Julie Birmant (argumento)
Clément Oubrerie (desenho)
Dargaud (França, 27 de Janeiro de 2012)
225 x 300 mm, 86 p., cor, cartonado
Resumo
Primeiro de quatro tomos de uma biografia ficcionada de
Pablo Picasso, aborda o período desde a chegada do pintor a Paris, em 1900, até
ao encontro com a sua futura musa, Fernande Olivier, em 1904.
Desenvolvimento
É essa mesma Fernande, modelo de Picasso em dezenas de
obras, que nos conta a vida do célebre pintor espanhol, um prodígio que entrou
em Belas-Artes aos 14 anos, num longo recuo no tempo que nos leva a 1900,
aquando da chegada a Paris de Pablo Picasso e Carlés Casagemas, ainda nem 20
anos completos, não só para visitarem a Exposição Universal mas também para
descobrirem a vida artística (e a boémia que lhe está associada) da capital
francesa, cujo centro efervescente era o bairro de Monmartre.
Por isso, esta começa por ser uma obra de deslumbramento e descoberta
de um mundo e uma forma de vida novos e palpitantes, que Birmant nos vai
narrando à maneira dos grandes folhetins romanceados do início do século
passado, enquanto vai introduzindo aqueles com quem o mestre espanhol se foi
cruzando: Germaine, a paixão de Casagemas por quem ele se suicidou; o poeta Max
Jacob, apaixonado por Pablo, que o iniciará na obra de Rimbaud e Baudelaire,
levando-o a pintar para se exprimir em lugar de pretender agradar ou seguir a
outros; Fernande, mulher vítima do seu tempo em busca da sua própria afirmação,
cujo protagonismo neste livro se equipara ao de Picasso.
A narrativa, em que a loucura reinante e as paixões à solta contrastam
com o tom intimista e o forte retrato psicológico dos intervenientes, decorre
em ritmo moderado, dando tempo ao leitor para assimilar a rede de ligações e
relações – nem sempre pacíficas, muitas vezes tensas - que se vai estabelecendo,
mas também para admirar o processo criativo dos artistas e ver como vão sendo lançadas
as bases da (futura) arte moderna.
Para isso, contribui o estilo de Clément Oubrerie, naif, muito
ágil e dinâmico, aqui e ali com pormenores ou composições de página inteira que
obrigam os olhos a demorar-se no desenho, com que traça um retrato fiel, vivo e
expressivo de uma época e uma forma de vida, movidas pela paixão e a procura do
ideal.
E se Pablo é uma história - fascinante - sobre relações
humanas, é igualmente uma obra – de grande originalidade - sobre a urgência
criativa, a procura (quase obsessiva) da verdade da e na arte, sem limites,
concessões nem tabus, em que violência e crueldade andam de mão dada com
ternura e paixão.
A reter
- O equilíbrio entre o tom folhetinesco da obra, a narrativa
na primeira pessoa, o mundo artístico descrito e o traço de Oubrerie.
- Se abrir um livro novo é sempre um prazer, numa obra como
esta que tem a pintura como base, o cheiro a tinta fresca tem um significado especial
e acrescenta uma outra dimensão à leitura.
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