Fiz em poucos dias a releitura de Largo Winch, em modo quase
integral.
Série que Van Hamme (re)criou em BD a partir dos seus
próprios romances, embora seja à acção pura e à adrenalina ao máximo que
normalmente dá a primazia, tem o mundo da finança como pano de fundo, pois Largo
Winch é o herdeiro e director de um imenso grupo financeiro internacional.
Isso dá à série um toque diferente pois muitas vezes a acção
é desencadeada por operações financeiras – que Van Hamme explica de forma sóbria,
acessível e correcta para situar o leitor - e está ancorada em acontecimentos
(económicos) reais que marcaram o panorama financeiro mundial à data de escrita
dos álbuns (publicados desde 1990).
Apesar disso Largo, com apenas 26 anos, é um anticonformista
por natureza, que gosta de resolver (todos) os seus assuntos de forma pessoal e
que prefere viajar pelo mundo em auxílio daqueles com quem se foi cruzando na
sua juventude, raramente recorrendo às autoridades, num mundo repleto de
intrigas, traições e corrupção.
Deixando de fora apenas os
volumes 11 a 14 – dos 16 já editados em França – este regresso a um dos grandes
sucessos comerciais das últimas duas décadas no mercado franco-belga serviu
para constatar que o todo tem uma assinalável unidade, que contrabalança e
compensa largamente alguns exageros de uma banda desenhada típica de aventura e
acção.
Sempre rodeado de belas mulheres, geralmente em trajes
reduzidos – esta foi uma das séries responsáveis pelo recente embargo da Apple
à plataforma europeia de BD Izneo – embora algumas delas com participação
directa na origem das histórias ou no seu desenvolvimento, Largo tem como seu
braço direito o suíço Simon Ovronnaz, um homem de acção, ex-condenado e também
apreciador do belo sexo.
Com a acção a passar rapidamente de Wall Street para a
luxuriante selva birmanesa, das ruas de Hong Kong para a típica Veneza, de
Paris para águas internacionais, cada álbum – geralmente agrupados em dípticos
auto conclusivos – é uma sucessão de cenas em velocidade acelerada, onde as
surpresas e os volte-faces se sucedem a um ritmo implacável, deixando o leitor
sem fôlego.
Graficamente, a evolução do traço realista de Francq, que
foi ganhando em naturalidade e movimento, em detrimento de alguma rigidez
excessiva no início, tornou a série cada vez mais agradável aos olhos, para o
que também contribuem sobremaneira a conseguida paleta de belíssimas cores, a
conseguida recriação de cenários, sejam eles urbanos ou naturais e,
evidentemente, a atraente galeria feminina.
Apesar de muito maltratado em Portugal – mais um caso,
infelizmente – Largo Winch teve os três primeiros tomos editados pela Bertrand,
os volumes #5, #6 e #15 com a chancela da Gradiva e o díptico constituído pelos
episódios #7 e #8 editado num único volume na colecção Os Incontornáveis da
Banda Desenhada, da responsabilidade da Asa e do jornal Público.
E finalmente esta a sair aqui do inicio e completo.
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