Realização: Andrew Stanton
Intérpretes: Taylor Kitsch, Lynn Collins, Samantha Morton, Willem Dafoe, Thomas Hadden Church, Mark Strong, Bryan Cranston, David Schwimmer, Jon Favroeau
Duração: 132 minutos
Distribuição: ZON Lusomundo
John Carter: A Princess of Mars #1 a #5
Roger Langridge (argumento)
Filipe Andrade (desenho)
Marvel Comics (EUA, Novembro de 2011 a Matrço de 2012)
170 x 260 mm, 32 p., cor, comic-book
$ 2,99 US
Estreia
hoje nos cinemas portuguesas o filme John Carter, inspirado no romance Under
the Moons of Mars, da autoria de Edgar Rice Burroughs, publicado em 1912.
Esta
estreia, acontece em simultâneo com a publicação do último dos 5 números da
mini-série “John Carter: A Princess of Mars”, que o português Filipe Andrade
desenhou para a Marvel a partir de um argumento de Roger Langridge, que de
alguma forma serviu para recordar o universo fantástico que Burroughs,
igualmente criador de Tarzan, desenvolveu ao longo de 10 romances.
Na
base da história, que se inicia após o fim da Guerra da Secessão
norte-americana, está o capitão John Carter que, perseguido por índios tem que
se refugiar numa caverna de onde – de forma díspar na BD e no filme – acaba por
ser transportado para o planeta Marte (cujos habitantes chamam Barsoom).
Aí,
começa por descobrir que as suas capacidades físicas foram extraordinariamente
aumentadas devido à diferença de gravidade, ao mesmo tempo que vai conhecendo as
diversas civilizações marcianas que caminham em passo acelerado para a
extinção, num planeta árido e quase deserto onde as raras cidades ainda
existentes pouco mais são do que sombras de um passado glorioso.
Capturado
primeiro pelos Tharks, gigantes verdes com cerca de 3 metros de altura e dois
pares de braços, Carter acaba por conhecer a bela Dejah Thoris, princesa de
Hellium, por quem se apaixona e a quem vai ajudar na sua luta pela libertação e
preservação do planeta.
Se
é a primeira vez que o cinema se ocupa desta obra de Burroughs – depois de uma
tentativa em 1966, frustrada pelos custos envolvidos – este herói já vive
aventuras nos quadradinhos desde 1939, primeiro no formato comic-book, depois nos
jornais, onde chegou a ser desenhado por John Coleman Burroughs, filho do
romancista.
Na
banda desenhada, ao longo dos anos sucederam-se as adaptações e aventuras
originais, umas mais conseguidas do que outras – incluindo uma estranha derivação
que juntava três criações de Burroughs: John Carter, Tarzan e os heróis de
Pellucidar (um mundo interior terrestre ainda habitado por dinossauros) – onde
se podem encontrar as assinaturas de Gray Morrow, Jesse Marsh, Al Williamson ou
Murphy Anderson, enre outros. A versão desenhada por último foi publicada em
Portugal no Mundo de Aventuras, em 1974/1975 e, posteriormente, em álbum pela
Agência Portuguesa de Revistas.
Se
o ponto de partida – e o de chegada também - é o mesmo para as duas versões
hoje em análise, a forma como desenvolvem as respectivas histórias, os locais
em que a acção decorre e as personagens que exploram apresentam diferenças
significativas - o que só abona a favor da imaginação de Burroughs - devendo,
por isso, ser visto/lido mais como criações complementares do que como a mesma
versão em suportes diferentes.
À
BD, assente em tons bastante sombrios e onde eventualmente poderia haver cenas
com cores mais fortes, apesar de menos pormenorizada, há que reconhecer um
ritmo mais elevado, graças também ao facto de entrar directamente na trama,
utilizando depois sucessivos flashbacks para contar o passado terrestre de
Carter. A narrativa é bem explanada pelo traço esguio e anguloso de Andrade,
como habitualmente muito dinâmico embora não muito detalhado, e assenta
especialmente nos diálogos entre as personagens e nos combates individuais
individuais, em detrimento de cenas de conjunto mais espectaculares ou de
grandes combates aéreos.
No
filme, que actualiza (e bem) alguns dos conceitos originais, criados há já 100
anos – como é o caso da questão das deslocações entre a Terra e Marte - depois
de uma introdução algo longa e com pouco ritmo, que narra os antecedentes
terrestres do protagonista, com a chegada a Marte, o filme ganha ritmo e
consegue então prender o espectador, apesar das duas horas e pouco que dura.
Comum
ao traço de Andrade e ao grafismo do filme são os corpos longos e esguios dos
Tharks e os seus longos dentes (presas?), muito bem utilizados numa cena em que
um rival afronta Tars Tarkas, que combinam bem com a decadência que reina em
Barsoom.
O
mesmo já não se pode dizer das naves espaciais que os diversos povos índigenas
utilizam pois, apesar de visual e aerodinamicamente interessantes - claramente
inspiradas em insectos voadores – se apresentam demasiado frágeis e pouco
credíveis no contexto de decadência já citado, mesmo enquanto herança de tempos
passados.
Mas
isto – bem como o comportamento caricatural e demasiado canino de Woola, o
monstro de estimação de John Carter – são questões menores numa película que
cumpre bem o papel de diversão assumido, no qual as imagens computorizadas e o
3D, sem deslumbrar, estão bem conseguidos e são funcionais, quer nas cenas mais
povoadas, quer para definir a profundidade das cenas em grandes espaços
abertos, contribuindo decisivamente para recriar na tela o imaginativo universo
que Burroughs criou.
Sem
brilhar intensamente mas também sem comprometer, os intérpretes sustentam bem
os seus papeis, sejam eles os seres humanos ou aqueles gerados em computador,
com destaque para os tharks cujos dois pares de braços funcionam muito bem no
filme, ao contrário do que tantas vezes tem sucedido nos quadradinhos, onde
frequentemente parecem um empecilho e um quebra-cabeças para os desenhadores.
Curiosamente,
se a Marvel já anunciou uma sequela em BD, a mini-série “John Carter: The Gods
of Mars”, por Sam Humphries (argumento) e Ramón Pérez (desenho) já para este
mês, a Disney, que foi comedida na promoção do filme, tem-se mostrado mais
discreta quanto a uma continuação, apesar do elevado investimento feito (cerca
de 250 milhões de dólares), o que não deixa de ser algo surpreendente. Ou
talvez não, porque os primeiros resultados não foram animadores, tendo o filme
arrecado apenas 30 milhões nos EYA, embora de alguma forma compensados com os
70 milhões no exterior daquele mercado.
Indiscutível
é que no universo criado por Edgar Rice Burroughs há muito mais para explorar.
Pelas amostras, Felipe Andrade é realmente um desenhista excepcional. Me lembrou em algumas coisas o Cyril Pedrosa. É interessante que a Marvel publique HQs ilustradas em traças pouco convencionais.
ResponderEliminarOlá Marcello,
ResponderEliminarSim, o Filipe Andrade é muito bom e a Marvel tem visto isso.
E para esses projectos pouco convencionais, a Marvel tem recorrido (também) a autores portugueses como o Filipe ou o Nuno Plati...
Boas leituras... portuguesas!
Ora aí estão duas coisas que aguardo com muita curiosidade. O filme e a BD. Um abraço.
ResponderEliminarOlá João,
EliminarObrigado pela visita!
E acho que ammbos valem a pena, apaesar de todas as diferença que têm...
Boas leituras... e bons filmes!