Greg
(argumento)
Dany
(desenho)
Éditions
du Lombard
Bélgica, 1984
220 x 295 mm, 48
p., cor, cartonado
Numa determinada terça-feira, eram 9h17, dois
passageiros desciam do comboio na estação de Turelurette. O facto era tão
estranho quanto esta embirrante mania da exactidão se revelaria daí para a
frente nesta belíssima série aos quadradinhos que uma imagem vista de relance
num blog (a que não consegui regressar para o citar aqui) me deu uma vontade
irresistível de reler.
Como resultado, trago hoje o álbum de estreia – a
sua história foi originalmente publicada em 1968 – e prometo voltar com
outro(s).
Os dois passageiros referidos davam pelos nomes
de Oliver Rameau e M. Pertinent, eram auxiliares de notário e com eles, aos
poucos iremos descobrir um mundo de sonho, poesia e fantástico, onde se entra
tomando um comboio de paragens facultativas, cujo bilhete se paga em beijos ou
sorrisos e de que parte da linha é subaquática, para chegar a um lugar onde há
uma secretária “que quase não dá erros de ortografia”, armaduras a pescar,
flores que nascem em pedras, governantes que só pensam em comer e dormir, habitantes
tão curiosos como fantásticos como uma sineta, um espantalho andante ou uma
fatia de tarte de creme, e onde se pode pescar a lua no fundo dos rios…
São estas as primeiras impressões de um país
chamado Rêverose - Sonharosa na versão portuguesa da revista TIntin - e cuja
capital é Halucinaville, um país onde pensar é deprimente, onde todos se
divertem, se alimentam dos seus sonhos e de coisas intangíveis como raios de
luar ou brilho do sol, em suma um lugar onírico onde só podem chegar os poetas
e os puros de espírito, em tudo o oposto do “verdadeiro-mundo-onde-nos-aborrecemos”,
a certeira designação que os seus habitantes dão ao local onde nós, leitores,
infelizmente, vivemos, nos aborrecemos e preocupamos tanto.
Em “La merveilleuse odyssée d’Oliver Rameau et
de Colombe Tiredaille” que serve, antes de tudo, de introdução à série, a
aventura começa quando o protagonista é levado pelos ares pelo pássaro
Razibous, que tem a particularidade de ter na extremidade do bico uma máquina
de rapar cabelo, com a qual, para se alimentar, faz razia nas cabeças (não)
pensantes do país.
Forma-se então uma expedição de socorro em que,
juntamente com o prático M. Pertinent e a bela Colombe Tiredaille, podemos
encontrar um limpa-chaminés clássico, uma elegante bailarina, um leão falante,
um anão de jardim com o seu carrinho de mão ou uma domadora.
Como sempre acontece (nos sonhos) o gentil e
corajoso Oliver, a deslumbrante Colombe e os seus surpreendentes amigos, vão
viver belas aventuras e acabar por vencer os perigos pela força da amizade, da
entreajuda e da poesia.
Dany com um traço solto e sedutor, dá vida ao
sonho e à poesia que Greg trabalha com imensos trocadilhos, muito humor, uma
sátira mordaz ao nosso quotidiano e uma pitada de aventura fantástica.
Série publicada em Portugal na revista Tintin,
sem igual no panorama da BD franco-belga de então, Oliver Rameau conta 11
álbuns – que tenho em edições diferentes da Lombard, da P&T e da Dargaud! –
entretanto integralmente compilados em quatro tomos pelas Éditions Joker, que
incluem também as histórias curtas da série e cuja (re)leitura aconselho
vivamente.