João Mascarenhas
Qual Albatroz (Portugal, Novembro de 2011)
215 x 305 mm, 48 p., pb, cartonado
10,00 €
1.
Demasiado (?) elogiada por alguns, a autobiografia
- também aos quadradinhos – tem que cumprir (pelo) menos um de dois
pressupostos para ser interessante:
2.
O autor fez/viveu coisas interessantes ou…
3.
O autor conta o que viveu de forma interessante.
4.
(Há ainda – caso ideal! - a conjugação dos dois
aspectos, quando o autor conta de forma interessante, algo interessante que fez/viveu).
5.
Em O Menino Triste – Punk Redux, João
Mascarenhas recorda a sua primeira vista a Londres, no Verão de 1976, estava o
movimento punk a dar os primeiros passos, o que faz dela uma BD que pode ser
catalogada na categoria do autobiográfico…
6.
… mesmo que ao tom recordatório evidente,
Mascarenhas acrescente igualmente momentos ficcionais e uma forte componente
documental…
7.
… sendo que este último ponto transforma este
álbum num caso único entre nós.
8.
A sua base, é evidente, são as memórias de
Mascarenhas, aquilo que ele viveu durante um Verão em Londres…
9.
… mas o seu propósito vai mais além, pois
pretende evocar as bases e princípios do movimento punk.
10. De
forma empenhada e militante, é evidente – e não me parece que haja qualquer mal
nisso – pois João Mascarenhas viveu de forma intensa, embora curta, aquele
momento único, mas também com bastante lucidez, traçando uma imagem bastante
nítida do que levou tantos jovens de então a desafiar – pela forma de vestir,
sim, mas principalmente por palavras, atitudes e ideias – o conformismo, o
cinzentismo, a falta de saídas, então existentes
11. (E
que em muitas questões não estão longe – ou estarão longe apenas pela dimensão mais
global dos problemas – das que afectam os jovens europeus de hoje).
12. A
par disso, Mascarenhas, estabelece um paralelo com a situação – antagónica ou
similar…? – que se vivia então em Portugal, na sequência da revolução de Abril.
13. Se
tudo isto já era suficiente para justificar a leitura desta nova vivência de O
Menino Triste, Mascarenhas acrescenta-lhe mais um aspecto: a qualidade da sua
narração.
14. Em
que, sem o desvirtuar, adequa o seu grafismo – geralmente limpo e claro, aqui
mais duro, sujo e pesado – a linguagem utilizada (bem próxima do vernáculo que
o punk utilizou) e a própria concepção das pranchas, com vinhetas de contornos
recortados, por vezes atravessadas por alfinetes ou fora da esquadria que
tradicionalmente os quadradinhos seguem.
15. Para
além disso, distribui pelo relato referências, homenagens e piscares de olho,
não só ao punk e aos seus símbolos exteriores mais visíveis, mas também a
Portugal, a músicos portugueses e à própria banda desenhada, que justificam uma
segunda leitura, mais atenta a eles do que à narrativa em si.
16. Posto
isto, se este texto fica por aqui, após a leitura (ou antes dela?) de Punk Redux,
aconselho vivamente a (re)leitura da entrevista com João Mascarenhas ontem aqui publicada, como
complemento útil – e interessante – deste - interessante - pedaço de vida que
ele conta - de forma interessante.
Banda
sonora aconselhada
- Anarchy in the U.K. – Sex Pistols
- God Save the Queen – Sex Pistols
- Should I stay or should I go –
Clash
- Bored Teenagers – The Adverts
- How much longer – Alternative TV
- Pay to Cum – Bad Brains
- Boredom – Buzzcocks
- Forces of Victory – Linton Kwesi
Johnson
- Hong Kong Garden – Siouxsie and
the Banshees
- Denis – Blondie
- New rose – The Damned
- Do anything you wanna do – Eddy
and the Hot Rods
- If the kids are united – Sham 69
- Blitzkrieg Bop – The Ramones
- Don’t worry about the government –
Talking Heads
A música dos Ramones se chama "Blitzkrieg Bop" e não "Hey ho, let’s go".
ResponderEliminarCaro anónimo,
EliminarCorrecção efectuada, obrigado!
Boas leituras... musicais!