Davi Fazzolari (argumento)
Eloar Guazzelli (desenho)
Editora Saraiva (Brasil, Abril de 2011)
180 x 270 mm, 80 p., cor, brochada
R$ 34,90
Este álbum, publicado há poucas semanas no Brasil, adapta em banda desenhada alguns poemas do mais famoso poeta português e dos seus heterónimos, tendo o intuito de “conduzir o jovem leitor à obra intrincada e complexa desse escritor maior da língua portuguesa”. Por isso, o livro é apresentado como um pretexto para “novas viagens para novos viajantes ou para velhos marinheiros saudosos dos atracadouros do Tejo, sedentos por revisitar Lisboa”.
Por isso, também, ao longo das 80 páginas da edição e das bandas desenhadas que as preenchem – Interlúdio Lisboeta I, A Tabacaria Fora de Mim, Interlúdio Lisboeta II, O Desassossego de Bernardo, Interlúdio Lisboeta III, O Pastor de Almas, Interlúdio Lisboeta IV - é a capital portuguesa que surge como personagem principal da obra, dotada da sua luminosidade própria, enquanto a sua marginal, as suas avenidas, ruas e becos são percorridos em tom de passeio e descoberta, ao “som” dos versos de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Bernardo Soares.
Aliás, apesar de os versos originais serem integralmente transcritos, as pranchas são leves, o traço respira à vontade, o próprio texto escrito é, nalguns casos, apenas mais um elemento gráfico que contribui para a leitura e a fruição do todo. Guazzelli tem neste aspecto uma responsabilidade decisiva graças ao seu traço depurado, servido por cores luminosas, lisas e claras – apenas cinzentos quando a narrativa assim o pede – que recriam e reproduzem o ambiente, a atmosfera e a luz lisboeta.
Este álbum, da responsabilidade da Editora Saraiva, é o primeiro de uma nova colecção, dedicada a adaptações aos quadradinhos de obras literárias, um género muito em voga actualmente no Brasil, com muitos destes títulos a serem incluídos na listagem governamental de incentivo à leitura junto das gerações mais jovens.
Os seus autores são Davi Fazzolari, professor de língua portuguesa e mestre em Literatura pela Universidade de São Paulo, responsável pelo argumento, e o desenhador Eloar Guazzelli, que anteriormente já adaptara obras como “O pagador de promessas”, de Dias Gomes, “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães, e “Demônios em quadrinhos”, de Aluísio Azevedo.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 1 de Maio de 2011)
Pranchas muito bonitas. Como sempre, os brasileiros muito atentos ao que é de Fernando Pessoa...
ResponderEliminarAss: Lei Seca
Caro anónimo,
ResponderEliminarSim, o trabalho do Guazzelli graficamente está muito bem conseguido.
E sim, os brasileiros estão atentos ao Pessoa e também aos seus próprios escritores. Actualmente são muitas as adaptações aos quadradinhos de obras de literatura brasileira, muitas delas muito bem conseguidas...
Um exemplo que poderia ser seguido no nosso país...
Abraço!