31/01/2017

Hombre Integral

Futuro negro


“Los políticos prometieron que la crisis seria superada en breve con el sacrifício comun.”
In Hombre

Se estas palavras soam incomodamente actuais - embora tenham sido escritas há mais de 30 anos… - as suas consequências, superiormente imaginadas e traçadas por Segura e Ortiz em Hombre, são ainda mais assustadoras.
Banda desenhada de antecipação, com forte pendor humano e social, Hombre mostra um (negro) futuro pós-apocalíptico, após uma terceira guerra mundial nuclear, que destruiu todas as infra-estruturas e reduziu os sobreviventes a pouco mais do que selvagens com memórias (cada vez mais) ténues dos tempos passados.
Centradas na figura de Hombre, as narrativas podem ser divididas em dois grupos: as iniciais, a preto e branco, citadinas - pois o exército, na falta de alimentos e condições, confinou as populações a esses espaços, para aí morrerem - e as finais, já a cores, ambientadas na natureza - de tom um pouco mais esperançoso, quando surgem novas gerações que não viveram antes da guerra, não tendo por isso memórias/saudades do que não conheceram.
Retrato duro e cru de uma nova forma de estar na vida, em luta constante pelo alimento, os meios de transporte, o alojamento, as armas, as mulheres… Hombre expõe o pior do ser humano - ou mostra como o ser humano rapidamente esquece normas, hábitos e formas de convivência, quando a sua existência fica ameaçada. [Num relato que, neste ponto, tem muito em comum com The Walking Dead, criado décadas depois…]
Amoral, solitário e violento, o protagonista vai sofrer algumas mudanças ao longo das mais de 500 páginas que somam os diversos episódios soltos que constituem esta saga, acompanhando, de alguma forma, as mudanças ambientais que a série vai experimentando. Se numa primeira fase as associações pontuais têm como objectivo a sobrevivência ou a imposição pela força, posteriormente - mesmo que a contragosto declarado (mas não sincero…?) - Hombre vai aprendendo a viver (de novo) em (pequenas) sociedade(s), a amar e a deixar-se amar.
Formada por um conjunto de episódios curtos que se encadeiam e traçam um largo retrato de uma realidade extrema, Segura, com uma narrativa forte e directa, e Ortiz, com o traço vigoroso e agreste que fizeram dele um dos grandes desenhadores europeus das últimas décadas, seja no magnífico preto e branco contrastante do início, sejas nas cores vigorosas e fortes da segunda metade da obra, mostram sem rodeios nem pruridos um futuro negro, que a Evolution Comics, selo editorial da Panini, reuniu numa magnífica edição integral, altamente aconselhável para quem conheceu Hombre na sua génese ou apenas o vai descobrir agora.

Hombre Integral
Antonio Segura (argumento)
José Ortiz (desenho)
Evolution Comics
Espanha, Março de 2016
210 x 290 mm, 586 p., pb e cor, capa dura
ISBN: 9788490945186
60,00 €

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Quando vejo edições deste tipo ... só me apetece lançar um crowdfunding para edições portuguesas ... mas não tenho qualquer experiencia nestes assuntos.

    Mas se alguem estiver interessado posso ajudar ...

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  2. Um livro de BD de quase 700 páginas e de dois autores espanhois relativamente desconhecidos?
    A 60€ pelo menos?
    Creio que será preferível aprenderes a ler em espanhol (e que até não é difícil).

    E isto não um dos posts comuns a diminuir o que é português e a insençar o o que é estramgeiro.
    Limita-se a ser uma constatação de factos. :-)

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    Respostas
    1. Concordo contigo, pco69, excepto quando dizes que o Segura e o Ortiz são 'dois autores espanhóis relativamente desconhecidos'.
      São 'só' dois dos grandes nomes da BD espanhola das últimas 3 ou 4 décadas...
      Boas leituras!

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