16/01/2018

Tempos amargos

O eu e o nós






Género recorrente, em tempos recentes, na banda desenhada – e não só – a autobiografia tem tanto mais interesse em função da familariedade do leitor com o tema abordado e/ou da forma como este (lhe) é apresentado.
Dito de outra forma – mais directa – a autobiografia – sempre um exercício de auto-satisfação e, muitas vezes, também de catarse - consegue chegar ao público-alvo quando os aspectos da vida do autor são relevantes para os outros. O que nem sempre se verifica…
Tempos Amargos, um retrato amargo – isso! – de um período importante e significativo da vida de Étienne Schréder – criador, por exemplo, de O Segredo de Coimbra, e participante nalguns dos álbuns recentes de Blake e Mortimer - tem por base a dependência do álcool que o autor – antes sequer de sonhar sê-lo – viveu profundamente e o levou a perder o emprego, a família, os relacionamentos, os valores e as referências, numa descida brutal a alguns dos níveis mais baixos que o ser humano consegue atingir.
Durante anos, Schréder viveu em função do próximo copo, da próxima garrafa, em sucessivas curas e recaídas – estas assustadoramente conscientes… - e narra-o de forma crua, desabrida e sem complexos, menos como aviso à navegação do que como meio de exorcizar (os seus) fantasmas.
Se na linha do que até aqui fica escrito, aconselho vivamente a leitura do prefácio à obra escrito por João Ramalho Santos – na sua dupla abordagem a este subgénero e à narrativa em si – mais importante ainda será a leitura deste livro, graficamente diferente daquilo que conhecemos a Schréder, num preto e branco contrastante, aqui e ali indefinido e impreciso como reflexo (?) da situação vivida, e narrativamente chocante – como chocantes serão, com certeza, os casos – todos os casos – similares ou divergentes, de dependência(s) que cada um de nós conhece e que tornam mais relevante este livro.

Tempos Amargos
Étienne Schréder
Levoir
Portugal, Setembro de 2017
170 x 240 mm, 224 p., pb, capa dura
9,99 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

17 comentários:

  1. Não sabe se existe alguma coleção nova em calha na parceria Levoir/Público?

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  2. O Estranho17/1/18 11:26

    Boas, saiu ontem a notícia: a obra completa do Torpedo (1936 e 1972).

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    1. Sim, a Levoir anunciou ontem a publicação integral do Torpedo 1936, a preto e branco, em cinco álbuns de capa dura, mais um álbum com o Torpedo 1972, a cores.
      É a primeira de várias boas surpresas que a Levoir nos trará em 2018.
      E anunciou também 4 volumes de Y, o último homem, para o primeiro semestre deste ano.
      Boas leituras

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  3. quer dizer que o Torpedo vai ser publicado de forma integral......certo? os os cinco álbuns de capa dura serão histórias seleccionadas? Bom isso é muito bom. Mais uma excelente ideia e proposta. pelos vistos o ano de 2018 vai trazer-nos umas belas surpresas.....aiai a nossa carteirinha.....

    Letrée

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    1. I-n-t-e-g-r-a-l: incluíndo as 2 primeiras histórias desenhadas pelo Toth e as que foram censuradas na edição "integral", pela norte-americana IDW.

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    2. Sim, edição integral, em 5 volumes com cerca de 140 páginas cada.
      Boas leituras!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Mas 6 volumes em preto e branco já eu tenho, da Futura, com cerca de 46 páginas cada...
    Alguem sabe dizer quantas páginas terão estes volumes?
    De qualquer forma, apesar de gostar muito do Torpedo, não me estou a ver a comprar uma versão anã, quando tenho a antiga em tamanho correcto.
    Já noutras edições, como por exemplo Traço de Giz, chegamos à conclusão que é bem melhor a edição antiga que a nova.
    Infelizmente tem sido normal nos últimos este hábito miserável de estragar as edições com o seu encolhimento.
    Em sei que é uma moda importada e não nacional, mas com a estupidez dos outros podemos bem, não precisamos de a importar.
    Curiosamente quando todas os dados indicam que a população portuguesa tem aumentando significativamente a sua média de altura, os livros seguem a tendência oposta.
    E como a longevidade também tem aumentado, quer dizer que a média da acuidade visual das pessoas tem diminuído, pelo que não faz sentido diminuir o tamnanho do texto...

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    1. Anti-herói,
      São volumes com cerca de 140 páginas. Os 6 álbuns da Futura correspondem sensivelmente a um terço da série.
      Não sei o formato, mas posso dizer que a edição integral espanhola mede menos 2 centímetros que os álbuns lançados em português e a leitura não se ressente em nada disso.
      Boas leituras!

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    2. Pedro,

      Perguntei à Levoir e responderam: o formato vai ser o "franco-belga".
      Aliás, até hoje (do que me recordo) a Levoir sempre respeitou o tamanho original das obras que editou: daí a disparidade de dimensões, numa prateleira, das colecções Novelas Gráficas...

      Pelas minhas contas, os seis álbuns editados pela Futura correspondem a menos volumes: um e meio, no máximo.

      De relembrar que a edição da Futura é má. Incrivelmente má.
      Capa mole, lombada descolável ao fim de 3-4 leituras, papel rasca, capas com riscos/bolhas (de origem), etc, etc, etc.

      Boas leituras.

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    3. Obrigado Pedro. Sendo assim vou considerar.
      O encolhimento é então o mesmo que sofreu o Corto nas novas edições ASA face às edições Meribérica. É o novo standard que tentam impingir.
      As edições Corto da Meribérica valem o peso em ouro comparadas com as da Asa, pelo tamanho correcto, e pelas aguarelas do Pratt, substituidas pela Asa por forografias. E quando penso que comprei todos os capa dura da Meriberica por 3€ face aos vinte e tal dos da ASA...

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    4. Não percebo porque o papel da Futura é rasca.
      Estive agora a medir com micrómetro a espessura de vários papeis:
      Levoir (novelas gráficas): 9,5 microns
      Futura Torpedo 1987: 11 microns
      ASA-Publico Valerian 2017: 11 microns
      Witloof Adele 2003: 13 microns
      Meriberica Pratt 2003: 13 microns
      Bertrand Adele 1980: 14,5 microns
      Bertrand Axle 1978: 14,5 microns
      Meriberica Taar 1982-83: 16-17,5 microns

      Mas não era preciso medir para ver que o melhor papel, até na textura, é dos livros antigos da Bertrand e Meriberica, e que o pior é o usado nas coleções da Levoir, muito fino.
      Ou seja a tendencia geral é o papel usado antigamente ser muito melhor que o usado atualmente, embora concordo que para a altura o da Futura era fraco, mas comparado com o de hoje...

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    5. Os primeiros 4 álbuns do 1936 terão na realidade 152 pgs cada, sendo que o primeiro incluirá um prefácio à colecção portuguesa. O último terá umas 120, e incluirá dois artigos extensos, um proveniente da edição integral espanhola, e outro da autoria do Jorge Magalhães, responsável pela edição do Torpedo na Futura e no Mosquito, e mais tarde nas Selecções da BD.

      O formato é aquele que tem sido usado em todas as edições dos últimos 15 anos, 20 x 26 cms. ligeiramente mais pequeno que o franco-belga tradicional (o franco-belga mais pequeno). O mesmo formato que foi seguido nas integrais em Espanha, França e Itália, o mesmo formato que a edição em 5 volumes da IDW.

      Todas as histórias da série 1936 estarão incluídas. O último (sexto) álbum da colecção será o Torpedo 1972 a cores, com desenho do Risso, que saiu no Verão passado.

      Relativamente ao papel que a Levoir usa: a qualidade é boa, é um óptimo papel couché semi-mate. Talvez seja um pouco fino, mas os livros têm a vantagem do preço, nalguns sítios tem de se poupar alguma coisa para os livros custarem o que custam.

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    6. Obrigado José Freitas pelas informações.
      Eu não me queixo do papel da Levoir. Para mim está bom, tal como está o da Futura. E como diz temos de ter em conta o preço excelente das edições Levoir com o Público. Apenas não acho que o papel da Futura seja inferior ao da Levoir.
      O que me queixo realmente é da universalização da redução dos formatos. Ainda para mais quando muitas vezes têm margens enormes. Para que raio serve tanto papel em branco nas margens? Se a ideia é poupar papel porque não eliminar simplesmente as margens que não servem para nada?
      Ah e por falar nisso outra caracteristica incompreensível para mim e comum tanto nos formatos grandes como pequenos é terem grandes as margens exterioes (que não servem para nada) e terem pequenas as margens interiores, necessárias para a leitura correta, com o papel plano e não curvo, meio escondido.
      Por exemplo o Dylan Dog, a edição do ano em Portugal para mim (apesar do tamanho pequeno), tem margens superior e inferior de 21mm e as margens interiores nem chegam bem aos 5mm. Mas esta "técnica avanaçada" é comum em todo o lado e desde há já muito anos. Nos Torpedo da Futura até custa a ler a parte perto do interior.

      E voltando aos Torpedo da Futura, estive a ver agora e enquanto os livros têmb29x21, o interior tem apenas 25,5x18,5. Por isso se a edição da Levoir tem 26x20, não há necessidade nenhuma de reduzir, cabe o tamanho original. A não ser que vão reduzir para ficar com margens enormes e inúteis. A edição portuguesa não tem autonomia para decidir o tamanho da impressão? É obrigada a reduzir só porque os outros reduzem? O papel é o mesmo, é só uma opção de impressão.

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  6. Caro Estrnaho,
    Obrigado pela informação. Suponho que seguirá o formato do integral espanhol, ligeiramente inferior ao da Futura.
    E, sim, a edição da Futura, para os padrões actuais, é muito fraca em todos os aspectos e sofreu muito com a passagem do tempo.
    Pessoalmente acho que esta é uma colecção fundamental.
    Boas leituras!

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    1. Fraca em todos os aspectos não, É forte pelo menos nos 20 aspectos mais importantes: 1. tamanho correcto, 2. tamanho correcto, ... 20. tamanho correcto.
      :-)

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  7. Não há de quê, caro Pedro.
    Era uma das minhas curiosidades, também.
    Sim, já para não falar da passagem do tempo...
    PLENAMENTE de acordo!

    Abraço bedéfilo!

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