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09/12/2020

Os náufragos de Arroyoka + Histórias sem heróis + Vingt ans après


Três, por impulso

Uma publicação no Facebook e meia dúzia de comentários impulsionaram estas (re)leituras, quase de rajada, para confirmar memórias e avaliar da passagem do tempo.

Para o melhor e o pior, estão na mesma, como as recordava.

09/03/2020

Comanche #3

...e fim.







Para aqueles que (ainda) vão reclamando da edição a preto e branco que a Ala dos Livros fez - num só ano… - da Comanche de Hermann e Greg, este é o álbum ideal para o voltarem a fazer. Não porque tenham razão e de alguma forma esteja em causa - a meu ver - a opção da editora, mas porque nele o grafismo de Hermann é (quase) uma (autêntica) montanha-russa.

25/09/2019

Comanche: Integral 2

Excepção à regra



Sei que o que escrevo a seguir vai contra o que defendo há anos e que inúmeras vezes afirmei: que as obras devem ser reproduzidos tal e qual foram pensadas, em termos de forma, cor, tamanho…
Mas, como há sempre uma excepção à regra, o segundo integral de Comanche a preto e branco - na peugada do primeiro, aliás - leva a que me contradiga: depois de ver a arte de Herman desta forma, nunca mais vou conseguir ler da mesma forma este western a cores…

17/04/2019

Comanche #1

Reencontro




Se com o fim da Goody, alguns temiam o que 2019 iria ser, parece-me que o ano em curso está a ultrapassar (muit)as expectativas, com as boas - e muito boas - edições a sucederem-se.
A mais recente é Comanche, uma das traves mestras do meu desenvolvimento enquanto leitor de BD, e esta edição cumpre bem os meus sonhos - utópicos - de ‘quando um dia for editor...’

05/03/2019

Bruno Brazil: L'Intégrale #2

Da emoção à razão

Nunca coleccionei a revista Tintin nem fui seu leitor regular, mas li, por atacado ou já em álbum, muitas das histórias nela publicadas. No que à aventura diz respeito, houve um díptico que, no momento da sua leitura, ainda adolescente, me marcou bastante: era constituído pelos episódios A noite dos chacais e Sarabanda em Sacramento, que tinham por protagonistas a Brigada Caimão dirigida por Bruno Brazil.
A sua releitura, há dias, provocou-me, num primeiro momento, uma reacção de desilusão.

11/05/2018

L'intégrale des Aventures de Modeste et Pompom

Menoridade maior




Obra menor do génio conhecido como Franquin, mesmo uma série como Modeste et Pompom apresenta argumentos suficientes para justificar a leitura, principalmente quando enquadrada por um dossier com o interesse do que abre esta edição.

18/01/2016

Bernard Prince: O sopro de Moloch







Por entre incêndios florestais, pântanos repletos de mosquitos, montanhas abruptas e – agora – um vulcão prestes a entrar em erupção, Bernard Prince continua a trilhar o seu caminho de caval(h)eiro andante ao serviço dos desfavorecidos.

29/11/2015

Bernard Prince em Dezembro

ASA/Público

Já a seguir, os títulos e as capas da colecção Bernard Prince que a Asa e o jornal Público estão a distribuir à quarta-feira.

11/11/2015

Bernard Prince em Novembro

ASA/Público

Começa hoje a ser distribuída a colecção Bernard Prince, editada pela ASA, como foi oportunamente anunciado por As Leituras do Pedro.
Após as capas dos tomos deste mês, correspondendo aos pedidos feitos nesse sentido por alguns visitantes do blog, fica também uma breve introdução à série e a sua bibliografia.

16/10/2015

Bruno Brazil: Intégrale 1












Bruno Brazil é mais um dos (grandes) heróis da revista Tintin a merecer a reedição – melhorada e comentada – sob a forma de integral, em mais um passo da editora na direcção dos adultos que em tempos leram a revista e a quem a nostalgia agora bate à porta, tivessem na altura 7 (ou mais) anos e hoje 77 (ou menos) anos.

07/11/2013

Achille Talon, um cinquentão eloquente










  

A 7 de Novembro de 1963, a revista Pilote estreava no seu número #211 aquele que é, porventura, o herói mais eloquente da BD: Achille Talon.

Caricatura do francês médio, quarentão, solteiro, de grande nariz e barriga generosa, era uma criação de Greg, aliás Michel Regnier (1931-1999), mais conhecido como argumentista de séries de acção como Comanche, Bruno Brazil ou Bernard Prince, que aqui se apresentava como autor completo.

A primeira prancha
Banda desenhada de humor, quase sempre apresentada em histórias de uma ou duas páginas, Achille Talon, que fervia em pouca água, utilizava a sua prolífera verve para dissertar, a qualquer momento, sobre tudo e mais alguma coisa, em diálogos antológicos, pondo acima de tudo o seu bem-estar e aproveitando para exasperar o seu vizinho Lefuneste, vítima frequente das suas partidas
A galeria desta série incluía também a sua noiva Virgule, o papá Talon, grande apreciador de cerveja, e a mamã Talon. O tom familiar alargou-se aos poucos e Talon tornou-se o herói da revista “Polite”, pretexto para o autor mostrar a redacção e os bastidores de uma publicação de BD.
Após escrever e desenhar mais de 700 pranchas, incluindo algumas histórias longas, em 1997 Greg cedeu os direitos da sua criação às edições Dargaud, tendo Talon sido retomado pontualmente por Widenlocher e Godard.
Esta editora, para assinalar os 50 anos da personagem, que teve uma revista de nome próprio, de curta duração, em 1975/76, lança na próxima semana a compilação Achille Talon - Le Meilleur des années 60.
Em Portugal a sua estreia aconteceu a 31 de Maio de 1969, no primeiro fascículo do 2.º ano da revista Tintin, tendo passado igualmente pelas páginas da Flecha 2000 (1978) e do Jornal da BD (1982). A Meribérica/Líber editou quase uma dezena de álbuns, a maioria dos quais na colecção 16x22.

(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 7 de Novembro de 2013)
 
Achille Talon e... René Goscinny

26/03/2013

Oliver Rameau #5 – Le grand voyage en Absurdie











Greg (argumento)
Dany (desenho)
Éditions du Lombard *
Bélgica, Março de 1984
220 x 295 mm, 48 p., cor, cartonado


Mesmo sabendo que Greg escreveu e/ou desenhou mais de 350 álbuns de BD ao longo da sua carreira aos quadradinhos – vi-os todos expostos, num imenso mural, numa retrospectiva que o Festival de Bd de Angoulême lhe dedicou há já alguns anos – não hesito em afirmar que este é um dos seus argumentos mais conseguidos.
Pelo humor, a ironia e a mordacidade de que dá provas para arrasar a (absurda forma de) vida em Absúrdia, o nome dado pelos seus heróis a este nosso “mundo-em-que-todos-nos-aborrecemos”.
A mobilização de um poeta, Aimé Detousse – que se vê assim impedido de se tornar cidadão de Rêverose – leva Oliver Rameau a partir à cabeça de um “comando” para o resgatar do mundo real, avesso à sua poesia e à sua imaginação (apesar da indicação em contrário que o seu nome pode dar…)
Esse é o pretexto para uma sucessão de conseguidos gags que questionam e ridicularizam diversos aspectos da nossa vida quotidiana, onde avultam a saída recorrente dos membros do comando da cabine telefónica, a conversa com a porteira de Detousse, a explicação sobre o uso de dinheiro, a substituição dos elementos da banda e, principalmente, a desconstrução arrasadora da estrutura e da vida militar que preenche cerca de um terço desta belíssima narrativa, onde imperam o absurdo, a poesia e uma fantástica capacidade imaginativa.

*Se é verdade que possuo os 10 tomos das aventuras de Oliver Rameau “espalhados” por diversas edições de várias editoras, elas actualmente estão integralmente disponíveis em quatro tomos editados pelas Éditions Joker.

08/03/2013

La merveilleuse odyssée d’Oliver Rameau et de Colombe Tiredaille











Greg (argumento)
Dany (desenho)
Éditions du Lombard
Bélgica, 1984
220 x 295 mm, 48 p., cor, cartonado



Numa determinada terça-feira, eram 9h17, dois passageiros desciam do comboio na estação de Turelurette. O facto era tão estranho quanto esta embirrante mania da exactidão se revelaria daí para a frente nesta belíssima série aos quadradinhos que uma imagem vista de relance num blog (a que não consegui regressar para o citar aqui) me deu uma vontade irresistível de reler.
Como resultado, trago hoje o álbum de estreia – a sua história foi originalmente publicada em 1968 – e prometo voltar com outro(s).
Os dois passageiros referidos davam pelos nomes de Oliver Rameau e M. Pertinent, eram auxiliares de notário e com eles, aos poucos iremos descobrir um mundo de sonho, poesia e fantástico, onde se entra tomando um comboio de paragens facultativas, cujo bilhete se paga em beijos ou sorrisos e de que parte da linha é subaquática, para chegar a um lugar onde há uma secretária “que quase não dá erros de ortografia”, armaduras a pescar, flores que nascem em pedras, governantes que só pensam em comer e dormir, habitantes tão curiosos como fantásticos como uma sineta, um espantalho andante ou uma fatia de tarte de creme, e onde se pode pescar a lua no fundo dos rios…
São estas as primeiras impressões de um país chamado Rêverose - Sonharosa na versão portuguesa da revista TIntin - e cuja capital é Halucinaville, um país onde pensar é deprimente, onde todos se divertem, se alimentam dos seus sonhos e de coisas intangíveis como raios de luar ou brilho do sol, em suma um lugar onírico onde só podem chegar os poetas e os puros de espírito, em tudo o oposto do “verdadeiro-mundo-onde-nos-aborrecemos”, a certeira designação que os seus habitantes dão ao local onde nós, leitores, infelizmente, vivemos, nos aborrecemos e preocupamos tanto.
Em “La merveilleuse odyssée d’Oliver Rameau et de Colombe Tiredaille” que serve, antes de tudo, de introdução à série, a aventura começa quando o protagonista é levado pelos ares pelo pássaro Razibous, que tem a particularidade de ter na extremidade do bico uma máquina de rapar cabelo, com a qual, para se alimentar, faz razia nas cabeças (não) pensantes do país.
Forma-se então uma expedição de socorro em que, juntamente com o prático M. Pertinent e a bela Colombe Tiredaille, podemos encontrar um limpa-chaminés clássico, uma elegante bailarina, um leão falante, um anão de jardim com o seu carrinho de mão ou uma domadora.
Como sempre acontece (nos sonhos) o gentil e corajoso Oliver, a deslumbrante Colombe e os seus surpreendentes amigos, vão viver belas aventuras e acabar por vencer os perigos pela força da amizade, da entreajuda e da poesia.
Dany com um traço solto e sedutor, dá vida ao sonho e à poesia que Greg trabalha com imensos trocadilhos, muito humor, uma sátira mordaz ao nosso quotidiano e uma pitada de aventura fantástica.
Série publicada em Portugal na revista Tintin, sem igual no panorama da BD franco-belga de então, Oliver Rameau conta 11 álbuns – que tenho em edições diferentes da Lombard, da P&T e da Dargaud! – entretanto integralmente compilados em quatro tomos pelas Éditions Joker, que incluem também as histórias curtas da série e cuja (re)leitura aconselho vivamente.


12/06/2012

Spirou – QRN sobre Bretzelburgo












Franquin (argumento e desenho)
Greg (argumento)
ASA (Portugal, Maio de 2012)
215 x 300 mm, 48 p., cor, cartonado
13,90 €


Resumo
Em busca de Fantásio, raptado por engano, Spirou parte para Bretzelburgo, um pequeno país que vive sob uma ditadura militar.

Desenvolvimento
Como muitos da minha geração, dei os primeiros passos aos quadradinhos com as revistas Disney e da Turma da Mônica e também com os álbuns de Astérix e Lucky Luke. Com estes, de certa forma, a BD franco-belga – minha principal futura referência - marcava terreno. Tintin, viria mais tarde. Spirou, também, mas em álbuns de Fournier – longe, portanto, dos seus melhores períodos – pelo que nunca constituiu para mim uma série de eleição.
Claro que, anos depois, descobri os álbuns escritos e desenhados pelo genial Franquin - muitos dos quais verdadeiras obras-primas que continuo a reler com deleite – assentes num humor delicioso, um imaginário fantástico e um magnífico sentido de aventura – sempre combinados em doses diferentes - mas já era tarde para que o groom e o seu colérico amigo Fantásio me pudessem marcar emocionalmente, limitando-se – e não é pouco – a uma forte impressão mais racional.

Este “QRN sobre Bretzelburgo” é uma daquelas jóias. Criado por Franquin – com uma mãozinha de Greg – logo após o magnífico interlúdio “Bravoles Brothers”, de certa forma arranca no mesmo tom humorístico, com um longo e irresistível gag em torno de um mini-rádio.
Este fará a ligação para a trama central, em que (aparentemente) predomina a aventura, narrada em ritmo acelerado, de cortar a respiração, com o foco da acção a saltar alternadamente entre os acontecimentos protagonizados em locais e condições diferentes por Spirou e por Fantásio, com uma assinalável mestria narrativa.
Mas, a este mote aventuroso - e por isso incluí atrás aquele “aparentemente” – sobrepõe-se e predomina neste álbum um tom profundamente irónico pois, a reboque daquele pretexto, Franquin e Greg aproveitam para ridicularizar não só os regimes totalitários – e na época eles eram muitos… - e as suas bases – militarismo, tortura, espionagem, delações, opressão… - bem como tudo aquilo que a eles possa ser de alguma forma associado, nem que isso seja a resistência, a luta pela liberdade ou as aspirações (legítimas) dos oprimidos, numa surpreendente subversão de uma banda desenhada grande público que era publicada numa revista infanto-juvenil…!

A reter
- A ironia, a mordacidade, o sarcasmo e o humor com que a dupla de autores retrata uma ditadura e os seus efeitos colaterais (como se diria hoje).
- O dinamismo e a agilidade do traço nervoso e expressivo de Franquin.
- A oportunidade da edição da ASA, repondo um título que entre nós tinha tido uma única edição – da Arcádia - há 35 anos.



17/01/2012

Bruno Brazil e Luc Orient surgiram há 45 anos


Há 45 anos, a revista Tintin belga estreava dois heróis de banda desenhada que os leitores portugueses viriam a conhecer bem: Luc Orient e Bruno Brazil.
Em comum, para além da data e local de estreia, tinham o mesmo argumentista, Greg, um dos mais prolíferos escritores da BD franco-belga, que ao longo da sua carreira assinou mais de 350 álbuns, que no caso de Bruno Brazil utilizava o pseudónimo de Louis Albert. 

Luc Orient

Nas primeiras aventuras, o sábio e atlético Luc Orient – cuja trama base evocava o clássico Flash Gordon – em conjunto com o professor Kala e a bela Lora, enfrentava a ameaça dos naturais do planeta Terango. Depois, o trio deparou-se com diversos fenómenos paranormais que foi resolvendo ao longo de 18 álbuns, publicados até 1994.
Para o desenvolvimento desta série de ficção-científica, algo raro na revista Tintin, Greg trabalhou com Eddy Paape, que adoptou um desenho realista, progressivamente servido por cores contrastantes e enquadramentos mais dinâmicos, com o qual retratou os mundos exóticos que Luc Orient visitou.



Bruno Brazil

Quanto a Bruno Brazil, de cabelo prematuramente branco e sempre elegante, era o responsável pela inusitada Brigada Caimão, composta por Whip Rafale, Big Boy Lafayette, Texas Bronco, Gaúcho Morales e Billy Brazil, uma unidade especial norte-americana encarregada de casos complexos, quer se tratasse da máfia, traficantes ou terroristas.
O desenho estava entregue a William Vance, que soube equilibrar um traço realista algo rígido, com alguns enquadramentos mais espectaculares que realçavam as muitas cenas de acção. Desenvolvida ao longo de 11 álbuns, esta foi uma série que marcou gerações de leitores, pela morte de alguns dos seus protagonistas, algo nada habitual na banda desenhada franco-belga de aventuras.


Luc Orient e Bruno Brazil partilham pelo menos mais dois aspectos em comum: o facto de a morte de Greg, em 1999, ter deixado incompletos novos episódios dos dois heróis, e a divulgação das aventuras de ambos em Portugal ter sido feita no Tintin português – Bruno Brazil estreou-se em 1968 e Luc Orient em 1969 - e, parcialmente, em álbum, pela Bertrand.
No ano passado, a colecção Clássicos da Revista Tintin (e Público/ASA), dedicou um dos seus volumes a Luc Orient.


07/01/2011

Bruno Brazil #9

Quitte ou Double pour Alak 6 Greg (argumento) Vance (desenho) Petra (cor) Le Lombard (França, Junho de 2001) 224 x 297 mm, 48 p., cor, cartonado 1. Iniciadas com este álbum, as minhas leituras do corrente ano tiveram, por isso, um pendor fortemente nostálgico. 2. Lido originalmente (no final da década de 70…?) na revista Tintin portuguesa, emprestada por algum amigo – é verdade, eu não coleccionei aquela revista – esta foi uma das histórias que mais marcaram o meu percurso de leitor de BD. 3. Uma história que pertence a uma lista curta, da qual fazem parte também Rip Kirby – O envelope trocado, Simon du Fleuve – Maílis, Lanterna Verde & Arqueiro Verde – Os “Pássaros da Neve” não voam ou Silêncio. 4. Histórias às quais devo o facto de ainda hoje ter os quadradinhos como minha leitura de eleição. 5. Porque, lidas na altura certa, permitiram-me descobrir em banda desenhada temáticas e abordagens diferentes e mais adultas, que correspondiam às minhas exigências crescentes do momento. 6. Há muitos anos na minha lista de “álbuns a comprar”, este relato segue – de forma não especialmente brilhante, confesso – o modelo tradicional dentro da banda desenhada de aventuras franco-belga. 7. Os seus protagonistas são a Brigada Caimão, um grupo de operações especiais de elite, comandado por Bruno Brazil que, na sequência de alguns atentados, recebe a missão de resgatar em Madagáscar o último possuidor do segredo de um novo míssil estratégico experimental (implantado cirurgicamente no cérebro do homem em questão…). 8. Graficamente, é um trabalho pouco inspirado de Vance, com um traço demasiado estático, uma planificação mais rígida do que era habitual e a utilização de legendagem mecânica nos tamanhos maiores o que não torna o conjunto especialmente atraente. 9. Datado de 1975, inspirado no clima de guerra fria que então se vivia, o argumento é uma história de espionagem e acção, com debilidades, narrativas e temporais, e que se destaca – quase só - pelo falhanço quase total do comando de Brazil… 10. A diferença, que me marcou então sobremaneira, surge nas páginas finais, mais exactamente nas pranchas 40 a 44, onde um então adolescente descobriu, com surpresa e choque, que os heróis de papel, geralmente perfeitos e invencíveis, também podiam ficar estropiados ou até morrer… 11. E nas quais (re)lembrei uma frase que, tantos anos depois, ainda estava gravada na minha memória: “Gaucho Morales, que a morte não quisera, chorava convulsivamente…”

16/12/2009

Efeméride – Comanche foi criada há 40 anos


Há 40 anos, os leitores do “Tintin” belga, descobriam no nº50 uma nova série intitulada “Comanche”. Se as primeiras pranchas, ambientadas num vasto espaço selvagem e com um duelo logo a abrir davam o mote para mais um western aos quadradinhos, poucos imaginavam que esta seria uma das mais referenciadas (e reverenciadas) abordagens realistas a um género que a banda desenhada explorou até à exaustão, então (ainda) na moda.
O seu argumentista era Greg, rigoroso na construção e desenvolvimento das histórias, mestre na escrita dos diálogos, que situou a acção da nova série no período de transição entre o Oeste selvagem em que imperava a lei das armas e dos mais fortes e a chegada da civilização às regiões mais inóspitas do vasto continente americano.
E como protagonistas, um lote de personagens de todo improvável - Comanche, uma jovem, dona do rancho “666”, Ten Gallons, um velho vaqueiro, o negro Toby, o miúdo Clem e o índio “Mancha de Lua” – todos excluídos socialmente, que lhe permitiu abordar problemas como o lugar da mulher, o racismo ou o massacre dos peles-vermelhas. E, claro, Red Dust, a estrela da companhia, o elo de união entre todos, capaz de potenciar o melhor de cada um, irlandês, ruivo, ex-pistoleiro, decidido e humano. E talvez este seja, também, o adjectivo que melhor define a série: humana porque, apesar de abundarem os tiroteios, os confrontos com bandidos e pele-vermelhas, as emboscadas, as armadilhas, a corrupção e os negócios pouco claros, ficando como um marco o tríptico “Os lobos do Wyoming”/”O céu está vermelho sobre Laramie”/”Deserto sem luz”, que narra a passagem do protagonista pela prisão após desrespeitar a proibição do uso de armas para por fim a um impiedoso bando de assassinos. E cujo final (sugerido por Hermann) hiper-violento (para a época) do segundo daqueles títulos – o último dos irmãos Dobbs é abatido por Dust, semi-nu e desarmado, caindo no meio do lixo e sujidade - valeu à série ser “excluída” das páginas da revista Tintin.
Também por (tudo) isto, “Comanche” é antes de tudo um tratado sobre seres humanos, sobre a sua adaptação às circunstâncias e a um novo mundo, sobre superação e sobre amizade.
O desenho foi entregue a Hermann que, após alguma experimentação nas primeiras histórias – vinhetas grandes, planos de pormenor, pontos de vista ousados – se revelou progressivamente como um dos grandes mestres europeus do género, com uma planificação multifacetada e dinâmica, tal como o traço, nervoso, violento, com o evoluir da série mais belo e depurado, ágil e servido por belas cores, tão capaz de retratar os grandes espaços como o ser humano, de mostrar o quotidiano como os (muitos) momentos de tensão e violência.
Em Portugal, a série foi publicada integralmente na revista “Tintin” e (de forma desordenada) oito dos seus dez tomos foram editados pela Bertrand e/ou a Distri.
Anos mais tarde, em 1989, Greg (ninguém é perfeito) voltou a Comanche para mais cinco aventuras (a última terminada por Rudolphe, devido à sua morte, em 1990). Mas a verve narrativa já não era a mesma, o tempo do western tinha também passado e o traço de Rouge (mostrado em “As Feras”, publicada na 1ª série das Selecções BD, do #38 ao #40) ficava muito distante da arte de Hermann.

(Versão revista e aumentada do artigo publicado no Jornal de Notícias de 16 de Dezembro de 2009)
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