Tony Sandoval (desenho)
Paquet (Suíça, Janeiro de 2010)
240 x 320 mm, 96 p., cor, cartonado
Desenvolvimento
Este é um álbum estranho.
À partida – até pelo traço de Sandoval – tudo parece indicar (mais) uma narrativa sobre crianças traquinas. No entanto, ao fim de uma mão cheia de páginas, tudo começa a mudar, quando Pepeto, o (pequeno) protagonista, 11 anos apenas, no momento em que está prestes a pregar mais uma partida, fica com o olhar preso numa imagem de um (também) pequeno Jesus, que aparentemente se moveu e lhe acenou… Seguindo em direcção a ele, acaba por mergulhar na parede. Melhor, dentro de… si próprio, dos seus medos e desejos, dos seus temores e sonhos, das suas memórias e recordações, dando inicio a um conto insólito em que imperam o onírico, o surreal e o imprevisível…
Inicia-se assim um conto recheado de metáforas, que avança e recua, aparentemente sem fio condutor pré-estabelecido, com grandes contrastes e desequilíbrios entre as diversas sequências, que podem passar do vazio completo a verdadeiras emoções. E que vão levando Pepeto pelos mais diversos cenários, confrontando-o com feras, personagens estranhos, animais ou belas meninas, numa sucessão de acontecimentos que o hão-de trazer de novo ao ponto de partida – mais crescido? mais maduro? mais triste? mais revoltado? - onde, finalmente, nos é explicada a razão para o seu delírio (deixem escrever assim, para melhor concretizar a impressão que o álbum me deixou, sem desvendar mais do que o necessário sobre ele). O que obriga a uma releitura, à luz da nova informação recebida, para interpretar pistas que deixamos passar, descobrir novas e tentar encaixar todas as peças deste imenso puzzle.
O traço de Sandoval acaba por ser, apesar de tudo, o motivo de maior interesse deste belo livro (enquanto objecto), revelando para quem não o conhece um excelente ilustrador e colorista, com cada vinheta, cada tira, cada página, a transbordar de poesia, movimento e expressividade, sucedendo-se os exemplos de belas imagens e sequências plenamente conseguidas, que o tamanho do álbum ajuda a realçar.
A reter
- O traço de Sandoval, agradável, dinâmico, expressivo, que consegue ser doce, violento, cruel ou belo, consoante os requisitos da história, e traduzir os incómodos sentimentos de perda e abandono experimentados por Pepeto.
- O argumento, apesar dos senãos apontados, por nos obrigar a reflectir sobre as nossas próprias feridas interiores.
Menos conseguido
- Os desequilíbrios da narrativa.
Curiosidades
- Pierre Paquet é o editor das Éditions Paquet e esta não é a sua primeira incursão como argumentista de BD.
- Este álbum está inserido na Collection Blandrice onde também foi publicado originalmente o “Merci. Patron”, do português Rui Lacas.
Este é um álbum estranho.
À partida – até pelo traço de Sandoval – tudo parece indicar (mais) uma narrativa sobre crianças traquinas. No entanto, ao fim de uma mão cheia de páginas, tudo começa a mudar, quando Pepeto, o (pequeno) protagonista, 11 anos apenas, no momento em que está prestes a pregar mais uma partida, fica com o olhar preso numa imagem de um (também) pequeno Jesus, que aparentemente se moveu e lhe acenou… Seguindo em direcção a ele, acaba por mergulhar na parede. Melhor, dentro de… si próprio, dos seus medos e desejos, dos seus temores e sonhos, das suas memórias e recordações, dando inicio a um conto insólito em que imperam o onírico, o surreal e o imprevisível…
Inicia-se assim um conto recheado de metáforas, que avança e recua, aparentemente sem fio condutor pré-estabelecido, com grandes contrastes e desequilíbrios entre as diversas sequências, que podem passar do vazio completo a verdadeiras emoções. E que vão levando Pepeto pelos mais diversos cenários, confrontando-o com feras, personagens estranhos, animais ou belas meninas, numa sucessão de acontecimentos que o hão-de trazer de novo ao ponto de partida – mais crescido? mais maduro? mais triste? mais revoltado? - onde, finalmente, nos é explicada a razão para o seu delírio (deixem escrever assim, para melhor concretizar a impressão que o álbum me deixou, sem desvendar mais do que o necessário sobre ele). O que obriga a uma releitura, à luz da nova informação recebida, para interpretar pistas que deixamos passar, descobrir novas e tentar encaixar todas as peças deste imenso puzzle.
O traço de Sandoval acaba por ser, apesar de tudo, o motivo de maior interesse deste belo livro (enquanto objecto), revelando para quem não o conhece um excelente ilustrador e colorista, com cada vinheta, cada tira, cada página, a transbordar de poesia, movimento e expressividade, sucedendo-se os exemplos de belas imagens e sequências plenamente conseguidas, que o tamanho do álbum ajuda a realçar.
A reter
- O traço de Sandoval, agradável, dinâmico, expressivo, que consegue ser doce, violento, cruel ou belo, consoante os requisitos da história, e traduzir os incómodos sentimentos de perda e abandono experimentados por Pepeto.
- O argumento, apesar dos senãos apontados, por nos obrigar a reflectir sobre as nossas próprias feridas interiores.
Menos conseguido
- Os desequilíbrios da narrativa.
Curiosidades
- Pierre Paquet é o editor das Éditions Paquet e esta não é a sua primeira incursão como argumentista de BD.
- Este álbum está inserido na Collection Blandrice onde também foi publicado originalmente o “Merci. Patron”, do português Rui Lacas.
Sem comentários:
Enviar um comentário