimigos, na compra de aviões Messerschmit) alemães (ex-nazis…), no tráfico e contrabando de peças, armas e até aviões…
Tudo isto, é explanado com mestria por Yann, de forma ao mesmo tempo clara e completa mas leve, não sobrecarregando a história que – assente numa sólida base histórica que perpassa todas as suas pranchas – tem como motor, maioritariamente, os relacionamentos entre os pilotos que lutam nos ares em defesa de Israel. Movidos pelo dinheiro, a ambição, o idealismo e/ou a utopia…
De um lado os pilotos locais, judeus - pertencentes a diferentes facções… - inexperientes e revoltados pelo pagamento principesco dos mercenários contratados. Do outro, estes últimos, muitos deles ases da II Guerra Mundial recém-concluída, com a dupla função de pilotar e formar os judeus. O conjunto resulta num clima de tensão constante e muitos conflitos na base em que todos têm de (con)viver.
Entre os mercenários destaca-se o sueco Björn, alvo das atenções de três belas mulheres: a norte-americana Jackie e as israelitas Tzipi e Oona. Björn, em quem se centram as atenções, que guarda não um mas dois segredos relacionados com o seu passado – de sentidos opostos, até (!), que é impossível deixar entrever sem estragar o prazer da sua descoberta na leitura - que, uma vez descobertos porão em causa, quer a sua relação com aquelas mulheres, quer a sua posição no seio da esquadrilha israelita, quer as razões que o movem no seu envolvimento na causa israelita.


“Mezek” é, assim, desde os bombar-deamentos das primeiras páginas, que marcam logo o tom algo cru, duro e violento do álbum e definem as condições difíceis em que evoluem as suas personagens, que ostentam cicatrizes (interiores) que custam a sarar, um verdadeiro boião de tensões, de conflitos latentes, de contradições difíceis de explicar e difíceis de aceitar, que ameaçam explodir a qualquer momento e destruir o instável equilíbrio em que, na prática, viveu o estado de Israel nos seus primeiros tempos de vida.

A reter
- A consistência histórica do relato e a sua completa integração no lado ficcional do relato.
- O traço (e a cor) de Juillard, belo, realista, preciso, expressivo, sedutor, dinâmico…


Menos conseguido
- A excessiva parecença entre algumas personagens.
 A frase
- “O que me agradou foi o simbolismo do Estado de Israel salvo pelos Messerschmitt alemães. É uma alegoria maravilhosa. Foi o meu ponto de partida.” (Yann)

Curiosidades
- “Mezek”, termo checoslovaco para “mula”, era a designação usada para referir os aviões alemães Messerschmitt.
- Surpresa! Descubra na vinheta ao lado, ao fundo, duas personagens bem conhecidas que Juillard também já desenhou!




09/05/2011

Ideias Negras

Integral
Franquin (argumento e desenho)
Witloof (Portugal, Agosto de 2001)
175 x 245, 72 p., pb, cartonado


Se Franquin é justamente conhecido pela melhor fase de Spirou e pelas indescritíveis e hilariantes confusões criadas por Gaston Lagaffe, era uma injustiça que a sua obra mais pessoal estivesse perdida no limbo do esquecimento.
Injustiça recentemente reparada pela reedição integral, num único volume, das suas "Ideias negras", a que a Witloof se associou com um mini-álbum cartonado (pb, 72 p., 12,47 euros), permitindo aos leitores portugueses - naquele que é sem qualquer dúvida um dos lançamentos do ano em curso - descobrirem a faceta mais pessimista de um autor que, paradoxalmente, se distinguiu pelo seu notável sentido de humor.
Nascidas, numa parceria com Yvan Delporte, no "Le trombone illustré", suplemento autónomo da revista Spirou, em 1977, e depois transferidas para a revista "Fluide Glacial", as suas "ideias negras" tanto podem ter como tema base aspectos mais ou menos banais do dia-a-dia ou a (recorrente) caça, como temas mais sérios e globais de que são exemplo a pena de morte, a corrida ao nuclear (então na ordem do dia) ou a própria guerra.
Temas tratados de forma mordaz, transformados em alvos de uma crítica feroz, implacável e violenta, que realça o lado mais estúpido e irracional da natureza humana, e culminam sempre em desfechos funestos mas irresistivelmente divertidos, embora deixem a incómoda sensação de que rimos de algo que não devia ser para rir.
Como disse Franquin: "As 'Ideias negras' são pequenas histórias, um pouco sádicas, um pouco cruéis, mas no entanto engraçadas".
E são narradas com uma técnica notável, num preto e branco muito negro, nervoso e bem trabalhado, em que quase sempre os personagens não passam de silhuetas sombrias, recortadas no branco imaculado da prancha, acentuando o tom sinistro das histórias.
Como complemento, a ser visto com atenção, cada prancha tem uma assinatura igualmente "negra", personalizada de acordo com a temática narrada na página, que funciona como corolário da ideia nela exposta.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2001)

08/05/2011

Selos & Quadradinhos (43)

Stamps & Comics / Timbres & BD (43)
Tema/subject/sujet: Astérix
País/country/pays: Tajiquistão / Tajikistan / Tadjikistan
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: ?

07/05/2011

Rui Duarte na Mundo Fantasma

Data: 7 de Maio a 12 de Junho de 2011
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingo das 15h às 19h


Discovoador et Al, é o nome da exposição de ilustração e banda desenhada de Rui Duarte, que a galeria Mundo Fantasma, situada no Centro Comercial Brasília, na loja especializada em BD importada com o mesmo nome, disponibiliza a parir de hoje, às 17h.
Natural do Porto, o autor, que estará presente na inauguração, tem sido o responsável pela imagem gráfica dos Clã, a banda de Manuela Azevedo, para quem tem elaborado as capas de discos e os cartazes dos espec- táculos, sendo que algum desse material, do álbum Rosa Carne ao recém-lançado Disco Voador, estará patente nesta mostra.
Formado em arquitectura, Rui Duarte tem feito a sua intervenção artística ao nível da criação de cenários, esculturas, mobiliário, ilustração e banda desenhada, nas Américas, Cabo Verde, Angola e Europa. Em Portugal, o seu atelier, formado em 1991, tem desenvolvido estratégias em múltiplas disciplinas da comunicação e produção, gráfica e audiovisual, investindo sobretudo na imagem de projectos culturais,
tendo colaborado com instituições diversas como a Câmara Municipal do Porto, Rivoli Teatro Municipal, Culturporto, Museu de Serralves, Porto 2001, Coimbra 2003 ou Expo'98.
É também director artístico da Companhia Burbur, uma organização lusófona que concebe e produz projectos de teatro, de investigação literária, de vídeo e de som.
Actualmente a frequentar o curso de Estudos Portugueses e Lusófonos na Faculdade de Letras, Rui Duarte tem em Discovoador et Al, que poderá ser visitada até 12 de Junho, uma panorâmica alargada, heterogénea e diversificada dos seus trabalhos e das técnicas que costuma utilizar.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 7 de Maio de 2011)

06/05/2011

L’ombre aux tableaux

et autres histoires
Jean-C. Denis (argumento e desenho)
Drugstore (França, 30 de Março de 2011)
215 x 293 mm, 184 p., cor, cartonada, 25 €


Resumo
Compilação de várias histórias de Jean-Claude Denis, publicadas em três álbuns no início da década de 1990, a saber: L’ombre aux tableaux, Bonbon Piment, Maï pen raï, Le jeux des animaux, Le Pélican.


Desenvolvimento
Acredito e defendo a banda desenhada enquanto arte na qual texto e desenho funcionam de forma una e indivisível.
Mas, paradoxalmente, escrevo de forma convicta que compro mais depressa um álbum pelo seu argumentista do que pelo seu desenhador. Aliás, há belíssimas histórias comprometidas por desenhadores pouco hábeis e excelentes desenhadores que brilhariam mais se tivessem boas histórias para desenhar. E ainda talentosos desenhadores que nunca serão sequer razoáveis autores de banda desenhada…
O que não implica, paradoxalmente mais uma vez, que não haja alguns desenhadores que me atraem especialmente, muitas vezes por razões que nem eu consigo explicar. Jean-Claude Denis é um desses casos.
Descobri-o há muitos anos quando (ainda só) folheava a revista (a suivre) e tive oportunidade de o ler, mais tarde, algumas vezes. Se enquanto argumentista o considero algo desequilibrado, com algumas obras francamente conseguidas e outras que não o são tanto, como desenhador a sua linha clara, geralmente de tons mais sombrios - ocres, verdes, cinzentos, azulados - raramente vivos ou quentes, em que predomina a figura humana, mais especificamente rostos expressivos, com especial destaque para as belas mulheres, satisfaz-me bastante e acaba por ser a principal razão para a ele voltar recorrentemente. E é dessa forma que Denis vai traçando retratos ternos mas desiludidos, e lúcidos, embora por vezes deformados, da sociedade, do nosso mundo.
Foi o caso desta compilação, recém-editada, que reúne uma mão cheia de histórias, entre curtas e longas, quase todas em lugares exóticos – Brasil, Tailândia, Reunião – nas quais a realidade – que geralmente predomina nos álbuns de Denis – convive estreitamente com o fantástico e/ou o sobrenatural, uma vezes apenas na aparência, outras vezes sendo mesmo concretizado.
É o que acontece na narrativa que abre o álbum e lhe dá título, em que um pintor pouco conhecido, uma vez falecido volta para progressivamente se apossar do corpo – da vontade - da última (da única?) pessoa que lhe deu valor em vida, servindo o conjunto para Denis divagar sobre o momento da criação, a arte, os seus criadores, o seu valor, a sua importância, os críticos…
Igualmente bem conseguidas são Bonbon Piment e Maï pen raï, a primeira sobre uma relação (impossível?) mal compreendida, a segunda sobre como um pormenor pode estragar um sonho de amor.
Aliás, convém referi-lo, os desencontros, as desilusões, as relações terminada ou desfeitas, os finais infelizes são uma constante na obra de Denis, onde abundam histórias sobre pessoas (nem sempre) normais, muitas vezes apanhadas em situações incomuns, ultrapassadas pelo acaso, pelo destino, pela própria incapacidade de se assumirem ou de afirmarem a sua vontade, pessoas solitárias, pouco sociais, incapazes de se relacionarem com os outros… e consigo.
Por isso, de forma resumida, talvez me atreva a escrever que este é um álbum sobre gente, sobre pessoas, sobre relações humanas, melhor, sobre como raramente essas relações devem ser conduzidas.
Sei que é um atrevimento grande fazê-lo porque o resumo acima - como (quase) todos os resumos - é redutor e, por natureza, incompleto, e Denis é um magnífico cronista do quotidiano e do ser humano.


A reter
- O traço de Denis, claro, pelo menos aos meus olhos.
- Os finais inesperados e o tom intimista da maior parte das narrativas.
- A combinação de sentimentos e emoções – por vezes opostos - que ressalta dos seus contos: ternura, tristeza, melancolia, solidão, paixão, incompreensão…


Menos conseguido
- O relato longo que fecha o livro, Le Pélican, povoado por seres humanos (muito) pouco normais…


Curiosidade
- No site da Drugstore pode folhear as primeiras pranchas do álbum (clicando na imagem sob “planches”).
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