27/09/2011

Sergio Bonelli (1932-2011)

Sergio Bonelli, editor e argumentista de banda desenhada faleceu ontem aos 78 anos, após uma semana de hospitalização, na sequência de alguns problemas de saúde que o começaram a apoquentar em Agosto último.
Filho de Giovanni Luigi Bonelli e Tea Bonelli, natural de Milão, onde nasceu a 2 de Dezembro de 1932, concluídos os estudos, aos 25 anos, assumiu a direcção da editora criada pelos seus progenitores. Um ano depois, dava início ao labor, em paralelo, como editor conhecedor e apaixonado e argumentista culto e polifacetado, que o distinguiu ao longo de toda a vida. “Un Ragazzo nel Far West”, escrito para a arte de Franco Bignotti, foi a primeira de muitas histórias saídas do seu punho,
 de onde nasceram também “Zagor” (em 1961), um western diferente com pontos de contacto com Tarzan, ou “Mister NO” (1975), um ex-piloto norte-americano auto-exilado na América do Sul, em especial no Brasil.
Os argumentos dessa época foram assinados com o pseudónimo de Guido Nolitta, para não ser confundido como seu pai, o criador de Tex Willer, o mais antigo western da BD ainda em publicação, para quem também escreveu algumas histórias.
Assente em edições baratas, a preto e branco, com heróis de características populares a quem o leitor facilmente aderia, protagonistas de géneros como o western, o fantástico ou o policial, em histórias que, na senda dos grandes romances de aventura, muitas vezes tinham um fundo de realidade, desenvolveu um autêntico império editorial. Que, ainda hoje, só em Itália, vende anualmente mais de 20 milhões de exemplares de títulos como Tex, Zagor, Mágico Vento, Júlia Kendall (todas disponíveis mensalmente nos quiosques portugueses através das edições brasileiras da Mythos), Dylan Dog, Martin Mystère ou Nick Raider.

E que soube adaptar às mudanças que o tempo foi impondo, sem trair as suas convicções nem as características essenciais de cada personagem, respeitando os artistas e dando-lhes liberdade criativa. O que permitiu que os heróis que edita continuem nas bancas, tendo à cabeça o “veterano” Tex Willer, a (sólida) base do seu império aos quadradinhos, cuja republicação recente, por ordem cronológica, a cores, juntamente com dois jornais italianos, prevista para 50 números, ultrapassou os 200, tendo terminado apenas porque alcançou as histórias actuais.
Ainda no que toca a Tex Willer, são incontornáveis os “Texone” ou “Tex Gigante”, histórias soltas ilustradas por alguns dos grandes nomes da BD mundial, como Victor de La Fuente, Guido Buzzelli, Jordi Bernet, Magnus ou Joe Kubert.
No comunicado em que a Sergio Bonelli Editore divulgou o seu falecimento, lê-se: “foi o principal artífice da passagem dos fumetti (BD italiana) de simples entretenimento popular a produto com dignidade cultural, criando ao longo da sua carreira de cinquenta anos uma das mais importantes editoras de BD no contexto italiano e mesmo mundial”, o que lhe valeu ser distinguido com o prestigiado “Ambrogino d'Oro”, concedido pela sua Milão natal, em 2008, por ter feito da cidade “a capital italiana dos quadradinhos”.

É mais um grande nome da BD que recolhe ao paraíso dos artistas dos quadradinhos, deixando órfãos as suas criações e os leitores que com elas viveram inesquecíveis aventuras.

Entrevista
Em Dezembro de 2008, a propósito dos 60 anos de Tex, Sergio Bonelli concedeu-me o privilégio de responder a algumas perguntas para o Jornal de Notícias, por intermédio do amigo comum, José Carlos Francisco.
Aqui fica a versão integral dessa “conversa à distância”, parcialmente publicada então no Jornal de Notícias e, na sua versão integral, no Tex Willer Blog.

Pedro Cleto - Como era Giovanni Luigi Bonelli, o seu pai?
Sergio Bonelli - Fisicamente era um homem fascinante; para uma estatura média, era muito musculoso e atlético, tanto que praticava com bons resultados desportos como a natação e o pugilismo. Aos setenta anos enfrentava com segurança e desenvoltura qualquer pista de Cervinia, Sestriére e dos Alpes italianos. De carácter alegre, era muito extrovertido e adorava entreter amigos e até pessoas recém-conhecidas com assuntos que frequentemente surpreendiam pela originalidade e pelo seu anti-conformismo.

PC - E o escritor Gianluigi Bonelli?
SB - Ao contrário de muitos colegas que encaravam o papel de "quadri-nhista" como uma profissão "de segundo plano", Gian Luigi Bonelli tinha orgulho no seu ofício de escritor de quadradinhos e incorporava-se completamente na personagem de Tex ou de qualquer outro protagonista das suas histórias. Ele não queria sentir-se vinculado a um argumento preliminar e preferia improvisar dia após dia, página após página. Ele lia muitos livros populares franceses, ingleses e americanos e não perdia um só filme que exaltasse a coragem, a força, a aventura.

PC - Alguma vez ele expressou alguma vontade em relação ao futuro de Tex depois do seu desaparecimento?
SB - Nos últimos anos ele deu-se conta que Tex tinha-se tornado uma imagem importante no mundo da BD e, por isso, tinha aceitado que outros escritores continuassem a sua obra. Depois da decisão de abandonar a personagem, que lhe foi imposta pela idade e pela doença, ele preferiu desistir de corrigir os textos dos outros: por simpatia (e amor paterno) limitou-se a intervir, com alguns conselhos, nas histórias escritas por mim.

PC - Mostrou ao seu pai a primeira história de Tex que escreveu? Ele fez muitas alterações? Foi publicada?
SB - As suas correcções foram sempre mínimas, provavelmente porque ele considerava que os nossos "estilos" eram muito diferentes e que, por isso, o problema seria muito difícil de resolver. A minha primeira história foi publicada com o título "Caçada Humana" nos números 183 a 185 da série italiana (n°s 68 e 69 da série brasileira da Ed. Vecchi, em 1976) e suscitou reacções opostas: uma parte dos leitores gostou e outra achou que estava muito distante dos esquemas narrativos de seu primeiro autor.

PC - Tex continua a conquistar novas gerações da mesma forma que o fez até aqui?
SB - Não, de forma nenhuma. As novas gerações não gostam do género western. Tex continua a ser a BD mais vendida na Itália mas, mensalmente, perde uma certa quantidade de leitores.

PC - Tex está praticamente inalterado desde a sua criação. Por razões comerciais ou artísticas? Ou simplesmente por razões sentimentais?
SB - Infelizmente não é verdade que Tex permaneceu inalterado. Apesar do esforço de imitar o seu criador, todos os novos argumentistas involuntariamente trazem algumas diferenças que os leitores mais atentos não deixam de apontar. O mundo dos quadradinhos pode abrigar personagens de todo tipo: o leitor pode facilmente encontrar heróis mais "modernos" sem que se deva desnaturar um "herói" tradicional que agrada a outros leitores assim como é.

PC - Na sua opinião, os tempos actuais não pedem um Tex mais "politicamente correcto"?
SB - Ao contrário, o rigoroso "politicamente correcto" exigido por alguns acabaria por incomodar outros. É difícil contentar todos: por isso busca-se uma via de meio, como desde sempre exige o ofício de editor de banda desenhada.

PC - Até quando poderá Tex resistir aos tempos actuais e à tecno-logia?
SB - Infelizmente para nós (mas como é justo e inevitável), a BD está destinada a dar lugar rapidamente a outros divertimentos mais fáceis e cativantes. Tex ainda hoje é o campeão dos quiosques mas (como já dissemos) é completamente ignorado pelas novas gerações: pode ser que daqui a 5 ou 6 anos não tenha leitores em número suficiente para sustentar as pesadas despesas.

PC - Qual a melhor história de Tex de sempre?
SB - A opinião do editor vale tanto quanto a dos outros leitores: cada um de nós tem a sua história preferida.

PC - Milão, a sua cidade, concedeu-lhe o prestigioso prémio "Ambrogino d'Oro". O que sentiu?
SB - O "Ambrogino d'Oro" que me foi conferido no mês passado tem uma história antiga e uma tradição local que levaria muito tempo para explicar a um estrangeiro. Digamos que interpretei como um interessante reconhecimento público à profissão de editor, argumentista ou desenhador de quadradinhos.

26/09/2011

Le Masque du Fantôme

#2 La Cité des masques
Fabien Grolleau (argumento e desenho)
Delcourt (França, 31 de Agosto de 2011)
127 x 180 mm, 192 p., pb, brochada com sobrecapa
9,40 €

Resumo
Um autor de BD pouco conhecido é contratado para produzir uma banda desenhada que ajude a trazer à razão o maior dos fãs de “The Ghost of the Everglades”, um dos grandes sucessos dos quadradinhos clássicos dos últimos 60 anos.
Arrastado por este numa fantasia imaginária pelo mundo real, encontram-se a braços com sem-abrigo anarquistas e um presidente de câmara pouco honesto, em pleno carnaval.

Desenvolvimento
Se o primeiro tomo terminava num momento em que fantasia e realidade se cruzavam, neste ambas se confundem. Isso transforma o relato num quase delírio atravessado por flashbacks que ajudam a compreender as razões que levaram o jovem fã do Fântome a transformar-se gradualmente no seu herói de papel, em paralelo com o percurso de Leon Moore, o verdadeiro autor das aventuras de “The Ghost of the Everglades”, numa história que tem início durante a Segunda Guerra Mundial,o que serve de pretexto para a evocação/homenagem às criações aos quadradinhos desses tempos áureos da BD.
No início deste tomo, o velho que pensa ser o Fantôme, e Sacha, o autor de BD que o auxilia, perdem-se nos arrabaldes da cidade, sendo recolhidos por sem abrigo que escolhem o “herói” como seu rei para participar no carnaval. Um carnaval que se vai revelar estranhamente perigoso quando nele se defrontam anarquistas e os seguidores do corrupto presidente da Câmara, para gáudio do Fantôme, cada vez mais mergulhado nas ilusões que o arrastam para mundos (pretensamente) mágicos, enfeitiçados, perigosos e fascinantes.
Entre a nostalgia, o piscar de olho aos fãs de comics, fantasia à rédea solta e um misto de crueldade e humor, Grolleau, apesar de um ou outro salto narrativo, constrói um relato que merece ser lido e lança a expectativa sobre as suas futuras criações.

A reter
- Mais uma vez, o sabor nostálgico e a homenagem sentida aos criadores dos grandes heróis clássicos dos quadradinhos.
- O período curto (quatro meses) que mediou entre a publicação dos dois tomos que constituem este relato, permitindo ao leitor completar a sua leitura rapidamente. Que exemplo para as editoras nacionais!

Menos conseguido
- Uma ou outra falha na narração, que quebra o ritmo e obriga o leitor a reposicionar-se no relato.

25/09/2011

Selos & Quadradinhos (64)

Stamps & Comics / Timbres & BD (64)

Tema/subject/sujet: 100º aniversário da primeira BD publicada na Noruega - The Katzenjammer Kids/100th anniversary of the first comic strip to be published in Norway — The Katzenjammer Kids/ 100e anniversaire de la première bande dessinée publiée en Norvège - The Katzenjammer Kids
País/country/pays: Noruega/Norway/Norvége
Autores: Jason, Christopher Nielsen, Frode Överli, Lise Myhre
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2011

24/09/2011

As Figuras do Pedro (VIII)

Liga da Justiça

Figuras: Superman, Batman, Wonder Woman, Flash, Hawk Woman, Gorila Grodd
Ano : 2007
Altura : 6/7 cm
Material: PVC
Proveniência: brindes Phoskitos

23/09/2011

Manuel Caldas

“Seduzido pela BD”
Chama-se Manuel Caldas, é português, mora na Póvoa de Varzim e dedica-se a reeditar bandas desenhadas clássicas norte-americanas como o Príncipe Valente, Lance, Krazy Kat ou, em breve, Cisco Kid, restauradas com paixão e minúcia.
A paixão pela BD nasceu “antes dos seis anos quando guardava o suplemento “Pim-Pam-Pum” de “O Século”. Ninguém me chamou a atenção para a BD, foi ela que me seduziu”, afirma.
Mais tarde, aos 11 anos o pai mostrou-lhe “o Príncipe Valente, de Harold Foster, publicado no Primeiro de Janeiro, que tinha uns desenhos muito bem feitos”. “Fulminado”, com o tempo constatou “que a história era também magistral e que havia na série uma unidade sublime” pelo que não descansou enquanto não a conheceu toda.
Nasceria aí a vontade de editar essa saga medieval – analisada no seu estudo “Foster e Val” - sonho que começou a concretizar em 2005, sob o selo “Livros de Papel”, entretanto transformado em “Libri Impressi”. E “quando o “Príncipe Valente” se revelou um êxito de vendas”, fez as contas e verificou “que se fizesse dois volumes por ano ganhava mais do que na escola onde era um simples (e insignificante) auxiliar de acção educativa. Assim, como não cair na tentação de deixar um emprego onde era impossível qualquer realização pessoal para fazer exclusivamente o que mais gostava?”
Aos primeiros volumes do Príncipe Valente, sucederam-se outros títulos: “Ferd’nand”, que os leitores do Comércio do Porto seguiram durante anos, “Hagar, o horrendo”, outro clássico do humor, ou “Lance”, um western humanístico. Mais recentemente, "Os Meninos Kin-Der", “Krazy Kat”, “Dot & Dash”, “O Corvo”, “O Livro do Buraco” ou “Ele foi mau para ela”, uma novela gráfica muda de 1930. Não tanto por opção, mas devido a desentendimentos com a pessoa com quem editava o “Príncipe Valente”. Por isso, a “vida como editor tornou-se mais difícil, pois depressa constatei que nenhuma outra banda desenhada das que me interessam vendia como a de Foster”. No entanto, tem “sobrevivido e apesar de a nível económico ser mais tranquilo voltar para a escola”, onde se encontra com “licença sem vencimento” nunca se arrependeu da opção que assumiu.
A par das edições nacionais, Manuel Caldas tem editado também para o mercado espanhol. O salto foi dado “quando alguns espanhóis viram o “Príncipe Valente” em português e começaram a pedir uma edição na língua deles” Entusiasmado, decidiu avançar e as coisas acabaram por “se tornar mais fáceis quando fui contactado pela principal distribuidora espanhola de livros e revistas de BD”. Agora, afirma, “se calhar, sou o único editor português que faz edições exclusivamente para o mercado espanhol”.
Infelizmente, Espanha, onde “a venda pelo correio, através do seu site, assume proporções significativas, ao contrário de Portugal”, “não é um mercado tão grande como se pensa”, mas tem contribuído para garantir a viabilidade económica das suas edições.
Edições cuja qualidade e fidelidade aos originais tem sido amplamente elogiada, pelo que não surpreende que, só este ano, tenha colaborado com a editora norte-americana Classic Comics Press na preparação do primeiro volume das tiras diárias de “Cisco Kid” - que vai lançar em breve em edição própria no mercado espanhol –, vendido a sua versão restaurada de “Lance“ a “editores da Alemanha e da Noruega, estando já nas livrarias a edição alemã”, estando de pé a hipótese de a vender para os Estados Unidos, e esteja a preparar três volumes do Príncipe Valente encomendados por um editor do Uruguai!
O que distingue as edições de Manuel Caldas de outras similares, é a paixão, a paciência, o trabalho artesanal, as muitas horas gastas no restauro de cada página – 20 ou 30 horas, nalguns casos - , na obsessão de “devolver às imagens a pureza original, de melhorar tudo o que sou capaz de melhorar, mesmo pormenores que só se verão com lupa”. Mas, garante, “já decidi que depois de concluir o restauro do “Lance” não mais voltarei a fazer restauros tão profundos. Mas também por vezes me interrogo se conseguirei cumprir tal decisão…”
Para conseguir os seus objectivos, na impossibilidade de utilizar pranchas originais, geralmente inexistentes, recorre às páginas de jornais da época, “umas compradas pela internet, outras emprestadas por coleccionadores estrangeiros, outras obtidas digitalizadas”.
Depois, trabalha obsessivamente, limpa os defeitos de impressão, remove as cores se a edição for a preto e branco ou restaura-as quando são coloridas, utiliza o melhor de cada vinheta – chegando a utilizar quatro fontes diferentes para atingir o "traço ideal", aquele “que se vê, com precisão e sem quebras” ou seja, mostrar cada desenho tal como o autor o fez.
Com a pena de se ver obrigado “a pensar mais (ou exclusivamente) no mercado espanhol”, revela que por cumprir, tem ainda “muitos sonhos, até porque outros vão nascendo”. E sabendo que morrerá “sem os realizar todos”, não se queixa pois sente que vai passar “o resto dos dias a realizar alguns”.















(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Setembro de 2011)

22/09/2011

Júlio Resende (1917-2011)

A obra aos quadradinhos
Júlio Resende, um dos grandes pintores portugueses contemporâneos, de obra (re)conhecida, faleceu ontem e vai ser muito falado por estes dias. Aqui, nas minhas Leituras, quero evocar uma faceta menos conhecida da sua obra, as histórias aos quadradinhos que fizeram parte do seu percurso artístico durante quase duas décadas.
A sua estreia no género deu-se nas páginas do Jornal de Notícias, a 26 de Fevereiro de 1933, no suplemento infantil “Para os Pequeninos”, contava o futuro mestre 17 anos. No mesmo espaço, aliás, fizera a sua estreia impressa, dois anos antes, em 25 de Dezembro.
Nos anos seguintes, a sua criação nesta área, já para jornais diários e semanários infantis, a par da produção de desenhos publicitários, intensificou-se, em boa parte pela necessidade de fazer dinheiro para ajudar a pagar o seu curso na Escola de Belas-Artes do Porto.
Tendo passado, de forma breve pelo “Tic-tac”, estreou-se nas páginas de “O Papagaio” no final de 1935 com “Coisas que Acontecem”, BD humorística que foi também a primeira colaboração com o irmão, António Resende Dias, que escreveria muitos dos argumentos que desenhou. Naquela revista, onde Tintin se estreou em Portugal e em cujos programas radiofónicos participou como animador, tanto assinou Júlio Resende como Júlio Rezende, só Resende, J.R. ou Dyas, tendo publicado mais de três de dezenas de histórias aos quadradinhos, curtas ou em continuação. Entre elas uma adaptação de Robinson Crusoé, num estilo semi-realista, e a história completa publicada numa separata no número especial de Natal de 1938, que faz dele um dos mais raros do papagaio.
É no entanto o humor que marca a maior parte das suas criações, que na maior parte dos casos continuam a ler-se com bastante agrado nos nossos dias, destacando-se as diversas aventuras de Freitas e Arrepiado, protagonistas, nos mais diversos géneros, de títulos como “Volta ao Mundo numa banheira”, “Arrepiado e Freitas cow-boys” ou “À Procura da Goma Arábica”.
Outra das suas criações mais celebradas aos quadradinhos é a dupla Matulinho e Matulão, protagonistas de peripécias e desgraças nas páginas de O Primeiro de Janeiro, entre 1942 e 1952.
Na sua base estão as birras do miúdo, mimado e caprichoso, que faz a vida negra ao seu paciente padrinho até ele lhe satisfazer as mínimas vontades. O grafismo de Júlio Resende nesta fase é bem mais depurado, como bem ilustra a figura do miúdo, cuja “cabeça e o chapéu à marujo” formam “progressivamente uma unidade indissociável, que lembra uma paleta de pintor”, como escrevem João Paulo Paiva Boléo e Carlos Bandeiras Pinheiro no catálogo “Das Conferências do Casino à Filosofia de Ponta”.
Naquele jornal, Júlio Resende colaborou também com desenhos infantis, cartoons e construções de armar e ilustrou os célebres calendários de Matulinho e Matulão, que sobreviveram às bandas desenhadas e duraram até aos anos 70.



(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 22 de Setembro de 2011)

21/09/2011

CBD 2011 (II)

1as Conferências de Banda Desenhada em Portugal

Programa

Dia 22 de Setembro, Quinta-Feira
9h30
Apresentação das Conferências e Convidados
Discursos dos convidados internacionais
David Kunzle, “Rodolphe Töpffer, Diletante” (em língua inglesa)
Thierry Groensteen, “Patchwork de estilos: o fim do dogma da homogeneidade gráfica” (em língua francesa)

11h30
Intervalo

11h50
1ª Parte das apresentações: O Artefacto Literário
Maria Cristina Álvares, “A figura do herói na bd franco-belga clássica”
Daniel Seabra Lopes, “Na margem da aventura: Pratt”
Alexandra Dias, “O Diário de K. e a Intertextualidade”

13h00
Pausa para almoço

14h30
2ª Parte das apresentações: Disciplina e Indisciplina
Cláudia Pinto, “Marvels e Kingdom Come: A Re-Mitificação da América”
José Marmeleira, “Vãs epifanias: rock e banda desenhada”
Helena Berardo, “Uma leitura feminista de O Vagabundo dos Limbos”

15h50
Intervalo

16h10
Mesa-redonda: Grupo de Investigação de Banda Desenhada

Dia 23 de Setembro, Sexta-Feira
10h00
3ª Parte das apresentações: Lógicas de Território
Sara Figueiredo Costa, “Castelao e o galeguismo”
Nuno Marques, “In The Shadow of No Towers e M-11 La Novela Grafica como momentos de silêncio entre o ruído da tragédia”
João Miguel Lameiras, “Era uma vez na Argentina: entre o esquecimento e a memória”

11h00
Intervalo

11h20
4ª Parte das apresentações: Ciência e Banda Desenhada
João Ramalho Santos, “Ciência e Banda Desenhada”
João Mascarenhas, “Tintin, a aventura na Lua, o conhecimento científico e a bd”

12h00
Pausa para almoço

14h00
5ª Parte das apresentações: Autores Portugueses
João Caetano, “Lugares de Fronteira: Carlos Alberto Santos”
Conceição Pereira, “Arte fragmentada (José Carlos Fernandes)”
Álvaro Matos, “Política e bd na I República”

15h00
Intervalo

15h20
6ª Parte das apresentações: Limites e Experimentação
Pedro Moura, “Elementos estéticos em The Cage, de Martin Vaughn-James”
Diniz Conefrey, “Percepção narrativa no advento da bd abstracta”
Domingos Isabelinho, “A banda desenhada portuguesa no campo alargado: do O Escritor a A História Dramática de um Ovo”

16h40
Encerramento das Conferências

A entrada é livre.

20/09/2011

Sept Personnages

Fred Duval (argumento)Florento Calvez (desenho)
Delcourt (França, 31 de Agosto de 2011)
230 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
14,95 €

O projecto Sept
Conceito desenvolvido pelo argumentista David Chauvel, este projecto, nascido em 2007, assentava no seguinte mote: “sete histórias, sete missões de alto risco, sete equipas de sete elementos dispostas a serem bem sucedidas!
Escritos por sete argumentistas e desenhados por sete desenhadores, nasceram assim “Sept voleurs”, “Sept Guerrières”, “Sept Missionaires”, “Sept Pirates”. “Sept Prisionniers” e “Sept Psychopates” e“Sept Yazukas”.
O sucesso da série, deu origem a nova “temporada”, que leva já três títulos publicados: “Sept Clones”, “Sept Survivants” e este “Sept Personnages”.

Resumo
Sete personagens emblemáticas criadas por Molière – Agnès, Alceste, Argan, Scapin, Harpagon, Don Juan e Tartuffe - investigação as razões da sua morte.

Desenvolvimento
Este é um álbum diferente, quer considerado individualmente, quer no conjunto da colecção em que está inserido, pela abordagem original de Duval, que escolheu como protagonistas personagens de ficção criadas por Molière, incluindo mesmo um Don Juan arrancado às chamas do Inferno (ou não…), o que confere à narrativa um insuspeitado toque de fantástico. Mantendo as características de cada uma e mantendo-as no seu tempo e no seu contexto histórico, mas fazendo delas actores de um relato em que o tom oscila entre o policial e o conspirativo, para descobrirem quem envenenou o dramaturgo e porquê.
O texto, recheado de citações e referências, históricas e da literatura à pintura, mas com vida própria para além delas, é estimulante e está bem escrito, conseguindo cativar e surpreender o leitor mas também diverti-lo.
Teria ganho, sem dúvida, com um desenhador mais desenvolto que Calvez, que apresenta personagens demasiado rígidas, algumas dificuldades nas proporções e falta de dinamismo gráfico, embora seja de assinalar a planificação diversificada que serve de base ao seu traço.

A reter
- A originalidade da ideia e a forma como Duval a desenvolve.

Menos conseguido
- O traço de Calvez, a necessitar de ganhar maturidade e desenvoltura.

18/09/2011

Selos & Quadradinhos (63)

Stamps & Comics / Timbres & BD (63)
Tema/subject/sujet: Pokémon
País/country/pays: São Vicente e Granadinas
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2001
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