Volume 3 (de 4)
Libri Impressi (Portugal, Julho de 2011)
235 x 335 mm, 88 p., cor e pb, brochado com badanas
26,50 €
Resumo
Terceiro dos quatro tomos previstos com a reedição integral de Lance, um western criado por Warren Tufts na década de 1950.
Desenvolvimento
Há dias, num site francês, num comentário a um artigo eram criticados os magníficos integrais francófonos – várias vezes referenciados aqui em As Leituras do Pedro - em que têm sido recuperadas obras desde os anos 1940, considerando-os um artifício de marketing para aproveitar os “últimos estertores” da geração que na infância e adolescência leu Jerry Spring, Buck Danny, Gil Jourdan ou Johan et Pirlouit, entre muitos outros.
Em resposta a esse comentário, alguém – acertadamente - contestava que obras como as citadas terão sempre público.
É óbvio que quem assim respondeu tem a noção exacta do que é um “clássico” – não apenas algo antigo (o que significa velho, ultrapassado, para alguns) – mas algo intemporal que, pelas suas características intrínsecas proporcionará sempre prazer e descoberta em cada nova (re)leitura (audição, visualização…).
De certa forma, é o caso deste Lance, uma das paixões de Manuel Caldas. Não de forma tão absoluta – se esta é uma “classificação” possível – como, por exemplo, o “seu” Príncipe Valente, mas uma obra intemporal, que se (re)lê com evidente prazer – e proveito – mais a mais tratando-se de (mais) uma (soberba) edição como esta.
Porque, sendo, na sua base, um western, é um western atípico, protagonizado por um soldado e não um cowboy, com menos cenas de acção do que é habitual do género. Não pelo facto em si, mas pelo que essa factor implica em termos de argumento, por onde passa uma forte componente política e militar, até porque Tufts introduz uma assinalável vertente histórica na sua ficção.
Também – mais ainda – porque Lance é um western humanista, no qual tiroteios, perseguições ou combates, mais do que procurar justiça, vingança ou glória, têm que ver com sentimentos, emoções, restabelecimento de relações. Quase sempre entre homens e mulher ou familiares.
Por isso, em vez de um pistoleiro, um xerife, um ranger, um caçador de prémios ou um cowboy solitário, os protagonistas – ao lado de Lance, por vezes em vez de Lance – são a sua bela e determinada mulher – mesmo quando cega – um bando de colonos perdidos na neve, uma índia branca, um bebé que chora – chora sempre…
As mulheres, aliás, têm um grande protagonismo em Lance. Não de armas na mão, embora as empunhem por vezes. Não como seres belos, sensuais e apetecíveis, como Valle, a esposa de Lance – outra prova da atipicidade deste western – ou a californiana Maria, embora muitas delas o sejam. Não, ainda, como seres frágeis e dependentes, constantes vítimas de raptos e maus-tratos que dêem ao herói a oportunidade de brilhar. Não. Em Lance, as mulheres surgem muitas vezes como desencadeadoras – e continuadoras – da acção ou mesmo no seu centro, como verdadeiras mulheres, firmes, fortes, determinadas. Humanas. Credíveis. Preponderantes, quase sempre, sejam protagonistas de primeiro plano ou quase anónimas, como a mãe do bebé já citado. Por elas, por causa delas, também, Lance é às vezes mais espectador do que actor, mais seguidor do que comandante.
Os episódios narrados, mesmo quando há perseguições, tiroteios ou combates, mesmo quando se articulam com a realidade histórica – como no caso da Guerra dos Estados Unidos com o México pela posse da Califórnia, que será mostrada no último tomo de Lance – têm mais ponderação do que acção, mais diálogos – ou pensamento – do que movimento…
Em Lance, ainda – também – a Natureza – selvagem, imparcial, poderosa, dominadora – tem um papel fundamental. Não é apenas simples cenário – se é que podemos apelidar de simples as paisagens que Tufts traça com belas e intensas cores, de forma marcante e impressionista, em profunda calmaria ou assolada pelos elementos – mas, muitas vezes, decisora dos destinos daqueles que a ousaram afrontar, indiferente às suas razões, nacionalidade, idade, condição social.
Por isto, tudo isto – por mais do que isto, que aconselho cada um a descobrir - Lance é um clássico que merece ter sido (re)editado, cuja leitura se justifica.
A reter
- A composição de tantas pranchas, vigorosas, fortes, dinâmicas, de traço ágil, seguro e de cores intensas e belas.
- O tom humanista do relato.
- A dinâmica da narrativa, apesar de assentar em vinhetas com texto escrito por baixo, embora esta característica vá desaparecendo progressivamente ao longo deste volume.
- A qualidade da edição, assente numa restauração (quase) obsessiva dos traços e cores originais obtida a partir de várias reproduções, que chega ao pormenor de indicar “defeitos” originais e de repetir uma prancha que entretanto foi possível reproduzir melhor…
Menos conseguido
- … mas que falha redondamente na “legenda” solta no centro da prancha 182.
Curiosidade
- Neste tomo termina a reprodução das tiras diárias que durante algum tempo conviveram com as pranchas dominicais em que Lance se iniciou.
Urgente
- Dadas as fracas vendas – vá-se lá saber porquê… – dos dois tomos iniciais, que se devem repetir neste, para garantir a edição do quarto e último tomo (já em preparação), Manuel Caldas pede que este tomo lhe seja directamente adquirido – o que garante ao comprador portes gratuitos e um magnífico poster gigante com a reprodução de uma prancha no seu formato original e ao editor não perder a (grossa) fatia que a distribuição devora - e que seja feita uma “pré-subscrição” do volume 4. Para o efeito, fica o contacto: mcaldas59apo.pt
Eu ainda só adquiri o primeiro tomo, mas quero ver se compro os outros dois que já saíram, pois sou fã da arte de Tufts, desde o tempo em que a conheci pela primeira vez no Mundo de Aventuras. E concordo, de facto, Lance é intemporal!
ResponderEliminarBoa tarde João,
ResponderEliminarVale bem a pena comprá-los, pois esta edição - obviamente - é bem melhor do que a do velhinho Mundo de Aventuras onde eu também descobri o Lance... e muitas outras bandas dxesenhadas que me marcaram bastante!
Boas leituras!
Obviamente comprarei esta série toda directa ao Manuel Caldas. Estive o fim de semana passado quase a comprar o tomo nº1, mas decidi esperar pelo fim do mês...
ResponderEliminarAinda bem que fizeste o post, porque assim irei encomendando directamente.
;)
Abraço
Olá Bongop,
ResponderEliminarÉ o que fazes melhor!
Dás um contributo maior ao editor, que não perde a (grossa) fatia que normalmente entrega ao distribuidor, e ainda recebes uns fantásticos posters com a reprodução de pranchas!
Boas leituras!