
Delcourt (França, Maio de 2001)
228 x 320 mm, 48 p., pb + cor, cartonado
Em "Le Dessin" tudo começa num cemitério, numa banal cena de um funeral. Banal, inevitável, mas custosa - são sempre difíceis os funerais. Neste, quem sofre é Émile, um pintor, pois o seu grande amigo, Édouard, deixou-o. Só. Sem os "passeios discursivos sobre o sentido da arte", sem "as controvérsias insensatas sobre as qualidades comparadas do mistério e do enigma"... Solidão que Marc-Antoine Mathieu retrata admiravelmente através das pinturas de Émile, no início de uma história, num preto e branco sóbrio mas marcante - às vezes opressivo - sobre presença e ausência.
Ausência mais presente quando a chegada de uma carta de Édouard surpreende Émile.

E a reflexão que Émile faz sobre o desenho, torna-se quase em obsessão. Por isso, recordado do gosto que o amigo tinha pelos enigmas, começa a analisá-lo ao pormenor, cada vez mais meticulosamente, reproduzindo - reflectindo - cada milímetro do desenho nos seus próprios quadros, numa busca incessante, iniciática, que se transforma na essência da sua existência, na sua única razão de ser, de viver, no seu destino, em que arte e vida se unem numa só realidade.

Curiosidade
O álbum está divido em três capítulos - Le Dessin (O desenho), Le Destin (O destino), Le Dessein (O Desígnio) – cuja sonoridade é muito semelhante no original francês.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Janeiro de 2002)
Estupendo texto analítico. Parabéns.
ResponderEliminarGL
Olá Lino,
ResponderEliminarSeja bem aparecido por aqui! Obrigado pelo elogio...
Abraço!