Para aqueles que (ainda) vão reclamando da edição a preto e branco que a Ala dos Livros fez - num só ano… - da Comanche de Hermann e Greg, este é o álbum ideal para o voltarem a fazer. Não porque tenham razão e de alguma forma esteja em causa - a meu ver - a opção da editora, mas porque nele o grafismo de Hermann é (quase) uma (autêntica) montanha-russa.
E, acima de tudo, porque nele estão dois (dos três) álbuns - os dois álbuns finais da série assinados por Greg e Hermann: E o diabo gritou de alegria (que belíssimo título!) e O Corpo de Algernon Brown - em que a cor é um elemento fundamental - e muito bem conseguida. E nos quais, como se pode apreciar neste volume, o traço do desenhador foi feito a pensar nessa cor (ainda) por vir.


Posto
isto, referira-se que estas duas histórias curtas, bem como O
Palomino -
as duas restantes, Falta
de respeito
e
Casamento cor-de-rosa,
são simples anedotas - embora posteriores ao
álbum que abre a série,
são fundamentais para a compreensão de
Red
Dust e Ten Gallons, pela modo como ajudam a caracterizá-los
e
defini-los, revelando as contradições bem humanas do seu
comportamento.
E, no conjunto da série, dão-lhe coerência - por explicarem como
Dust surge a pé na primeira prancha que os leitores descobriram
e
a origem do seu cavalo - e acentuam o dramatismo do duelo em que
defronta o pistoleiro Kentucky.
Voltando
atrás, aos dois relatos longos deste terceiro tomo, surpreendem
pois Greg
dota-os de um registo quase policial,
uma vez que em ambos os casos Dust procura
culpados desconhecidos - de incêndios num caso, de um assassinato,
noutro - mantendo
- ou mesmo acentuando - a tónica do confronto entre a marcha
imparável do progresso que chega ao oeste (já não tão) selvagem,
face aos hábitos e tradições nele vigentes. E acrescenta em ambos
um elemento dramático, ao esvaziar a infalibilidade (que na época
era) geralmente associada aos ‘heróis’, mostrando-os dispostos e
impetuosos, mas também falíveis.
Obra
completa e ânsia completista
Com
este terceiro volume, fica concluída a edição de mais uma série
completa em Portugal - e a primeira série completa pela Ala dos
Livros. ‘Comanche,
de Hermann e Greg’, de seu título completo, para que não haja
dúvidas. [E, para além disso, fica como a primeira incursão no
formato ‘integral’ no nosso país, no que à BD (e modelo)
franco-belga diz respeito.]
Uma
série excelente, numa edição excelente, que aconselho vivamente.
Muitos
- ou só alguns? - têm pedido a edição dos restantes volumes,
escritos
por Greg e desenhados por Rouge, numa ânsia completista que - por
ignorância ou só porque sim? - não questiona a qualidade do
que se pede.
Li os dois primeiros álbuns
na
data original de publicação - e reli o primeiro antes da escrita
deste texto - e então - como agora - achei
desnecessário o
regresso de Greg a Comanche
- tal como me aconteceu quando o
prolífero argumentista retomou Bernard
Prince.
Não vou escrever que conspurcou as memórias que ele próprio tinha
criado, mas que não havia necessidade, parece-me evidente. Porque
Rouge está longe de ser Hermann e porque a inspiração da escrita
já não era a mesma.
No
final - como sempre, por muito que os leitores pensem que não - a
última palavra cabe(rá) ao
editor,
que
tem
sempre de sopesar
as vantagens e desvantagens das opções que (pode)
toma(r)
e a qualidade do que vai propor aos leitores versus
a comerciabilidade
do produto que oferece.
Comanche
Obra Integral #3
Greg
(argumento)
Hermann
(desenho)
Ala
dos Livros
Portugal,
Fevereiro de 2020
235
x 3109 mm, 160 p., pb, capa dura
32,90
€
Espero que seja o primeiro de muitos, quer desta editora, bem como de outras. E que sejam integrais de Heróis, como até de Autores (Ilustradores e Argumentistas). Dou alguns exemplos: Alex Raymond, Russ Manning, Don Lawrence,José Salinas Buck Danny, Bob Morane e Barba Ruiva.
ResponderEliminarNão posso deixar de acusar a ironia.
ResponderEliminarHoje em dia o Hermann praticamente desenha com cores, se editassem albums recentes do Jeremiah e do Duke com este tratamento a única coisa que conseguiriam era páginas em branco.