Sem (ainda?) me deslumbrar, Lembra-te Jonathan..., que introduz a série que a Asa começou a publicar semanalmente com o jornal Público, à quarta-feira, agradou o suficiente para que eu queira prosseguir a
leitura no álbum seguinte.
A personagem que nos é apresentada – desde logo por um
intróito assinado por Cosey – surge aos nossos olhos como uma grande incógnita:
amnésico, recém-fugido de uma instituição psiquiátrica onde tinha sido
internado após um acidente algures nos Himalaias, procura-se a si próprio e ao
seu passado, agarrado – como um náufrago a uma tábua – a um brinco tibetano que
tem consigo e que parece balizar a atracção inexplicável que sente pelas
grandes montanhas geladas.
O avanço da narrativa é pausado e as pistas para esse
passado vão espreitando, propondo direcções, obrigando a inflexões, permitindo
juízos (que nem sempre se confirmarão) num lento percurso em que a busca
interior acompanha a deambulação pelos Himalaias e em que os fragmentos do
passado – por vezes ilusórios – são acompanhados por um tom místico e religioso
que será outra das pedras de toque de toda a série.
O desfecho, algo inesperado – com certeza ainda mais para quem
descobriu Jonathan na sua origem, em 1975 – surge como principal motivação pata
novas leituras e reforça o tom mais adulto que Jonathan assumia em oposição ao
contexto mais juvenil da revista Tintin.
O traço, também distinto, apesar de surgir aqui ainda algo
caricatural, característica que se esbaterá ao longo dos próximos relatos, até
se fixar num registo mais realista, deixa já antever as principais características
da série (e do autor), nomeadamente a paixão pelos grandes espaços abertos e
uma planificação diversificada em que, muitas vezes, as personagens surgem destacadas
em vinhetas inseridas num cenário mais amplo e grandioso que acentua a pequenez
humana face à natureza.
Lembra-te Jonathan...
Colecção Jonathan #1
Cosey
ASA/Público
Portugal, 27 de Abril de 2016
220 x 290 mm, 48 p., cor, brochada com badanas
5,50 €
Muito bem Pedro Cleto! Tenho dúvidas sobre o traço ser "caricatural", mas a próxima releitura, aí a 10ª..., dirá se sim ou se não.
ResponderEliminarCaricatural, algo incipiente, inseguro... a fazer lembrar o Buddy Longway do Derib na sua primeira história, caro RC!
ResponderEliminarBoas leituras!
Caro Pedro, falei consigo sobre o Jonathan no encontro do TEX. Descobri que além do "Peter Pan" tenho outro álbum do cosey (orchidea) do qual gostei bastante. Comprei o 1º desta coleção e concordo consigo quanto ao traço por vezes algo "caricatural". Ainda estou a decidir se continuo a coleção.Cumprimentos.
ResponderEliminarApesar das minhas criticas, comprei, e vou terminar esta colecção, ainda que no final continue incompleta.
ResponderEliminarO caricatural desaparece rápidamente. No 2 reduz bastante, no 3 e 4 quase desapareceu, no 5 nem vestígio.
ResponderEliminarAcabei de ler os 8 primeiros tomos em espanhol. Decidi fazer a série. O 2 foi o que gostei mais, por isso receomendo a quem comprou o 1. Isto apesar do 2 ser o único que tem arabescos estilisticos em volta dos quadros, o que não aprecio, mas isso é secundário.
Apesar de as histórias serem boas ou razoáveis, o melhor para mim é mesmo o desenho, não só de paisagens mas também pessoas e gestos. Muito bom.